A ÁRVORE SEDENTA

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    "Certa feita, uma coruja, estando a voar à procura de um ninho, deparou-se com uma cena um tanto o quanto bizarra. Uma árvore, à beira de um lago, esforçava-se por atingir este. Quase tombando, seus galhos vergavam-se em tamanha ansiedade.
Curiosa, dizem que qualidade esta própria de tal pássaro, ela pousou levemente num galhos dos mais floridos. A beleza e o aroma que as flores caídas na água a esta emprestavam, certamente, inspirariam muitos menestréis. Após uns minutos dedicados à divagação poética, a coruja perguntou a árvore:
-- Jovem, o que queres tanto com a água?
-- Minha senhora, sempre aqui vem um casal de humanos banhar-se. Fico completamente absorta em seus costumes. Os dois cumprem um ritual neste ato. A alegria permeia essa cena desde o desnudarem-se até as conversas mais íntimas que se desenrolam no plano aquático.
O sol doura-lhes a carne molhada e seus cabelos competem com minhas folhas em dia de tempestade. Sim, eu confesso. Confesso a inveja de seus movimentos, de suas pernas, de seu amor. Cobiço esse ato que a mim é imposto pelas chuvas e a eles pela liberdade de amar. Será que me entendes?
-- Cara amiga, sou bastante velha e, nesse mundo, muito já vi.
Se te entendo? Isso já vivi. Digo-lhe que essa água que tanto anseias já está correndo dentro de ti.
Ficaste tanto tempo olhando a água dos outros... E esses amantes, quem ousa dizer que não correstes por este mesmo tapete de folhas, de mãos dadas a sorrir?
Filha minha, novamente te digo que estou senil, e de abrigo muito preciso. Dá-me acolhida entre teus ramos e te ensinarei a sentir a seiva que percorre teu corpo.
Te falerei dos grilhões dos amantes, da dádiva da chuva e do por do Sol. Minha pequena, apenas dá-me abrigo.
Após uns poucos anos, na hora em que a coruja voou mais alto que podia, sua amiga árvore, embalsamou-a em suas folhas mais suaves e colocou-a no rio de modo que demorasse a afundar.
Era sua esperança, sem ansiedade, que alguém a recolhesse e ainda aprendesse mais uma lição.

Prya Rupa, estudioso de filosofia védica. Tel: 267 1253

©1999/Julho - Elaine Rosa
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