Em
Shambhala, os mestres estão reunidos, preocupados com o futuro da humanidade.
Depois da ameaça do Guerreiro das Trevas, outras formas malignas mandadas por
inimigos dos Shaolins poderiam aparecer a qualquer hora e destruir de vez a paz
e o bem das pessoas. Esse era o motivo daquele encontro, procurar monges e
mestres capazes de enfrentar esse tipo de ameaça, lutando pela justiça e
verdade, não importando os sacrifícios pessoais e sempre acreditando que nada
é impossível, por mais difícil que seja.
Caine
e o Ancião estão na tal reunião.
-
Kwai Chang Caine e Lo Si, vocês já provaram serem dignos de confiança. Seus
esforços em combater as forças das trevas muito colaboraram para evitar o caos
e manter a paz em nosso mundo. Mas precisamos de mais, muito mais. Nós
pressentimos que em breve Sing Wah irá tentar novamente espalhar o mal e a
destruição – um dos mestres diz.
-
E o que nós podemos fazer? – Caine pergunta
-
Por enquanto nada. Todo ano novos monges recebem a honra de se tornarem
Shaolins, mas nem todos serão escolhidos para defenderem Shambhala, para serem
nossos guardiões.
-
O que estamos tentando dizer é que todos os novos monges Shaolins serão
submetidos a um teste, para avaliar como eles lidam com situações conflitantes
e ver se serão dignos de serem nossos protetores. E o seu filho, Kwai Chang
Caine, será um dos testados.
-
Que tipo de teste ele receberá?
-
Creio que Balthazar é o mais indicado a lhe explicar.
-
Balthazar?
-
Olá, Caine. Há quanto tempo!
Ele
se volta e o reconhece. Balthazar é o mesmo que Peter encontrara em “Requiem
II” e lhe mostrou como seria sua vida caso ele não se tornasse um Shaolin.
-
Eu me lembro de você...
-
Sim. Minha esposa e eu passávamos férias perto de você e o conhecemos. Você
tinha acabado de se perder de seu filho. Eu sabia que ele estava vivo e ia te
contar, mas eu morri antes. Quando seu filho se tornou um Shaolin eu o mostrei
como seria sua vida caso ele não tomasse a decisão. E esse será seu teste:
lidar com essa situação e tentar consertá-la. Sozinho. Sem a ajuda de nenhum
outro Shaolin. Inclusive a sua Caine.
-
E se ele falhar? – pergunta Lo Si
-
Ele não poderá falhar – Caine diz
-
Eu só perguntei...
-Tudo
que ele enfrentará não será realidade. Será uma espécie de sonho –
responde Balthazar – Se ele falhar, não lembrará de nada. Se ele for bem
sucedido, nós lhe contaremos a verdade.
-
E quando este teste vai começar?
-
Agora. Nós ficaremos daqui vendo todos os movimentos de seu filho.
-
Eu lhe enviarei todos os meus pensamentos positivos – diz Caine
-
Que assim seja. Ele precisará. E nós também. Quanto mais monges passarem no
teste, melhor para o mundo. Boa sorte a todos...
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O
barulho de um telefone tocando insistentemente faz Peter despertar assustado.
Desde quando havia um telefone na casa de seu pai?
-
Alô? – atende, sonolento
-
Peter! Você ainda estava dormindo? Sabe que tem que chegar aqui em meia hora ou
o capitão vai te comer vivo!
-
Skalany? É você? – ele se levanta
-
Andou bebendo? Sabe que...
Peter
não presta atenção à resposta, pois repara que ali não era a casa de seu
pai e sim o seu antigo apartamento. Como ele fora parar ali? Não se lembrava! E
por que Skalany estaria ligando? Não era mais um policial. Só então ele vê
em cima da cabeceira seu revólver e seu distintivo e os pega, confuso.
-
... você está me ouvindo, Peter?
-
Eu chego aí em vinte minutos...
Ele
desliga o telefone. Só podia ser uma espécie de pesadelo. Parece que sonhos têm
sido freqüentes, nesses últimos dias... Ele levanta as mangas e não vê as
marcas Shaolins em seus braços: definitivamente era um sonho... ou não... tudo
parecia muito real...
Peter
pega sua jaqueta, seu distintivo e a arma. Ele pensa melhor, esconde o revólver
debaixo do armário e sai. Seu Stealth azul estava estacionado do outro lado da
rua. Há quanto tempo não o dirigia! Ele entra no carro e vai até a casa do
pai.
O
caminho estava diferente. Parecia que tinha acontecido uma guerra em Chinatown.
Mas ele não dá muita atenção, estaciona o carro em frente à casa de Caine e
entra. Para sua surpresa, o lugar estava todo revirado, com as ervas espalhadas
pelo chão e várias paredes quebradas, como se tivesse tido uma briga ali.
Peter
sai dali, frustrado, e vai ao distrito buscar respostas.
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O
101 estava irreconhecível: filas imensas de pessoas reclamando ao mesmo tempo,
muito empurra-empurra e vários policiais tentando acalmar a situação.
-
Peter, está atrasado! – é Skalany – O capitão está uma fera!
-
Capitão?
-
É! Você se lembrou de acordar hoje?
-
Skalany... não sou mais um policial...
-
Isso não é hora de fazer piada!
-
Mas...
Ela
começa a empurrá-lo em direção à sala do capitão e só então ele repara
na aliança em sua mão esquerda. Quando ia indagar sobre aquilo, pára em
frente à sala, boquiaberto: está escrito “T.J. Kincaid”.
-
Não pode ser...
A
porta se abre e T.J. o puxa.
-
Detetive Caine, está atrasado de novo! Eu não sou como a Simms que passava a mão
na sua cabeça e engolia tudo que você fazia! Se quiser manter seu emprego, eu
exijo que chegue no horário! Quero que investigue o caso Henderson, pra
ontem!!! – ele estava aos berros.
Peter
não responde e começa a se lembrar de quando era um recém Shaolin e seu pai
fora a França atrás de sua mãe:
-
Peter Caine?
-
Sou eu
É
um homem de meia idade que aparecera ali do nada.
-
Não deve saber quem sou, mas eu conheço você e o seu pai, Kwai Chang Caine,
muito bem.
-
E você é...?
-
Isso não importa agora. O que interessa é que eu tenho uma dívida com você e
vim pagá-la.
Peter
começa a se lembrar de mais coisas:
-
Eu sei que não posso voltar no tempo para tentar que você e seu pai não
demorassem quinze anos para se reverem, mas eu posso fazer algo por você.
-
E o que é?
-
Eu vou te mostrar como seria sua vida se você e seu pai não tivessem se
separado.
-
E por que só agora?
-
Eu tinha que esperar que você se tornasse um monge Shaolin e então você
estaria preparado. Aliás, vou te mostrar também o que teria acontecido caso
você não tivesse tomado a decisão.
Peter volta de suas lembranças: era isso que estava acontecendo! Tudo que aquele homem dissera virou realidade! Seria Sing Wah, trabalhando para Bon Bon Hai? Como poderia sair desse pesadelo? Consertando tudo de errado? E o pior de tudo é que teria de enfrentar o lado negro de seu pai. O Guerreiro das trevas e provavelmente com o desprezo das pessoas que o culpam por todas as desgraças de Chinatown.
-
...agora!!!
O
grito de T.J. o traz de volta à realidade.
-
Fui claro, detetive Caine?
-
Sim, capitão. Eu já vou investigar o caso.
Peter
sai da sala e fecha a porta.
-
Sobreviveu ao interrogatório? – pergunta Blake – Até que hoje ele gritou
menos...
Peter
olha em direção a Jody. Ela o olha com desprezo e volta a fazer o que estava
fazendo.
-
Você ainda está aqui, Caine? – é T.J., berrando da porta de sua sala -
Detetive Powell! Eu sei que você tem suas diferenças com o detetive
Caine, mas eu quero que você vá com ele investigar o caso Henderson, estamos
entendidos?
-
Sim, capitão.
Assim
que ele bate a porta, Jody se levanta muito contrariada, pegando sua arma na
gaveta.
-
Pra que mandar nós dois para esse caso se é só um procedimento padrão?
-
Procedimento padrão? – Peter não entende.
-
É, nós só vamos fazer uma visitinha ao Sr Henderson, provavelmente iremos vê-lo
empacotar drogas, mas não poderemos prendê-lo!
-
Por que não?
-
Se toca, Peter! Quer perder o
emprego? Henderson trabalha para Bon Bon Hai! Vamos logo, tá? Tenho muito que
fazer!
Eles
saem do distrito e entram no carro de Peter.
-
Você me odeia, não é? Culpa-me por tudo que está acontecendo... – ele dá
a partida e acelera.
-
Tudo podia ser diferente...
-
Eu sei...
-
Vire ali na Chesnut.
Eles
entram em um galpão abandonado e saem do carro. Um homem estava guardando vários
papelotes de droga em uma maleta.
-
Sr Henderson! – diz Jody – Sabe que não pode andar com drogas, é contra a
lei!
-
Eu sou a lei! – ele pega a maleta e vai indo embora – Até mais!
Peter
o algema e começa a levá-lo em direção ao carro.
-
Sr Henderson, você está preso. Tudo o que disser poderá ser usado contra você...
-
O que está fazendo, Peter?
-
... no tribunal, tem direito a um advogado, mas se não puder pagar lhe será
indicado um.
Os
três entram no carro e vão ao distrito. Jody fica pensando no que dizer a T.J.
quando chegarem lá...
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-
Que diabos é isso?! – T.J. grita, ao ver Henderson chegar ao 101 algemado.
-
Eu o prendi – Peter diz, desafiador
-
Eu tentei impedir – Jody fala
-
Detetive Caine está suspendo por tempo indeterminado! Entregue sua arma e
distintivo agora!!!
Peter
joga o distintivo em cima da mesa
-
Cadê a arma?
-
Eu não uso armas
-
Você tem cinco minutos para arrumar suas coisas e sair daqui! – ele bate a
porta
Peter
aproveita, procura uma informação no computador e já ia embora quando vê
Strenlich e Blake conversarem. Ele se lembra que Frank reúne provas contra Bon
Bon Hai e é assassinado por isso.
-
Chefe... por favor, não denuncie Bon Bon Hai ainda.
-
Como você sabe?! Blake, você contou?
-
Eu não!
-
Não interessa como eu fiquei sabendo, eu só lhe peço que me dê alguns dias
antes de denunciá-lo... confie em mim...
-
Tudo bem, dou três dias para você fazer o que tem que fazer. Depois disso eu
entregarei as provas ao comissário.
-
Obrigado chefe.
-
Para onde você vai? – Kelly pergunta
-
Eu vou para onde eu possa consertar tudo que aconteceu por minha causa.
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Peter
conseguira o endereço de Simms nos arquivos do computador e vai até lá tentar
trazê-la de volta à razão. Pelo que ele se lembra, sua ex-capitã ia ter um
colapso nervoso e se suicidar.
Quando
chega lá, sente cheiro de gás e entra correndo. Karen estava desmaiada no chão
da cozinha. Ele desliga o gás, abre as janelas e a leva para fora da casa.
Simms
não estava respirando. Peter segura sua mão e lhe passa um pouco de seu chi.
Ela desperta logo depois, tossindo e o abraça.
-
Acabou – ele diz – Acabou...
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-
Por que me salvou? Minha vida não valia mais nada!
-
Toda vida vale a pena
-
Não conseguir pôr ordem na cidade vale a pena? Ser rejeitada pelo próprio
filho vale a pena? Ele acha que eu sou uma fracassada, e eu estou começando a
acreditar! – ela começa a chorar
-
Não! Você não é uma fracassada! É uma das pessoas mais fortes que eu já
vi, sempre admirei isso em você. Não se entregue assim tão fácil antes de
lutar. Hoje você está nas trevas, mas a luz ressurgirá e a escuridão ficará
para trás. É só acreditar.
-
Parece seu pai falando, antes dele... você sabe...
-
Ajude-me a derrotar Bon Bon Hai e trazer a normalidade de volta a Chinatown
-
Mas como? Ele é muito poderoso
-
Vem comigo, eu te conto no caminho
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Nas
galerias subterrâneas da cidade vemos Kermit em frente a um computador. Ele
lidera a resistência contra Bon Bon Hai. Um barulho o faz pegar sua arma e
apontar para os túneis escuros da galeria.
-
Você? – ele baixa a arma ao ver Peter.
-
Surpreso?
-
Pensei que estivesse do lado deles.
-
Não, nunca estive. Fui suspenso por fazer o correto. Eu... preciso de sua
ajuda.
-
Pensei que não fosse me pedir. Algum plano?
-
Tenho um. Só espero que dê certo.
-
Kermit?
Ele
se volta.
-
Karen? Pensei que...
-
Desculpe pelas coisas que eu disse. Sabe que não falei sério, fui obrigada.
-
Eu sei.
-
Não queria interromper o reencontro de vocês, mas... não temos muito tempo.
Preciso de um mapa da galeria.
-
O que você tem em mente?
-
Vamos invadir o escritório de Bon Bon Hai.
-
Oh, Yeah. Gostei...
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Um
dos túneis dá em baixo do prédio de Hai. Kermit e Peter abrem o bueiro e saem
nos fundos do lugar.
-
Precisamos ser rápidos – diz Peter
-
Temos cinco minutos antes dos seguranças virem
-
Vamos, então!
Eles
entram, golpeiam os guardas que estavam fazendo ronda, entram no elevador e vão
ao 47º andar, onde está localizado o escritório de Bon Bon Hai.
Os
dois invadem o sistema de arquivos e copiam vários que envolvem o chinês em
falcatruas. Na hora em que estão
indo embora, deparam-se com vários guardas, fogem pela janela, pegam o
elevador, param no 5º andar e descem os outros andares de escada.
Na
saída golpeiam outros guardas e conseguem chegar do lado de fora.
-
Conseguimos! – diz Kermit, correndo.
Peter
se sente mal e pára.
-
O que foi?
Nesse
instante aparece Caine na frente deles.
-
Pop...
-
Peter! – ele abre um sorriso sinistro.
-
Sai daqui, Kermit! Isso é entre meu pai e eu.
Kermit
sai correndo levando as provas consigo. Peter respira fundo: nunca poderia
imaginar que algum dia enfrentaria seu próprio pai daquele jeito. E nem nós....
THE
END
03/01/01
By
Jackie Caine
Nº 4012