Silêncio. Um silêncio mortal pairava sobre uma praia quase deserta. Um pôr-do-sol ao longe irradiava raios alaranjados. Raios que iluminavam uma menina, de natureza calma e serena, que olhava, apática, para o nada.
-O que há com você, menina? -perguntou uma voz, baixa e rouca.
-O quê? Quem falou? -perguntou a menina, olhando para todos os lados.
-Eu! Aqui. Aqui embaixo. -disse a mesma voz.
Quando a menina olhou para baixo, viu uma tartaruga-marinha, que se acomodava ao lado dela.
-Foi... você... quem... falou? -perguntou a menina, assustada.
-Sim. Surpresa?
-Bastante...
-É, já imaginava... afinal, não é todo dia que se encontra uma tartaruga falante, não? -a menina confirmou, com a cabeça.
-Me responda, pequena criança, por que essa melancolia?
-Gostaria de entrar no mar.
-E por que não entra?
-Medo.
Aquela palavra saiu como um suspiro e o silêncio voltou, mais rápido do que tinha ido embora.
A tartaruga olhou para menina e depois para o mar; e mais uma vez para a menina.
-Enfrente seu medo.
A menina, desconfiada depois da sugestão da tartaruga, manteve-se calada.
-Prove que você é capaz. -insistiu a tartaruga.
-Não preciso provar nada à ninguém! -respondeu a menina se levantando, irritada e tomando distância da tartaruga.
-Então, prove a si mesma. -ao ouvir aquelas palavras, a menina parou.
-Você me ajuda? -perguntou ela.
-Claro. -a tartaruga se aproximou do mar. -Venha! Molhe seus pés na água!
-Não. Não consigo.
-Confie em mim. -disse a tartaruga.
A menina sentiu a água molhar seus pés e as ondas baterem em seus joelhos, depois nas coxas, na cintura e num instante, ela estava se deliciando na água. A tartaruga a olhou, recebendo um olhar de gratidão. Ele foi embora; alguém mais precisava de sua paciente generosidade.
19/04/2002