Antes de entrarmos na segunda parte deste livro, a qual constará da descrição minuciosa das descobertas e invencóes do Monsenhor Landell de Moura, com a tradução integral das três Patentes a ele outorgadas pelo Governo Norte-Americano - coisa que será feita pela primeira vez - queremos narrar dois episódios bastantes ilustrativos da batalha que vimos sustentanto, há mais de vinte anos, com o objetivo de provar, não apenas a autenticidade dessas Patentes, uma vez que ainda há pessoas de alto nível científico que, mesmo diante delas, hesitam em dar-lhe crédito, mas ainda e principalmente a exatidão das Leis e Teorias, a exequibilidade dos aparelhos e, sobretudo a perfeita sanidade mental do seu criador.
Já não queremos referir-nos à prioridade
de seus inventos. Essa será sempre contestada pelos que se atém a datas
oficiais. O que desejamos assinalar é a fama de louco que, ainda hoje, com
gratuita, implacável e estranha insistência, persegue a memória do grande físico
brasileiro. Vejamos os dois episódios, entre muitos outros, em que aparece a
palavra "louco", embora, no segundo, o resultado tenha sido favorável ao
padre, finalmente.
Em meados de 1939,
levando conosco as três patentes, procuramos o nosso querido e saudoso amigo
Prof. Roquette Pinto, sem dúvida um dos maiores sábios brasileiros de
nosso tempo, e, depois de falar-lhe longamente sobre a vida atribulada e as
avançadas teorias e realizações do Padre LANDELL de MOURA,
lemos-lhe, entusiasmados, um resumo da primeira parte deste nosso trabalho -
leitura que ele ouviu atentamente, sem interromper-nos uma só
vez.
Finda a leitura, triunfantes, apresentamos-lhes as
Patentes até aquele momento conservadas em nossa pasta de couro, para armar o
efeito:
- E aqui,
Prof. Roquette, estão as Patentes que provam tudo quanto acabo de
ler-lhe.
Roquette Pinto, sem se deixar
impresionar pelo nosso coup de théâtre sorriu mansamente e respondeu-nos,
sem
segurá-las:
- Nao é necessário, meu caro Fornari. Pode guardá-las. Pela
leitura que me fez, já estou bem a par do assunto.
- Mas, Prof. Roquette -
insistimos - devo
confessar-lhe que tenho receio de não haver exposto com bastante clareza,
propriedade e exatidão científica as idéias e sistemas do padre, e eu gostaria
que o senhor verificasse, ao menos, se a tradução das Patentes está fiel ao
texto em inglês. Como já lhe declamei, não fui eu quem as traduziu, pois pouco
ou nada sei desse idioma. Além do mais, eu desejaria sua opinião escrita a
respeito. Ela poderia até servir-me de prefácio ao livro, se o senhor o
consentisse.
Roquette Pinto olhou-nos
demoradamente, como se sentisse penalizado com a desilusão que ia dar-nos, e
falou,
por fim:
-Bem, poeta, já que insiste em ter minha opinião, vou usar de
toda a franqueza: não perca mais tempo com esse padre. Depois da afirmação que
ele fez sobre a possível dispensa do selênio em tais transmissões sem fio, minha
opinião é de que se trata realmente de um louco. E mudou de assunto.
E prosseguimos em nosso bom combate.
Um ano mais tarde, pessoa amiga, impressionada com
nossa obstinação, aproximou-nos de outro eminente cientista, o Engenheiro Naval,
Civil e Mecânico-eletricista, Sr. Mario de Oliveira Penna,
doutor em ciências pela Universidade da Califórnia, de cuja
alta competência e autoridade na matéria, notoriamente reconhecidas e
proclamadas nos meios técnicos do Rio de Janeiro, já muito ouvíramos falar.
Embora um tanto desconfiado, recebeu-nos o ilustre Dr. Mário de Oliveira Penna,
um dia, em sua casa, com o cavalheirismo, a paciência e a boa vontade que lhe
são proverbiais. Repetiu-se a cena que havíamos representado diante do
inesquecível Roquette Pinto.
Mário de Oliveira Penna, que, como acontecera com o
autor de Rondonia, durante todo o tempo em que estivéramos com a palavra
não nos interrompera nem esboçara o menos gesto, limitando-se a ouvir-nos com a
atenção e estudar-nos com curiosidade, teve, todavia, à vista das três
Patentes, uma reação diferente do falecido
acadêmico. Segurou-as rápidamente, examinou-as detidamente e
pôs-se a folheá-las com grande ansiedade. De súbito, deu alguns passos
pela sala, parou, olhou-nos, emocionadíssimo, e exclamou:
"- Meu Deus, Sr. Fornari, como isto é
extraordinário! E como é infeliz e descuidada a nossa pátria! Ter sido o berço
um homem como esse, e tê-lo abandonado e esquecido! Eu não podia acreditar no
que o senhor me estava lendo, e devo mesmo dizer-lhe que, enquanto o senhor
falava e lia, eu estava pensando que tão louco era o senhor
como esse padre. Estas Patentes, porém, sao o
atestado de um gênio.
Não pode calcular como é dificil obter uma Patente de invenção na
América do Norte, o número de exigências que
são feitas, o rigorismo dos estudos e investigações a que é
submetido qualquer engenho, por menos importante que ele seja, apresentado a THE
PATENT OFFICE, de Washington, antes de aprová-lo. E se esse padre obteve estas,
é, pode crer, porque ele as merecia realmente e tinha direito de prioridade
sobre o que nelas se contém. Deixe-as comigo uns dias, por favor, que desejo
estudá-las minuciosamente. Comunicar-lhe-ei, depois, minha opinião por
escrito.
Deixamo-las em seu poder, gostosamente, agora cheios
de esperança.
Um mês mais tarde,
recebíamos do Dr. Mário de Oliveira Penna o seguinte Parecer:
"O reverendo
Padre ROBERTO LANDELL DE MOURA, nascido na cidade de Porto Alegre
aos
21 de janeiro de
1861, requereu e obteve três patentes de invenção nos Estados Unidos da América,
a saber:
A narrativa dos episódios que
prejudicaram suas primeiras tentativas, o prosseguimento de seus estudos e o
registro, em tempo, de seus aparelhos experimentais, mostra, evidentemente, que
sómente devido a razões imperiosas e superiores deixou ele de se incluir, na
época, entre os pioneiros de tão relevante conquista.
Estudando agora, do ponto de vista
estritamente técnico, força é reconhecer - porque se demonstra de modo
inequívoco - que suas três patentes contêm, de fato, todas as peças essênciais
de um sistema que se foi aperfeiçoando até constituir o núcleo científico básico
que permitiu a industrialização das transmissões e das recepções sem fio. Assim,
em suas Patentes sobre "Telegrafia sem Fio" e "Telefonia sem fio" verifica-se,
além da engenhosidade dos aparelhos demonstrativos, o principio do Circuito
Oscilatório , sua aplicação às ondas curtas e a todas as vibrações
eletro-acústicas; o princípio fundamental da Válvula de 3 electródios; e
a produção de Ondas Hertzianas e sua transmissão e recepção.
Na Patente sobre "Transmissor de Ondas", constata-se de forma nítida, a
existência de um circuito similar aos que são empregados, ainda hoje, embora com
modificações e aperfeiçoamentos, nos transmissores. E, sobretudo, observa-se o
emprego de um disjuntor automático do transmissor, comandado pelas
vibrações sonoras, determinando a correspondência das ondas eletromagnética
transmitidas às ondas sonoras pelas quais são
produzidas.
Este processo é, assim, a característica
do sistema inventado e patenteado pelo pleclaro Padre
Landell de Moura. E sob este aspecto, após 36 anos
decorridos desde sua Patente (Este parecer foi escrito em 1939 e a seu autor
passou despercebido que, já em 1900, o Padre Landell de Moura, havia patenteado
seu invento no Brasil). e cerca de 47 desde suas primeiras experiências em
São Paulo, não é outro o pricípio em que se apóiam todas as aplicações de
transmissores no campo industrial. Há pois nas tres patentes do patrício
ilustre, idéias, concepções, princípios e engenhosidade na formação de circuitos
elétricos, que caracterizam, de forma incontestável, os mesmos métodos e
processos que foram aplicados mais tarde, com a natural evolução no meio
industrial, com os aperfeiçoamentos da técnica e dos meios materiais de
execução. Assim, estou convencido de que, de justiça e de direito, cabe ao
Padre Landell de Moura a glória imortal de
ter
idealizado o
mais perfeito sistema de telefonia e telegrafia sem fio na época em que
fez suas primeiras demonstrações, e que não foram outros os princípios
aplicados, senão os constantes de suas Patentes, na fase inicial da
industrialização dos transmissores e receptores de telegrafia sem fio
(T.S.F.)"
Graças a Deus! Isto dito por uma sumidade da categoria do Dr. Mário de Oliveira Penna, recompensava-nos de todos os imensos sacrificios que fizéramos, de todo o duro trabalho que tivéramos e, até do ridículo a que nos havíamos exposto aos olhos de tantas pessoas, em nosso teimoso e devotado empenho de querer restituir ao grande sábio rio-grandense a glória que, uns, de má-fé ou por desconhecimento, lhe negaram, e outros lhe surrupiaram, de sabidos que foram. E dizemos "até do ridículo"porque igualmente nós, muitas e muitas vezes. havíamos passado por "loucos", embora, infelizmente, não por tão loucos como o Monsenhor ROBERTO LANDELL DE MOURA...