LANDELL DE MOURA Discreto, bonito e exigente

Com 83 anos, Carlinda Leite Borges de Lima não esquece da imagem de tristeza estampada no rosto do Padre Roberto landeil de Moura que ela viu quando era uma criança. "Ele guardou mágoa por seus méritos não terem sido reconhecidos. Foi um sofredor", relata Carlinda. De seus pais, ouviu histórias na época de que aquele padre era o inventor da radiotelefonia e da radiotelegrafia. Modesto, ele evitava o assunto.

"Esqueça isso. Águas passadas não movem moinhos. Nada mais é possível fazei", comentava a quem lhe perguntava sobre as suas invenções. Um dia, cheia de curiosidade, Carlinda o procurou depois da missa dominical e indagou: "E as suas invenções?" Sem fugir à regra, ele levou o dedo indicador sobre os lábios e evitou o assunto.

Nem sete décadas foram suficientes para que Carlinda apagasse de sua memória outra marca do Padre Landell: "Ele era empolgante no púlpito. Os seus sermões eram maravilhosos". Carlinda conta que se sentava, sempre, no primeiro banco da Igreja do Rosário, do púlpito, Landell acenava para ela. Outra recordação: "Ele era caridoso ao extremo. Dava tudo o que possuía para os pobres, até mesmo cobertores e agasalhos".

Sobrinha do Padre Landell, Sara Landell de Moura Coelho, hoje com 88 anos, lebra que ele visitava a casa de seus pais todos os domingos à tarde, no bairro da Glória. Sara também confirma que os sermões do Padre Landell eram apreciados pelos fiéis. "Ele era um bom orador. Os acadêmicos de Direito gostavam muito de ouvi-lo. Aos domingos, ele sempre contava a mensagem dos seus sermões para a minha mãe".Bonitão - Um homem magro, narigudo. A sua voz era forte, mas suave. E falava calmamente. Assim era o Padre Landell na descrição de Sara. Ela o achou também bonitão e uma criatura alegre, bem humorada", que não gostava das beatas que ficavam sempre dentro da Igreja. "Vão cuidar dos seus marido?, advertia. Sara diz que ele costumava "falar pouco sobre os seus inventos" e, ás vezes, conversava sobre o assunto com os mais velhos.

Sempre nos domingos. Chegava na casa da família de Sara e se sentava na sala para "fazer a festa" com as crianças- Sara lembra ainda que ele fumava muito, apreciava os chás e lhe dava conselhos: "Ele dizia para eu estudar bastante". Padre Landell ficava com a família até 2lh3Omin ou 22 horas, e depois retornava para a Igreja do Rosário, onde residia, de bonde elétrico.

Sara sabia também que ele era muito caridoso e que vivia pobremente. Normalmente, "ele caminhava só com a batina e não carregava nada nas mãos"- O bispo Dom João Becker era um desafeto- "Ele se queixava de que o bispo não o ajudava e o perseguia, cortando as suas iniciativas".

Guilherme Landeil de Moura é, aos 78 anos, outro sobrinho direto do Padre Landell. As suas recordações revelam um homem "simples, brincalhão com as crianças e muito reservado". Era seu hábito ler revistas estrangeiras na Biblioteca Pública, principalmente sobre ciências.

Quando foi atropelado por automóvel, Padre Landell atirou-se sobre a capota para evitar o impacto. Ficou recuperando a saúde na casa da família de Guilherme, que pôde testemunhar algumas brincadeiras. Como a da busca de cabelos brancos, em troca de um tostão. Ou a da batida de uma colher amarrada a um barbante na mesa, para que as crianças pudessem perceber que o som se propagava em vibrações.

O cardeal Dom Vicente Scherer também conheceu o Padre Landell. Logo que regressou dos seus estudos em Roma, em 1927, Scherer travou conhecimento com Padre Landell. "Ficamos amigos. Ele, padre idoso. Eu, ordenado há pouco". Scherer acompanhou os últimos momentos da vida do Padre Landell, a quem considerou uma figura de "aspecto nobre e severo. Alto, franzino e reservado. Não muito comunicativo e rigoroso consigo mesmo e com os outros".