A FAMÍLIA GOETTEMS NO BRASIL

Por Mário Hilário Goettems - a Página dos Goettems



Todos os GOETTEMS, no Brasil, descendem de Joahann Goedems, nascido em 17.09.1798, em Oberlöstern, Saarland, que casou em 14.02.1820, em Wadrill, com Margaretha Hassler, nascida em 22.11.1795, em Wadrill, Saarland.

Conforme recente pesquisa feita por Horst-Dieter Göttert, foi possível traçar a linha dos antepassados de Johann Goedems mais 5 gerações para trás, desde Christoph Gödems, que nasceu por volta de 1650 e faleceu em Oberlöstern após 24/8/1693.

A grafia do nome, na Alemanha, sempre foi Gödems ou Goedems, com variantes como GEDEMS, GEUDEMS, GÖDEMBS e outras. A primeira mudança da grafia de "d" para "t" se verificou quando o patriarca Joahnn Goedems embarcou, em 1828, para o Brasil. Na listagem dos passageiros, emitida em 12/08/1828, pelo Kaiserlisch Brasilianische Bureau do Consulado Imperial do Brasil, em Bremen, com o título de "Namen derjenigen Colonisten, welche gegenwärtig vor dem bunten Thor logieren", assinado por M. Henrici, constam os nomes de 152 chefes de família que embarcaram no grande veleiro trimastro OLBERS, juntamente com os respectivos familiares, num total de 767 pessoas. Nessa lista, sob nr. 97, consta o patriarca Joahnn Goedems sob a grafia de John Goethems, que viajou junto com a esposa Margaretha Hassler e os filhos :

Chegaram ao Rio, em 17/12/1828, onde, após alguns dias de espera, tomaram o navio costeiro ORESTES para Porto Alegre, onde a família supra está relacionada sob nr. 17, com a grafia então alterada para Goetems.

No arquivo histórico do Rio Grande do Sul, códice 333, folha 113, lançamento 668, consta o registro da chegada, em 18/03/1829, da família com os seguintes nomes, grafia mais uma vez alterada :

A família do Johann estabeleceu-se, em seguida, na Picada 14 Colônias, lado oriental de São José do Hortêncio, área que pertencia a recentemente fundada colônia alemã de São Leopoldo, cuja colonização havia iniciado em 24/07/1824 com a primeira leva de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul.

A vida desses primeiros imigrantes, em São Leopoldo, era extremamente precária. Cada família recebia um lote de terra de cerca de 50 hectares, em plena mata virgem, e cada um construiu seu rancho, desbastou a floresta, lutou contra animais ferozes, enfrentando eventualmente até a hostilidade de índios, que em pequenos grupos ainda viviam de forma nômade nas florestas. Após poucos anos, no entanto, cada colono já produzia o suficiente para seu sustento, exportando os excedentes para a capital Porto Alegre, distante 40 Km.

No dia 30/04/1829, faleceu a esposa Margaretha Hassler, conforme registro de Hillebrand, coordenador da colônia de São Leopoldo.

Em seguida, o patriarca Johann Goedems contraiu segundas núpcias com Carolina Noschang, natural de Boehl, filha de Pedro Noschang e Ana Catarina Deutsch. O registro religioso foi feito em 23/02/1830, em São Leopoldo, onde o padre Antonio Nunes da Silva, no livro nr.1, fl. 13v, registrou erroneamente os nomes dos nubentes como sendo João Kedemes e Carolina Nuxan. Desse segundo casamento existe o registro de 3 filhos : a) Pedro Goettems, batizado em São Leopoldo em 6/3/1831, do qual não se teve mais notícias posteriores; b) Adão Goettems, nascido em São Leopoldo em 17/10/1834, registro de batismo da Igreja N. Sra. da Conceição, de São Leopoldo, livro nr. 1, folhas 126, onde o pequeno Adão consta como sendo filho de João Getoms (sic) e Carolina Norchão (sic).

Durante a Revolução Farroupilha (1830-1835), os colonos alemães, de São Leopoldo, foram de certa forma envolvidos pela força das circunstâncias, militando a maioria em favor das forças do governo central, mas alguns tomando partido, ou simpatia, pelos revolucionários farroupilhas.

Na interessante obra do historiador teuto-brasileiro Germano Oscar Moehlecke, com o título de OS IMIGRANTES ALEMÃES E A REVOLUÇÃO FARROUPILHA, na página 131, há a transcrição de um ofício, datado de 26.01.1837, de José Correa Ferreira da Silva, Inspetor do 7o. Quarteirão , onde o mesmo escreve a seus superiores sobre as medidas tomadas na apreensão de armas, em mãos de "rebeldes" alemães, onde, entre outros, é citado João Quetemes (sic), que teve apreendida uma arma com espoleta, e seu sogro Pedro Noschang, com apreensão de uma espada velha.

O filho Mathias, do primeiro matrimônio, faleceu em 31.03.1829, segundo o Hillebrand. Johana (ou Jeannete) *1822} casou em 13.10.1843 com Felipe Fleck. Anna Maria (*1827) casou em 1847 com João Kroeff ou Graef. Falta fazer a pesquisa dos descendentes Fleck e Kroeff (ou Graef).

Tudo indica que, por volta de 1846 a família Goettems se mudou de São Leopoldo para Santa Maria, uma vez que, em 26/9/1847, conforme registro de batismo do Bispado de Santa Maria, nasceu naquela então vila de Santa Maria da Boca do Monte, a menina Carolina, filha de João Goettems e Carolina Noschang. Em seguida nascem em Santa Maria mais dois filhos: Frederico em 16/8/1850 e José, em 13/9/1854.

A mudança de São Leopoldo para Santa Maria, provavelmente foi em conjunto com o famoso João Adão (Moses) Noschang, meio irmão da Carolina, o qual, após uma vida agitada de marinheiro e vendedor ambulante no Rio dos Sinos e mais tarde combatente na Revolução Farroupilha, comprovadamente residiu de 1851 a 1859 no município de Santa Maria e de 1860 a 1863 em Santa Cruz do Sul. Os Goettems de certa forma seguiram roteiro semelhante. Em 19/5/1856 o filho Adão casa em Rio Pardo (L. 05-A, fls. 98v), já então residindo em Rincão del Rey ( colônia alemã fundada em 1849 ), enquanto que o irmão mais velho Johann (João) passou a residir na Picada Velha ou proximidades de Monte Alverne, em Santa Cruz do Sul, onde duas de suas filhas casaram com dois irmãos Werlang.

O Adão ao casar em 19/05/1856 com Catharina Allgayer (*24.09.1837 Dois Irmãos, + 04.10.1907 em Rincão del Rey) teve seu nome alterado para Adão Gottenns.

A grafia atual de Goettems, hoje adotada por todos os descendentes no Brasil, foi pela primeira vez usada nos registros de batismo em Santa Maria e Santa Cruz do Sul.

O casal Adão Goettems e Catharina Allgayer deixou vasta descendência em Rincão del Rey , Santa Cruz do Sul, Arroio do Tigre, Sobradinho e São Martinho. Já os filhos do irmão mais velho Johann (João), que teve duas esposas (Ana Maria Barbara Lohre e Maria Ana Kerkhoff), deixaram sua descendência na área de Monte Alverne, Santa Clara do Sul, Lajeado, Venâncio Aires, Santa Rosa, Boa Vista do Buricá e Augusto Pestana. Johann Goettems (Júnior) faleceu nas proximidades de Monte Alverne (Batatenberg), em 01.07.1902, com a idade de 82 anos. Quanto ao irmão mais novo, José Goettems, que nasceu em Santa Maria e casou em Estrela, residiu efetivamente em Santa Clara do Sul em cujos arredores reside hoje a maioria de seus descendentes.

Como fato curioso na vida do Adão Goettems, deve-se registrar que o mesmo, juntamente com o pai de sua nora, Johannpeter Ritter, conforme tradição oral, teria tomado parte na Guerra do Paraguai (1865-1870). Esta participação na guerra talvez tenha sido influenciada pelo famoso Capitão Pedro Werlang, de Santa Cruz, condecorado na Guerra do Paraguai, que tinha dois irmãos, Adão Werlang e João Werlang, casados respectivamente com Maria Goettems e Elisabete Goettems, ambas filhas de Johann Goettems (Junior), irmão mais velho do Adão.

Três das filhas do Adão casaram-se com três irmãos Limberger, que geraram famílias de 13-14 filhos cada. O filho Cristiano Goettems (*1865) teve um filho de nome Francisco e respectivos 14 netos, todos músicos, na localidade de Arroio do Tigre.

Também se destacaram na música e canto coral os professores João Marcos Goettems (*1900 +1977), em Cerro Alegre, e Pedro Francisco Goettems (*1909 +1987) Malhada e Linha Arlindo, ambos filhos de Nicolau Goettems e netos de Adão.

É de se notar também que, em Santa Cruz, houve grande entrosamento de casamentos entre as famílias Goettems e Goettert, que, na época em que casaram, não tinham a mínima idéia de que seus antepassados, as famílias Goettems ( ou Goedems, na Alemanha) e Goettert que chegaram ao Brasil em anos bastantes distanciados, respectivamente em 1829 e 1874, eram da mesmíssima área na Prússia Renana, no Saarland, das cidades de Weiskirchen e Oberlöstern, que distam apenas 10km uma da outra. A família Goettert sabia que seus antepassados tinham vindo de Weiskirchen, em 1874, porém ninguém sabia de onde tinham vindo os Goettems, a não ser do vago registro de Prússia ( que poderia ser tanto a Prússia Renana, como Pomerania, a Silésia, ou qualquer outra parte da então Prússia, que compreendia uma imensa área desde o Saarland, no Reno e Mosela, bem como todo o norte da Alemanha, até a Prússia Oriental (hoje territórios da Rússia e Polônia).

Esta descoberta de que a família Goettems provém de Oberlöstern, no Saarland, bem como a grafia original do nome, que na Alemanha era Goedems, e seus respectivos antepassados, cobrindo um período de mais de 300 anos (1684 a 1998), foi feita, por acaso, por Mário Hilário Goettems, filho de Pedro Francisco Goettems e bisneto de Adão Goettems, numa visita que fez, em setembro de 1995, ao lugarejo de Weiskirchen. Para isso, contou com a ajuda inestimável de HORST-DIETER GÖTTERT , estudioso emérito de genealogia da área do Saarland.

O nome GOEDEMS, com final "ms" e "ns" , não existe mais hoje na Alemanha. Na região de Trier, no entanto, ainda subsiste apenas na forma de GOEDEM e GÖDEM. Parece que todos os GOEDEMS emigraram. Conforme consta de um CD do Family Tree Maker, com mais de 100 milhões de americanos cadastrados nos censos de 1750 a 1900, nos Estados Unidos, o nome aparece nas seguintes variantes : GOTTENS, GOTHENS, GOTHEM, GOTHEN, GETENS, GOEDEN e VAN GOETHEM

A origem do nome GOEDEMS: De acordo com o Deutches Namenlexicon de Hans Bahlow, o nome Gödens (variação Goedems) é originário da Frísia (norte da Alemanha) e provém de Göde. Na Idade Média, Göde era um apelido carinhoso para o nome Godefried-Gottfried. O filho de Göde portanto seria Gödens Sohn (genitivo).