A TELEVISÃO NA EDUCAÇÃO

 

 

Santa Clara

 

Letra e música de Caetano Veloso

 

Santa Clara, padroeira da televisão

Que o menino de olho esperto saiba ver tudo

Entender certo o sinal certo se perto do encoberto

Falar certo desse perto e do distante porto aberto

Mas calar

Saber lançar-se num claro instante.

Santa Clara, padroeira da televisão

Que a televisão não seja o inferno, interno ermo,

Um ver no excesso o eterno quase nada (quase nada)

Que a televisão não seja sempre vista

Como a montra condenada, a fenestra sinistra

Mas tomada pelo que ela é de poesia.

 

 

Liguem a TV: vamos estudar!

 

Novelas, seriados, desenhos animados, noticiários... Qualquer programa de televisão pode ser usado na sala de aula para introduzir ou aprofundar conteúdos e para discutir valores e comportamento

 

Ela usa ação, imagens e sons especialmente selecionados para prender a atenção da garotada.

Ajuda na formação de memórias de longa duração.

É capaz de desenvolver a imaginação dos jovens, e as histórias que ela conta são tema de conversas e debates acalorados entre eles.

E tem mais: os alunos certamente permanecem de olhos grudados nela em tempo igual ou superior ao que ficam na escola.

 

Dá para desprezar uma ferramenta pedagógica com essas características?

 

"A TV não é perfeita e o sistema educativo não vai mudá-la.
Então, a escola deve usar esse recurso em benefício próprio."

Ismar de Oliveira
Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).

 

Quem vê?

 

A televisão é o veículo de comunicação de maior alcance no país e o meio de informação e entretenimento mais utilizado pelos brasileiros.

 

Sua influência é inegável. Há dois anos, um estudo do Ateliê Aurora, programa de pós-graduação em educação da Universidade Federal de Santa Catarina, constatou que assistir televisão era a atividade mais marcante da rotina das crianças de todos os contextos sociais. Os jovens gastam em média de quatro a cinco horas por dia na frente de um aparelho de televisão.

 

Dados do Instituto Marplan Brasil do primeiro trimestre de 2000 mostram que 98% da população acima de 10 anos assiste à TV pelo menos uma vez por semana.

 

Segundo projeção do Grupo de Mídia para 2000, mais de 39 milhões de lares, o equivalente a 87,4% dos domicílios do Brasil, possuem um ou mais televisores.

 

A Rede Globo, a maior emissora do Brasil, cobre quase a totalidade dos municípios brasileiros. Seu sinal chega a 99,77% dos domicílios com aparelhos de TV do país.

 

O SBT vem em seguida, atingindo 97,58% dos lares. A Bandeirantes abrange 60,36% dos municípios, a Record 42,38%, a Rede TV 29,85% e a CNT 6,10%.

 

O público feminino é o que mais assiste à TV (53%).

 

A televisão chega a todas as camadas sociais: 8% dos telespectadores pertencem à classe A; 29%, à classe B; 37%, à classe C; 23%, à classe D, e 3% à classe E.

 

A maior parte está na faixa de 20 a 29 anos (22%); seguida pela de 30 a 39 anos (21%), segundo a Marplan Brasil.


Em termos de publicidade, as emissoras de TV detêm a maior fatia da verba destinada a anúncios nos meios de comunicação: 55,5% dos 2,9 bilhões de dólares gastos no primeiro trimestre de 2000, conforme o Projeto Inter-Meios, da Editora Meio & Mensagem.  

 

Analisando os dados acima, o que podemos constatar?

 

Um pouco de história

 

Já houve tempo em que um aparelho de TV na sala de casa era símbolo de status. Nos anos 50, quando começaram as transmissões comerciais no Brasil, apenas alguns milhares de residências tinham acesso à novidade. Objeto de consumo tão restrito naquela época quanto hoje é o videofone, a televisão gerou em seus primórdios a figura folclórica do “televizinho” – o amigo da casa ao lado que era convidado, ou se convidava, para acompanhar a programação.

 

Em pouco tempo, no entanto, o aparelho se popularizou, chegando aos lares das classes sociais menos privilegiadas. Graças ao avanço da tecnologia, as imagens ganharam cores e as telas puderam ser reduzidas (em formatos portáteis, alimentados por pilhas comuns) ou ampliadas (nos chamados telões).

 

Quem é ela? Por que utilizá-la?

 

Não é nada fácil para os adultos que cresceram ouvindo críticas a esse meio de comunicação tratá-lo bem.

 

Segundo Maria Thereza Fraga Rocco, professora da Faculdade de Educação da USP:

 

"Se ela fosse tão influente na atitude das pessoas, bastaria termos uma TV perfeita para vivermos na sociedade dos sonhos".

 

Existem os programas violentos, os que veiculam valores distantes do que os educadores querem passar aos alunos e os que tratam a realidade de maneira simplista ou equivocada. Mas inclusive esses podem render bons frutos:

 

"Tudo o que passa na televisão é educativo. Basta o professor fazer a intervenção certa e propiciar momentos de debate e reflexão."

 

Quem garante é José Manuel Moran, professor das Faculdades Sumaré, em São Paulo, e pesquisador na área de tecnologias aplicadas à educação.

 

Portanto, abandone o discurso que rotula a telinha como a raiz de todos os males e procure assisti-la com outros olhos.

 

A violência física e psicológica permeia, com maior ou menor intensidade, quase todos os gêneros de programas. Embora os efeitos dessa superexposição sobre o comportamento dos telespectadores não possam ser medidos, é impossível negar que ela contribui para deformar a percepção da realidade. A televisão cria uma espécie de “mundo paralelo”, que muitos associam, de maneira equivocada, à realidade. A formação de telespectadores conscientes, capazes de “ler” a televisão sob o prisma da ética e da cidadania, torna-se em função disso uma prioridade de que a Escola não pode abrir mão.

 

O desafio de ensinar seus alunos a ver televisão

com esse olhar crítico exige, antes de tudo,

um conhecimento mais aprofundado

desse poderoso meio de comunicação.

 

Elvira Souza Lima, pesquisadora na área de neurociências aplicada à mídia, de São Paulo, explica que a linguagem que a TV usa imagens em movimento, coloridas, trabalhadas com cortes e fusões e envolvidas em trilhas sonoras especialmente escolhidas mobiliza o sistema límbico, estrutura do cérebro responsável pelas emoções, o que leva a um estado de atenção concentrada. Alguns programas ainda desafiam a imaginação ao propor questões e não dar as respostas imediatamente.

 

"A novela e as minisséries fazem isso muito bem, terminando os capítulos com suspense."

 

Exemplifica Elvira.

 

Com tantos recursos usados para emocionar e prender a atenção, será que a TV não pode se tornar mesmo um instrumento de manipulação de mentes? Sim, pode.

 

Por isso, levar a televisão para a sala de aula implica também ensinar os alunos a vê-la com olhar crítico.

 

Para Gilka Girardello, coordenadora do Ateliê Aurora, o fundamental é fazê-los entender que a televisão não é uma "janela para o mundo" como gostam de caracterizar os mais entusiasmados:

 

"A televisão é um recorte muito bem produzido e montado da realidade e não a realidade".

 

Estimular os alunos a opinar sobre os programas e chamar a atenção deles para os cortes das cenas e o uso da trilha sonora ajuda a criança a perceber as diversas possibilidades do meio.

 

Uma outra característica da televisão é trabalhar com temas atuais. Dessa forma, ela pode atualizar conteúdos dos livros didáticos ou mesmo fornecer material que ainda não está neles.

 

As novelas, minisséries, seriados ou episódios contam histórias do cotidiano. Ao abordar conflitos pessoais ou sociais comuns, prendem a atenção pela previsibilidade ou pelo humor. Essa relação entre o real e o imaginário atrai os telespectadores, que se identificam com situações ou personagens. A aproximação com a vida real fornece rico material para discutir valores e comportamentos.

 

Para Ismar de Oliveira, o maior atrativo da telinha é ela ser puro entretenimento: "Ela trabalha com humor e síntese e conta histórias sem parar". E, bem trabalhada em sala de aula, pode ser o recurso que faltava para tornar as aulas mais dinâmicas e atraentes. 

 

“Uma escola que não ensina como assistir à televisão é uma escola que não educa”

 

Quem afirma é o pedagogo espanhol Joan Ferrés. Autor de livros como Televisão e Educação, Televisão Subliminar e Vídeo e Educação, ele observa que a tendência no meio escolar é a de adotar atitudes unilaterais diante do fenômeno da televisão.

 

Ele observa que a tendência no meio escolar é a de adotar atitudes unilaterais diante do fenômeno da televisão. Ferrés lembra que, segundo Umberto Eco, as atitudes extremistas acabam confluindo, levando a resultados semelhantes. “A atitude mais adequada é a aceitação crítica, o equilíbrio entre o otimismo ingênuo e o catastrofismo estéril, um equilíbrio que assuma a ambivalência do meio, as suas possibilidades e limitações, as suas contradições internas.”

 

Para o professor Clóvis de Barros Filho, autor do livro Ética na Comunicação, “a televisão é o principal manancial de referenciais cognitivos dos alunos, e muitos professores têm um preconceito tão grande que se tornam incapazes de sequer reconhecer esses mananciais”. Ele afirma que:

 

“A escola deve preparar para os meios de comunicação de massa, e não condená-los. Os alunos vão passar a vida inteira assistindo à TV, e muitas vezes não se gasta um segundo para ensiná-los a ver tanto o Jornal Nacional quanto Os Cavaleiros do Zodíaco”

 

A Escola pode desempenhar um papel insubstituível no estímulo ao desenvolvimento de telespectadores críticos. A opinião é do jornalista e crítico de TV Eugênio Bucci, autor dos livros O Peixe Morre pela Boca e Brasil em Tempo de TV, que reúnem artigos publicados em jornais e revistas.

 

Para Bucci:

 

“Saber ver criticamente a televisão é condição básica para o exercício da cidadania”.

 

O jornalista considera fundamental que a Escola abra “um canal pelo qual as crianças possam se manifestar, verbalizar, elaborar, por que vêem televisão, o que gostam de ver na TV, o que as atrai. Depois disso, imagino ser possível, aos poucos, desmontar o discurso da televisão e também o da publicidade”, prevê.

 

Dessa forma, Bucci acredita que se estaria plantando “a semente para o desenvolvimento de telespectadores críticos”.

 

“Mais importante do que controlar o que a TV veicula diariamente é preparar o público, sobretudo os telespectadores mirins, a vê-la sem se submeter a ela. O importante é saber usá-la para a vida, sem ser usado por ela”.

 

 

Qual é sua posição quanto o uso da televisão na escola?

Você se considera um “apocalíptico” ou “integrado”?

Para refletir um pouco mais sobre o assunto, apresentamos o texto

Educadores dividem-se entre apocalípticos e integrados

Disponível na Revista Nova Escola, edição de dezembro de 1998.

 

 

Do ponto de vista de um processo de ensino e aprendizagem – entendido como comunicação, diálogo, interação, construção de conhecimentos -, chegou o momento de encerrar o julgamento e assumir que há uma cultura televisual, estruturada por dinâmicas comerciais, que proporciona aos jovens informações, valores, saberes e padrões de consumo. É preciso conhecê-la, analisá-la criticamente e responsabilizar-se por estabelecer situações de comunicação entre gerações e entre culturas.

 

 

 

 

Desafios para o educador

 

A televisão, como tecnologia, é um dos fatores de mudança que há muito tempo abandonou suas características de mero suporte e criou sua própria lógica, sua linguagem e maneiras particulares de comunicar-se com o homem por meio de suas capacidades perceptivas, emocionais,cognitivas e comunicativas.

 

Quando estamos envolvidos com o enredo de um filme de terror, custamos nos lembrar que é apenas um filme. Nossa primeira forma de compreender é emocional. Primeiro assustamo-nos e só depois analisamos o que vemos na mídia, utilizando nosso raciocínio.

 

A TV fala primeiro aos sentimentos, às emoções – “o que você sentiu”, não o que você conheceu. Essa frase procura explicar a maneira como a televisão nos aborda. Mostra que as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva. A televisão mexe com o emocional, com as nossas fantasias, desejos, instintos. Observe que imagem, palavra e música integram-se dentro de um contexto comunicacional afetivo, de forte impacto emocional, que facilita e predispõe a aceitar mais facilmente as mensagens.

 

A compreensão da televisão como um dos principais meios de aquisição de informações orienta a nossa observação para a forma especial como essa aquisição acontece. Ao contrário da leitura de livros, orientada no sentido do alfabeto (horizontalmente, da esquerda para a direita), a leitura televisiva ocorre por meio de olhadelas rápidas, diz-nos

Kerckhove. A imagem é percebida pelo telespectador por meio da junção de pontos dispersos na tela.

 

As crianças, que estão muito acostumadas com a percepção das imagens televisivas, tentam utilizar o mesmo processo para a leitura dos textos impressos. Não dá certo. A leitura requer prática repetitiva e capacidade interpretativa.

 

Para ver televisão, aparentemente, não precisamos de instruções ou treinamento. As imagens são construídas em nossa mente a partir dos estímulos visuais oferecidos na tela, em um processo dinâmico e veloz. Ver televisão é interagir permanentemente com as imagens apresentadas na tela. Como diz Kerckhove, a imagem formada não precisa necessariamente fazer sentido para nós. O que se forma é a imagem, que irá ficar gravada em nossa lembrança, mesmo sem a compreendermos totalmente.

 


1. Agora reflita sobre as implicações desse estudo de Kerckhove. Se a TV fala mais à emoção, pode, sozinha, responder pela educação do homem?

2. A TV dispensa uma leitura interpretativa?

3. Qual o seu papel como educador ao trabalhar TV na sala de aula?

 

As tecnologias de comunicação e informação que utilizamos diariamente, como a televisão, por exemplo, oferecem formas novas de aprendizagem: novas lógicas, competências e sensibilidades. Esses comportamentos são bem diferentes do processo linear, sistemático e previsível das aprendizagens em que predominam os aspectos supostamente racionais, privilegiados pelas formas regulares de ensino.

 

A distância existente entre as especificidades das aprendizagens realizadas a partir das mediações televisivas e as metodologias de ensino tradicionais de sala de aula constitui um grande desafio para o educador. Esse desafio pode ser encarado como um obstáculo intransponível. Diante dele a pessoa pode passar a ignorá-lo ou pode vê-lo como oportunidade para a realização de parcerias, integrando as práticas e os saberes escolares às possibilidades de aprendizagem oferecidas pela televisão.

 

 

Procure refletir sobre essas questões, lembrando também os estudos de Kerckhove.

 

1. Você usa a televisão para aprender e ensinar?

2. E seus alunos, como usam a televisão?

3. Palavra e imagem excluem-se, complementam-se ou justapõem-se?

4. Observe as relações entre palavra e imagem num programa

de TV.

5. Experimente ver apenas as imagens e desligar o som.

6. Agora experimente o contrário. Procure colocar-se no lugar

de pessoas portadoras de necessidades especiais, como os

cegos e os surdos.

 

 

Exercitando

 

O hábito de ver televisão é característica cultural da nossa época. O espaço televisivo fez-se o centro de informações e referências sociais e culturais, tornou-se parceiro de interlocuções e interações afetivas em uma sociedade múltipla, dispersa e fragmentada.

 

No texto a seguir você encontrar uma cena do cotidiano.

 

“A rotina e os hábitos vespertinos de minha avó se alteraram quando o seu cotidiano foi invadido pelas imagens da televisão. Velhinha, minha avó deixou as leituras e os bordados e passou a se arrumar para receber as visitas diárias que vinham através daquele estranho aparelho. Na sua maneira de perceber, era impossível que a “janela tecnológica” fosse unidirecional. Se nós víamos os que estavam “do outro lado”, eles também nos percebiam. Arrumada e perfumada, ela sentava-se na sala para ver e ser vista. E, em alguns momentos, arriscava um aceno ou sorriso para os seus artistas preferidos....”

 

Comente a cena considerando os questionamentos a seguir, dentre outros que lhe ocorram.

 

1. Você já vivenciou alguma situação desse tipo, relacionada às tecnologias?

Procure recuperar experiências, conhecimentos, sentimentos,

emoções, dificuldades.

 

2. E hoje, o que pensa a respeito dessa experiência?
Como as pessoas assistem à televisão?

 

 

Exercitando

 

Quais as diferenças na forma de usar a televisão

em casa e na escola?

 

Seus alunos, como usam a televisão?

 

Quanto tempo às crianças passam diante de uma televisão?

 

Quais os programas mais assistidos pelos alunos?

 

Qual seria o papel do educador diante disso?

 

 

Localizar os programas na programação da televisão nos jornais ou revistas:

Marque os programas que você mais gosta de assistir:

 

 

1) A quais desses programas de TV você assiste?

2) A quais deles seus alunos assistem?

3) Como você avalia os programas a que seus alunos mais assistem?

4) Como avalia os programas de maior audiência em sua casa?

5) Há opções mais interessantes para escolher?

6) Que programas você indica para crianças e adolescentes?

7) Há programas que você desconhece? Quais?

8) Há programas que você deseja discutir, analisar? Quais?

 

Cada professor precisa reconhecer a necessidade de melhorar sua qualificação enquanto telespectador. E mobilizar-se para superar o nível superficial do gosto / não gosto, em relação à TV, construindo, pouco a pouco, um novo saber e um novo nível de relação consciente com ela. Buscar os porquês de seus “gostares e não-gostares”. Cabe ir um pouco mais fundo: perguntar-se o que são, como atuam, o que desejam esses conteúdos e formas, essas imagens, sons e textos mixados, que vão formatando mesmo nossas subjetividades.

 

 

Quanto às indagações e pressões de alunos, querendo manifestações do professor sobre programas assistidos, cujos heróis e vilões, algozes e vítimas provocam discussões acaloradas, já será uma novidade positiva que o professor conheça os programas que estão alimentando seus alunos. Assim, poderá conversar com os alunos sobre eles, poderá identificar a leitura que fazem deles, e seus principais equívocos. A ferramenta principal não será corrigir, desmentir, discordar.


A ferramenta básica é perguntar :
conversar perguntando, perguntar conversando.

 
Ouvir as respostas, valorizá-las... e perguntar sobre elas.

 

Assim, para a educação, torna-se fundamental discutir e pensar sobre o quanto nós, professores, talvez saibamos muito pouco a respeito das profundas transformações que têm ocorrido nos modos de aprender das gerações mais jovens.


Afinal, o que é para eles estar informado ou buscar informação?


De que modo seu gosto estético está sendo formado?


O que seus olhos buscam ver na TV, o que olham e o que dizem do que olham?


Que sonoridades lhes são familiares, aprendidas nos espaços da mídia?


O que lhes dá prazer nessas imagens midiáticas?


Com que figuras ou situações alunos e alunas se identificam mais acentuadamente?


Que modos de representar visualmente os objetos, os sentimentos, as relações entre as pessoas são cotidianamente aprendidos a partir da linguagem da televisão?


 De que modo vamos aprendendo a desejar este ou aquele objeto, através das imagens e sons da TV?


Que novos modos de narrar, de contar histórias, aprendemos através da experiência diária com a TV?

 

 

Currículos escolares tentam ignorar que fora da sala de aula as crianças muito aprendem sobre o mundo, que a informação que a mídia lhes lega é acessível.
A escola é solicitada a estimular competências não para simplesmente ler, interpretar, mas para compreender meios e mensagens audiovisuais que os jovens consomem e com que se envolvem afetivamente. Deve encorajá-los a conhecer a mídia, ativar-lhes o pensamento crítico, analisar o que a TV veicula.

 

Exercitando

 

 

 

A imagem na televisão, no cinema e no vídeo é sensorial, sensacional e tem um grande componente subliminar, isto é, passa muitas informações que não captamos conscientemente.

 

1. Destaque algumas expressões características da linguagem televisiva Por exemplo: ritmo alucinante, impacto emocional, imagens referenciais, ou ainda, cenários, cores, movimentos.

2. Com a lista resultante à mão, assista/pense no seu programa favorito de TV.
3. Procure encontrar nele e nos comerciais que se intercalam cenas relacionadas com as expressões que você destacou.
4. Anote outros aspectos que você não registrou antes, mas percebeu ao acompanhar o programa escolhido.

 

TV e vídeo são sensoriais, visuais, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras. Televisão e vídeo seduzem-nos, informam-nos, entretêm-nos, projetam-nos em outras realidades (no imaginário) e em outros tempos e espaços.

 

Televisão e vídeo combinam a comunicação sensório-cinestésica* com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. Integração que começa pelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional.

 

Note que é uma comunicação poderosa. As novas tecnologias de multimídia e realidade virtual estão tornando o processo de simulação exagerado ao ponto de confundir-se com a experiência, explorando-o até limites antes inimagináveis.

 

 

*Comunicação sensório-cinestésica:mensagem que nos alcança por meio dos sentidos e inclui a percepção do próprio corpo.

 

 

Exercitando

 

 

 

A partir da grade de programação analisada,

podemos classificar os programas conforme você os considera:

 

 

Educativo com finalidade explícita de ensinar

Educativo sem finalidade explícita de ensinar

Não educativo

Deseducativo

 

 

Como você define programa educativo? Dê exemplos:

 

É possível aprender com programas e filmes não produzidos para educar?

 

 

Escolher um programa de TV ou filme para elaborar uma proposta de utilização pedagógica do programa escolhido:

 

 

 

 

Exercitando

 

Observe a imagem:

 

 

Esta campanha institucional lembra que o potencial de cada criança pode ser canalizado de maneira positiva ou negativa; depende do que for oferecido a ela.

 

Exercitando

 

A programação de TV é classificada em gêneros, para organizar industrialmente a produção cultural. Gênero televisual é um conjunto de programas de TV com características comuns relacionadas a formas e a conteúdos. Os gêneros atendem a necessidades características do produto industrial, como padronização e diferenciação. A função dos gêneros não se limita à econômica, ela é também cultural. … estratégia de leitura.

 

A reportagem “O Poder da Telinha” da Revista Nova Escola, de dezembro de 1998 traz algumas reportagens interessantes sobre os gêneros apresentados na televisão.

 

 

Novela

 

 

Telejornais

Programas de Auditório

 

Publicidade

 

Vamos comentar, apontando aspectos relevantes para nossa prática cotidiana.

 

Como fazer?

 

Como usar a TV em sala de aula:

 

Para que o uso produza resultados positivos na aprendizagem, antes de ligar o aparelho lembre-se de:

 

- Gravar o programa e selecionar as cenas que serão exibidas aos alunos, fazendo o recorte dentro dos seus objetivos.

- Planejar as aulas propondo exercícios e atividades relacionadas ao vídeo: eles não podem ser exibidos como se fossem auto-explicáveis.

- Checar a qualidade da imagem e do som.

- Parar a exibição sempre que necessário para comentários ou explicações.

- Pedir para os alunos anotarem as cenas mais importantes, as falas e os detalhes mais marcantes.

- Rever as cenas mais importantes.

- Observar as reações do grupo para voltar aos pontos da exibição que a turma mais se deteve.

- Ao adotar a televisão como recurso pedagógico, convém avisar os pais pois eles podem ter preconceitos e achar que a escola está enrolando ao colocar a turma na frente do aparelho "em vez de" dar aula.

 

Como NÃO usar a telinha em aula:

        

Sem critério e objetivos pedagógicos claros, a televisão pode virar embromação. Portanto, evite:

 

- Usar como tapa-buraco quando falta professor ou acontece algum contratempo.

- Passar vídeo que não tenha relação com o conteúdo: as crianças percebem que essa é uma forma de camuflar a falta de planejamento.

- Usar o recurso em todas as aulas e esquecer outras dinâmicas: o exagero diminui a eficiência e empobrece as atividades.

- Criticar sistematicamente possíveis defeitos de informação ou estéticos: se eles existirem, desafie a turma a encontrá-los e a questioná-los.

- Assistir à televisão com os alunos sem discussão: qualquer assunto que venha da televisão deve ser integrado com o tema da aula.

 

Alguns exemplos...

 

1.

O coordenador pedagógico do Colégio Pentágono, em São Paulo. Carlos Nascimento Júnior precisava encontrar um assunto de interesse dos alunos de 5ª e 6ª séries para ser tema do jornal do colégio no ano passado: "Sempre achei a programação da televisão ruim e fútil e me recusava a perder o pouco tempo livre na frente dela. Mas percebi como esse meio de comunicação é importante na vida das crianças e resolvi dar mais atenção a ele".

Carlos notou a influência dos desenhos animados na fala e nas atitudes dos garotos e não teve dúvidas. Os jovens de 5ª e 6ª séries levantaram os desenhos preferidos pelos colegas da 4ª série, assistiram aos vídeos, discutiram a maneira como os personagens se relacionavam muitas vezes com brigas e violência e conceitos de justiça e amizade. Cada um escreveu um artigo para a publicação baseado nesses debates. Em um dos episódios, um erro científico: duas naves explodem no espaço produzindo barulho e fogo. "Como pode haver som no espaço se ele não se propaga no vácuo? (...) O fogo precisa de oxigênio para queimar, e no espaço não tem oxigênio", questionou Isabela Tavares em seu texto.

 

2.

José Manuel Moran afirma que, quando os alunos produzem programas, captando imagens e selecionando cenas, fica mais fácil perceber as intenções de quem faz televisão. Mas, para tanto, a escola precisaria ter equipamentos. Se isso não for viável, um caminho é comparar os programas com outros produtos culturais: uma novela com o livro que a originou; o telejornal com o jornal impresso; o desenho animado com gibis.

 

3.

Simone de Godoy Cuchera, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Egon Schaden, em Francisco Morato, município da Grande São Paulo, recorreu à TV para tratar de trabalho infantil com sua turma de 4ª série. O assunto foi um dos temas geradores do ano passado. A turma leu o Estatuto da Criança e do Adolescente e assistiu a reportagens dos programas Fantástico e Globo Repórter, da TV Globo.

Com as pesquisas na internet sobre as diferentes situações de trabalho infantil e o que está sendo feito no Brasil para erradicá-lo, os alunos perceberam que a realidade não se limita ao que é mostrado na telinha. Por outro lado, precisaram selecionar as informações para montar um "telejornal" sobre o tema, compreendendo a necessidade de síntese para o veículo. Os estudantes montaram cenários reproduzindo um estúdio de TV, um lixão e uma pedreira que usa mão-de-obra infantil. Meninos e meninas assumiram os papéis de crianças exploradas, apresentadores, repórteres e cinegrafistas. Alguns foram até garotos-propaganda dos produtos que criaram, como patiskate (patinete com skate), carlancheira e babylancheira (recipientes para a merenda), anunciados no intervalo.

 

4.

Em um projeto sobre discriminação, uma das atividades sugeridas pela professora Maria da Glória Pereira de Miranda à sua turma de 8a série do Colégio Estadual Aurelino Leal, em Niterói (RJ), foi fazer o levantamento dos programas que mais apresentam situações de preconceitos racial, social ou de gênero. Os alunos pesquisaram em casa e concluíram que Chaves, seriado mexicano exibido à tarde pelo SBT, era o campeão. O personagem do título é maltratado pelos colegas por ser órfão, pobre e mal- vestido. Os estudantes começaram então a reparar como eles mesmos julgavam as pessoas pela aparência e, depois de um debate, concluíram que eles próprios são preconceituosos e que precisavam mudar de atitude.

 

5.

Já as produções de época fornecem farto material de pesquisa em diversas disciplinas. As professoras Ana Néri de Oliveira Lins e Luciana Maria Silva Lopes, da 4ª série da escola Egon Schaden, em Francisco Morato, usaram a minissérie A Casa das Sete Mulheres, produzida pela TV Globo, para introduzir o estudo sobre a Região Sul. Elas compraram o DVD e a revista sobre o programa, assistiram em casa e selecionaram as cenas mais importantes para reproduzi-las em classe ao longo do projeto. O estudo rendeu vários capítulos: em História, os alunos pesquisaram a Revolução Farroupilha e os outros levantes ocorridos no Brasil Colônia; para fazer a maquete da residência, eles usaram conhecimentos de geometria e cálculos; em Artes, analisaram as imagens de Giuseppe e Anita Garibaldi e Bento Gonçalves publicadas nos livros com as dos atores que os interpretaram, fizeram retratos deles e reproduziram batalhas e cenas em desenhos; a comparação do vocabulário típico do gaúcho com o de outros estados rendeu divertidas aulas de Língua Portuguesa. Para finalizar, a releitura da minissérie deu origem a uma peça de teatro reescrita pela turma.

Noni Ostrower, coordenadora do Centro de Criação de Imagem Popular, no Rio de Janeiro, que oferece cursos de capacitação para diversas redes de ensino, sugere que as produções de época sejam exploradas na comparação de tecnologias, costumes, características sociais e econômicas com a sociedade atual. Quando se tratar de ficção, é possível estimular a imaginação da garotada pedindo à turma que escreva desfechos diferentes para as telenovelas ou seriados ou proponha outros começos para a trama. "O texto dos alunos ainda pode render uma versão em língua estrangeira", completa.

 

6.

Keila Cilene Lopes de Oliveira, professora da Escola Estadual Jornalista Trajano Chacon, no Recife, encontrou na televisão uma aliada para motivar os jovens e adultos de 5ª a 8ª série. "Todos têm TV em casa, assistem e gostam." Para quebrar o grande tabu que a Matemática representava para eles, ela levou para a classe um vídeo com comerciais de supermercados e lojas de eletrodomésticos gravados em casa. Primeiro ela pediu para os estudantes relatarem o que viram e ouviram nas propagandas. O objetivo era que percebessem a força de coerção da linguagem. Depois ela introduziu os conteúdos: com os números utilizados nos comerciais, ela ensinou juros, desconto, vendas à vista e a prazo e propôs vários exercícios. "Eles se animaram ao constatar o uso prático da disciplina", contou a professora.

 

 

 

Referências:

 

http://revistaescola.abril.com.br/

Site da Revista Nova Escola

 

http://www.portalbrasil.net/brasil_economia.htm

Portal Brasil – Dados sócio econômicos do país

 

http://www.mec.gov.br/seed/tvescola/materialdidatico.shtm

Ministério da Educação – Secretaria de Educação a Distância

Material Didático do Curso de Extensão TV na Escola e os Desafios de Hoje

 

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