Trabalho e Produtividade
Por: Jaime Wagner
Lazer é um privilégio da elite?
Será que o trabalhador está fadado a uma atividade
alienada e sem significado para si, pressionado pela necessidade?
Ou ele pode encontrar mesmo neste tipo de trabalho algo que dê
significado à sua vida?
É comum referir-se à elite como
a classe ociosa. Os gregos desprezavam o trabalho útil como
forma de preencher o tempo livre. Mas desprezavam também
a dissipação do tempo livre na busca de prazeres.
Seu ideal era de que o tempo livre fosse dedicado à reflexão.
Por outro lado, a ética do trabalho, com origem no protestantismo
prega que só o trabalho dá significado e substância
à vida de uma pessoa. Não qualquer trabalho, mas o
trabalho útil e produtivo. A utilidade passa a ser o valor.
E a medida da utilidade de um serviço ou produto é
o quanto estão dispostos a pagar por ele no mercado. Marx,
por outro lado identificava o valor de uma mercadoria com a quantidade
de trabalho requerida para produzi-la.
Já a sociedade moderna cultua o mito do
ócio como ideal de vida e o trabalho duro como caminho para
atingi-lo. Depois de "ganhar a vida" vendendo horas de
trabalho, visualiza-se a aposentadoria como um éden de ócio,
sem nada para fazer. Em horizontes de tempo mais estreitos, a história
se repete. Trabalha-se durante a semana para "viver" no
fim de semana. Trabalha-se um ano para "gozar" nas férias.
E então, a superficialidade cobra seu preço na forma
de tédio. Após algum tempo ocupando-se com distrações,
o vazio da falta de sentido torna o tempo livre insuportável.
Mas o Homem com "H" maiúsculo
continua tendo as mesmas necessidades físicas de se alimentar,
dormir, reproduzir e proteger dos perigos. Ainda buscamos o amor
e a amizade com o mesmo ardor. Queremos pertencer ao nosso grupo
social, nos identificar com ele, da mesma maneira que nossos ancestrais.
Temos a mesma vontade de aprender e de nos realizarmos como pessoas
melhores e mais felizes. Enfim, temos a mesma perplexidade diante
do universo e buscamos alguma forma de transcender da nossa solidão
e finitude.
Só que as coisas melhoraram, pois aquele
Homem com "H" maiúsculo que consegue ir além
da mera luta pela sobrevivência, compreende hoje em dia, muito
mais homens com "h" minúsculo, do que em tempos
passados. Não se deve esquecer que em cinco séculos
de civilização, faz apenas um século que a
escravidão e a servidão deixaram de ser aceitas como
naturais. A causa desta melhora no padrão de vida médio,
entretanto, não se deve a um crescimento moral ou espiritual
do Homem com "H" maiúsculo, mas sim à maior
produtividade econômica dos homens com "h" minúsculo.
Não se trata de solidariedade, mas de maior produtividade
alcançada através da tecnologia. Isto é, satisfazemos
ainda as mesmas necessidades, só que de uma forma mais rápida
e com menos dispêndio de esforço.
O padrão de vida tem-se desenvolvido exponencialmente.
Mas o padrão de vida mais alto cresce a uma taxa maior do
que o padrão de vida mais baixo. Como resultado, a qualidade
de vida média aumentou, mas a desigualdade também
aumentou de forma exponencial. Em outras palavras, produz-se mais,
mas os resultados desta produtividade são distribuídos
de forma cada vez mais desigual. Embora o capitalismo não
tenha nenhuma preocupação moral maior, o resultado
da acumulação egoísta foi sim um aumento no
padrão de vida médio da população. Com
o aumento da produtividade, menos pessoas vivem abaixo do nível
de subsistência. Os miseráveis da periferia da cidade
moderna satisfazem suas necessidades de sobrevivência com
maior facilidade do que um camponês medieval. Sua miséria
se situa num outro plano e se torna tão mais tocante, mais
pelo contraste com a média, do que propriamente pelo seu
nível absoluto.
Poder-se-ia objetar que o desenvolvimento tecnológico
e o aumento de produtividade fomentam a afluência ou a riqueza,
mas não implicam num crescimento correspondente no nível
de felicidade ou de satisfação das pessoas. Dito de
outro modo, o padrão de vida seria uma medida econômica
apenas, sem guardar correlação com o grau de realização
e felicidade dos indivíduos. Porém, creio que existe
uma correlação. Até porque, se é certo
que a riqueza material não traz a felicidade, pelo menos
é verdade que ela torna a miséria muito mais suportável.
A base deste raciocínio que pode parecer cínico e
materialista encontra sustentação nas teorias de Abraham
Maslow sobre a motivação. Na medida em que o padrão
de vida cresce, as pessoas estão menos propensas a sofrerem
de carências mais básicas. Têm portanto mais
condições de se dedicarem ao auto-desenvolvimento,
ao fomento da auto-estima e da auto-realização. Isto
é, têm uma qualidade de vida mais elevada.
Chegamos a um ponto em que a produtividade é
tal que bastaria à subsistência de todos. Entretanto,
esta produtividade se volta cada vez mais para uma produção
orientada às classes privilegiadas: os capitalistas e uma
nova classe de trabalhadores diferenciados. Surge uma nova elite:
a dos trabalhadores intelectuais - profissionais do conhecimento,
especialistas das mais diversas áreas, altamente identificados
com o produto do seu trabalho. A participação nos
lucros premia este capital intelectual. O excedente é dividido
agora entre capitalistas, trabalhadores do conhecimento (o cérebro
de obra) e a mão de obra, trabalhadores braçais -
contingente este cada vez mais reduzido por realizar tarefas automáticas
altamente substituíveis por máquinas. Acelera-se um
fenômeno de exclusão. A produtividade do processo é
tal que pode produzir para todos sem requerer a participação
de todos no processo produtivo. Uma parcela cada vez maior da população
simplesmente não consegue participar do processo econômico,
quer como produtor, quer como consumidor e vive à margem
do sistema, subsistindo do lixo e da caridade deste sistema. Por
outro lado, mesmo integrados no processo, os trabalhadores que têm
o valor do seu trabalho medido apenas pela quantidade de mão
de obra impessoal e que encaram este trabalho unicamente como uma
forma de subsistência, são escravos modernos. Fatalmente
seu trabalho se alienará do seu valor qualitativo, que depende
da contribuição pessoal e única do trabalhador.
Mas estas exclusão e escravização não
são forçadas pelo sistema e dependem de habilidades
aprendidas. E a disposição para aprender depende muito
da atitude da pessoa. Entretanto, o sistema funciona em camadas.
As facilidades de aprendizado e de inserção no processo
produtivo são maiores quanto mais próximas do epicentro.
E este epicentro tem uma situação geográfica
e outra social.
Creio que a resposta às indagações
iniciais depende fundamentalmente da atitude do trabalhador e do
empregador, as quais refletem os valores básicos da sociedade
em que vivem.
(fonte: PowerSelf
- www.powerself.com.br)
Que Deus abençoe a todos!!!
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