São muitos os casos de inventos reivindicados por dois ou até mais alegados inventores, ao longo da História. Assim como foi com o telefone, o avião e a lâmpada elétrica, o rádio também desencadeou - neste fim de século - uma polêmica crescente sobre seu real inventor. Até então proclamada como incontestável proeza do pesquisador italiano Guglielmo Marconi, a invenção do rádio (o equipamento de comunicação, o veículo) vem sendo reclamada para um incompreendido padre brasileiro: o Pe. Roberto Landell de Moura... Nascido em Porto Alegre - RS, a 21 de janeiro de 1861, este gaúcho de ascendência inglesa e portuguesa veio a tornar-se legendário, não só por seus descobrimentos revolucionários mas, ainda, pelas atitudes dignas de um verdadeiro visionário do futuro tecnológico, (entenda-se: homem de visão, não ‘vidente’); capaz de intuir e projetar equipamentos eletro-eletrônicos só industrializados muitos anos depois, quando já se dispunha do suporte tecnológico necessário. Em 1879, estudante na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e balconista de um armazém, o jovem Roberto se inflamou pela mesma paixão de seu irmão Guilherme: o sacerdócio... Lá se foram os dois para Roma, onde Roberto logo mergulhou nos estudos eclesiásticos e, além destes, nos de Química e Física; suas paixões científicas. Ordenado sacerdote a 28 de novembro de 1886, retornou à sua terra, passando antes pela Corte de D.Pedro II; com quem dizem ter mantido animadas conversas de teor científico. Depois de pároco em algumas cidades gaúchas, onde seu temperamento enérgico e seu zelo lhe causaram até certas indisposições com suas "ovelhas", nosso dedicado pastor-inventor foi transferido para S.Paulo. Mais algumas mudanças pelo interior paulista e, por volta de 1895, ele se estabelece em Campinas. Seria o início de sua escalada investigativa, rumo aos mistérios do éter... Em Campinas - SP, o sacerdote-inventor encontra tempo e condição para debruçar-se sobre enigmas que já tinham atormentado outros sábios, convencido de que era mais uma das missões que o Altíssimo lhe reservara. A propósito, declarou: "Deus serviu- se de minha humilde pessoa para levantar o véu que encobre os segredos da natureza... " É lá que ele formula os conceitos fundamentais ao desenvolvimento de toda uma série de aparelhos prodigiosos e, para aquela época, assombrosos...! "Dai-me um movimento vibratório (onda) tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos, que rolam sobre nossas cabeças ou sob nossos pés (freqüências), e eu farei chegar a minha voz até lá. " Só mesmo um gênio assim brilhante poderia usar de linguagem tão poética, sem perder a objetividade, para enunciar o conceito maior de sua teoria! Mesmo sem apoio e lutando com a escassez de componentes, Pe. Landell prossegue nas pesquisas e realiza uma proeza inédita: a primeira transmissão da voz humana - sem fios! - utilizando as ondas landellianas, ou seja, o rádio. Foi entre 1893 e 1894, na capital paulista, diante de um maravilhado grupo de representantes da sociedade, autoridades locais e estrangeiras, posicionadas em dois pontos distantes oito quilômetros um do outro, entre o Alto da Avenida Paulista e o Alto de Sant’Ana. Os espantados presentes não tiveram a mesma reação de certos brutamontes obscurantistas que, na ausência do padre, invadiram sua casa e destruíram seu acervo tão precioso, rasgando seus escritos e quebrando aparelhos únicos no mundo! O desgosto do sábio incompreendido motivou seu afastamento do Brasil. Apesar de já ter registrado seu invento no País, "... um aparelho apropriado à transmissão da palavra à distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra e da água... ", parte desgostoso para os E.U.A. Corria o ano de 1901. Na esteira do novo século, nosso caro e inventivo padre esperava impulsionar sua carreira científica em terras norte-americanas... Mesmo com poucos recursos, patenteou por lá três de suas criações: o Telefone sem fio, o Telégrafo sem fio e o Transmissor de ondas. Apesar de precederem - e com vantagens técnicas! - às experiências telegráficas de Marconi (1895), os equipamentos de fonia do Pe. Landell (1893-94) precisaram ser demonstrados em funcionamento, antes de serem patenteados nos E.U.A. Por dezessete anos, conforme a lei em vigor então, a autoria de suas invenções estaria preservada. E só...! Após seu retorno, desenvolveu teorias inovadoras sobre vários campos técnico- científicos, sempre carregando o fardo adicional do preconceito e da intolerância, por parte dos temerosos do progresso em todos os sentidos. Contudo, não seria exagerado afirmar que ele foi o precursor de tecnologias ‘futuristas’, como a Televisão, a hoje denominada Fotografia Kirlian, o Raio Laser, etc... Sem dúvida, um triste caso de gênio incompreendido, sem apoio e - o que é pior! - não reconhecido! Hoje, quando nos deparamos com o imediatismo dos meios de comunicação, nem sempre atinamos para o brilhantismo da descoberta de todos esses veículos baseados na transmissão por ondas eletro-magnéticas. Os precursores dessas tecnologias são gênios magníficos, merecedores do reconhecimento que o mundo sabe muito bem lhes negar. No entardecer do dia 30 de junho de 1928, num hospital de Porto Alegre - RS, entregou-se ao descanso eterno o incansável pesquisador e devotado sacerdote Roberto Landell de Moura. Sua vida foi marcada pelos extremos do êxtase da descoberta e do descaso mais humilhante. Entre os que lutam pelo bem da humanidade através da ciência, sempre brilhará esse brasileiro dotado da genialidade humilde dos verdadeiros sábios; não mais carente de glórias passageiras, mas consagrado nas atas do progresso e da causa humana!