E tudo começou na Avenida Paulista
http://www.estadao.com.br/ecolunistas/siqueira/04/04/siqueira040418.htm

Ethevaldo Siqueira.

Que tem a ver a Avenida Paulista com as comunicações? Muita coisa. Mais  
do que local preferido para comemorações, passeatas e protestos - que 
também são formas de comunicação -, essa via pública inaugurada em 1891 
pelo prefeito Joaquim
Eugênio de Lima foi palco, dois anos depois, de uma demonstração 
pioneira do padre inventor brasileiro Roberto Landell de Moura, que ali 
fez a primeira transmissão sem fio da voz humana no mundo, cobrindo a 
distância de oito quilômetros que a separa da colina de Santana. 

O incompreendido clérigo, no entanto, enfrentou até ameaça de 
excomunhão por suas "experiências diabólicas".

Mas, a rigor, essa avenida tem muito mais a ver com as comunicações sem 
fio, do que com fio. Ela foi o berço do wireless, na linguagem dos 
especialistas.

Por ser um dos pontos mais altos da Grande São Paulo, o espigão da 
Paulista tem sido a região preferida para instalação de dezenas de 
antenas de emissoras de rádio, de televisão, de estações radiobase para 
celulares e outros serviços de
telecomunicações.

Tudo pelo rádio - Na verdade, a comunicação sem fio está cada dia mais 
presente em nossa vida. Eu já não saberia como viver sem a mobilidade e 
liberdade que permite o celular. Sem a informação instantânea da 
internet. Ou sem a comunicação eletrônica audiovisual a qualquer hora 
em qualquer lugar. 

Embora muita gente não preste atenção nessa área, a comunicação sem fio 
é algo quase mágico, como foi a reação mundial diante da primeira 
transmissão de sinais telegráficos sobre o Atlântico, em dezembro de 
1901, por Marconi. Como acontece hoje, diante dos milagres da 
convergência digital.

A comunicação sem fio acelerou a história do mundo. Lembro que, antes 
de ir à escola, numa fazenda vizinha à vila de Aparecida, no município 
de Monte Alto, eu já me acostumara a ouvir um rádio de mesa, com uma 
caixa de madeira toda entalhada, tipo capelinha, de 8 válvulas, 
instalado no canto da sala de 
jantar.

A emissora mais próxima que ouvíamos era a PRG-4, Rádio Clube de 
Jaboticabal, em ondas médias. Com meus irmãos, ouvia à noite as rádios 
mais distantes, de São Paulo, como a Rádio Tupi e Record. Em ondas 
curtas, ouvíamos a Rádio Nacional em seus áureos tempos, dos anos 1940.

Pelo rádio, Goebbels e Hitler berravam diariamente aos ouvidos de 
milhões de alemães, pregando suas idéias insanas. Pelo rádio, a Segunda 
Guerra parecia estar muito mais próxima de nós, pois meus pais 
acompanhavam quase todas as noites o noticiário internacional em 
português da BBC de Londres, que 
Reproduzia até a voz do general Charles de Gaulle, incentivando da 
Inglaterra a resistência francesa. 

Essa proximidade do conflito mundial era tão grande que eu me 
Lembro até hoje do noticiário dos bombardeios de Londres de 1940, 
quando eu tinha apenas 8 anos, mas já acompanhava, assustado, a 
descrição dos piores ataques aéreos impostos por Hitler à capital 
britânica. Nos ares, a grande batalha entre
os caças Spitfire ingleses e os Stukas alemães.

Nessa época, o grande escritor de ficção, Arthur C. Clarke, engenheiro 
de telecomunicações do British Post Office, trabalhava no 
desenvolvimento do primeiro radar inglês, chamado naquele tempo de 
direction finder. 

Graças a esse avanço, conta Clarke, "a artilharia britânica chegou a 
abater mais de 200 aviões alemães numa única noite".

Nossa história - Pelo rádio, os paulistas acompanharam a Revolução de 
1932, ouvindo os discursos inflamados de César Ladeira e Ibrahim Nobre, 
de madrugada, na Rádio Record. 

Anos depois, na escola primária, minha classe era instada a
ouvir toda noite, das 8h às 9h, o monólogo autoritário da Hora do 
Brasil, do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura 
Vargas.

Pelo rádio, acompanhamos a redemocratização do Brasil em 1945 e, no 
futebol, choramos na mais dura derrota da seleção brasileira, na Copa 
de 1950, no Rio.

Pelo rádio, tivemos que engolir o discurso da ditadura militar nascida 
em 1964.

Pelo rádio, festejamos o Brasil campeão da Copa de 58, em Estocolmo. 

Quatro anos depois, vibramos com o bicampeonato mundial, no Chile. Em 
1966, o vexame. Em 1970, no México, o tricampeonato, com televisão 
direta pela primeira vez. A alegria popular explodiu, sufocando os 
gritos da tortura, que a censura 
Impedia de ser denunciada à Nação.

A era das redes - As telecomunicações nasceram com fio. Primeiro com o 
telégrafo, depois com o telefone. Com as ondas hertzianas, vieram o 
rádio e a televisão. Por fim, com a convergência digital, internet, 
multimídia e redes sem
fio, que fazem uma revolução silenciosa, levando os benefícios das 
telecomunicações aos confins do planeta. 

Rádio em inglês é sinônimo de wireless (sem fio). Ao nos libertar do 
cabo, o rádio tornou o mundo pequeno e democratizou a comunicação.

Nos últimos anos, assistimos à explosão do celular e das redes locais 
sem fio. A rede Bluetooth integra dispositivos e periféricos de 
computador, em pequenas distâncias. A rede Wi-Fi cobre distâncias 
maiores, até 50 metros, mas em alta
capacidade. A rede Wi-Max, a mais recente delas, talvez seja a grande 
rede local sem fio do futuro, um novo padrão para acesso wireless de 
longo alcance. Ela deverá ser a alternativa mais poderosa que as atuais 
Wi-Fi. 

Desenvolvida pela empresa israelense Alvarion e pela canadense Redline, 
a Wi-Max é a Tecnologia conhecida pela designação de 802.16a do famoso 
Institute for Electric and
Electronic Engineering (IEEE).

E pensar que tudo começou na Avenida Paulista.

    Source: geocities.com/br/landelldemoura

               ( geocities.com/br)