O Impeachment

O impeachment é uma ação legal trazida contra um funcionário do governo que foi acusado de comportamento impróprio ou ofensas criminosas. No governo federativo dos Estados Unidos, a Casa dos Representantes (Câmara) pode impugnar um funcionário por um voto da maioria. O funcionário impugnado então vai à julgamento no Senado, com o presidente da Suprema Côrte (STF) dos Estados Unidos agindo como o juiz. Se 2/3 do Senado acharem o funcionário culpado, ele ou ela é afastado do cargo. Os governos estaduais também têm poderes de impeachment, e a maioria segue os mesmos procedimentos que o governo federal. O impeachment é o primeiro passo no processo especificado na Constituição dos Estados Unidos para remover o presidente, o vice-presidente, ou outro funcionário do governo do cargo por infração de "traição, suborno, ou outros altos crimes e contravenções". A Casa dos Representantes dos Estados Unidos tem "o poder exclusivo de impeachment" - quer dizer, o poder de trazer as acusações. O Senado dos Estados Unidos tem "o poder exclusivo para julgar todos os impeachments". Uma condenação num processo de impeachment resulta somente na remoção do cargo e na desqualificação de deter "qualquer cargo de honra, confiança, ou proveito sob os Estados Unidos". Uma pessoa condenada num impeachment, porém, está sujeita a posterior "indiciamento, processo, julgamento, e punição de acordo com a Lei".
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O impeachment se originou na Inglaterra, onde a Câmara dos Comuns apresentaria as peças do impeachment para a Câmara dos Lordes, que então julgaria o caso. Um exemplo famoso foi o impeachment e julgamento (1786-95) de Warren Hastings, o primeiro governador geral da Índia. Em 1788, Hastings foi impugnado em acusações de corrupção, mas ele foi considerado inocente depois de um julgamento de 7-anos. Os impeachments não são mais necessários na Inglaterra porque os ministros de governo não podem permanecer no cargo sem o apoio da Câmara dos Comuns.
As estruturas da Constituição dos Estados Unidos, embora comprometidas com uma separação dos poderes e independência dos três ramos de governo um do outro, acreditavam que meios devem ser providos pelos quais os funcionários supostos culpados de significativo comportamento impróprio poderiam ser julgados e removidos. Elas não quiseram que o procedimento fosse demais simples de invocar, nem a penalidade imposta muito facilmente - conseqüentemente, as exigências da votação de 2/3 para a condenação no Senado, e a estipulação que o impeachment é por "traição, suborno, e outros altos crimes e contravenções". À sugestão do estadista George Mason que "improbidade administrativa" é uma causa para impeachment, ambos o ex-presidente James Madison e o Governador Morris contestaram que um termo tão vago seguramente produziria o resultado que a posse do cargo estaria ao prazer do Senado.
Nos Estados Unidos, um funcionário federal pode ser impugnado por traição, por levar subornos, ou por "altos crimes e contravenções". Mas é um alto crime para um funcionário opôr-se às políticas do partido político no poder? A pergunta surgiu quando o Juiz Samuel Chase da Suprema Côrte foi impugnado em 1804. Ele tinha sido designado para o cargo pelos Federalistas. Quando os Jeffersonianos chegaram ao poder, eles acharam que o Juiz Chase estava bloqueando as suas políticas. A Câmara impugnou Chase, mas o Senado não o declarou culpado. Esta decisão sinalizou que não era um crime acusável se opor ao partido no poder.
Porém, o assunto surgiu novamente mais de 60 anos depois quando, pela primeira vez na história Americana, a Câmara impugnou um presidente. Andrew Johnson tornara-se o presidente em 1865 quando Abraham Lincoln fôra assassinado. A Guerra Civil há pouco tinha terminado e o maior problema do país era reconstruir o devastado Sul. Porque Johnson discordou com o Congresso em cima das políticas de Reconstrução, a Câmara o impugnou. O julgamento de Johnson no Senado em 1868 durou dois meses, mas o Senado derrubou por um voto a maioria de 2/3 necessária para o condenar. Em 1974 a Comissão de Justiça da Câmara votou três acusações de impeachment contra o Presidente Richard M. Nixon (veja Watergate abaixo), mas ele renunciou do cargo antes que as acusações pudessem ser votadas pela Câmara.
Em 1998, o Presidente Bill Clinton se tornou o segundo presidente à ser impugnado - o resultado de um escândalo em cima do envolvimento pessoal do presidente com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. No dia 19 de Dezembro, uma maioria da Câmara votou sim em 2 de 4 artigos de impeachment - acusações de perjúrio (mentindo sob juramento) e obstrução de justiça (porque a maioria dos membros da Câmara acreditaram que Clinton encorajou outros à mentir em seu proveito). Um julgamento do Senado se seguiu, e no dia 12 de Fevereiro de 1999, Clinton não foi achado culpado em ambas as acusações.
O impeachment é uma ação drástica só usada contra funcionários cujas ofensas são sérias. Ele ocorre relativamente com pouca freqüencia nos Estados Unidos, e poucos funcionários impugnados são realmente afastados do cargo. Mas o poder legislativo para impugnar é importante porque ele protege o público contra funcionários do governo corruptos ou desmerecedores.
Certas questões relativas ao processo de impeachment persistiram: se ele é judicial ou político na natureza; como definir "altos crimes e contravenções"; e se uma condenação pode ser apelada à Suprema Côrte (STF). Embora nenhuma resposta conclusiva possa ser dada, é seguro dizer que o processo judicial do impeachment sempre será infundido por motivos políticos; que a definição de "altos crimes e contravenções" nunca se tornará inteiramente precisa; e que uma vez que o Senado votou por condenar por uma maioria de 2/3, a Suprema Côrte (STF) é improvável de tomar para si a jurisdição.
No Brasil, o impeachment foi aplicado pela primeira vez ao presidente Fernando Collor, quando começou a vir a claro a grande infecção do governo tipificada pelo episódio Paulo Cesar Farias, que indicava a prevalência de práticas extorsivas em vários escalões administrativos. Para o povo, foi um brutal desapontamento. A tônica da moralidade fôra dominante na campanha de Collor em 1989, como já o fôra na campanha de Jânio Quadros em 1960, e seria o que se esperava em 2002 de Lula e de seu 'morfético' Partido dos Trabalhadores (PT). O desapontamento se transformou em raiva pelo contraste entre a promessa e a realização. A deterioração da imagem presidencial se tornou irreversível. O golpe de morte foi, naturalmente, a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre PC Farias no Congresso. Encarada inicialmente com ceticismo, a CPI tornou-se depois a detonadora do impeachment. O presidente sofreu uma verdadeira demolição moral ao longo das investigações da CPI sobre a máquina de corrupção de PC Farias. A tibieza da defesa de Collor parecia quase que uma confissão de culpa - senão por corrupção passiva, ao menos por grave omissão e falta de decoro. O descrédito que o atingiu foi proporcional à esperança que gerara de moralização da vida pública. O impeachment foi votado na fatídica sessão do Congresso de 29 de Setembro de 1992.
No Brasil, como alhures, suborno é o crime de oferecer - dando, recebendo, ou solicitando qualquer coisa de valor com a intenção de influenciar alguém numa posição responsável para agir ao contrário do dever dele ou dela. Ambos o doador e o receptor de um suborno são culpados da ofensa. Na atual crise política do governo Lula - ambos o Legislativo com seus congressistas e o Executivo com esse embusteiro nordestino têm que ser exemplarmente punidos com a perda de seus mandatos por 8 anos. Da mesma forma, esse morfético Partido dos Trabalhadores (PT) tem que ser suspenso temporariamente por 8 anos. Espera-se que o novo presidente do STF - a Ministra Ellen Gracie Northfleet, assuma com dignidade as responsabilidades de seu cargo.



Watergate vs. Mensalão

ESTADOS UNIDOS: O escândalo político Americano conhecido como Watergate resultou na renúncia, no dia 9 de Agosto de 1974, do Presidente Richard M. Nixon, o único presidente na história da nação a renunciar. Em 1972, Nixon arrebatara uma esmagadora vitória na eleição presidencial por seu segundo mandato contra o desafiante Democrata Sen. George S. McGovern - mas, ironicamente, as sementes do colapso político já tinham sido plantadas durante sua campanha. O escândalo começou a se desvendar no dia 17 de Junho de 1972, quando 5 homens foram presos por arrombar a sede do Comitê Nacional Democrata, situado no complexo de escritórios do Watergate em Washington, D.C. Logo foi descoberto que um dos homens fôra empregado pelo Comitê para Re-eleger o Presidente (CRP ou CREEP) e que o rombo tinha sido planejado por dois outros com estreitos laços com a Casa Branca. (Em 2003, o ex-assessor da Casa Branca Jeb Stuart Magruder declarou que Nixon tinha pessoalmente ordenado o rombo do Watergate).

BRASIL: O escândalo político Brasileiro conhecido como Mensalão deveria resultar na renúncia do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o segundo presidente na história da nação a ser impugnado. Em 2002, Lula arrebatara uma esmagadora vitória na eleição presidencial por seu primeiro mandato contra o desafiante tucano José Serra - mas, ironicamente, as sementes do colapso político já tinham sido plantadas durante sua campanha. O escândalo começou a se desvendar no dia 23 de Março de 2005, quando Lula foi alertado pela quinta (5ª) vez sobre a existencia do chamado 'Mensalão' pelo deputado presidente do PTB Roberto Jefferson. Logo foi descoberto que 5 dos amigos mais estreitos do presidente (todos pertencentes ao PT) - o chefe da Casa Civil da presidencia José Dirceu, o secretário-geral do PT Silvio Pereira, o tesoureiro do PT Delubio Soares, o presidente do PT José Genoíno, e o presidente da Camara dos Deputados João Paulo Cunha - foram empregados num esquema pífio e criminoso para re-eleger o presidente Lula em 2006. (Em 2006, o ex-petista Paulo de Tarso Venceslau declarou à CPI dos Bingos que Lula sabia da arrecadação criminosa de fundos para o PT desde 1995, incentivando-a com o apoio de Aloizio Mercadante, Eduardo Suplicy, José Genoíno, Gilberto Carvalho, e outros).

ESTADOS UNIDOS: Do início o Presidente Nixon procurou encobrir qualquer conexão entre o roubo do Watergate e o CRP ou o pessoal da Casa Branca. Mas durante as audiências para investigar o assunto, ficou claro que o Watergate tinha sido somente parte de um amplo aparato de atividades questionáveis ordenado pelo pessoal da Casa Branca. As audiências também revelaram que desde cêdo de 1971 o presidente tinha registrado em fitas todas suas conversações privadas no Salão Oval.

BRASIL: Do início o Presidente Lula procurou encobrir qualquer conexão entre o esquema do Mensalão e o pessoal do Planalto. Mas durante as audiências para investigar o assunto, ficou claro que o Mensalão tinha sido somente parte de um amplo aparato de atividades questionáveis ordenado pelo pessoal do Planalto. As audiências também revelaram que desde cêdo de 2003 o presidente tinha estado indiretamente envolvido com as negociatas feitas em seu nome por seus amigos mais íntimos numa ante-sala do Palácio do Planalto.

ESTADOS UNIDOS: Em Fevereiro de 1973, uma comissão do Senado dos Estados Unidos, encabeçada pelo Senador Sam Ervin Jr., da Carolina do Norte, foi formada para investigar os assuntos relativos ao Watergate. Um promotor especial, Archibald Cox, também foi incluído. Entre crescentes revelações do envolvimento da Casa Branca no rombo do Watergate e suas consequencias, Nixon anunciou as renúncias de John Ehrlichman e H. R. Haldeman, dois de seus conselheiros mais próximos, e a demissão de seu consultor John W. Dean III. A comissão do Senado e Cox exigiram ouvir as fitas da Casa Branca, mas Nixon recusou liberá-las, citando privilégio executivo. Nixon as manteve até Julho de 1974 quando a Suprema Côrte, no processo os Estados Unidos versus Richard M. Nixon, regeu que as fitas fossem liberadas. Elas logo revelaram que Nixon tinha estado pessoalmente envolvido numa conspiração para obstruir a investigação do Watergate. A crescente suspeita do envolvimento presidencial no escândalo resultou numa intensificação da investigação.

BRASIL: Em Julho de 2005, uma comissão mista Senado-Camara do Brasil, encabeçada pelo Senador Delcidio Amaral, do Mato Grosso do Sul, foi formada para investigar os assuntos relativos ao Mensalão. Um promotor especial, Antonio Fernando Souza, também foi incluído. Entre crescentes revelações do envolvimento do Planalto no esquema do Mensalão e suas consequencias, Lula anunciou uma ampla reforma ministerial, envolvendo seus conselheiros mais próximos, e a demissão de seu chefe da casa civil José Dirceu. A comissão do Senado e Souza exigiram abrir o sigilo bancário, fiscal e telefonico de todos os envolvidos, mas os 5 amigos do presidente se recusaram a divulgar o esquema, citando o privilégio do 'habeas corpus' concedido pelo então ministro-presidente do STF Nelson Jobim. Com isso, os 5 envolvidos mantiveram sigilo até Abril de 2006, quando os indiciamentos do operador do 'mensalão' Marcos Valério e de outros 40 acumpliciados revelaram ser operacionalmente impossível que Lula e seu Partido dos Trabalhadores (PT) não pudessem estar conjuntamente envolvidos numa conspiração criminosa para conseguir a re-eleição em 2006. A crescente suspeita do envolvimento presidencial no escândalo resultou numa intensificação da investigação.

ESTADOS UNIDOS: Entre 27-30 de Julho de 1974, a Comissão de Justiça da Camara - cujas audiências públicas tinham descoberto evidências de atividades ilegais da Casa Branca, recomendou que Nixon fosse impugnado por três acusações: obstrução da justiça, abuso dos poderes presidenciais, e tentativa de impedir o processo de impeachment desafiando as intimações da comissão. A comissão rejeitou duas outras possíveis acusações: o bombardeio secreto e sem autorização de Nixon do Camboja em 1969 e o uso por ele de fundos públicos para seu enriquecimento privado. Antes mesmo dessa revelação, a Comissão de Justiça da Casa dos Representantes dos Estados Unidos tinha votado 27 a 11 por iniciar os procedimentos do impeachment contra Nixon na primeira das três eventuais acusações. Com seu apoio político no Senado esmigalhando-se rapidamente, Nixon renunciou de seu cargo em lugar de enfrentar a remoção através do processo de impeachment.

BRASIL: Entre 27-30 de Março de 2006, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) - cujas audiências públicas tinham descoberto evidências de atividades ilegais do Planalto, recomendou - através de seu relator deputado Osmar Serraglio, do Paraná, que Lula fosse impugnado por três acusações: obstrução da justiça (porque a maioria dos membros do Congresso acreditaram que Lula encorajou outros à mentir em seu proveito), abuso dos poderes presidenciais (porque Lula interferiu na independencia do Legislativo), e grave omissão (porque Lula se omitiu após ser informado pelo governador de Goiás Marconi Perillo como também pelo presidente do PTB Roberto Jefferson, das incursões criminosas de seu amigo pessoal de longa data, o tesoureiro petista Delúbio Soares assim como do publicitário Duda Mendonça). A comissão rejeitou outra possível acusação: favorecimento ilícito ao filho do presidente da República - Fábio Luiz Lula da Silva, que será investigado pelo Ministério Público. Antes mesmo dessa revelação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tinha optado por iniciar os procedimentos da suspensão temporária do Partido dos Trabalhadores (PT) entre dezenas de eventuais acusações, inclusive por traição - face às denúncias de recebimento de dinheiro de governos estrangeiros (Cuba) e de organizações estrangeiras (Farc da Colombia) para financiar a campanha de 2002.

ESTADOS UNIDOS: Bob Woodward e Carl Bernstein, dois repórteres investigativos para o jornal Washington Post, foram premiados com Prêmios Pulitzer por sua cobertura do Watergate. As histórias deles revelaram freqüentemente novas dimensões do escândalo baseadas em informações e adiantamentos providos por um indivíduo que eles chamavam de Garganta Profunda. A especulação sobre a identidade do Garganta Profunda terminou recentemente, pois ele revelou-se em 31 de Maio de 2005 como o ex-agente do FBI W. Mark Felt.

BRASIL: O Garganta Profunda Brasileiro, um colaborador anônimo para o site Internet Nations, foi premiado com o Prêmio Putzgrila por sua cobertura contínua do escândalo do Mensalão desde cêdo de 2003. As histórias dele revelaram freqüentemente novos capítulos do escândalo do Mensalão desenvolvidos para a novela O Traidor da Pátria, cujos direitos autorais estão sendo negociados para a TV Brasileira.

ESTADOS UNIDOS: Os efeitos do Watergate foram de longo alcance e profundos. A descoberta que Nixon tinha abusado dos fundos de campanha conduziu ao Ato da Reforma de Campanha em 1974, que limita as contribuições de campanha e as despesas em eleições presidenciais. Em 1978, o Congresso também estabeleceu que o Advogado Geral da União, sob certas circunstâncias, pudesse pedir para que promotores especiais designados pelo tribunal investigassem o presidente e outros funcionários executivos do alto-escalão. Esses promotores especiais, que só podem ser removidos pelo Advogado Geral por razões amparadas, estão virtualmente livres de qualquer controle presidencial.

BRASIL: Os efeitos do Mensalão foram de longo alcance e profundos. A descoberta que Lula tinha abusado dos fundos de campanha conduziu à Lei da Reforma de Campanha em 2005 - que limita as contribuições de campanha e as despesas em eleições presidenciais responsabilizando os candidatos e que finalmente estabeleceu a cláusula da barreira de 5% de votação nas eleições gerais para representação no Congresso.

ESTADOS UNIDOS: Talvez o legado mais notável e duradouro do Watergate foi um senso de erosão da confiança pública nas instituições governamentais. O escândalo irrompeu ao fim da era da Guerra do Vietnã, um tempo quando muitas pessoas sentiam que o governo as tinha enganado sobre a conduta e o progresso da guerra. O Watergate só serviu para compor uma crescente desilusão com o presidente e os membros do Congresso. As pesquisas tomadas desde a época do Watergate constantemente revelam um marcadamente elevado ceticismo público sobre a veracidade e as intenções dos funcionários públicos eleitos.

BRASIL: Talvez o legado mais notável e duradouro do Mensalão foi um senso de erosão da confiança pública nas instituições governamentais. O escândalo irrompeu durante a chamada Guerra Fiscal entre os Estados e a União, um tempo quando muitas pessoas sentiam que o governo as tinha enganado sobre o uso do dinheiro público e a abusiva cobrança de impostos à sociedade. O Mensalão só serviu para compor uma crescente desilusão com o presidente e os membros do Congresso, resultando num aumento da desobediência civil e fiscal. As pesquisas tomadas desde a época do Mensalão constantemente revelam um marcadamente elevado ceticismo público sobre a veracidade e as intenções dos funcionários públicos eleitos.

ESTADOS UNIDOS: Richard Nixon serviu um total de 2.026 dias como o 37° Presidente dos Estados Unidos. Ele deixou o cargo durante seu segundo mandato em Agosto de 1974 - renunciando ante o iminente impeachment por crimes cometidos durante seu primeiro mandato, com 2,5 anos de seu segundo mandato remanescendo. Um total de 25 funcionários de sua administração, incluindo quatro membros do ministério, foram eventualmente condenados e presos por vários crimes.

BRASIL: Lula da Silva serve atualmente seu segundo mandato como o 30° Presidente do Brasil. Em seu primeiro mandato, um total de 40 funcionários de sua administração - incluindo vários membros do ministério, foram eventualmente denunciados pelo Procurador-Geral da República Antonio Fernando Barros e Silva de Souza e aguardam julgamento por crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e crimes contra o sistema financeiro. Em 2007 espera-se que o presidente do STF, a Ministra Ellen Gracie Northfleet assuma com dignidade as obrigações de seu cargo e julgue o presidente Lula da Silva por crime de responsabilidade, ou ao menos por grave omissão no exercício do cargo de presidente da república.

ESTADOS UNIDOS: Nixon tentou subverter não tanto a lei, mas o FBI. Por isso Watergate se transformou no instrumento do ex-agente Mark Felt (o Garganta Profunda) para reafirmar a independência do FBI, e dessa forma, sua supremacia. No fim, o FBI saiu prejudicado, séria mas não permanentemente, enquanto Nixon perdeu muito mais, talvez tudo - a presidência, o poder e qualquer autoridade moral que um dia pudesse ter tido. Ele caiu em desgraça, e assim morreu.

BRASIL: Lula tentou subverter não tanto a lei, mas as instituições. Por isso o Mensalão se transformou no instrumento de Roberto Jefferson para reafirmar a independência do Congresso, e dessa forma, sua soberania. No fim, o Congresso saiu prejudicado, séria mas não permanentemente, enquanto Lula perdeu muito mais, talvez tudo - a presidência, o poder e qualquer autoridade moral que um dia pudesse ter tido. Ele cairá em desgraça e no ostracismo, junto com seu morfético Partido dos Trabalhadores.



"HÁ UMA MAFIA NO GOVERNO LULA" - Entrevista do Deputado Jefferson ao jornal Argentino La Nacion
Terça-feira, 5 de Julho de 2005

SÃO PAULO, Brasil (La Nacion) - Roberto Jefferson, o homem que ao sentir-se traído decidiu expor as entranhas do governo Brasileiro, e que com suas denúncias de corrupção está causando uma explosão na primeira fileira do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, olha fixamente e dispara: "Sabe por que ninguém enfrenta minhas denúncias? Porque eu circulo em torno dos intestinos do poder. Eu os conheço, conheço o poder por dentro". Em uma entrevista com LA NACION no quarto de um hotel em São Paulo afirmou, além disso, que "dentro do governo opera uma mafia", que as denúncias não terminaram e que tem mais informações de 'grosso calibre' que dará a conhecer quando a hora chegar.
O deputado Jefferson, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sabe do que fala. Como advogado foi um dos companheiros mais fiéis de Fernando Collor de Mello, que renunciou à presidencia para evitar um julgamento político por corrupção. Líder astuto, com 23 anos de mandatos de deputado às costas, foi logo abraçado como aliado por Fernando Henrique Cardoso e, 2 anos atrás, pelo governo Lula. "Eu era um troglodita, pesava 175 quilos, andava armado e era agressivo", admitiu recentemente. "Mudei para melhor (baixei quase 80 quilos). Agora pratico canto lírico", disse ontem à LA NACION.
Enquanto falava, a convulsão política no Brasil alcançava um ponto crítico com a renúncia do secretário geral do governante Partido dos Trabalhadores (PT), Silvio Pereira. E, em conseqüência das denúncias de Jefferson, Lula terminava ontem de definir uma reforma ministerial e uma remoção de diretores de empresas públicas suspeitos, com a finalidade de conter a gravíssima crise que mantem ao país na infamia.
"Eu sabia que existia uma mafia, observei-a, mas não fui cúmplice", insistiu esse carioca da cidade de Petrópolis, que diz que adora tanto Buenos Aires que todas as semanas, nas Quintas-feiras, se hospedava no Hotel Alvear, e que retornava domingo a Brasilia. E, incomodado, disse: "Eu não sou um arrependido".
A história com a qual paradoxalmente este ex-homem de Collor está forçando a depuração do governo pode ser sintetizada assim: há um mês e meio a revista Veja descobriu um vídeo em que um dos diretores dos Correios negociava uma propina e dizia agir em nome de Jefferson. O deputado considerou que o autor da "traição à sua honra" era o então chefe da casa civil, José Dirceu, e decidiu falar. Admitiu ter recebido milhões de reais para a campanha de seus candidatos. Mas não somente isso: revelou que o PT tinha montado um esquema de paga extra para subornar deputados aliados. O dinheiro saía de uma agência de publicidade que recebia fundos das empresas estatais. Agora Jefferson antecipa que a próxima crise explodirá nos fundos de pensão das empresas estatais, controladas indiretamente pelo ministro das Comunicações, Luiz Gushiken, amigo de Lula. Disse que vai até as últimas conseqüências. "Eu sou meio índio. Vou lutar até o final com a faca entre os dentes".

- Deputado, por que decidiu contar tudo aagora?
- Ao pessoal do governo conto essa histórria há muito tempo. Eu a contei a diversos ministros, inclusive ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci (que em Março de 2006 renunciou face à violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo). Mas tudo morria em José Dirceu. Eu falei com ele diversas vezes sobre o assunto, até que dei-me conta que ele era o mentor do "mensalão", o chefe máximo.

- Mas o presidente sabia?
- O presidente soube em Janeiro de 2005 ttodos os detalhes, quando eu lhe contei. Foi surpreendido e começou a chorar. Se sentiu traído. Disse-me: "Roberto, conta-me os detalhes". Foi como se lhe tivessem dado uma punhalada no peito. Sua reação foi de alguém absolutamente surpreendido, chocado.

- Antes de que você contasse o caso, o prresidente surpreendeu a todos com uma frase forte. Disse que a você lhe dava um cheque em branco. Foi para que você não fizesse as revelações?
- Não, não foi por isso. Eu percebi que oo Dirceu armara uma operação com a Agencia Brasileira de Inteligencia Nacional (ABIN) para jogar toda a culpa da corrupção ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Quando dei-me conta disso, decidi tornar pública a história do "mensalão", que hoje se comprovou com documentos.

- O que era o mensalão?
- Era algo stalinista. A idéia era compraar a burguesia corrupta. A fim de evitar repartir o poder no governo convencendo aos aliados de que o projeto era bom, decidiram atuar de forma diferente: armaram um grande caixa para dar uma mensalidade aos deputados. Eu tenho 23 anos de mandato e nunca em minha vida tinha visto uma prática desse tipo: o PT financiando aos partidos de direita, a burguesia. Dinheiro para os deputados, todos os meses.

- Você é um arrependido da mafia do poderr?
- Eu não participei em nenhuma atitude quue possa desonrar-me. Eu a vi de longe, mas não ingressei no processo de corrupção. Não transformei minha bancada de deputados em um bloco de mercenarios. Acordos eleitorais sim, eu fiz. Mas não aluguei meu bloco. Há uma mafia que opera dentro do governo. Sabia que existia, a observei, mas não fui cúmplice.

- Antes de começar sua declaração no Conggresso, você disse que tinha em uma pasta as declarações do financiamento de campanha de todos os deputados que o íam interpelar, e que eram todas fraudulentas. Ninguém o contradisse. A política Brasileira está corrompida?
- Todo o sistema eleitoral Brasileiro traabalha em negro e é essa a base da corrupção. Embora elegessemos carmelitas descalças, elas se corrompiam imediatamente com esse sistema, porque a raiz da corrupção está no financiamento das campanhas. Ninguém me enfrenta porque sabem que eu os conheço, eu circulo em torno do intestino do poder. A origem do financiamento é a origem da corrupção. Como o governo é eleito com base na corrupção, o governo é corrupto. Surgem então as figuras como o PC Farías ou o Delubio Soares, o tesoureiro do PT. São figuras que circulam na sombra. A campanha eleitoral era o início da corrupção.

- Porque crê que o PT não conseguiu termiinar com isso, se sua bandeira era a luta contra a corrupção?
- Porque o PT não tem um projeto políticoo, mas um projeto de poder. Eu vi o PT nascer. Combateu a política neoliberal até com lutas físicas na Câmara dos Deputados. Mal chegou no governo praticou a política neoliberal da forma mais descarada e ortodoxa. Jogaram o discurso no lixo e começaram a fazer "caixa" para poderem permanecer no poder.

- O caso tem relação com as denúncias feiitas contra o PT quando governava municípios e estados?
- Sim, porque o PT não tem escrúpulos parra se financiar. No município de Santo André (onde foi assassinado o prefeito do PT em circunstâncias ainda não esclarecidas) os financiadores eram as empresas de onibus e as empresas de coleta do lixo. No Rio Grande do Sul o PT se financiava com a mafia dos jogos de azar.

- Você também negociou com o PT o financiiamento da campanha.
- Eu não sou nem melhor nem pior do que oo resto. Negociei com o presidente do PT, José Genoino, com Delubio Soares, o tesoureiro do PT e com Silvio Pereira, secretário geral. Tudo o que se discutia recebia logo o sim ou não de José Dirceu. Fizemos um acordo de R$20 milhões de reais, que o PT nos entregaria. Pagaram somente R$4 milhões.

- Onde termina tudo?
- Quando os fundos de pensão começarem a ser abertos à opinião pública nacional.

- Você se descreveu a si mesmo como trogllodita. Mudou?
- Eu mudei para melhor. Eu era muito gorddo, pesava 175 quilos. Me submeti à cirurgia da redução do estômago e perdi quase 80 quilos. Era extremamente agressivo e mudei quando me adelgacei. Agora pratico canto lírico.

- Está consciente de que pode perder o maandato?
- Minha preocupação é mostrar que não souu nem um herói nem um vilão. Não sou melhor nem pior do que ninguém, mas não vou sair dessa história como um canalha.



AS ACUSAÇÕES SÃO DEVASTADORAS: LULA ESTÁ SITIADO PELO ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO DO BRASIL
Sexta-feira, 22 de Julho de 2005

(Financial Times) - Em Paris, o ex-metalúrgico, eleito à presidência depois de duas décadas de ralar campanhas políticas, tinha sido louvado por sua defesa apaixonada de justiça social e os interesses dos países mais pobres do mundo. De volta ao Brasil, ele encontrou seu governo de 2,5 anos afundando mais e mais profundamente na crise política. O Sr. Lula da Silva foi cumprimentado por companheiros metalúrgicos protestando contra o escândalo de corrupção que tem assombrado seu Partido dos Trabalhadores (PT) durante quase 2 meses. O retrato dele adornou as capas das revistas de notícias do Brasil não em celebração do triunfo internacional mas para investigar o papel dele no pior escândalo de corrupção do país desde o impeachment e a renúncia 13 anos atrás de Fernando Collor, o presidente de então. "Quando e como Lula foi informado" gritava uma capa de revista. Um manifestante levava um boneco do presidente com a cueca cheia de dinheiro.
Que a sorte do Sr. Lula da Silva possa ser comparada com aquela do Sr. Collor é um desastre para um homem que reivindicou ser representante de um estilo mais representativo e transparente de governo. Alguns meses atrás o Sr. Lula da Silva parecia estar levando o Brasil sob um caminho de crescimento econômico sustentável e de reforma social muito-necessitada. O presidente tinha confundido os mercados financeiros pessimistas abraçando políticas fiscais e monetárias tão conservadoras quanto aquelas de Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, cujas reformas ajudaram a modernizar o Brasil nos anos 1990s. Os receios que o Brasil se tornaria inadimplente como a Argentina se provaram exagerados. A economia cresceu 4,9% em 2004, sua taxa mais rápida numa década, e o Sr. Lula da Silva desfrutava favorável opinião nas pesquisas.
Os investidores estrangeiros ainda estão confiantes que essa estabilidade está intacta. Os administradores de fundos têm caído sobre eles para comprar títulos da dívida Brasileira e durante os últimos 12 meses o Real ganhou cêrca de 29% contra o dólar, e seus rendimentos caíram ao redor de 8% em termos de dólares, comparados com mais que 25% três anos atrás. Em casa, entretanto, a crise seriamente arrisca os prospectos de re-eleição do Sr. da Silva e pode até mesmo forçá-lo a renunciar do cargo. O congresso do país foi paralisado, pela luta dentro da coalizão governista e agora pelas investigações de corrupção. A mídia do Brasil está examinando o denominado mensalão - grandes pagamentos mensais feitos supostamente a principalmente partidos mais à direita que votaram em favor do governo. O PT admitiu levantamentos irregulares de fundos e é acusado de ter sugado fundos da dívida pública para financiar campanhas para seus candidatos e aliados.
Os líderes mais antigos do PT renunciaram ou foram removidos. O Sr. Lula da Silva perdeu vários de seus principais tenentes políticos - entre eles José Dirceu, seu chefe da Casa Civil. As diretorias de várias empresas estatais sendo investigadas por alegações de corrupção tiveram que ser completamente substituídas.
Militantes de longa-data do PT, que durante anos doaram 10% de seus salários para fundos do partido, estão desorientados e confusos. "As acusações são devastadoras. Elas vão para o coração daquilo que o PT pregava", diz Chico Alencar, um congressista representando uma facção de um partido de esquerda. Considerado um dianteiro para a re-eleição na competição presidencial de Outubro/2006 somente 3 meses atrás, é agora possível que o Sr. Lula da Silva possa perder. Pior ainda, ele pode nem mesmo sobreviver até lá. Oponentes do partido Social Democrático (PSDB) do Sr. Fernando Henrique Cardoso e do direitista partido da Frente Liberal (PFL) poderiam tentar impugná-lo com o impeachment.
"É uma das crises políticas mais sérias na história do país", diz Amaury de Souza, um cientista político no Rio de Janeiro. "Lula encarna muito mais que a presidência". A queda do Sr. Lula da Silva também teria implicações além das fronteiras do Brasil. Como presidente do maior país da região o Sr. Lula da Silva tem sido um ponto de referência para aqueles que argumentam que a centro-esquerda da América Latina oferece a melhor oportunidade para manter a estabilidade, esposando políticas mercado-amigáveis e avançando a reforma social numa região polarizada e desigual. Alguns se preocupam que o beneficiário seria Hugo Chaves da Venezuela. Eleito esmagadoramente em Outubro de 2002, o carismático Sr. Lula da Silva parecia oferecer aos Brasileiros real esperança de progresso. Usando as habilidades sociais e políticas cultivadas no movimento dos sindicatos, ele encabeçava conversas com os líderes da sociedade civil, empresários e sindicalistas e bajulava políticos com churrascos. Era incômodo e lento mas parecia funcionar. A administração ganhou aprovação para propostas que tinham sido postergadas durante anos, inclusive varrendo uma reforma de previdência social, uma lei de falências para facilitar aos banqueiros emprestar e uma reforma constitucional apontada a melhorar a eficiência judicial. Mas nas eleições municipais de Outubro passado o PT foi batido em duas fortalezas tradicionais. Cêdo deste 2005 os líderes do partido mal-controlaram as posições de liderança na casa mais baixa do Congresso e perderam o controle da agenda legislativa. As relações com os aliados congressionais já estavam severamente tensas quando em Maio Roberto Jefferson, o líder de um partido aliado, denunciou o PT por pagar subornos para ganhar votos congressionais. As alegações nunca foram provadas mas investigações pelo congresso e pela mídia proveram significativa evidência circunstancial.
O PT no princípio tentou atribuir seus problemas a manobras direitistas projetadas a derrubar o Sr. Lula da Silva. Desde então o presidente tem oscilado entre o silêncio, tentativas de culpar seus antigos camaradas e apresentar o assunto como intrínseco à natureza dos políticos Brasileiros. Para os críticos do PT, o problema fundamental é que o partido procurou assaltar o aparelho estatal numa extensão sem precedentes. "O PT ... tinha fome e ansiedade para centralizar a tomada de decisões", diz o Sr. de Souza. Apesar da posição de minoria de seu partido na casa mais baixa do congresso, o Sr. Lula da Silva deu quase metade dos postos do gabinete à membros do PT. À muitos outros membros do partido foram dados empregos às custas de funcionários tecnicamente capazes. Enquanto que vários ministérios chaves - como Fazenda, Justiça e Relações Exteriores - têm sido operados ao longo de linhas meritocraticas, até uma reforma do gabinete em Julho ao menos 70% de funcionários públicos indicados vieram do PT. "O mérito foi jogado na caixa de lixo", diz Martus Tavares, um conselheiro para o governador de oposição do Estado de São Paulo. "Eles simplesmente decidiram ocupar a máquina do governo. Eu sou um diplomata de carreira. Eu trabalhei com 4 presidentes prévios e eu nunca vi qualquer coisa como isto".
Essa abordagem trouxe desvantagens importantes. Primeiro, partes da burocracia de governo têm sido ineficazes. O Sr. Tavares diz que os orçamentos não foram dispendidos por causa da austeridade mas porque os funcionários têm sido lentos para tomar decisões. Segundo, para manter o apoio dos aliados o PT desenvolveu uma relação quase mercenária com eles. Em lugar de acordar um programa de governo comum e oferecer uma parte na administração àqueles que buscavam implementá-lo, o Sr. Lula da Silva negociou com partidos como o centrista Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que buscou obter espólios para seus partidários. Os ministros têm sido mudados freqüentemente independente da sua efetividade. Se fraude foi cometida ou não, está claro que os líderes do PT se ocuparam de atividades pouco éticas, supostamente levantando fundos para seus representantes congressionais e para seus aliados através de empresas que foram premiadas com contratos do governo. "Lula permitiu quebrar o limite ético. Ele deveria ter usado seu carisma em vez de se comprometer com métodos políticos tradicionais", diz o Sr. Alencar. A economia do Brasil pareceu permanecer imune à crise. Por várias razões isso pode ser impossível de sustentar, porém.
Para começar, o escândalo parece provável adiar qualquer reforma adicional do tipo que sustentou a reputação do Sr. Lula da Silva em Wall Street. O cotidiano do governo foi paralisado pelo escândalo. Mudanças no disfuncional regime tributário do país e medidas para introduzir uma iniciativa de financiamento público-privada irão para a fogueira, como irá uma proposta para conceder autonomia ao Banco Central. "O risco não é mais um beco sem saída nas reformas - elas foram suspensas. O risco é uma paralisia completa do governo até que uma nova administração assuma em Janeiro de 2007" diz Walder de Góes, um analista Brasília-baseado.
Mais importante é a incerteza sendo gerada ao redor das eleições do ano que vem. As altas avaliações de popularidade pessoais do presidente - ainda permanecendo em mais que 50% - e a situação econômica pareciam lhe garantir um segundo triunfo sucessivo nas urnas.
Otimistas nos mercados argumentam que, até mesmo se o Sr. Lula da Silva fôr debilitado mais adiante, os beneficiários mais prováveis seriam o moderado Partido Democrático Social (PSDB) e o conservador Partido da Frente Liberal (PFL), que formaram o núcleo da aliança que apoiou o Sr. Cardoso durante os dois mandatos do governo dele até 2002. Considerando que esses partidos estão comprometidos com as políticas econômicas cautelosas perseguidas pelo Sr. Lula da Silva, os riscos para a estabilidade Brasileira foram vistos como mínimos. Muitos analistas argumentam que esse ainda é o resultado mais provável. Mas como o escândalo se aprofunda, a possibilidade cresce de um resultado menos palatável aos interesses estabelecidos. Bolívar Lamounier, um cientista político São Paulo-baseado, diz que muitos analistas dos bancos de Wall Street e seções da elite política do Brasil são culpadas de pensamento tendencioso.
Uma possibilidade preocupante é que o Sr. Lula da Silva poderia perder o controle de seu partido. Esquerdistas, marginalizados durante anos, são amargamente críticos do comportamento do governo e cheiram a possibilidade de ganhar terreno na assembléia nacional do PT em Setembro. O denominado "campo majoritário" que orquestrou o movimento ao centro - para o qual ambos o Sr. Lula da Silva e Antonio Palocci, o ministro das finanças, pertencem - foi bastante debilitado. Tantos quanto uma dúzia de congressistas de esquerda estão considerando abandonar o partido se o campo majoritário não modificar sua política econômica e abandonar sua aliança com os partidos direitistas. Ainda há uma possibilidade que o Sr. Lula da Silva possa ser arrastado diretamente no escândalo. Recentes investigações da mídia têm examinado de perto ligações em potencial. Nos últimos dias os Social-Democratas e a Frente Liberal endureceram a posição deles contra o Sr. Lula da Silva.
José Agripino, um senador da Frente Liberal, está entre aqueles que acham difícil acreditar que Lula não sabia o que ocorria. "Nós não estamos falando sobre figuras secundárias no PT que souberam sobre o financiamento ilegal. Todos eles eram muito próximos à Lula". César Borges, outro senador da Frente Liberal que requereu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esta semana para anular a licença de partido do PT com base no financiamento ilegal, diz: "Ninguém está fora dos limites. Se Lula, Palocci ou Dirceu estão envolvidos, eles não vão ser poupados só porque o mercado o quer". Como Gustavo Loyola, um ex-presidente do Banco Central e analista para a consultoria Tendências em São Paulo coloca: "O grande risco para as instituições é o aparecimento de um populista que tenha uma plataforma salvacionista, que diga, 'As elites são corruptas e eu sou honesto'. Essa figura ainda não apareceu, mas os políticos estão desacreditados. Novamente se fecharia o perene ciclo Brasileiro - sai um Traidor da Pátria para entrar um novo Salvador da Pátria.
"Eu não vejo o mercado se recuperando à níveis de algumas semanas atrás", diz Alexandre Lintz, estrategista chefe para o Brasil do BNP Paribas. Ele espera que os rendimentos dos títulos Brasileiros permaneçam em torno dos 420 pontos para o próximo mes. No médio e longo prazos, o Sr. Lintz acautela, a debilidade da aliança do Sr. Lula da Silva "não provê nenhuma garantia de governabilidade". Mesmo que o Sr. Lula da Silva ganhasse um segundo mandato, os investidores estão começando a se perguntar como que ele poderia governar. "A re-eleição de Lula está começando a parecer uma notícia ruim", diz o Sr. Rappaport, gerente de financiamentos da administradora de valores Investport de São Paulo. A exemplo do que ocorreu na Venezuela com o populista Hugo Chaves, o Sr. Lula da Silva parece querer manter-se no cargo às custas da divisão entre os Brasileiros...



CUBA PAGOU $3 MILHÕES DE DOLARES PARA A CAMPANHA DE LULA
Domingo, 30 de Outubro de 2005

SÃO PAULO, Brasil (Reuters) - Cuba contribuiu com $3 milhões de dolares para a campanha eleitoral de 2002 do Presidente Brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva - uma violação da lei eleitoral, a importante revista de notícias Veja reportou no Sábado. As acusações podem reacender um escândalo de corrupção do governo que o presidente parecia estar pondo atrás dele em recentes semanas. A campanha de Lula recebeu o dinheiro em Agosto e Setembro de 2002 através de um diplomata Cubano estacionado no Brasil, a revista Veja disse em sua última capa. Lula, um velho amigo do Presidente Cubano Fidel Castro, ganhou a eleição em Outubro daquele ano. Era a quarta tentativa dele pela presidência. Uma porta-voz do governo na capital de Brasília disse não haver nenhuma reação oficial imediata ao relato, que cita um ex-ajudante do ministro da fazenda brasileiro Antonio Palloci quando ele era um prefeito municipal. O diplomata Cubano, Sergio Cervantes, que era íntimo ao governante Partido dos Trabalhadores (PT) negou à revista qualquer financiamento de Havana. "Cuba precisa do dinheiro", ele disse. Foi a última numa série de acusações desde Junho acêrca da compra de votos e financiamento ilegal de campanha pelo Partido dos Trabalhadores que danificou seriamente sua reputação e popularidade. A liderança do partido foi purgada num esforço para superar a crise. "A acusação é muito séria e precisa ser investigada imediatamente", Alberto Goldman, o líder da oposição do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) no Congresso, disse para a agencia Estado. "Mas a lei é muito clara sobre proibir os partidos de receberem fundos ultramar. Se isto for verdade, poderia conduzir ao cancelamento do registro do PT". Veja não disse como o dinheiro chegou ao Brasil mas disse que ele foi controlado em Brasília pelo diplomata Cubano. Ele foi levado de avião de Brasília para a cidade de Campinas escondido em caixas de rum e uísque, então dirigido por carro a São Paulo, onde Delubio Soares, então o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, assumiu o controle dele para o comitê de campanha. Soares foi sacado como tesoureiro do partido seguindo-se acusações que ele operava o fundo de suborno ilegal. No fim de semana passado ele foi expelido do partido. Uma fonte para a história, Rogério Buratti, foi um ajudante do Ministro da Fazenda Antonio Palocci quando Palocci era o prefeito da cidade de Ribeirão Preto antes da vitória de Lula. Buratti não pôde substanciar as acusações mais cedo dele que Palocci estava envolvido num esquema de propina naquele momento. A segunda fonte, Vladimir Poleto, disse que ele viajou com o dinheiro no avião pensando que as caixas continham somente bebidas alcólicas. Foi-lhe falado depois que era dinheiro, ele disse. Lula visitou Castro em Cuba em Setembro de 2003 numa visita de estado oficial.



LULA DO BRASIL, CAÇADO POR SUBORNOS E VIDEOTEIPES
Terça-feira, 27 de Dezembro de 2005

(Bloomberg) - Um funcionário de nível-médio dos Correios Brasileiro toma um pacote de dinheiro de um provedor de software e o coloca no bolso esquerdo de seu paletó. Com um gesticular de mãos, o funcionário diz que está coletando o suborno em nome de um congressista da coalizão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que o funcionário, Mauricio Marinho, não sabia era que os R$3.000 reais ($1,350) do pagamento, que foi feito em Abril na sede dos Correios em Brasília, estava sendo secretamente gravado em vídeo pelo provedor. Desde que o vídeo foi transmitido em televisão nacional em Maio, ele se tornou a peça central da maior crise política do Brasil desde que o Congresso Nacional impugnou o Presidente Fernando Collor de Mello em 1992. Em Junho, o Deputado Roberto Jefferson, 52 anos, o congressista que Marinho disse estava atrás do esquema, negou a solicitação do suborno para si. Ao mesmo tempo, ele foi a público com uma alegação mais significativa: o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula estava pagando subornos mensais aos legisladores em troca dos votos deles no Congresso. As alegações de Jefferson cresceram rapidamente no tipo de escândalo que é uma constante no Brasil desde que o governo militar cedeu o poder em 1985. Promotores dizem que um ex-prefeito de São Paulo ajudou a desviar pelo menos $500 milhões de dólares de fundos públicos, e 18 membros do Congresso foram acusados em 1993 de desviar milhões manipulando o orçamento federal. E em Dezembro de 1992, Collor renunciou em cima de alegações que ele tinha supervisionado um desfalque e traficado subornos.
Agora o padrão está se acercando ao redor de Lula, um ex-trabalhador de fábrica que ganhou uma vitória esmagadora numa plataforma que incluía governo sem corrupção. O escândalo chocou os Brasileiros, que elegeram Lula, 60-anos, em 2002 por uma margem recorde de 61%.
"Eu realmente acreditei que ele trabalharia pelo país, mas nada disso aconteceu", diz Fernanda Job, 42-anos, uma planejadora de eventos no Rio de Janeiro. "Ele é pior que os outros, em termos de roubar. Eu nunca vi tanto escândalo". Lula, um ex-líder sindical automotivo, subiu à presidência do quinto-mais-populoso país do mundo em Janeiro de 2003 depois de mais de duas décadas de prometer combater a corrupção. Desde assumir o cargo, Lula apimentou o discurso com contos pessoais de fome como uma criança em Garanhuns, no estado de Pernambuco do nordeste do Brasil, à discutir por erradicar a pobreza com governo mais-honesto. Agora, Lula está lutando contra alegações de corrupção que custaram os cargos de seu chefe da casa civil e de funcionários do partido que ele ajudou fundar em 1980.
O partido dele publicamente se opõe às suas políticas econômicas. As avaliações de popularidade de Lula estão em recorde de baixa, caindo a 46,7% em meados-Novembro de 80% quando ele assumiu o cargo. Em 7 de Dezembro, Lula disse que não estava seguro se buscaria um segundo mandato em Outubro de 2006. A agenda legislativa do governo foi paralizada desde Junho. "A única coisa que o partido tinha para exibir era integridade e governo limpo - e Lula, que poderia ter posto uma marca histórica no desenvolvimento político do Brasil como Mandela na África do Sul", diz o congressista Ivan Valente, 59-anos, que deixou o Partido dos Trabalhadores por causa do escândalo. "Agora, Lula e o partido provavelmente terão que sair pela porta dos fundos depois de trair tudo que eles usaram para conquistar os corações dos Brasileiros", Valente diz. Desde Junho, testemunhas fizeram uma maratona televisiva de confissões para o Congresso sobre os empréstimos de campanha lavados por pequenas empresas de propaganda e dois bancos regionais nos altiplanos centrais do Brasil.
Elas também disseram que o ditador Cubano Fidel Castro enviou dinheiro, escondido em caixas de rum e uísque empilhadas num avião Piper Seneca, para políticos Brasileiros (O Ouro de Cuba). A polícia no Aeroporto de Congonhas de São Paulo pegou um ajudante de um legislador no dia 8 de Julho com $100,000 dólares dentro de sua cueca. Três dias depois, um congressista foi detido subindo a bordo de um jato particular no aeroporto de Brasília com R$10 milhões de reais dentro de 7 malas. Jefferson descreveu como os partidos políticos Brasileiros mantiveram dois jogos de livros para fugir dos limites de contribuição de campanha. Lula diz que seu Partido dos Trabalhadores (PT) nunca pagou subornos para ganhar apoio no Congresso. Ele também promove uma campanha para se distanciar do escândalo, deixando a base para uma proposta de reeleição, diz David Fleischer, um professor EUA-nascido na Universidade de Brasília. Numa entrevista televisiva de 2 horas em 8 de Novembro, Lula apontou desafiadoramente com o dedo indicador dele para a câmara e açoitou os legisladores da oposição que ele disse estavam fazendo acusações infundadas. "Eu estou seguro que não havia nenhum pagamento mensal", ele disse. Em eventos públicos, Lula puxa o aplauso com negações de qualquer envolvimento na corrupção. Em 7 de Dezembro, Lula disse que foi traído por funcionários renegados do Partido dos Trabalhadores que financiaram as campanhas com contribuições não relatadas.
O escândalo não negou o progresso de Lula em trazer o Brasil, uma nação de 185 milhões que é maior que os Estados Unidos continentais, fora de sua pior depressão econômica em 5 anos. O Brasil, a maior economia da América Latina, cresceu 4,9% em 2004, o passo mais rápido numa década, depois de crescer 0,55% em 2003. A expansão é provável reduzir à 2,66% em 2005, de acordo com estudos de economistas em 5 de Dezembro pelo Banco Central do Brasil. Tão longe, os investidores assumiram o escândalo do financiamento da campanha sem dificuldade, confiantes que Lula e o Ministro da Fazenda Antônio Palocci não reverterão as políticas econômicas que sustentaram os mercados financeiros. O índice Bovespa do Brasil saltou 30% desde que o escândalo irrompeu em Maio, enquanto que a moeda corrente do Brasil fortaleceu em 11%. Desde que Lula assumiu o cargo, a Bovespa quase triplicou à 32.480 em 8 de Dezembro, enquanto que o real ganhou 59% à 2,22 reais por dólar.
"As políticas têm sido boas e as coisas são favoráveis", diz George Estes, que ajuda administrar $3.5 bilhões de dólares em títulos de mercados emergentes na Grantham Mayo Van Otterloo Co. em Boston e detêm a dívida Brasileira. "Os escândalos e o fraco crescimento no terceiro trimestre aumentam o risco de deterioração na política, mas Lula parece continuar apoiando Palocci". Domesticamente, o escândalo debilitou o mandato de Lula. Alguns aliados anteriores do presidente Brasileiro no partido que Lula co-fundou em 1980 voltaram-se contra ele. Seis dos 9 partidos da coalizão governamental fugiram, terminando a dominação de Lula dos 513 assentos da Câmara dos Deputados. A casa superior ou Senado, tem 81 assentos. Duas dúzias de funcionários do governo saíram ou foram demitidos desde Maio, inclusive o Chefe do Gabinete Civil José Dirceu, a quem os investigadores da Comissão de Ética do Congresso dizem planejou e controlava o esquema de suborno.
Dirceu, 59-anos, um ex-líder estudantil esquerdista que sofreu cirurgia plástica para se esconder dos governos militares nos anos 1970s, foi banido pela Câmara dos Deputados de deter cargo público por uma década em 30 de Novembro por causa de seu alegado envolvimento no esquema pagamento-por-votos. Ele nega malversação. "Não há nenhuma prova contra mim", ele falou ao Congresso naquele dia. Em Setembro, Jefferson, um aficionado de ópera que fez seu nome em princípios dos 1990s defendendo Collor de alegações de corrupção, foi proibido de deter cargos públicos. Lula também enfrenta pressão de seu próprio Partido dos Trabalhadores e de dentro do palácio presidencial para abandonar as políticas econômicas que ganharam em cima dos investidores e executivos. No dia 10 de Dezembro, o Partido dos Trabalhadores, que uma vez defendeu que o Brasil deixasse de pagar sua enorme dívida externa, aprovou uma plataforma exigindo que Lula cortasse as taxas de juros e aumentasse os gastos. "Nós não permitiremos que partidos comprometidos com a ideologia neoliberal dos interesses financeiros dos Estados Unidos retornem ao governo", a plataforma diz.
Dilma Rousseff, a atual chefe da casa civil de Lula, criticou publicamente o Ministro da Fazenda Palocci, 45-anos, por cortar gastos que reduziram o déficit do orçamento do Brasil e diminuíram a dívida do governo. Em Outubro, o Vice Presidente José Alencar, que controla uma companhia têxtil, disse que o governo fez "um pacto com o diabo" mantendo as mais altas taxas de juros do mundo. Lula pode ser forçado a impulsionar o gasto em projetos como estradas, serviços de saúde pública e hospitais para aumentar a chance dele de ganhar a reeleição ano que vem, diz Fleischer, o professor da Universidade de Brasília.
"Eles começarão à abrir a torneira", Fleischer, 64-anos, diz. No centro do escândalo está Dirceu, que começou sua vida política liderando arruaças contra a ditadura que governou o Brasil de 1964 à 1985. Em 1969, camaradas de Dirceu seqüestraram o Embaixador dos Estados Unidos no Brasil Charles Elbrick para ganhar a liberdade de Dirceu e outros camaradas das prisões dos governos militares. Dirceu entrou em exílio em Cuba à treinar como um guerrilheiro antes de retornar para viver sob uma identidade simulada. Ele foi uma das 50 pessoas que começaram o Partido dos Trabalhadores em Fevereiro de 1980 numa churrascaria em um subúrbio de São Paulo. Como presidente do Partido dos Trabalhadores nos anos 1990s, ele ajudou a criar a ascensão de Lula ao poder derramando doutrinas socialistas como chamadas para deixar de pagar a dívida externa. Durante a campanha de Lula em 2002, Dirceu negociou uma aliança com o Partido Liberal (PL) do empresariado de Alencar. Como o chefe da casa civil de Lula, Dirceu supervisionou um esquema que desembolsou dezenas de milhões de dólares de fundos de campanha ilegais, de acordo com um relatório de 52-páginas pela Comissão de Ética do Congresso. Dirceu nega as alegações. Ele recusou comentar. "Ele fazia parte do grupo dentro do partido que acreditava ter que chegar ao poder a qualquer preço, inclusive trair seus ideais", diz Valente, que ajudou fundar o partido com Lula e conheceu Dirceu desde o final dos 1960s. O principal operador de Dirceu era Marcos Valerio Fernandes de Souza, 44-anos, um homem com olhos profundos que barbeia sua careca, diz Osmar Serraglio, um congressista de oposição que dirige uma das comissões que investigam as alegações de corrupção. Valerio está baseado em Belo Horizonte, um centro de mineração, agrícola e siderúrgico de 2,3 milhões de pessoas no estado de Minas Gerais. Valerio, que não teve nenhum treinamento em propaganda, começou a tomar o controle de firmas de propaganda em 1996. Ele começou a extrair fundos em nome de partidos políticos no estado acumulando as agências governamentais por serviços de propaganda já em 1998, diz Leonardo Barbabela, um promotor em Minas Gerais. Desde 2000, uma das empresas de Valerio, a DNA Propaganda Ltda., superfaturava com o estatal Banco do Brasil SA, o maior banco do Brasil, por cêrca de R$37,7 milhões de reais em contratos publicitários, de acordo com uma auditoria preliminar de Novembro pelo Tribunal de Contas da União (TCU) - que policia os gastos públicos.
As empresas de Valerio purgaram de outras entidades estatais, incluindo um contrato de R$21 milhões de reais da SMP&B Comunicação Ltda. para controlar o marketing para a Câmara dos Deputados, outra auditoria do TCU mostra. "A corrupção é comum em contratos estatais no Brasil; isso não é nada de novo", diz Adylson Motta, presidente do TCU, no escritório dele em Brasília perto do palácio presidencial. "O problema aqui é que o Partido dos Trabalhadores agiu com impunidade absoluta". Valerio recusou pedidos para comentários. Sob Lula, as empresas de Valerio prosperaram, recolhendo R$300 milhões de reais de serviços publicitários do governo de 2003 à 2005. "Esta é uma empresa que funcionava como cobertura para outras atividades desde o início", Barbabela diz. Valerio atraiu milhões de espectadores aos aparecimentos televisados dele diante das comissões congressionais conjuntas investigando as alegações de corrupção, algumas das quais duraram até a madrugada. Ele descreveu os desembolsos de empréstimos por legisladores autorizados para fazer retiradas de dinheiro de filiais de bancos em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Entre os documentos que Valerio deu aos investigadores congressionais, um lista 54 detalhadas retiradas de dinheiro por uma dúzia de legisladores ou seus ajudantes em 2003 e 2004, alguns tão grandes quanto R$350.000 reais. Os investigadores congressionais também têm registros mostrando que alguns dos maiores clientes de Valerio eram três companhias telefônicas uma vez administradas pelo banqueiro do Rio de Janeiro Daniel Dantas em nome do Citigroup Inc.: Brasil Telecom SA, Telemig Celular SA e Amazonia Celular SA. Dantas, 50-anos, foi despedido este ano como gerente controlador das ações do Citigroup nas companhias telefônicas depois de 8 anos de lutar com outros acionistas. Em 21 de Setembro, uma comissão congressional conjunta lhe pediu que explicasse uma onda de serviços publicitários desde que Lula foi eleito. Dantas disse que os fundos eram usados para serviços publicitários, não para cobrir contribuições à partidos políticos. "Nós nunca pedimos ao Sr. Marcos Valerio para interceder a nosso favor", Dantas disse.
O Partido dos Trabalhadores diz que alguns membros podem ter violado as leis de financiamento de campanha sem o conhecimento da direção. Funcionários de topo deixaram seus cargos, inclusive o presidente do partido e co-fundador José Genoino, 59-anos, que partiu no dia 9 de Julho. Genoino, um ex-guerrilheiro que foi torturado sob a ditadura militar, disse que ele não tinha feito nada erradamente. Delubio Soares, o tesoureiro do partido e um ex-professor de matemática de escola pública, assumiu a responsabilidade por não passar adiante empréstimos de campanha para partidos na coalizão de Lula e foi expelido do partido em 23 de Outubro. Soares, 49-anos, negou pagar subornos. Tão longe, a oposição parou repentinamente de pedir que o Congresso impugne Lula quando o testemunho trouxe o escândalo mais próximo do próprio presidente. Duda Mendonça, que supervisionou a propaganda e o marketing para a campanha presidencial de Lula, fez uma chorosa confissão para uma comissão investigativa congressional conjunta no dia 11 de Agosto que ele tinha sido pago ilegalmente em R$10 milhões de reais pelo trabalho na campanha de Lula de 2002, por uma companhia abrigada nas Bahamas. Vários legisladores do Partido dos Trabalhadores estavam chorando quando eles assistiram a confissão por Mendonça, um homem barbudo e calvo que fôra preso numa invasão à um ringue ilegal de briga de galos no Rio de Janeiro. Lula também pode ter violado a lei Brasileira permitindo que um amigo de longa data, Paulo Okamotto, pagasse uma dívida de R$25.000 reais relacionada à campanha para o Partido dos Trabalhadores, diz Alvaro Dias, um senador da oposição numa das comissões conjuntas que investigam as transações financeiras estrangeiras usadas no alegado esquema. "É duro acreditar que Lula não sabia sobre o esquema", Dias, 61-anos, diz. Há ligações ao presidente, mas ainda não há bastante apoio para iniciar os procedimentos do impeachment". O secretário de imprensa de Lula referiu-se às questões sobre o empréstimo de Okamotto ao Partido dos Trabalhadores, que diz que o empréstimo foi para o partido, não para Lula. O esquema de financiamento da campanha do Partido dos Trabalhadores foi amarrado aos esforços de Lula para remendar junto uma aliança que daria ao seu governo o controle do Congresso.
Um dos partidos que concordaram em unir à coalizão de Lula foi o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), liderado por Jefferson, que sofreu cirurgia do estômago nos anos 1990s para perder peso. Jefferson era uma velha nêmesis de Lula, defendendo Collor contra alegações de corrupção da mesma maneira que o Partido dos Trabalhadores tentou expulsá-lo. Em troca de unir-se à coalizão, Lula deu à Jefferson o direito de designar os executivos de topo dos Correios, dando ao partido dele o controle em cima do orçamento da companhia estatal. O Partido dos Trabalhadores saiu das eleições de 2002 com mais de R$25 milhões de reais em dívidas, levando o tesoureiro do partido, Soares, à buscar um executivo da propaganda de Minas Gerais: Marcos Valerio. Soares, num juramento à promotores federais em 15 de Julho, diz que um congressista do partido, Virgilio Guimarães, tinha-o apresentado a Valerio em 2002, e Guimarães soube que Valerio tinha acesso à créditos e experiência em levantar fundos para políticos. Logo que Lula assumiu o cargo em Janeiro de 2003, Soares diz que Valerio o apresentou para dois pequenos bancos em Belo Horizonte, o Banco BMG SA e o Banco Rural SA, e propôs usar as companhias dele para afiançar empréstimos para o partido.
Em 25 de Fevereiro de 2003, Valerio afiançou um empréstimo de R$12 milhões de reais do Banco BMG, que é o 31º-maior banco do Brasil, e o repassou adiante para Soares. Foi o primeiro de 6 empréstimos que somam cêrca de R$55 milhões de reais que Valerio diz que suas empresas afiançaram em nome do Partido dos Trabalhadores do Banco BMG e do Banco Rural, o 24º-maior banco do Brasil, usando as empresas de propaganda dele como cobertura. Os fundos foram desembolsados, Valerio disse aos investigadores congressionais, através de dúzias de retiradas em dinheiro pelos legisladores e seus assistentes autorizados por Soares. O investigador congressional Serraglio diz que os empréstimos realmente eram uma cobertura para subornos. Ele suspeita que mais dinheiro está envolvido porque os registros bancários mostram que as empresas de Valerio recolheram mais de R$3,5 BILHÕES DE REAIS de renda desde que Lula assumiu o cargo - o triplo dos três anos prévios. Valerio, Lula e os funcionários do Partido dos Trabalhadores inclusive Soares negam essas alegações. Gustavo Fruet, um congressista de oposição que está traçando o uso de Valerio do sistema financeiro no Brasil para o alegado esquema, diz que as empresas de Valerio eram uma frente para o Partido dos Trabalhadores pilhar fundos de companhias estatais. No dia 12 de Março de 2004, o Banco do Brasil baseado em Brasília ordenou que um adiantamento de R$35 milhões de reais fosse pago à DNA Propaganda de Valerio. Henrique Pizzolato, o diretor de marketing do banco, tinha recomendado o adiantamento para cobrir gastos futuros, os documentos fornecidos pelos investigadores congressionais mostram. Um mês depois de receber o adiantamento, a DNA colocou R$10 milhões de reais dos fundos em certificados de depósito no Banco BMG. Alguns dias depois, o banco emprestou à Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda., outra empresa controlada por Valerio, R$10 milhões de reais, com os Certificados de Depósito como colateral. Valerio diz que o empréstimo era um de 6 que as empresas dele afiançaram em nome do Partido dos Trabalhadores.
Fruet, 42-anos, e outros investigadores congressionais dizem que a transferência mostra como fundos da dívida pública - neste caso dinheiro de um banco estatal (o BANCO DO BRASIL - O TEMPO TODO ROUBANDO VOCÊ) - foi usado para financiar o partido, não só créditos dos bancos de Valerio. "Este é um caso concreto de fundos públicos sendo usados para financiar o partido governante", Fruet diz. Em Novembro, Fruet escreveu um relatório recomendando que Valerio e Soares sejam indiciados por operar um esquema de angariação de fundos ilegal. Valerio e os funcionários do Banco do Brasil negam as alegações. A coalizão de Lula começou a se quebrar em Maio de 2005, quando Veja, a maior revista de notícias do Brasil, publicou o pagamento em vídeo dos R$3.000 reais à Marinho, o diretor de compras dos Correios. Veja também liberou o videoteipe original em branco e preto da transação, com Marinho sentado à sua escrivaninha e explicando que ele estava solicitando subornos em nome de Jefferson, o homem que o tinha designado ao trabalho. Marinho disse que os fundos foram diretamente para Jefferson e o partido dele, de acordo com o videoclipe postado no Website de Veja. "O partido sabe sobre toda transação que nós fechamos", Marinho disse.
Desde Junho, três comissões congressionais questionaram testemunhas por até 10 horas nas ouvidorias subterrâneas do edifício do Senado em Brasília. Valerio e outros descreveram retiradas por carros blindados carregados de dinheiro de um banco para funcionários eleitos, mantendo dois jogos de livros contábeis e recebendo presentes como um novo Land Rover de contribuintes políticos. Em testemunho congressional no dia 21 de Junho, Marinho negou pedir o dinheiro. "Eu não sou corrupto", ele disse. Uma comissão também chamou testemunhas para explicar um relatório na revista Veja que reivindica que o Ministro da Fazenda Palocci em 2002 ordenou que um ex-ajudante apanhasse caixas de uísque e rum transportados de Cuba para Brasília com até $3 milhões de dólares para a campanha presidencial de Lula. O ministro da fazenda em 1 de Novembro negou as alegações, dizendo que as acusações estão "cheias de contradições". A embaixada Cubana em Brasília negou o relato. "Uma coisa levou à outra", diz o Senador Delcidio Amaral, 50-anos, que preside uma das três comissões congressionais que investigam as alegações. "Um pagamento de R$3.000 reais acabou sendo transformado em clamores de um bilhão ou até mesmo bilhões de reais". Jefferson disse à comissão congressional conjunta que ele nunca tinha recebido os pagamentos mensais. Ao invés, o Partido dos Trabalhadores lhe deu R$4 milhões de reais para pagar as dívidas de campanha do partido dele. Os fundos não foram informados, violando as leis de financiamento eleitoral Brasileiras e Jefferson renunciou como presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em Setembro, a Câmara dos Deputados votou por expulsar Jefferson depois de 23 anos no cargo. O Congresso está focalizando suas sondas em se os fundos que Valerio moveu pelas empresas dele eram empréstimos ou subornos. No Brasil, empréstimos ou contribuições de campanha não relatados levam a penalidades criminais inferiores que subornos. As reivindicações de Valerio que os fundos eram empréstimos são difíceis de acreditar porque elas simplesmente não fazem sentido empresarial para os dois bancos envolvidos, o Banco BMG e o Banco Rural, diz Fruet, o congressista de oposição numa das comissões congressionais conjuntas.
Os empréstimos foram rolados repetidamente, um relatório por Fruet mostra. Um empréstimo de R$18,9 milhões de reais pelo Banco Rural para a SMP&B Comunicação foi estendido por 6 vezes. As empresas de Valerio também mostraram pequena capacidade para reembolsar a dívida, Fruet diz. Uma das empresas de Valerio, a Graffiti Participações Ltda., pediu emprestado um total de R$25 milhões de reais em 2003 e 2004, embora a companhia tivesse informado lucro de somente R$139.867 reais durante aquele período, os documentos providos por Fruet mostram. E os bancos aceitaram os contratos de publicidade do governo como colateral enquanto tinham cláusulas que os previnem de serem usados para empréstimos, Fruet diz. "Esta idéia inteira que estes eram empréstimos é uma completa impostura", ele diz. "Este dinheiro claramente não foi destinado a ser reembolsado. Em Agosto, reguladores do Banco Central ordenaram que o Banco Rural e o Banco BMG fixassem aparte reservas para $39 milhões de dólares de empréstimos às empresas de Valerio. Os bancos dizem que eles satisfizeram todos os padrões do Banco Central para emprestar às empresas de Valerio.
A investigação pode continuar pelo ano de 2006 e além das eleições gerais de Outubro. Mesmo que Lula se recuse a dizer se concorrerá novamente, ele já está fazendo campanha. Em entrevista por rádio e televisão em 8 de Novembro e 7 de Dezembro, Lula defendeu seu registro e disse que foi traído por funcionários de seu partido que não informaram os empréstimos e contribuições de campanha. "Eu me sinto traído porque o Partido dos Trabalhadores nasceu para combater estes tipos de práticas políticas", Lula disse no dia 7 de Dezembro. "O Partido dos Trabalhadores não precisava fazer aquilo porque não é o dinheiro que ganha as eleições", o presidente disse. Em 23 de Novembro, num estaleiro em Niteroi, pela Baía de Guanabara do Rio de Janeiro, Lula assistiu José Oliveira, um líder sindical, soltar uma ígnea defesa do presidente. Oliveira disse que Lula era uma vítima de uma classe governante que está incomodada com um homem pobre no poder. Centenas de trabalhadores em capacetes olharam alegres quando Lula assumiu a cena, sugerindo que ele ainda é um herói para muitas das pessoas que o elegeram em promessas de empregos e ajuda aos pobres. As pesquisas mostram que alguma daquela aura pode estar minguando. Depois de 6 meses de escândalo nacionalmente televisado, algumas daquelas boas-novas podem estar se esvaindo.



"PIOR DO QUE O WATERGATE"
Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

SÃO PAULO, Brasil (Revista VEJA) - Com a instauração do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) destinado a investigar a responsabilidade de Lula e assessores no dossiêgate, a crise do governo salta do patamar político para o institucional - e, do alto desse novo degrau, a paisagem que se avista não parece nada tranquilizadora. O processo foi aberto a pedido de um bloco formado por políticos do PSDB e do PFL. Na representação, a coligação alega que Freud Godoy, Gedimar Passos e Ricardo Berzoini, assessores do presidente e do candidato Lula, cometeram crimes de abuso de poder econômico ao utilizar dinheiro não contabilizado para fins eleitorais - o R$1,7 milhão que seria empregado na compra do dossiê contra José Serra. A acusação se estende a Valdebran Padilha, empresário e filiado ao PT. O candidato Lula entra no processo por dois motivos: por ter sido o principal beneficiário dos dois supostos ilícitos eleitorais e porque sua situação se enquadraria no segundo parágrafo do artigo 30-A da Lei Eleitoral: "Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos para fins eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado". Ou seja: se Lula vencer as eleições e, depois de empossado, for considerado culpado pelo tribunal, perderá o mandato, assim como seu vice. Novas eleições serão convocadas e o petista ficará inelegível por três anos. Para o Presidente do TSE - Ministro Marco Aurélio Mello, o último escândalo petista é "pior do que o Watergate".



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AUTOR: INTERNET NATIONS
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