Lingüística

Em uma brincadeira metalingüística podem ser encontradas todas formas de um conteúdo. O que pode ser o conteúdo? Uma piada?

 

Que piada

 

         Estavam todos apavorados. A luz acabara. Decerto o pavor era mais generoso quando recordaram-se que estavam em um lugar onde as pessoas não são pessoas, são quaisquer coisas que elas gostariam de ser: um hospício.

         Esse tal hospício era situado em Portugal (não se sabe em que cidade) e possuía diversos leitos para as mais tresloucadas situações. Era um imenso galpão, com alguns andares, diversas camas empilhadas como se fossem beliches. Ao lado, notara-se nitidamente uma certa vegetação que compreendia uma razoável faixa territorial. Podia se avistar a fauna da região: jacareds, urublues; alguns yellowfantes sempre davam as caras junto ao hospício. Obviamente que os internos adoravam a presença dos animaizinhos e, freqüentemente, discutiam a razão dos yellowfantes possuírem tromba ou dos macacos não comerem pipocas, enfim, perguntas semrespostas que os internos adoram fazer – essencialmente em frente ao espelho.

         E, naquele dia os internos receberam a visita de um colégio...É público e notório que os colégios, ao realizarem excursões levam professores e A professora foi. Digo isso, pois Juquinha adorava sua professora e, normalmente, fazia com que ela perdesse a paciência. Neste dia, a professora explicava algo sobre as narrações e dissertações lingüísticas e, para mostrar auto-suficiência aos alunos e, em especial Juquinha, chamou um interno que segurava uma carta e disse:

-         Deixe-me ver a carta.

-         Uh?

-         O que você escreveu aí?

-         Não sei, não recebi ainda.

 

         Juquinha reconhecia o local pouco a pouco e em um dado momento parou, apontou em sua frente e...

-         Conheço esta moça. Você não é a da...

         A professora interrompeu a conversa e disse rispidamente:

-         Juca? Ela é loura! Vamos!

         Juquinha insistiu:

-         Lembrei! Você é da...

         A moça parecia zonza, aparentemente cansada, dizia:

-         Ai,ai,ai...Pulei junto com uma morena daqui do prédio para ver quem chegava mais rápido e...

-         Parou para perguntar o caminho! – disse Juca

-         É! Depois caí em uma poça, fiquei boiando...

         Novamente a professora interrompe:

-         Vamos! – resmungou

         A loura se esvaiu no corredor e ao virar para lá, trombou com um senhor nem feio, nem bonito; nem gordo, nem magro; de falar e andar desengonçados. A moça olhou bem para ele (estava usando uma caneta atrás da orelha direita) e não hesitou:

-         Bem, o senhor é italiano...Claro!

         O senhor, muito reservado, mirou os cabelos da moça e disse:

-         Como não? Sou da região de Algarve...

         Continuaram o “papo” sobre nacionalidades quando passou ao lado uma senhora balbuciando em sotaque de Camões:

-         Como vai “Terra Nostra?”.

-         Ora pois! Bem, obrigado. – disse o lusitano revelando, assim, sua nacionalidade.

         A senhora saiu, a loura deu meia-volta duas vezes e também saiu. O português (que era o dono do hospício por méritos próprios e sequer desconfiava) desceu os trinta e cinco degraus e, no salão principal, encontrou um sujeito totalmente esfumaçado. Tinha uma cor diferente da dos demais...

-         Aiiii...Subi na vida!

-         Como? – disse o português

-         Meu barraco explodiuuuu...

         O português ofereceu-lhe aposentos em um dos últimos leitos vagos. O negrão deitou-se e disse:

-         Ai, que sono!

-         Ai, ai que, que sono, sono, sono!

    -    Quem repetiu? – berrou o negrão. Olhou ao redor e avistou algo verde. Chegou perto e percebeu um papagaio, o papagaio do português.

         Impaciente, exclamou:

-         Vou dormir!

         Quando pegou no sono, já era hora de acordar. Acordou com uma gritaria geral no hospício. Saiu atordoado e encontrou os demais: a professora, Juquinha, a loura, o português, todos gritando:

-         A luz! A luz!

         Mirou-se no espelho, mas não viu outra coisa senão seus olhos... Apavorado, chamou o médico, o “psiquiatra”. O doutor chegou, examinou a situação – a lâmpada – e disse:

-         Vou iniciar o tratamento com ela. Mas ela precisa realmente querer ser trocada!

         A senhora amiga do portuga disse:

- Ai Deus! Em que pensaste quando fizeste o homem?

         A loura não tardou:

-         Deus disse: Posso fazer melhor!

 

Eduardo Messias Oliveira é estudante de Língua e Literatura Brasileira da UMESP