TELEBRÁS LEMBRA PADRE LANDELL
Há 87 anos, vindo de Campinas o padre Roberto Landell de
Moura provocava extrema curiosiade em São Paulo carregando
misteriosos embrulhos contendo peças de um aparelho por ele
inventado e que poderia ser utilizado para falar com outra
pessoa, colocada a quilômetros de distância, sem a necessidade
de fios.
Ele queria o apoio das autoridades para aperfeiçoar e
industrializar o telefone sem fio antes do Italiano Marconi ter
assumido a paternidade do radiotelégrafo, em 1895. Do alto da
avenida Paulista numa distância de oito quilômetros em Linha
reta, foram feitas várias experiências de transmissão e recepção,
com pleno exito.
Com base nessa versão, praticamente ignorada na literatura a
respeito, a Telebrás resolveu homenagear o padre Landell, dando
seu nome ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, em Campinas
Inaugurado sexta-feira pelo presidente João Figueiredo. Apesar
dos registros his
tóricos sobre as suas invenções serem escassos, a empresa,
responsável pela política nacional no setor, considerou o
desconhecido cientista "o pioneiro em telecomunicações no
País, cujo gênio criador não foi compreendido em sua época".
No discurso que proferiu durante a solenidade, o
ministro Haroldo Correa de Mattos ressaltou que o padre Landell
foi quem "primeiro palmilhou as difíceis e promissoras
sendas da pesquisa e da tecnologia da comunicação".
Segundo as Informções colhidas pela Telebrás, o padre Landell
obteve em 1900 a patente nacional do telefone (de número 3.279),
"para um aparelho apropriado à transmissão da palavra à
distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra e da
água". Em 1904 conseguiu nos Estados Unidos, no Petent
Office o registro do transmissor de ondas, considerado o
precursor do rádio, além do telégrafo e do telefone sem fios.
No ano seguinte, no Brasil, desenvolveu outras pesquisas, inclusive
sobre a transmissão de imagem,
A principal fonte em que se baseiam as afirmativas da Telebrás
é o livro "0 Incrível padre Landel de Moura) - história
triste de um Inventor brasileiro de Ernani Fornari publicado pela
Editora Globo 1960. A obra o único dossiê sobre a
vida e pesquisas do padre Landell e foi completada, segundo o
autor, após 20 anos de investigações em documentos e arquivos
de jornais. De acordo com o assessor da diretoria do CPQD, João
Frota, o centro pretende reunir mais provas sobre o trabalho do
pesquisador e publicar trabalhos a seu respeito. De qualquer
forma, ele já é cobsiderado pelos técnicos envolvidos em
diversos programas na área de microeletônica como "o homem
que apertou o botão das telecomunicações no País".
0 padre Landeli nasceu em Porto Alegre, em 1861, tendo estudado
na Escola Politécnica, no Rio e Física e Química, em Roma.
Ordenado Sacerdote em 1886, e de volta ao Brasil "começa a
ter problemas poe não desejar abandonar a ciência e é acusado
de feiticeiro" segundo divulgou a Telebrás, Em Campinas
teria sido repelido pelos fiéis, tendo sua oficina destruída",
afirmativa que gerou controvérsias entre historiadores locais
que não aceitam como totalmente verdadeiro esse fato. Faleceu em
Porto Alegre, em 1928, aos 87 anos.
A Telebrás conseguiu reunir vários depoimentos, que confirmam
as invenções e o pioneirismo do padre Landell. Um deles, por
exemplo, relatado na obra de Ernani Forriari, demonstra o
telefone patenteado pelo governo dos Estados Unidos, sob número
775.337 e definido como um aparelho "para transmitir e
receber mensagens, a distância, por meio de sons e ondas elétricas,
correspondentes às palavras articuladas, sem auxílio de
fios". De acordo com a descrição do inventor, tudo
consiste "num conjunto de elementos capazes de receber e
transmitir sons vocais e palavras, e inclui um sistema de
sinalização para atrair a atenção
do operador.
Já o transmissor de ondas, que mais tarde resultaria no rádio,
foi apresentado por Landell em 1903 e patenteado no ano seguinte,
sob o número 771.917, consistindo numa Invenção relacionada à
transmissão de mensagens, de um ponto a outro, sem o auxílio de
fios".
(O Estado de São Paulo, 09/nov/1980)