Daniel
na Cova dos Leões(2:28)
Quase sem
Querer(4:00)
Acrylic
on Canvas (3:02)
Eduardo e
Monica (3:55)
Central
do Brasil (2:57)
Tempo Perdido
(2:20)
Metrópole(3:32)
Plantas
em baixo do Aquario (3:10)
Musica Urbana
2 (4:50)
Andréa
Dória (3:04)
Fábrica(3:15)
Índios(3:15)
Dado Villa-Lobos: Guitarras,
Vocais
Renato Russo: Violões,
Voz, Teclados
Renato Rocha: Baixo, Vocais
Marcelo Bonfá: Bateria,
Percussão, Vocais
Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo:
De amargo e então salgado ficou
doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda
leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.
Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca
quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força
confusão:
Teu corpo é meu espelho e em ti
navego
E sei que tua correnteza não tem
direção.
[solo]
Mas, tão certo quanto o erro de
ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz
quando se afoga
E o salva-vidas não esta lá
porque não vemos.
Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Isso que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo
E tão contente.
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira.
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de
saber
Tudo.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.
Tão correto e tão bonito:
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?
Me disseram que você estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você.
É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho
Mais perfeito que se fez
Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei
Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você
Em luz e sombra
E era sempre:
"-Não foi por mal.
-Eu juro que nunca quis deixar você
tão triste"
Sempre as mesmas "disculpas"
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são.
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não
brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz então, pincéis com
seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei
de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.
E era sempre:
"-Não foi por mal.
-Eu juro que não foi por mal,
eu não queria machucar você.
Prometo que isso não vai acontecer
mais uma vez"
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição
Às vezes é difícil
esquecer:
"-Sinto muito, ela não mora mais
aqui".
Mas então porque eu finjo
Que acredito no que invento
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito.
Ninguém sofreu
E é só você
Que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De Amor-Perfeito e Não-Te-Esqueças-De-Mim.
Quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não
quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade,
Como eles disseram.
Eduardo e Mônica um dia se encontraram
sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar
se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo
que disse:
"- Tem uma festa legal e a gente quer
se divertir."
Festa estranha, com gente esquisita:
"- Eu não estou legal. Não
agüento mais birita."
E a Mônica riu e quis saber um
pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, isso pensava
em ir pra casa:
"- É quase duas, eu vou me ferrar."
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme
do Godard.
Se encontraram então no parque
da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de
camelo.
O Eduardo achou estranho e melhor não
comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com
a seu avî.
Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola-cinema-clube-televisão."
E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.
Eduardo e Mônica fizeram natação,
fotografia,
Teatro e artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a
água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo
crescer
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular.
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas
vezes depois.
E todo mundo diz que ele completa ela
e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos
atrás
Mais ou menos quando os gêmeos
vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade da saudade no verão.
Só que nessas férias não
vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá
de recuperação.
E quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo o coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?
(instrumental)
Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia:
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder."
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue
amargo
E tão sério
E selvagem.
Veja o sol dessa manha tão cinza:
A tempestade que chega é da cor
dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte e
me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo:
Temos nosso próprio tempo.
Não tenho medo do escuro, mas deixe
as luzes acesas agora.
O que foi escondido é o que se
escondeu
E o que foi prometido, ninguém
prometeu.
Nem foi tempo perdido.
Somos tão jovens.
"É sangue mesmo, não é
mertiolate."
E todos querem ver
E comentar a novidade.
"É tão emocionante
um acidente de verdade."
Estão todos satisfeitos
Com o sucesso do desastre:
"-Vai passar na televisão."
"Por gentileza, aguarde um momento.
Sem carteirinha, não tem atendimento
Carteira de trabalho assinada, sim senhor.
Olha o tumulto: façam fila por
favor."
"-Todos com a documentação"
"-Quem não tem senha, não
tem lugar marcado.
Eu sinto muito, mas já passa do
horário.
Entendo seu problema mas não posso
resolver:
É contra o regulamento, esta bem
aqui, pode ver."
Ordens são ordens.
"-Em todo caso já temos sua ficha.
Só falta o recibo comprovando
residência.
P'ra limpar todo esse sangue, chamei
a faxineira
E agora eu já vou indo senão
eu perco a novela
E eu não quero ficar na mão."
Sente o desafio e provoque um desempate:
Desarme a armadilha e desmonte o disfarce.
Se afaste do abismo
Faça do bom-senso a nova ordem.
Não deixe a guerra começar.
[diálogos em francês e inglês]
Pense isso um pouco,
Não há nada de novo.
Você vive insatisfeito e não
confia em ninguém
E não acredita em nada
E agora é isso cansaço
e falta de vontade,
Mas, faça do bom-senso a nova
ordem:
Não deixe a guerra começar.
Em cima dos telhados as antenas de TV
tocam música urbana
Nas ruas os mendigos com esparadrapos
podres
Cantam música urbana.
Motocicletas querendo atenção
às
três da manha
É só música urbana.
Os PM's armados e as tropas de choque
vomitam música urbana
E nas escolas as crianças aprendem
a repetir a música urbana.
Nos bares os viciados sempre tentam conseguir
a música urbana.
O vento forte seco e sujo em cantos de
concreto
Parece música urbana
E a matilha de crianças sujas
no meio da rua
Música urbana.
E nos pontos de înibus estão todos ali: música urbana
Os uniformes, os cartazes
Cinemas e os lares
Favelas, coberturas
Quase todos os lugares.
E mais uma criança nasceu.
Não há mentiras nem verdades
aqui
Só há música urbana.
Yeah, música urbana
Às vezes parecia que, de tanto
acreditar
Em tudo que achávamos tão
certo,
Teríamos o mundo inteiro e até
um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.
Não queria te ver assim
Quero a tua força como era antes.
O que tens é isso teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.
Às vezes parecia que era só
improvisar
E o mundo então seria um livro
aberto,
Até chegar o dia em que tentamos
ter demais,
Vendendo fácil o que não
tinha preço.
Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use
o que eu disse
Contra mim.
Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que segui
E com a minha própria lei.
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.
Nosso dia vai chegar
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:
Quero justiça,
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que eu lhe
peço
Eu quero trabalho honesto
Em vez de escravidão.
Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.
De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fabrica?
O céu já foi azul, mas agora
é cinza
E o que era verde aqui já não
existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto
brincar com fogo.
Que venha o fogo então.
[solo]
Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada demais.
Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até
o que eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue
entender:
Que o que aconteceu ainda esta por vir
E o futuro não é mais como
era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa
ter
Quase sempre se convence que não
tem o bastante
E fala demais, por não ter nada
a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o
mais importante,
Mas nos deram espelhos
E vimos uma mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como isso Deus ao mesmo tempo
é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É isso maldade então, deixar
um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei
sozinho.
Entenda - assim pude trazer você
de volta para mim,
Quando descobri que é sempre isso
você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a
cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que
existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Esta em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos
índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei
sozinho,
Entenda - assim pude trazer você
de volta para mim
Quando descobri que é sempre isso
você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a
cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
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