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Brazilian Poetry

O homem é uma besta utópica que nega sua própria utopia e se dá  ao purgatório do lugar-comum; o poeta tenta resgate. (André Luís Batista Martins 1989)

 

LIVRO DE POEMAS DE IRAIG (André Luís Batista Martins)

 

 

Leia o livro e divulgue as poesias

O autor autoriza o uso das poesias contidas neste livro, desde que acompanhadas do nome poético do autor (Iraig) e de seu nome de registro (André Luís Batista Martins).

 

 

Para aquisição do livro impresso e cartas para o autor, enviar mensagem para o e-mail do autor:

 

albm@net.em.com.br

 

 

 

 

BIOGRAFIA

Talvez André quisesse mostrar em "Solidão Expressa" alguns traços característicos do mineiro.

Nascido em Uberlândia, ensimesmado, olhar atento, calado, mas na verdade, essa solidão é povoada por elementos eminentemente vivos, que habitam ao seu redor: sol, lua, nuvens, estações do ano, paixões diversas, amores tantos, política, religião, expressando a busca interior de André, povoando de atrativos sua viagem poética.

Heloísa Gomides Pereita Garcia

Sala de Literatura

Secretaria Municipal de Cultura

 

 Índice

 

PREFÁCIO

 

 

Apresentando André Luís Batista Martins -- Iraig

 

 

Recebi, com surpresa, o pedido para apresentar o autor de Solidão Expressa. Minha especialidade é a Lingüística e os trabalhos literários, até o momento, fazem parte de minha vida somente como fonte de entretenimento, ou como enriquecimento dos textos técnicos com que desenvolvo minhas atividades profissionais. Partindo do Autor -- André Luís Batista Martins -- esse pedido encheu-me de orgulho, uma vez que fui sua professora no Curso de Letras da Universidade Federal de Uberlândia ainda nos primeiros períodos.

 

Reconhecendo meus parcos conhecimentos sobre Literatura, busco em Albert CAMUS a inspiração necessária para essa importante/gratificante tarefa.

 

Índice

AMAR

 

"Já se disse que as grandes idéias vêm ao mundo, mansamente, como pombas. Talvez , então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio aos estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança jaz numa nação; outros, num homem.

 

Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos de trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história.

 

Como resultado , brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de cada e todo homem sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos."

 

Uma vez aceitas como verdadeiras as palavras de CAMUS - o acordadar da vida e da esperança é o resultado do trabalho diário e solitário de todo e cada ser humano. -- passo a referir-me à obra SOLIDÃO EXPRESSA.

 

É no AMANHECER e no ANOITECER que a NATUREZA manifesta toda sua beleza. Os vários matizes do alaranjado cedendo espaço para a luminosidade do amarelo, o esmaecer do azul real para o brilho in-fit-á-vel, são como trombetas a anunciar a chegada do magnífico Sol. Passam as horas, e a Natureza prepara-se para a chegada de um novo astro. O brilho infitável, as várias tonalidades do azul/branco, do amarelo/alaranjado cedem espaço, pouco a pouco, aos tons violáceos, aos tons avermelhados, ao preto total. É o astro-rei que se afasta para a chegada da deusa lua.

Esse mesmo espetáculo acontece no mundo dos humanos. É no apagar das luzes de um século e no emergir de outro que a humanidade passa por transformações as mais diversas, ora pacíficas, ora violentas, ora nem tanto...

No mundo das Artes, a Literatura impera sobre todas as outras. Síntese das demais, ela comprova o dito bíblico "... e criou-se o Homem à semelhança de Deus..." Na literatura, o homem cria, assim como deus criou, usando como elemento básico a língua escrita, criação humana. Como todas as criaturas, o ser humano é possuidor da faculdade da linguagem. Ademais, sendo genérico por natureza, atinge diversos níveis de criatividade, a partir de suas emoções, sentimentos, talentos inatos ou desenvolvidos, valorizando, enfim, a inteligência como que foi agraciado. Daí surgir, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes...

Só o tempo nos dirá se André Luís Batista Martins -- Iraig -- poeta emergente nos limites dos séculos XX e XXI, será também UM dentre uns. SOLIDÃO EXPRESSA, sua obra inicial e que tenho o prazer e o privilégio de apresentar, fala por si mesma, tornando-se desnecessários adjetivos para enaltecê-la. E, vindo a público, coloca-se à mercê da apreciação de amantes e de estudiosos da Literatura.

A mim, sua ex-professora, colega e amiga, cabe apenas expressar: Se "... Deixar a arte acontecer, fluir livremente, gerar sempre novas criações, deixar crescer a inspiração, deixá-la tomar forma e invadir o mundo, é o papel do artista..." IRAIG é um artista. A sua poética pode nos levar por caminhos estranhos, mas sente-se a ânsia de trilhar aqueles que conduzem ao crescimento interior. André Luís Batista Martins possui a magia da palavra e a sensibilidade que o capacita, em SOLIDÃO EXPRESSA, a tecer um imenso véu que cobre, des-cobre, recobre sentimentos, possibilitando o despertar de sonhos, fantasias..., levando nós outros para um mundo além deste, puramente material. E o pêndulo que rege os atos humanos pende, assim, mais e mais para os limites do espiritual.

As possibilidades semânticas que a obra nos oferece aparecem atuar como estímulos à aceitação da teoria da 3a onda, que preconiza a REFLEXÃO como o próximo passo da Humanidade.

 

Válmer Pereira Caixeta

 

ÍNDICE

   

BIOGRAFIA

PREFÁCIO

PALAVRAS DO AUTOR

ANDARILHO

BIRRA

SOLIDÃO

POENTE NASCENTE

VOLÁTIL

ANDO AFASTADO

NOSSO DEUS

MURDERS OF SOUS

REALIDADE

LÁBIOS

GARIS

PROSA ÍNTIMA

MUSA

CIDADÃO

PRETÉRITA

DOUX FAUX VISAGE

MIS MANOS

CANADÁ

BÁRBARO

DECREPTUDE

CANÇÃO

FORMAS DE EXPRESSÃO

RIO DE JANEIRO

LEMBRANÇAS

RESSACA MARÍTMA

QUANDO

LIMITAÇÕES

CARÍCIAS

LARANJADA

NINGUÉM

IMAGENS

CHÃO

FRIO

HIPÓCRITA IMAGEM EM DECURSO

TARDE DA NOITE

RAZÃO MINERAL

BUEIRO

HÁ-DIA PARA SE MORRER

C'A MORTE

ENTRE OLHOS

IRAIG

 

 

 

PALAVRAS DO AUTOR

Acredito na forma de expressão poetizada; tenho fé nos versos que desnudam os sentimentos mais recônditos do ser, às vezes, ignorados por ele mesmo.

Assim, em forma de versos, minha solidão vem a público, estilizada pela paixão-metáfora.

Amalgamar sentimentos às palavras produz efeitos lingüísticos que trazem o belo e o degradante. Isso choca o senso comum dos mortais, porque a palavra passa pelo charco e pela pureza, dá  de cara com o esdrúxulo, encontra o absurdo pelo caminho, provoca a estranheza, pinta céus e infernos com a mesma tinta. Enfim, múltiplos e imprevisíveis são os resultados obtidos nessa lida:

 

GÊNESIS

 

no princípio

criou o homem as palavras

as palavras, porém,

estavam vazias e nuas

e o espírito do poeta era levado

por cima das águas e disse o poeta:

--- Faça-se metáfora!

e a metáfora se fez

e viu o homem quão boa era

a metáfora dos seus sonhos

e o poeta que pairava sobre...

peneirou poesias nas  águas das palavras

e foi da inspiração e da expiração

a primeira respiração poética

como um suspiro

unindo  água dos olhos dos homens

assim como os corações não paravam de amar

o poeta não descansou no sétimo verso

de sua obra

apenas se deleitava a cada estrofe

 

 

  

A plasticidade do verbo se compara à  água. O escrever significa um outro ser jorrando de dentro de mim. A esse outro ser chamo Iraig, filho d' água, cujo Deus é Tupã.

As  águas poéticas, eu as guardo em raros momentos de inspiração visionária em recipientes de sonhos e de revoltas. Valendo-me do archote da caneta, e evidenciando uma sede incontida, infinita. vou ao seu encontro, de forma intensa, na obscuridade dos sentimentos que me invadem.

Tanto a  água que raramente me visita na inspiração quanto aquela que busco constantemente na expiração do alívio catártico, são por mim buriladas artesanalmente, ganhando corpos próprios para conter suas voláteis almas. Eis o papel do poeta: corporificar sentimentos, usando da pá  que lavra.

 

 Índice

EVANGELHO SEGUNDO IRAIG

 

no princípio era o verso

e o verso era com o poeta

e o poeta mesmo era o verso

e o verso se fez poesia

e habitou entre nós

há  um homem cujo nome é André

e um poeta de nome Iraig...

 

 

A intensidade com que me jogo e a intencionalidade que busco em cada verso estão latentes em formas, significados e verdades. Essas, você, leitor, conseguirá  desfrutar ao recriá-las a partindo da própria intensidade com que se jogar e da intenção que tiver no mágico momento da leitura, apreendendo formas, significados e verdades, antes latentes, agora exprpessas de mim para você ...

 

 

uma pó ética leitura

seu amigo

Iraig

 Índice

 

 

  

ANDARILHO

 

fugindo das ambições latentes

entro

no caminho solitário

do andarilho

que busca um lugar

no seio da plenitude

Índice

 

 

BIRRA

 

sobre a criança que fora

castigava-a de birra

caia-lhe de rancor

porque ela não conseguia competir

competir com você

todos esses seus anos de salivação

dos olhos deglutidos

 

sou sempre a sua cria

que à espera esperou

expirada a esperança

esperança que vinha...

que não vinha

faltou-lhe o leite paterno

 

das tetas desse coração

triste e rancoroso

 

quanto podia ter sido bonito

se chorasse paixão

e não criasse mais solidão

Índice

 

SOLIDÃO

 

 

Solidão...

 

Cárcere da paixão

 

Dor que dilacera o peito

 

Sabor amargo

 

Que me enche a boca

 

 

 

Solidão...

 

Tudo aquilo que herdei

 

Tudo aquilo que restou

 

Do amor que morreu

 

Nos braços da ilusão

Índice

 

 

POENTE NASCENTE

 

 

Índice

 

 

VOLÁTIL

 

 

Nuvens...

nuvens rasgam

um amanhecer divino

sob camadas espessas

meu peito inchado de revoluções

e contradições

esconde minha face

Busco a problemática comunitária

no céu que encobre

nuvens cobrem

nossa nação-povo: um grito oco ecoa

pela dignidade humana

Mas estou perdido dentro

de um casulo

como pois...

voar borboleta ?

Tenho de tecer minhas asas

nas cores do meu querer

e buscar o aprendizado do vôo

no escuro-negro dos corações...

cor do nada

Índice

 

 

ANDO AFASTADO

 

 

Ando afastado

 

Ando irregularmente e chego

 

Chego à beira de lugar-nenhum e saio

 

Saio com todos sentimentos carregados e volvo

 

Volvo asfaltado nos meus sonhos e afasto

 

Afasto a face de um fato de fato e falso

 

Falso tomado de verdades alheias e falo

 

Falo com todos meus entendimentos rasgados e vomito

 

Vomito desejos de uma sensualidade intratada e verso

 

Verso longe do meu lado reverso e asfalto um fausto

 

Fausto asfalto para o meu

 

Andado-afasto

Índice

 

 

NOSSO DEUS

 

 

e quando o dia acorda

nos olhos dos meus olhos

sinto que a frescura dessa manhã

fria de inverno

é o meu consolo

do desfiar qual novelo a vida...

correndo lá  fora

 

aqui dentro

do meu canto chamado quarto

hesito na cama

viro para o lado

mas o dia das obrigações

chama insistente... mente

 

não sei ainda dos meus sonhos

sonhei com tudo

contudo... tudo se apaga com a noite

tudo

 

inferno é lá  fora

porque despertam demônios e anjos:

noite e dia correndo atrás

uma do outro

 

hoje no frio fino da manhã

não pude ficar na cama

os sonhos já  haviam despertado

a ilusão cobria minha carne

 

toda  água estando gelada

conserva a vida

contendo paixões violentas

 

sopra o inverno matutino

detendo um incógnito destino

nos mares do além-pejo

nas paisagens trás dos montes

 

transbordante é o tédio de uma nação

históricos patriarcas portugueses

enterraram o nosso glorioso passado Tupi

exilado Tupi da mata virgem

estupraram o Verde os Brancos

 

intervalo ecologista-histórico

na minha melancolia verdamarela aquarela

 

nós somos um povo e Ninguém é nosso Deus

Nada nossa religião

nossa religião nada

nossa fé é c’a fé nenhuma

não somos patriotas

não temos pátria

temos um lar, uma família:

homens, mulheres, crianças

 

assim duas leis: vida e morte

durante a vida amamos, odiamos

quando a morte vem

só Ninguém, nosso deus, sabe

nosso deus da(na)rá ...

Índice

 

 

MURDERS OF SOUS

 

 

Alma infinita

devoraria matas

mas ela é embotada de linhas retas

e ângulos concretos

 

Alma sedenta

beberia o mar

não fossem as ondas de areia

que regam seus olhos verdes

 

Além do gueto

são outros guetos

divorciando almas do belo

 

Sem alimento

vagueia ela coberta de andrajos

o mundo divorciando almas do belo

o mundo recriado

pelos homens: murders of souls

Índice

 

 

REALIDADE

 

 

Sonhei...

Sonhei que me deixavas

E em minha fantasia por ti clamava;

Clamava no escuro...

Ouvia.

 

Não mais que da voz do destino,

Ouvia.

Minhas palavras eram surdas,

Surdas e secas:

Cheias de orgulho

Mas, então, a realidade...

A realidade era que tu,

Tu me querias mais,

Mais e mais tu me querias

 

E eu...

Eu me entregando,

Olhei para frente;

Deixando de ver sonhos,

Sonhos ou desatinos.

Apenas jogados ao tempo,

Tempo da recordação

Nossos sentimentos...

Sentimentos e razões

Índice

 

 

LÁBIOS

 

 

Sentir e sorver nos lábios

lábios dos meus lábios

sem saber do porquê

 

Apenas pobres Helena

Apenas boca em boca

Loucas...

não são poucas,

são toscas

Toco-as

Sufoco-as

vomito-as

Índice

 

 

GARIS

  

 

todos os dias varrendo

a sujeira sempre volta

do pó que disseram

ele um dia voltará

continuem varrendo o pó, Garis!

 

lá  faz tempo que respiram poeira

nas ruas negradas

as calçadas de cimento são encardidas

pisadas por tantos

 

o meio-fio

onde rua e calçada dão a mão

colhe o lodo

 

todos os dias os Garis

saem às luas

varrendo suas descalçadas pisadas

 

a poeira ‚ levantando cedo

levando no ventre do cotidiano

o pó

 

de pesar, as soleiras dos Garis

continuam imundas

como sempre mudas

 

de varrer alheias soleiras

alheios vivem os Garis

Índice

 

 

PROSA ÍNTIMA

 

 

Vê se não amola!

me deixa quieto.

Já  não penso nos outros.

Penso em mim mesmo

Tenho um pensar dentro de mim:

essa gente que não se preocupa com nada é como o vento

 

Comparo a vida com o cozinhar:

se faz de um jeito, não dá  serto...

faz de outro, certo?

‘inté hoji

façu arroiz queimadu

mais cuzinhá é a coisa mais fáciu

Índice

 

 

 

 

 

 

 

MUSA

 

 

A musa que me inspira

É a que, tão distante

Não ouve quem suspira

De a querer a cada instante

 

Verde é o seu olhar

Qual verde me é o mar

Na face, o sorriso que canta

É doçura que me encanta

 

Mas como pode me inspirar lirismo tal

em tamanho cabedal

Se seu formato só me é‚ na mente?!

(nunca a vi pessoalmente)

 

A formosura de sua figura

Que, cá , guardo tão pura

É como pássaro bonito

A voar infinito

 

Quem sabe, n'algum dia

De voar ela se cansará

E a bela harmonia

De seus lábios nos meus, beijará

 

Índice

 

 

CIDADÃO

 

 

A BOCA

 

OCA

 

QUE CIVIL

 

SE VIU

 

SER VIL

 

S E R V I U

E NO BUEIRO

 

ESCARROU

Índice

 

 

PRETÉRITA

  

 

Pouco

ou

às vezes

corre um sentimento

eminente

solto e latente

tão vivo que...

que pode estar morto...

 

Dependente de um encontro

despedidas as esperanças

 

Mais

ou

amiúde

estanca a vida

uma ferida

profunda

pretérita

Índice

 

 

DOUX FAUX VISAGE

 

 

Ao sentir tão rente

teu

ser

meus olhos penetram

nos teus olhos

e tudo ao derredor

perco de vista

 

"Consciente de ti,

nem a mim

sinto" 1

 

Se és tão entorpecente...

virtualmente

(por uma virtude da mente),

perco a noção

Amei só --- mentias --- num fim de tarde

(Eras tu... ilusão)

 

Deleitando ao teu carinho

distante agora

distante agora sofro

 

Angustia-me a saudade

ao lembrar

ton doux faux visage

 


1 - O Eu Profundo e o Outros Eus, Fernando Pessoa: CANCIONEIRO ("Análise") p 75

Índice

 

 

MIS MANOS

 

 

tener em mis manos

o esperma da vida

e deixá -lo esvair-se

entre mei'os dedos

nessa masturbação hodierna

pelos esgotos urbanos

me roubo, assim, a fertilidade

seduzido pela facilidade figurativa

de uma companheira...

 

tener en mis manos

a dor da solidão

sem poder evitá -la

nessas noites de cio animal:

borro

mis manos

sedutoras

Índice

 

 

CANADÁ

 

 

Assassinado eu

quando o infinito não durou mais...

mais que a saudade engolida pelo orgulho;

a mulher abortou em cio o amor

 

Mata, implode;

meu peito,

beijando transbordante

a ferida...

 

Meu sangue coagula

a lâmina assassina

of her words

she kissed goodby

her... my own blood

 

Vomita-me alianças

pontes

laços...

Executa-me

como se fora heroína

salvando a  pátria;

a sua

Índice

 

 

BÁRBARO

 

 

  bárbaro

eu o louvo

pela sua força descomunal

um animal

 

dos dias, a monotonia

o girar duma roda

carro-de-boi

 

sonho que a liberdade...

um sonho sem acordar

mas a corda do dia rompe

sempre, toda manhã me desperta

 

coisas banais

pencas de bananas

governamenteiros macacos

comem todos os dias

escorregamos nas cascas

 

incompreensível

a bolsa de favores

Índice

 

 

DECREPTUDE

 

 

A decrepitude dos sentimentos que vagam

(entre a ânsia e a decepção)

que malogram meu ser

com pitadas de sarcasmo

 

Esperanças fecundas abortam

meus frutos

nessa seara regada pela angústia

 

Ao menos

a capacidade de sonhar durasse

tanto quanto os momentos

que me incutem a ânsia da espera!

 

Eu os queria tão efêmeros

como o dia de ontem

sem memória

seguindo o infinito

a parte alguma

e se dissociando

amalgamando

sem rastros

Índice

 

 

CANÇÃO

 

 

Foi-se o dia

soprou o vento

Veio a noite

cantarolando uma canção

 

Dormi suave

uma réstia de esperança

me fazia criança

O dia se fez novamente

sem o soprar do vento

Veio a noite

não houve canção

Dormi pesado

consumida a esperança

exilava-se a criança

Da alegria

agonia...

Foi-se mais uma companhia

Índice

 

 

FORMAS DE EXPRESSÃO

 

 

Por amar

ama-se

 

E amando

há mar

ao mar se lança o amor

 

Por querer por-querer

e

por sentir...

insanas são as regras do jogo

 

Você me tortura com seu corpo

lábios e língua me lambuzam

seu veneno

seus seios soltos na veste

me esfolam o peito

a tesão aguça instantes de delírios

minhas mãos queimam brasas sopradas

Você as decepa, por quê ?

 

Estanco mais uma noite sufocada

nossa vida íntima está  intimidada

são o as formalidades do seu corpo

que meu sexo cheira...

exalam mistificações

 

Temos amores guardados

acumulados

e uma flor-botão

toda primavera

 

Resistir, sua ousadia

iludindo minha paixão

nessa forma de expressão

 

Louvado seja nosso amor louvado

 

Carne querendo carne

essência, essência

a noite passa pela carne

não fica

não é a noite da carne

que faz nossa união

nosso coito

são formas essenciais de expressão

Índice

 

 

RIO DE JANEIRO

 

 

Você ainda representa

algo para mim

indiscutivelmente,

quando tudo acabou

eu escolhi... você

 

Não é solidão que ficou

é mar

Não é a distância que nos separa

é estrelas

Não é saudade no horizonte

é um sol poente

Não é lembranças recolhidas

é pegadas vagando

Não é desejo enjaulado

é noite chovendo

Não é amor

é batidas de meu coração

Não é sentimentos

é linhas de um uni-verso

há mais...

 

Ficar mais tempo com você

que iria

queria eu

 

Eu não iria ao mar

-- Rio de Janeiro --

Eu iria a mar você

Chuva de olhos, porém

é tudo de outrora agora singular, singular

Índice

 

 

LEMBRANÇAS

 

 

como crianças

são as lembranças

brincam de faz-de-conta

todas elas

 

elos de uma corrente

que rompida...

tento emendar

 

falta o elo

que não pertencia

a agonia

que não conhecia

a tristeza

que não chorei

a alegria

que não esteve comigo

 

brilham as lembranças

quais estrelas

no manto escuro da solidão

onde eu as vejo vivas

mas sem olhos para mim

Índice

 

 

RESSACA MARÍTMA

 

 

Ondas tão altas

abarcaram toda a vila

Ondas tão violentas

arrasam tudo

todos

 

Vândalas ondas intrépidas‚

arrasam toda minha vida costeira

 

Num solo varrido

lavado

restei

restando como restos

 

Um gosto de sal na boca

ainda...

de uma ressaca marítima

que quer forte

quer castigante

me persegue em vômitos convulsivos

Índice

 

 

QUANDO

 

 

quando...

esperança ou consolo?

Revolta ou reviravolta?

...quando

 

quando muito pouco;

suporta-se quando ainda fé

quando ainda dia

quando ainda noite

 

imagens agindo

homens ou coisas

por uma avenida

cruzam ruas

e quando o quando é o mesmo

para ambos

inevitável o choque

 

guerra

homens em holocausto

aos deuses do charco;

soldados,

bandeiras vãs e sangue

nas veias expressas

 

quando

 

quando nadam versos

 

em desespero

 

quando minha esperança

 

meu consolo

 

agem...

 

 

Quando apenas

 

quando nada mais...

 

 

Ainda Iraig

 

Ainda Poeta

Índice

 

 

LIMITAÇÕES

 

 

Queria a morte chegar

Queria o verso romper o sonho

ver a ilusão destruída

qual suicida

 

Vida; onde vai dar a vida?

esperança, esperando um Deus

sei que mais um dia vai durar

onde é mais longe

do que onde quero chegar

 

Não consigo romper com as limitações

minhas limitações:

de força, a destruição

de amor, a união

de ódio, a vingança

de esperança, o desejo

de vida, a morte

de ser, o não-ser

 

O que tenho em minhas mãos

são espaços vazios entre os dedos

Por que a forma?

Por que o homem

senão o monstro?

Monstruosidade e humanidade andam juntas

nas formas apenas aparências

Sociedade de Homens & Monstros Anônimos

Índice

 

 

CARÍCIAS

 

 

Tecendo a fragilidade da seda

na minha boca,

desabrocham em carícias

os temperos de uma tarde

 

Quando ela provou em mim

o calor nos teus lábios,

os meus engoliram os teus

tarde, porém,

era tarde

 

O sol se depôs;

amanheceu o dia,

ficando o sonho no poente

Índice

 

 

LARANJADA

 

 

O que pode haver

De concreto nos meus versos?

-- Versos!

O bêbado passa de porre

E me diz que a vida...

Que a vida não vale mais

Que sua lucidez de cachaça

--- ( ? )

 

O coletivo carregado

lotado de seres obtusos

Pagando um percurso

Comprimidos nesse ir

E voltar até...

Até não mais haver

ônibus

Ruas talhando uma cidade...

Até não mais

Haver concreto ou em sonhos...

 

Disfarço meu mal estar, mal ser

Com um copo de laranjada

Adianta?

Tudo questão de tempo

Para eu afundar ou sair nadando

Na piscina, no rio ou no mar

 

O tempo ameaça

Ameaça e cumpre

às vezes, não como angustiamos

Ou talvez, mais angustiando ainda

 

Eu, água magoada...

Querendo chover minhas lágrimas secas

Mas são nuvens...

 

O peito abafa

Você não vem

Nem me telefona

-- O que terá acontecido?

Uns versos inúteis ou mal ditos

-- O copo de laranjada espremida acabou-se

Índice

 

 

NINGUÉM

 

 

Espero sua vinda

-- Ninguém.

Mas no chega!

-- Quando?

Pergunto, mas ninguém...

Desejo o momento sabê-lo.

-- Quando vem?

Outro encontro marcado

E o logro

Esperarei por alguém

-- Lá estava ela, ninguém

Apenas eu lembrei de ir

-- Em vão!

-- Vamos?!

Eu e você ninguém

Índice

 

 

IMAGENS

 

 

Uma imagem

 

Imagens

 

 

A imagem

Ilusória

 

reais

 

 

metafórica

a gente precisa dela

 

 

 

a gente as procura

 

a gente a cria

sem ela

 

com elas

 

 

nela

não há sonhos

 

a mesma coisa

 

 

 

não dá para o pensamento discernir

A imagem

 

 

Imagens

 

 

 

Uma imagem

que sou

 

que somos

 

 

 

que você é

não diz nada

 

falam bastante

 

 

se cala

de mim

 

como eu

 

 

por mim

Índice

 

 

CHÃO

 

 

O chão

existe

pisamos nele

pisar é natureza do homem

pisoteia tão bem

também

e se sente bem

 

O chão

existe

 

Nada

dariam

pela minha fantasia

Nado como um peixe no chão

Índice

 

 

FRIO

 

 

Sinto frio

Frio que invade

Invade a alma

Alma que chora

Chora a distância

Distância hemisférica

 

Abraço a mim mesmo

Mesmo contorcendo,

querendo morrer

Morrer, mas a vida acode

Acode e acalenta a dor

Há dor e outro dia esvai

Ex-vai e a distância aumenta

Aumenta e sinto muito

Muito frio

Frio sinto

Índice

 

 

HIPÓCRITA IMAGEM EM DECURSO

 

 

Vai, vai, vai...

Indo para a distância

Que comporte a sua ânsia

 

Parte, parte, parte...

Partindo em cacos

As memórias presas em frascos

 

Solta, solta, solta...

Soltando todo esse medo

Dessa vida em segredo

 

Mata, mata, mata...

Matando a saudade adentro

Que agride o peito

Assaltando a faculdade

Com uma hipócrita

Imagem em decurso.

Índice

 

 

TARDE DA NOITE

 

 

Me dei à vontade

De versar de noite tarde

Porque nada arde

 

Escrevi algumas antes banalidades

Rabisquei-as a seguir

Não tinham pronde ir

 

O pensamento de sono carregado

Debalde qualquer sonho

De poesia

Que no poeta tenha Estado

 

Ele medonho...

Na dependência dela

Tarde da noite se revela

 

O verso da tarde

No reverso da minha noite

É, assim, qualquer alarde

 

Sendo da mais tarde primeira, insistente

Está, logos, na mais noite derradeira

 

Sui generis, surgem

Vontade rimada

Pela tarde-porta da noite-entrada

Erram sonhos

Me sugerindo que tarde anote

A noite como tarda

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RAZÃO MINERAL

 

 

nado do meu modo

molhando a água

transbordante

de aflição

bolida constante-

mente

 

meus braços mexem c`gua

que me cobre

com sua razão:

razão mineral

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BUEIRO

 

 

O seu beijo me encheu a boca de saliva

Quis cuspi-la

Mas você por perto...

Tive de engoli-la

Enquanto você sorria saudade-amiga

Que nunca me procurou

 

Enfim, o beijo,

Que me entrou em sacrifício

Afogando o desejo da carne

Essa insana emoção

E sua saliva

Corroeram as vísceras da paixão

abortando o amor

Num cuspe

No bueiro da minha vida em sonho

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HÁ-DIA PARA SE MORRER

 

 

Hoje bom dia

prá se morrer

Mas

se

a vida contínua

continua resistente

Violenta toda morte

é nua

Nos corpos no morrentes ainda

quem liga às folhas que, secas,

caíram

se seiva ainda bruta o tronco

Bárbara a vida que bobeia

a pressão do sangue

nos vasos

Quer vermelho o sinal

que obrigue o trânsito transito

a parar aqui já

Jaz...

Mais uma página em branco...

Começam a encher as lembranças

Um ser olvidado, assim,

ganha a memória dos esquecedores

Os inadiáveis compromissos dos omissos

adiados agora são à força das circunstâncias

O prenúcio da morte

revolve os detalhes

de um dia insignificante

 

Hoje pesados na conscincia de cada

 

Um a um

 

Adianta rolar lágrimas

 

espremidas de remorso

 

rosto abaixo ?

 

Hipócrita desesperamento egoísta

 

O choro é bom

 

Tão bom quanto é bom

 

O dia pra se morrer

 

Não chorar é não chorar

 

Minhas lágrimas são secas

 

Como a morte

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C'A MORTE

 

 

"E naqueles dias

os homens buscarão a morte,

e a não acharão;

e eles desejarão morrer

e a morte deles fugirá"2 (como da peste)

 

Donzela dos meus sonhos

enquanto todos a desprezam

de ti escondendo

sempre quis tua face contemplar

em teus braços me envolver

 

Não pelo conforto

ou pela ferida que doi

no corpo alheio do amor egoíta

desejo-te ardente

 

Desejo-te senão pelo misterioso sabor

de teus lábios

tua língua a tocar o Céu

de minha boca...

 

De leitar

c'a morte


2 Apocalipse de São João: III, 9, 6

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ENTRE OLHOS

 

 

Nos olhos

entre olhos

o espaço infinito

momentaneamente

encontra uma sensação

fria

envolve

paralisa

os seres

Estendida

uma ponte

surpreende

Entre olhos

cruzados

não há abrigo

o raio dos olhos golpeia

tombam as defesas

os teus e os meus

invadindo fronteiras

não há mais espaço entre

eles se tocam...

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IRAIG

 

 

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