APENAS UM SIMPLES PASSEIO

 

Era pra ser somente uma excursão pelas Rochosas Canadenses. Mas, jamais seria assim, senão pelos acontecimentos subseqüentes, ao menos pelo guia; um baixinho invocado e que conhecia aquelas paragens como o quintal da sua casa!

Depois de quase dois anos entre os X-Men, Ohana foi convidada por Logan para conhecer uma das paisagens mais selvagens e lindas do planeta!

 

[Ohana] Você não está exagerando, não?

 

[Wolvie] Qu’é isso, ruiva? Cê sabe que eu não sou de exagerar... Anda! Arruma suas coisas que a gente vai um caminho de carro e vai passar dois dias a pé, em contato com a natureza!

 

[Ohana] Dois dias? Mas eu nunca passei mais de duas horas fora de um teto! Você tem certez*

 

[Wolvie] Cê não quer ir? É isso? Ou é a companhia?

 

A ruiva enrubesce de leve. “Claro que não era a companhia!” Aliás, era justamente por ela que a telecinética ao menos cogitava a viagem.

Colocando a mão no rosto dele, ela responde:

 

[Ohana] Nem um, nem outro. Você promete que será um passeio romântico?

 

A cara de Logan foi indescritível! Uma careta mesclada com... Com outra careta!

 

[Wolvie] Romântico?! Her... Se você tá querendo romantismo eu sugiro que encontre outro cara, Ohana... – ele retira a mão dela
de seu rosto e completa – Porque de mim, cê não vai ter isso, não... – Vira-se e entra para a mansão, deixando Ohana totalmente sem graça!

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Duas horas depois e estava tudo arrumado. Ela não desistiria dele por causa disso! Ele tinha provado, mais de uma vez, que era romântico, somente não gostava de demonstrar isso na frente dos outros... Porque quando estavam a sós, ele até mesmo dizia coisas que não combinavam com ele. Tudo bem... Ele nunca tinha dado flores, nunca tinha dito “eu te amo” e, raramente, pedia desculpas, mas conseguia demonstrar muito convincentemente!

Com uma mochila de viagem nas costas, a ruiva desce a escada ainda pensativa. Será que estaria preparada pra uma viagem dessas? Ela tinha muito medo de atrasá-lo e deixá-lo com raiva; mas, ao que parecia, ele queria ir para relaxar e desestressar. Chegando na sala, encontra ele com calça jeans, blusa xadrez , bota e chapéu! Parecia um autêntico Cowboy! Ela pára e pensa o que é que viu nele... Assim que ele se vira, com um sincero sorriso no lábio, ela lembra: ele é, simplesmente, um gato!

 

[Wolvie] Decidiu ir? Mas eu nunca vou entender o que se passa na cabeça das mulheres! Acho que nem se eu fosse
telepata, entedia!

 

[Professor X] Não se preocupe, Logan. Eu sou e não entendo, se isso serve de consolo! – ambos riem – Façam uma ótima viagem! Não se preocupem porque está tudo sob controle aqui, está bem?

 

[Wolvie] Falou, Profi. Eu não posso mesmo me preocupar. O sr. tá cercado pelos mutantes mais treinados do planeta. Eu sou só mais um. E a Ohana aqui – diz isso colocando um peso enorme na já pesada mochila dela – vai ficar tinindo depois dessa!

 

Usando sua telecinesia, ela se mantém em pé pra não cair igual uma tartaruga e pagar o maior mico!

Era estranho... Fazia apenas algum tempo que estava com eles e Logan sempre a tratava de forma extrovertida e feliz! Ela o via detonando na sala de perigo, mas quando saía de lá, estava sempre com um sorriso nos lábios. Para os outros moradores da casa, isso era muito estranho! Mas para Ohana, por ela ser a razão dessa alegria, ela sempre o vira assim. Era normal...

Isso tudo estava prestes a mudar de forma radical!

 

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Ele havia resolvido levar a caminhonete com o trailler atrás. A mesma caminhonete com a qual ele chegou aos X-Men, há muitos anos atrás. Estavam na estrada fazia algumas horas e o frio já estava ficando forte!

 

[Wolvie] Já foi pro Canadá, gata?

 

[Ohana] Não... Eu nem mesmo tinha estado em Westchester. Não era muito de viajar, não tinha motivos...

 

[Wolvie] E seus parentes? Ninguém vivo?

 

[Ohana] Não... Ninguém vivo.

 

[Wolvie] Sabe, muitas vezes, as pessoas que menos esperam se tornam parte da nossa vida e valem mais do que qualquer parente... Eu não me lembro dos meus pais, nem de ninguém que saiba quem eu sou... Mas os X-Men são minha família. E eu não os troco por nada desse mundo, Ohana!

 

[Ohana] É... Acho que quando não se tem lembrança, a perda não é tão forte assim. Mas...

 

Uma ponta de tristeza começou a aparecer na voz e no jeito de Ohana. Ela lembra-se de como foi difícil sua infância e sentia muito não ter sido aceita por seus pais. Ela sempre os amou, eles por outro lado... E o pior, é que não era por ser mutante; mas sim, por não aceitar os costumes e a religião deles... Desde criança ela não concordava que uma religião podasse as vontades e os desejos de seus fiéis. Ela achava que o certo era ser livre, amando aos outros e respeitando o ser humano, não somente o ser que fizesse parte do mesmo credo.

Percebendo que a ruiva havia ficado calada, Wolverine pega na mão dela e faz um carinho.

 

[Wolvie] Deixa pra lá, guria... Pessoas assim não merecem sua tristeza. Vamos mudar de assunto, tá? Espero que cê esteja com um bom preparo físico, porque quando a gente chegar, vai andar uns três dias a pé!

 

[Ohana] Você está de gozação, né? Tinha dito dois! Seu mentiroso... Eu não agüento! Sabia que não devia ter vindo! Eu vou te atrasar e eu não quero fazer você perder nada por minha causa. Eu *

 

[Wolvie] Qu’é isso? Relaxa! A gente anda três dias e vê onde vai parar... Na verdade, eu queria te mostrar um lugar...

 

[Ohana] Mesmo? – ela bate as mãos de felicidade – Deve ser lindo, Logan!

 

[Wolvie] É mais do que isso, guria. É mágico! Um dos poucos lugares na Terra onde eu morreria feliz.

 

[Ohana] Então, é um dos pouco lugares, onde eu choraria muito. – ela completa, com os olhos verdes lúcidos e brilhantes. – Eu... Eu sei que não posso tentar fazer nenhuma imagem idílica sobre nós, Logan, mas eu quero que saiba: esse tempo que passamos juntos têm sido os melhores dias da minha vida!

 

Diante de uma declaração dessas e com suas atuais mudanças de humor, Logan fica desarmado! Ele tentava, a todo custo, fazê-la perceber que não seria plenamente feliz ao lado dele! Ele nunca tinha tido sorte com as mulheres... Nem por isso, era mulherengo. Ele era “um cara na dele”. Se ia num bar e alguma mulher jogava charme, claro que ele não ia rejeitar, mas não era do tipo de ir a bares atrás de mulher, ou de ficar dando fácil pra qualquer uma...

O canadense vai diminuindo a velocidade do carro devagarzinho até ele parar de vez, engata o freio de mão e, virando totalmente de frente pra ela, pergunta, com total convicção na voz:

 

[Wolvie] Cê tem certeza disso, Ohana? Tem certeza de que me quer?

 

A pergunta parecia fria. Calculada. Ela nem mesmo ousa responder!

 

[Ohana] ...

 

[Wolvie] Porque eu não acho que mereço tanto assim! Tô tentando encaixar na minha cabeça e tentando entender o que foi que cê viu em mim, mas... Não consigo...

 

A ruiva baixa a cabeça, como que tentando encontrar dentro de si as palavras certas e, depois de alguns segundos, segura nas mãos fortes dele e responde, olhando nos olhos:

 

[Ohana] Você não sabe? Realmente? Como eu poderia não gostar de alguém tão sincero, presente e forte como você? Não digo isso pelo seu passado, pois dele nada sei... Vi que todos estão admirando sua “mudança” que pra mim nada mais é do que você mesmo, desde o primeiro dia que se apresentou a mim, naquele bar...

Você é daquelas pessoas, Logan, capazes de deixar por onde passam a marca de seu caráter! É claro que você não está aqui para agradar a todos! Ninguém é capaz disso... Mas aqueles a quem considera, você se dá por inteiro e eu não posso deixar de dizer e pensar que, se você acha não me merecer, eu tenho tantos ou mais motivos para dizer o mesmo de você!

 

Ao terminar essas palavras, suas mãos tremiam! Ela nunca teve que fazer discursos improvisados sobre o que lhe ia à alma! Ela nunca passava mais do que alguns dias com os caras que saia. Desesperada para que o último fosse “O” cara. Mas nunca era...

Quando finalmente sente dentro de si que a grande busca acabou, quando sente que se tivesse se poupado de buscar tão freneticamente, ele teria ido até ela, de qualquer modo; quando já nem mesmo sabe direito o que sente, tem ainda que tentar dar bons motivos para que o outro entenda isso também! Não! Era demais! Demais até mesmo para a mais nova X-Woman!

Sentindo que algo de muito especial havia sido dito naquele momento, Logan não sabe o que dizer. Ele sobe suas mãos pelos braços da ruiva e percebe que não é só sua mão que treme, mas seu corpo todo!

Subindo um pouco mais as mãos, ele chega em seus ombros e segura com delicadeza seu pescoço, trazendo-a para mais perto de si, ao mesmo tempo em que ele próprio chega mais perto e a abraça, fazendo “shiiii” bem baixinho no ouvido dela. Ela não retribui o carinho, estava fragilizada demais para, até mesmo, estender suas mãos e abraçá-lo de volta, aquela tremedeira a fazia sentir incapaz e, ao abraçá-la, somou-se a ela um mal estar na barriga. Uma onda súbita de frio, seguido de um choque de calor; ao som da voz dele, tudo pareceu sumir! Toda a dor, o mal estar, as incertezas, as dúvidas que não queriam calar dentro dela...

As mãos dele deslizavam pelas costas dela, pelo cabelo e, aos poucos, ela também se acalmou. Parou a tremedeira, parou tudo e
ela pôde abraçá-lo também, pôde também lhe fazer um carinho no cabelo, passar a mão pelo braço dele num claro convite ao sexo. Ele, porém, assim que percebeu a intenção dela, saiu de mansinho de perto; segurou o volante de novo, soltou o freio de mão e deu a partida!

Logan não ia se aproveitar dela num momento desses. Mesmo ela querendo! Era uma espécie de necessidade que ela tinha de sempre tentar deixar tudo certo através do sexo. E não é assim que sempre acontece... Ele queria que a ruiva entendesse que nem todos ajudam querendo algo em troca. Nem todos os homens são iguais!

Ela entende o recado e cora de leve. Isso somente comprovava o que ela já imaginava: Logan era alguém muito especial, demais até para ela...

O silêncio é quebrado por ele, alguns minutos depois:

 

[Wolvie] Daqui a umas duas horas vai ter o último motel da estrada, aí a gente pára, gata.

 

[Ohana] O quê?!?! Duas horas?! Eu estou ficando quadrada aqui!

Será que não dá pra fazer uma parada rápida? Só pra esticar as pernas, vai?...

 

[Wolvie] Ah! Vai! A gente está na caminhonete a, somente oito horas (nenhuma hora ou data ou local foi confirmado pela autora –bem que eu tentei... – por isso, se alguém sentir alguma disparidade, eu não posso fazer nada! ;p), isso não é nada...

 

[Ohana] Nada pra quem tem fator de cura... Uma coisa que eu não tenho!

 

[Wolvie] O qui é que o meu fator de cura tem a ver com “bunda quadrada”?! – e faz cara de espanto, arregalando os olhos.

 

Ohana ri antes de tentar pensar em alguma resposta. Ele sorri do riso dela e o clima fica bastante descontraído.

 

[Ohana] Bom!... Tem tudo a ver! Senão, eu também não teria dor, de tanto tempo sentada. Eu trabalhava sentada, esqueceu?!

 

[Wolvie] É... Não deixa de ter razão... Mas eu andava de moto e de carro antes mesmo de tu nascer! Isso deve condicionar os músculos... Além do que *

 

[Ohana] Além do que nada! Por favor, vai?... Uma paradinha de quinze minutos e eu fico quieta o resto da viagem...

 

[Wolvie] Paro vinte se você prometer não ficar quieta.

 

Ela devolve com um olhar de “tudo bem, engraçadinho” e ele encosta o trailler no acostamento, numa paisagem deslumbrate!

A ruiva desce do carro e se espreguiça, estica os braços, respira fundo... E o que sente é cheiro de charuto! Vira-se e lá está Logan, admirando a paisagem com um imenso charuto na boca, contrastando com toda a natureza ao redor!

 

[Ohana] Ah! Não! Essa não!

 

O canadense olha em volta, vira-se pra ver se tinha algo atrás dele e não encontra o motivo do espanto... Volta-se para ela, com os ombros e as mãos levantadas:

 

[Wolvie] Que foi?

 

[Ohana] Não acredito que nem aqui você pára de fumar! Está maculando o ar puro com esse charuto! – “Não acredito!” – ela pensa.

 

[Wolvie] Escuta aqui, mocinha! O carro tá “maculando” muito mais o ar puro do que o meu charuto... Além do mais, você nunca reclamou disso antes! Nem mesmo quando eu te beijo...

 

“Maldito! Ele tem razão quanto ao carro, mas...” – a ruiva comenta internamente e, esbanjando um ar de vitória:

 

[Ohana] Já que você tocou no assunto, eu tenho uma reclamação sim! O gosto disso é muito ruim! Não reclamo em nada, e nem poderia, do jeito como você beija... Mas o gosto, Logan... Será que dava pra você não fumar, ao menos aqui?...

 

[Wolvie] Cê quer que eu pare, gata?...

 

[Ohana] Não! Olha... Eu sei que é pedir demais e que você deve fumar esse negócio desde sempre, mas ao menos *

 

[Wolvie] Caramba! Eu fiz uma pergunta simples e direta! Será que dava pra responder?...

 

A ruiva assusta-se com a brutalidade da interrupção e fica indecisa: falar o que queria ou o que ele gostaria de ouvir? Resoluta, ela o encara e responde:

 

[Ohana] Sim! Gostaria que você parasse...

 

Ele dá de ombros e, unindo palavra e ação, retruca:

 

[Wolvie] Então tá! – começa a apagar o charuto na mão e, enquanto isso fazer caras e bocas de dor. Ohana viu uma fumacinha
sair da mão dele que, segundos depois, se dissipa. Instintivamente, ela dá a volta no carro e vai ver como ele está. – Não fumo mais. – ele completa.

 

Segurando a mão dele, ela pensa que ninguém nunca fez nada parecido por ela antes! Nunca! Olhando de perto, a única coisa que tinha sobrado era a cinza do charuto. Não havia queimadura, nem cicatriz; era como se nada tivesse acontecido... Mas para Ohana, isso não diminuía o valor da cena. A vontade que ela tinha era de dizer: “oh! Que fofo!!” mas, com ele, isso poderia ter um efeito inverso...

Ela se aproxima mais dele e diz:

 

[Ohana] Logan! Não precisa ser tão radical...

 

O canadense não deixa por isso também e, aproximando-se mais, o suficiente para poder sentir o cheiro dela impregnando completamente suas narinas, sentir o tecido da blusa dela roçando no dele:

 

[Wolvie] Não preciso mais dele. Cê é a minha droga, agora.

 

Ela não se segura e, agindo impulsivamente, solta um “Que lindo!”, e chegando bem mais perto, ela dá um selinho nele. Assim que ia começar a sair de perto dele, Logan a abraça pela cintura, dando um choque violento de corpos e completa:

 

[Wolvie] E eu lá sou homem de “selinho”, Ohana! Se quer fazer, faz inteiro!

 

Ela não tem muito tempo para agir ou protestar do gosto de tabaco que ele devia estar. O beijo do canadense foi de tal forma profundo que a ruiva fica sem reação! Seus braços, antes enlaçados no pescoço dele, caem inertes e ela parece desmaiada; sendo apenas capaz de, logo que ele termina o beijo, dizer “UAU!”.

Alguns segundos depois:

 

[Ohana] Eu não entendi o recado direito, Sr. Logan... Dava para repetir?...

 

[Wolvie] Nunca fui chegado em BIS, gatinha. Mas valeu a tentativa.

 

E pisca para ela. Ambos riem do ocorrido e ele ri do modo com ela ficou, totalmente caída nos braços dele! Era bom sentir-se amado assim. Bom saber que ela também sentia o mesmo... Ele não ia agüentar passar por outro amor não-correspondido. Disso, já bastava a Jean que estava sempre na mansão; sempre ao lado dele...

 

[Wolvie] Vai dizer que o gosto atrapalhou?...

 

[Ohana] Não, porque isso seria negar que o beijo foi perfeito. Mas o gosto estava lá... Bem no fundo daquela enxurrada de sensações...

 

[Wolvie] Cê vai aprender que eu sou o melhor no que faço, ruiva. – e sorri, todo vitorioso, pegando-a pela cintura e andando em direção a caminhonete.

 

Ele dá uma parada antes de abrir a porta.

 

[Wolvie] Mais umas duas horas e a gente descansa um dia inteiro, tá? Eu preciso me informar com uns velhos amigos se alguma coisa mudou...

 

[Ohana] Mudou em quê?

 

[Wolvie] Nas regras de CAÇA! – essa última palavra foi dita em um tom bem alto, quase gritada. Ohana achou muito estranho, mas preferiu não perguntar. Afinal, para que estragar um momento como esse com algo, aparentemente, sem importância?

 

As próximas duas horas passam sem grandes novidades. Ora um animal diferente que cruzava a pista, ora uma piada de Ohana, ora um comentário jocoso de Logan acerca da “menininha de cidade” –que era como ele via Ohana – e, assim, os dois chegam a uma pequena cidadezinha no final de Alberta. Era considerada, segundo o canadense, como “a última parada pra civilização”. Se é que se pode chamar um pardieiro daqueles assim.

Logo que Ohana desce, vários olhares ávidos pousam sobre ela; como um cachorro faminto que tivesse carne fresca à vista!

Entrando rapidamente no carro, ela pega Logan de surpresa:

 

[Wolvie] Que foi, guria? Tá com frio?

 

[Ohana] Bom, também estou, mas o problema não é esse... – lançando um olhar pra fora e para os caras.

 

[Wolvie] Hehe. Do frio eu posso cuidar. – tirando a jaqueta e colocando no ombro dela – Do resto, fica sentada aí que eu vou abrir a porta pra você...

 

Ela fica, mas começa a imaginar a briga que isso pode dar. Porém, talvez devido a descontração anterior, talvez por não ser já o mesmo de antes, Logan resolve não quebrar a cara de ninguém, mesmo ouvindo frases do tipo: “uia, cara! É aquele baixinho lá...”, ou piores: “Vambora, cambada! Vai ver que a gostosa é mutuna também...”

Ele abre a porta com cara de poucos amigos , contudo muda a feição assim que a vê. O canadense estende a mão e comenta:

 

[Wolvie] Vem. Ninguém vai te incomodar mais.

 

A ruiva sai receosa, segurando firme na mão de Logan como se esta fosse mais do que um arrimo, mas a certeza de que ninguém a tocaria. Mesmo sendo uma mutante poderosa, ela prefere esquecer disso quando está com ele. Isso a faz mais “humana”, saber que existe alguém ali para protegê-la.

Apesar de os olhares serem incômodos e continuarem, ao menos, já não eram tão diretos...

Entram em um dos bares, ambos sempre de mãos dadas.

Apesar de Ohana ser alguns centímetros mais alta que Logan, ficava claro a qualquer um que olhasse, de quem era a jaqueta usada pela ruiva; isso bastou para deixar qualquer outro “pretende” desencorajado!

Chegando no balcão, o canadense exclama:

 

[Wolvie] E aí, Stu! Não oferece mais bebida grátis aos velhos amigos?!

 

O velho, ligeiramente gordo, de costas para o balcão leva um susto e, virando-se demonstra seu ceticismo ao ver Logan. Tinha a cara desconfiada, parecendo não lembrar muito bem dele:

 

[Stu] Se eu fizesse isso, ia ser o cara com mais amigos na redondeza... Mas ia estar falido! É você mesmo, Logan?

 

O canadense nada responde, apóia a mão no balcão e ejeta as garras!

 

[Wolvie] Quem mais ia ter uma belezinha dessas?! Olha pra minha cara feia, Stu! Sou eu mesmo!!

 

Isso convence o velho e ele dá a volta para abraçar Logan do lado de lá. Ohana somente observa, sentada numa das cadeiras junto ao balcão. Ela nunca tinha visto Wolverine junto com outro homem assim, tão camarada. Era a primeira vez...

 

[Stu] O tempo tem sido bom pra você, hein?! Na verdade, está como eu te conheci a uns 30 anos atrás, não é?

 

[Wolvie] É isso aí, xará! Uma das vantagens de ser mutante. Vem aqui, quero te apresentar alguém muito importante.

 

Ambos vão à direção de Ohana que desce da cadeira e faz Stu soltar um sorriso, dizendo logo em seguida:

 

[Stu] Ei! Dessa vez conseguiu uma da sua altura também? Acho que ela não te chama de nanico, né?

 

Wolvie dá um cutucão no amigo, fazendo entender que essa não era um qualquer, mas alguém beeem diferente das garotas que ele levava lá. Mas, ou Stu era lerdo, ou quis aprontar com Logan. Ele limpa a mão num pano velho e sujo preso a sua cintura e, estendendo-a para a moça, completa:

 

[Stu] Prazer, sou o Stu. –e virando-se para Logan, pergunta – Então dessa vez, o “de sempre” vai sem acompanhamento, hein? – e ri alto, batendo no ombro do X-Men.

 

Ohana fuzila Logan com o olhar e este, por sua vez, não sabe onde colocar a cara.

 

[Stu] Ué... Não entenderam a brincadeira? É assim *

 

[Wolvie e Ohana] ENTENDEMOS!

 

[Stu] Tá bem... Não precisam ser brutos... – volta para trás do balcão, pega uma chave e entrega a Logan – Essa é a chave do quarto 13, o mais decente dessa espelunca, como você sabe.

 

Logan vai andando na frente e Ohana ia segui-lo quando sente seu braço sendo segurado. Era Stu, com um grande sorriso no lábio. Ohana pensa “lá vem besteira!”, mas, ao invés disso, ele simplesmente pergunta, num tom de voz baixo:

 

[Stu] Você também é mutante?


[Ohana] S-sou... Por quê?

 

[Stu] Será que dava pra você me mostrar qual é sua habilidade?

 

A ruiva não acredita no que ouve! Enquanto o resto do mundo os odeia e persegue, tem gente que gosta de ver?!

Logan ouve tudo o que ele diz e lembra-se da primeira vez que o viu, naquele mesmo bar, há 30 anos atrás. Era noite e ele
estava para fechar quando entraram uns arruaceiros. Estavam quebrando tudo e iam matar o dono do bar, na época, um Stu bem mais jovem.

O canadense não faz nada, até perceber que eles não estavam mesmo brincando e, agindo rápido, nocauteia todos eles! Menos o cara com a arma que, apavorado, dá vários tiros em Logan. Este caí, levantando alguns minutos depois e cortando a arma do agressor em cinco partes! Essa foi a primeira vez que Stu viu um mutante. Depois dessa, muitos outros vieram e ele sempre queria saber o que eram capazes de fazer, pois isso o fascinava.

Ohana envia um olhar para Logan, querendo saber se é seguro demonstrar os poderes lá. Ele chega mais perto e pergunta para Stu:

 

[Wolvie] Diz aí: Qual é a coisa mais pesada dessa espelunca?!

 

Stu aponta para um cara muuuuito gordo, sentado numa cadeira, com o tronco jogado sobre a mesa; totalmente bêbado!

 

[Stu] Vai fazer ele emagrecer? – e solta uma estridente gargalhada!

 

Ela sorri e, apontando para o bêbado, pedindo a atenção de Stu; começa a levantar todo o conjunto: Gordo; mesa e cadeiras. Em alguns segundos, estão todos a uns 40 centímetros do chão. Àquela hora, o bar não estava muito cheio e, os que lá estavam, pareciam realmente bêbados! O máximo que poderia acontecer seria o gordão virar alguma espécie de “deus” pra eles...

Ela volta com tudo para o chão e, virando-se para Stu, comenta, enquanto pega um copo e o enche de bebida telecineticamente:

 

[Ohana] Eu posso mover as coisas com o poder da mente. – completa, virando o copo num gole e fechando o “queixo caído” de Stu.

 

[Stu] Maneiro... Será que dava pra você colocar esse cara pra fora? Ele me deve uma porrada de dinheiro e nunca paga! Só pede mais bebida.

 

[Wolvie] Cê tá com medo dele, Stu? Qualé!

 

[Stu] Eu já não sou mais o mesmo, Logan... Envelheci e fiquei cansado dessa vida. Não quero arrumar encrenca. Mas ela sempre me procura!

 

[Wolvie] O dia que cê largar esse bar, elas não te procuram mais...

 

E, dizendo isso, ele segurou no braço de Ohana e começou a subir as escadas.

 

[Ohana] Mas eu poderia ajudar, Logan!...

 

[Wolvie] Não! Ele tem que aprender a se virar sozinho, gata! Ele sempre foi chorão assim, sempre...

 

O papel de parede do corredor, nos poucos lugares onde ainda tinha, estava descolando da parede e extremamente sujo! Tudo cheirava mofo e, assim que chegam no quarto 13 e Logan abre a porta, Ohana leva um susto! A decoração do lugar era seu menor problema! Era um autêntico quarto de motel de espelunca de quinta categoria!

Ela abre a boca e se recusa a entrar.

 

[Ohana] Desculpe, querido, mas eu não vou dormir aqui nem que você tivesse que pagar pelo quarto! Isso aqui é horrível, Logan! Olha só essa cama de água em forma de coração! Não! Desculpe!!

 

Ele estava impassível, retira uma mochila das costas e só retruca:

 

[Wolvie] Mulheres! Sempre querem dar opinião antes do final...

 

Ela fica parada na porta, vendo o que o canadense ia fazer. Ele tira a cama de lugar, a empurra pra mais perto de um canto da parede, empurra outros móveis para os cantos, coloca a mochila no chão e aperta um botão: Imediatamente, ela infla e cobre, mais ou menos, dois metros de diâmetro! Tinha virado uma barraca, fofa por baixo e coberta por cima, totalmente higiênica e cheirosa!

Ohana não pode deixar de bater palmas! Ela fica muito feliz com a cena e, entra correndo no quarto indo abraçá-lo.

 

[Wolvie] Cê acha que eu ia querer dormir num lugar desses?! Muito menos trazer você aqui pra passar a noite, ruiva!

 

Ele a abraça em retorno e ela entra na barraca, sentindo como era fofa, porém firme.

 

[Ohana] Nossa! É tudo de bom! Muito gostosa, Logan!

 

[Wolvie] Na minha visão, não é a cama que tá gostosa, não, Ohana...

 

Ela sorri e tira a jaqueta dele. Se fosse ouvir isso de outro, sentir-se-ia ofendida. Mas, vindo dele, era um elogio e tanto! Logan era péssimo com as palavras, mas era espontâneo a todo o momento.

Ele tira as botas de Cowboy e entra de gatinho na cabana, indo deitar do lado de Ohana. Ela se aninha nele, tirando o tênis e jogando-o pra fora também.

 

[Ohana] Mas... Se a gente está nessa barraca, não podia ficar lá fora?

 

[Wolvie] Não! Cê não faz idéia do frio que faz à noite aqui.

 

[Ohana] Você disse que vamos passar dois dias na mata! Como vamos fazer isso?

 

[Wolvie] Ah! Mas pra isso eu trouxe uma barraca especial, muito mais quente do que essa. Ela é muito maior, por isso não dava pra montar lá fora...

 

Ele parecia estar mentindo descaradamente, era péssimo para inventar desculpas e, tentando remediar, ele diz algo que convence:

[Wolvie] Lá fora a gente não ia poder ficar à vontade, Ohana. Um monte de caras iam ficar babando! Pensando no que a gente está fazendo. Aqui não. A gente pode relaxar...

 

[Ohana] Isso é verdade... Concordo, vai! Mas... – e ela se aproxima do ouvido dele – chega de falar, né?

 

Dizendo isso, a ruiva começa a desabotoar a camisa dele. Ele fica quietinho, não a proíbe, mas também não ajuda.

Assim que termina, ela tira a própria camisa, sentando sobre ele.

Aí, sim, ele esboça alguma reação: a puxa para si e rola com ela, ficando por cima; leva os braços dela para trás e a beija de uma forma brusca, mas sem machucar. Logo em seguida, ele fica de joelhos no colchão.

É a vez da ruiva ver o que ele vai fazer, não se mexe, fica com as mãos para trás, usando os pés para massagear a perna dele.

Ele somente fecha os olhos, sentindo o movimento do pé dela. Não queria que aquele momento morresse nunca. Logan tinha tão pouco deles! Momentos em que a última coisa que lhe passa pela mente é salvar o mundo, já que em instantes como esse, o mundo dele se circunscreve onde ela está. Ela é o mundo dele, ao menos nessas poucas ocasiões.

Ela percebe o momento pensativo dele e resolve antecipar-se, levanta-se devagar, fica de joelhos também, passa a mão por todo
o peitoral dele, sentindo cada fibra, cada músculo. Ele ainda não abre os olhos. Podia ser seu primeiro sonho! Apenas um maldito sonho...

Era estranho, pois, cada vez com ela, parecia única. Ele subtraía de sua mente, mesmo que desejasse lembrar, a vez anterior e era sempre tudo mágico! Tudo perfeito!

Ele sente um calafrio na espinha quando ela beija sua orelha e dá uma leve lambidinha. Abrindo os olhos devagar, o canadense constata ser mesmo um sonho, já que tinha diante de si um anjo.

Ele sorri, um sorriso que raramente dava, de canto de boca; totalmente charmoso!

Vai tentar beijá-la, mas ela coloca a cabeça para trás, adiando o momento, fazendo crescer o desejo. A ruiva então, aproxima o rosto devagar, tocando os lábios dele com seus lábios, tocando os olhos dele, o pescoço. Ela beija todo o tórax dele, enquanto suas mãos deslizam até a velha calça jeans e começam a abrir o zíper e ele se joga de costas no colchão, tirando a calça, bem rápido e fazendo sinal com as mãos para ela vir.

Ohana sorri diante do afobamento dele. Faz que não com o dedo da mão e tira sua calça de moleton, ficando apenas de lingerie.

Logan gosta desse jogo de “má criação”, também sorri diante da negativa dela e, assim que tira a calça, o canadense fica admirando o que tem diante de si:

 

[Wolvie] Olha só isso! Eu não te mereço, gata!

 

A ruiva faz uma cara de “não gostei do comentário”, puxando a boca para o lado e tentando parecer braba. Ela começa a abaixar e fica de gatinho, engatinhando até ele, com o rosto ainda falsamente infeliz:

 

[Ohana] Então somos dois!

 

Logan sorri. Ela realmente gostava dele! Isso era algo pra ser celebrado, celebrado a noite toda!

Abraçando-a com força ela solta um “ui!” ao que ele pára e apenas a abraça. Começa a passar a mão no cabelo tão vermelho dela, sentir o cheiro doce que ele tem. Cheirava com força e começou a cheirar o pescoço dela. Ohana ria das cócegas que aquilo fazia; cada cheiro soltava ferormônios que ativavam respostas nele também.

O canadense começa a passar a mão pelas costas dela; solta o fecho do sutiã e o joga longe. Continua com a mão nas costas dela e vai deslizando, fazendo-a gemer baixinho e soltar um profundo suspiro, até encontrar a calcinha dela e jogá-la longe também.

Cada som que ela solta; cada suspiro e gemido era como uma recompensa aos ouvidos de Logan. Desse modo, sabia o quanto ela também estava gostando; ela vai beijando o pescoço forte dele e ele o dela, só que ligeiramente vai virando para que fique por cima. Ela pára de beijá-lo e diz:

 

[Ohana] Hum... Não! Hoje é a minha vez...

 

[Wolvie] Cê não diz, você manda!

 

E ficam do mesmo modo, mas ao invés de virar sobre ela, Logan a vira sobre si mesmo. Ela era tão leve, tão suave que ele tinha mesmo medo de quebrá-la. Com aqueles cabelos ruivos, aquela pele clara, aqueles olhos verdes. Ohana parecia mais uma boneca de porcelana, um objeto a ser admirado sem ser tocado. Mas, não! Ele tinha a honra de tocá-la, de tê-la toda para si. Isso ele não esqueceria. Não a obrigaria a fazer nada que não desejasse.

Ela era a própria definição: “frágil como uma rosa”, onde é possível se furar com os espinhos!

Ela senta-se nos quadris dele, jogando seus cabelos de fogo no rosto afogueado e desejoso de Logan. E a noite toda foi assim: troca de ambos lados. Carícias, beijos; um se dava por vencido quando o outro recomeçava. O bom desse jogo é que ninguém perde. 

O dia amanhece e Ohana acorda sozinha. O canadense havia saído para reabastecer a caminhonete e comprar algumas coisas para o restante da viagem.

Ela se espreguiça, respirando fundo, pensando em quanto teria perdido se resolvesse não vir! Sorri e vai até o banheiro, pensando em tomar um banho; mas desiste ao ver como era sujo!

Contenta-se em lavar o rosto apenas, mesmo assim, abrindo a torneira telecineticamente...

Veste a mesma roupa da noite anterior e desce, encontrando Stu logo abaixo:

 

[Stu] Bom dia! Logan pediu pra avisar que já volta! Foi abastecer a caminhonete e comprar outras coisas. Pediu pra eu cuidar bem de você e servir seu café da manhã. Gosta de bacon com ovos?

 

[Ohana] Oi! Gosto sim. E de um café bem forte, tá?

 

[Stu] Vem, senta aqui nessa cadeira perto do balcão.

 

[Ohana] Ok.

 

E ela fica entretida vendo como ele preparava o café da manhã dela. Até que a parte da cozinha não era tão ruim! E, dessa vez, Stu estava com um avental novo e um pano branquinho amarrado na cintura. Dava gosto de ver!

Ele a serve ao que ela come com vontade!

 

[Ohana] Hum! Parabéns Stu! Está ótimo!

 

[Stu] Obrigado, mas é porque cê deve estar mesmo com fome. – e pisca para ela, fazendo-a corar levemente.

 

Enquanto comia, sem pressa, mas sentindo cada mordida um loiro alto que estava sentado numa das mesas, levantou devagar e foi até ela, sentando-se ao lado.

Ohana não esboça qualquer movimento, apenas continua comendo:

 

[Loiro] Ui! Mas que fome! Esse ovo parece estar delicioso... Mas não mais do que você, gatinha!

 

Ohana apenas o encara, fechando os olhos. Ela olha ao redor como que se certificando de que ele estava falando com ela e, ao ver que era isso mesmo, volta a sentar-se normalmente e continua comendo. O loiro fica muito ferrado com a atitude dela, fica pensando o que fez de errado, já que isso funcionava com todas! (!!)

 

[Loiro] Tô falando com você, perua! Cê não tem educação, não? – e dá uma leve batida no balcão.

 

Stu ia intervir, mas Ohana olha para ele e faz um sinal com a mão para que ele nada fizesse:

 

[Ohana] Quem não tem educação é você! Onde já se viu ir chegando assim numa “dama”, hein? Será que vocês caipiras não sabem que as “moças da cidade” não aceitam cantadas baratas?! – ela ia falando com uma convicção! Com uma vontade! Foi aumentando o tom de voz até estar mesmo falando para todo o bar ouvir! Na verdade, ela estava era segurando-se para não rir! – Que estória é essa de me comparar com o gosto de um ovo?!

 

Stu deu umas boas gargalhadas! E o loiro não sabia onde enfiar a cara! Abaixou a cabeça e ficou em silêncio durante todo o tempo.

 

[Ohana] Além do mais, eu já estou acompanhada! Humpft!

 

Nesse momento, Logan entra pela porta e vê Ohana com o dedo indicador apontando para a cara de um homem sentado; Stu rindo e mais um monte de pessoas cochichando baixinho, coisas do tipo: “acabou com o Lorn!”; “Mas o cara é burro mesmo!”; “Ih! Olha lá! Ela falou poucas e boas!!” e, no momento em que Logan passava por uma roda de amigos, um deles disse: “Mas a ruiva é realmente gostosinha, hein?”

Na hora, o canadense parou atrás de quem falou isso. Os outros, vendo quem era que estava lá, já foram pedindo desculpas, fazendo sinal de que não tinham nada a ver com o infeliz, coisas do gênero. Vendo a cara de seus amigos, o proprietário da frase vira-se e dá de cara com Logan, totalmente enfezado:

 

[Wolvie] Gggrrr! Qui é que tu falou da minha mulher aí?!

 

[Carinha] E-eu?! Não... Não falei nada, não. Sr.! – e olhava em volta, procurando alguma outra ruiva, sem encontrar!

 

Logan o tira da cadeira segurando em seu colarinho! A cena ficou um tanto esquisita, já que o agredido era muito maior do que o agressor! Ele teve quase que ficar de joelhos para ser segurado pelo colarinho! 

Enquanto isso, Ohana já havia terminado seu pequeno discurso e ambos puderam pegar uma parte do que aconteceu. Na realidade, apenas puderam ver Logan passando entre as mesas e atacando um dos clientes!

 

[Ohana] Esse é meu acompanhante... – ela comenta, desdenhosa, olhando para o loiro a espera de uma reação.

 

Ele somente consegue arregalar os olhos e, pedindo desculpas repetidamente, sai do bar!

Ohana decide intervir na briga, já que isso não daria em grande coisa e, possivelmente, iria destruir o bar do Stu e, como este havia sido tão gentil com ela, a ruiva encosta a mão no ombro de Logan:

 

[Ohana] Que aconteceu, Logan?

 

[Wolvie] Esse almofadinha aqui faltou com respeito a você!

 

[Ohana] E você resolveu tirar a limpo, suponho... – ele acena com a cabeça – Bom, deixa o cara ir, já que eu fui a ofendida e retiro qualquer acusação!

 

Ela sorri, enquanto passa a mão pelo braço de Logan e chega até a mão dele, fazendo-o soltar os dedos devagar:

 

[Ohana] Eu ainda estou muito interessada em conhecer de perto as Rochosas, gatão!

 

O canadense vira, olha com incredulidade para ela. Ele realmente tinha ouvido direito?? É! Tinha! Não importa o que os outros falassem ou quisessem, ela queria ele e era isso que importava naquele instante! Sem nem ao menos pensar que sua imagem de durão poderia se perder com uma atitude dessas, Logan simplesmente solta o homem, lança-lhe um olhar fuzilador e dá o braço para Ohana segurar; andando juntos para o balcão.

Stu já estava mesmo fazendo as contas do prejuízo que ia ter com a briga. Ele pára e não acredita na desistência do velho amigo!

 

[Stu] Não acredito! Cê tá mesmo amando, hein? Porque pra sair de uma briga sem quebrar a cara de ninguém... Nem parece o Logan que eu conheço!

 

[Wolvie] É, Stu, eu tô mudado! Mas também, perto de uma deusa dessa, quem não muda, né? – e dá um beijo cinematográfico nela, deixando claro, para os outros “machos” do salão, quem era o dono.

 

A despedida à última cidade é breve. Eles apenas despedem-se de Stu e entram na caminhonete, sem nem mesmo olhar para trás. Não havia nada lá para isso. Não existia nenhum bem que valesse a pena ser lamentado. Logan tinha Ohana e vice-versa, não precisavam de mais nada!

A viagem corre tranqüila, eles ficariam dentro do veículo por, mais ou menos, 8 horas! Passaram por paisagens maravilhosas: árvores genuinamente antiqüíssimas; riachos de água cristalina; montanhas que pareciam mover-se com os raios do sol; animais de várias espécies que corriam assustados ao ouvir o motor; insetos em grande quantidade, enfim, um cenário digno do melhor documentário!

Ohana estava estasiada! Ele jamais fora tão longe da cidade! Naquelas montanhas, o ar tinha cheiro de pinho e entrava úmido e limpo pelas narinas, causando um bem-estar imediato ao corpo!

 

[Ohana] Acho que eu não vou mais querer voltar, Logan... – ela comenta, com os olhos grudados na janela.

 

Mesmo estando dentro do carro, a sensação de liberdade era nítida!

Ele sorri. Aquela guria era a pessoa perfeita pra ele; gostava das mesmas coisas, não tinha frescura e encarava as mais esdrúxulas aventuras, sem nem mesmo pestanejar!

Está certo, ela tinha tido suas dúvidas, mas mesmo assim, topou a aventura.

Ela sentia-se como ele, sempre que vinha para aquele imenso país: livre!

Ali, distante da civilização, as regras que contam não são as do homem, mas as da Natureza. Pode parecer, a primeira vista, cruel e seca; mas essas leis são, para um bom observador, justas e precisas. Cada qual é chamado a fazer sua parte nesse imenso “mecanismo vivo”, os que não têm mais condições de fazer sua parte são absorvidos, em prol de outro que consiga e, desse modo, ela nunca pára! Renova-se sempre!

Foi nesse ambiente que Logan passou a maior parte de sua vida e, mesmo não tendo total lembrança disso, quando entra na floresta, sente-se bem-vindo, como se ela lhe estendesse os braços e saudasse o filho pródigo...

O canadense respira fundo, franze a testa, respira de novo e relaxa. Ele não acredita que seu olfato esteja ficando com problemas, mas não há razão para alardes.

A ruiva começa a ficar inquieta no banco, já se passaram quase sete horas e ela percebe a diferença de temperatura assim que a leve túnica da noite começa a cair. O ar fica bem mais úmido e outros animais começam a aparecer, enquanto os diurnos começam a se esconder. Logan nota que terão de acampar pela estrada, já que não chegaram ao ponto onde ele queria naquele dia.

 

[Wolvie] A gente vai dar uma parada, guria, eu quero checar pra ver se é possível acamparmos aqui...

 

[Ohana] Ufa! Até que enfim vou sair dessa caminhonete!

 

Logan sorri. Dessa vez, ela não tinha reclamado nada até esse momento. Cumprira sua promessa mesmo! Ficaram conversando, jogando conversa fora, ele mostrava para ela o que conhecia e ela dizia sobre as coisas que tinha ouvido no Discovery Channel. Tudo era novidade e Ohana estava ávida para conhecer tudo!

Param na beira da estrada e Logan pega uma lanterna no fundo do trailler, iluminando a floresta na frente deles. Era uma imensa floresta de pinhos e, por isso, não existia capim ou mato muito alto, a proximidade das árvores fazia com que a sombra fosse demais para qualquer mato crescer.

Uns três metros saindo da estrada e uma pequena clareira, decorrente da queda de uma daquelas imensas árvores pode ser vista.

 

[Wolvie] É aqui mesmo que a gente vai passar a noite, ruiva. – comenta, passando a lanterna para a mão dela e fazendo sinal para que ela esperasse.

 

Ela ilumina tudo ao redor, apesar do ruído dos animais noturnos, um certo silêncio reinava ali; era possível ouvir os animais, porém mais longe, como se evitassem ir para aquele lugar ou estivessem fugindo de algo. Um frio lhe corre a espinha, fazendo-a iluminar na direção do trailler.

Logan vinha vindo, carregando uma bolsa uma vez e meia maior do que ele. Não que isso fosse muito grande, mas a cena tornava-se interessante. Com isso, aquela sensação de arrepio passa e Ohana corre até ele, retirando aquele peso todo com sua telecinesia e perguntando serenamente:

 

[Ohana] Onde quer que eu ponha?

 

[Wolvie] Pô, gata! Assim não tem graça eu tentar te impressionar com meus músculos...

 

Ele comenta, rindo de sua própria ousadia e ficando um tanto pensativo sobre desde quando tem essas “liberdades”.

 

[Wolvie] Pode colocar bem no centro da clareira. Aproveita e aciona aquele pino vermelho com sua telecinesia também. Mas fica longe, hein?

 

Ohana faz o que ele pede e acontece o mesmo que com a pequena barraca no quarto de motel. Ela infla como por encanto, fazendo aparecer uma barraca, no mínimo, quatro vezes maior do que a anterior. Era enorme e tinha uma cobertura bem diferente. Ao que parecia, era algum tipo de isolante. Logan se aproxima e aperta um botão, num display sofisticadíssimo que tinha do lado de fora, de cristal líquido: AQUECER > 23ºC

 

[Wolvie] Isso deve dar, né? Ao menos, a gente não fica tostando lá dentro também...

 

[Ohana] Mas... Isso é incrível! Onde vocês conseguem essas coisas?! Eu nunca tinha visto...

 

[Wolvie] Não acredito que tenham muitas pra se ver mesmo. Essa é única, gata! Feita sob encomenda pra mim, por um amigo.

 

A ruiva olha para ele com cara de “UAU” e questiona:

 

[Ohana] Bom, e quando a gente vai poder entrar?

 

[Wolvie] Agora, oras! Tá esperando o quê? Um tapete vermelho?

 

Ele arremata, dando uma encostada de leve nas costas dela e fazendo sinal com a mão para ela entrar.

Ohana pensa que bem poderia ter um tapete vermelho, mas resolve guardar o comentário para si. Quando dá o primeiro passo, Logan joga-a no chão:

 

[Wolvie] Se abaixa!

 

Ejeta as garras, funga pra lá, funga para cá.

 

[Ohana] Mas o que*

 

[Wolvie] Shi! Ele tá aqui!

 

[Ohana] Ele quem? – ela sussurra. Ficando agachada ao lado dele.

 

É então que detrás de uma árvore, aparece um cara de deveria ser, no mínimo, o dobro de Logan.

 

[Dentes] Só agora sentiu meu cheiro, filhote? Tô te seguindo há dias! – e dá uma risada estridente.

 

[Wolvie] Não sô tua cria, Creed! Por isso, nada de intimidades!

 

[Dentes] Hu! Deixei a mocinha nervosa? – e dando uma boa olhada em Ohana – Não vai me apresentar a mais nova putinha? – terminando por passar a língua nos dentes.

 

Ohana estremece, novamente, o mesmo frio percorre sua espinha e ela percebe um quê de ensandecido no olhar daquele homem.

Logan nem ao menos responde, vai urrando na direção dele, sentindo a adrenalina que tanto estava se esforçando por não sentir. Cada veia, cada músculo seu, se fosse capaz de falar, diria: “Ah! Como isso é bom!”

Dentes-de-sabre dá um baita murro no estômago do baixinho e não tira do rosto o sorriso estranho.

Wolverine sente o baque, mas em compensação, consegue enfiar suas garras numa das coxas dele.

Ao ver o soco que Logan leva, Ohana levanta e dá um gritinho assustado, levando as mãos à boca. Isso faz com que Dentes nem mesmo sinta as garras de Logan na coxa e, dando um empurrão com toda a força no canadense que bate numa das árvores opostas à barraca e fica caído, como que desmaiado.

O impulso da ruiva foi ir até onde ele estava, mas para isso, teria que passar pelo Creed. E não precisaria se preocupar muito com isso, porque este, corria como doido na direção dela!!

Fazendo uma parede telecinética, ela tenta pará-lo, mas a força que ele tinha e fazia contra, era maior do que tudo o que ela havia enfrentado até agora! Fazendo força, Ohana tentava detê-lo, mas ele era muito mais forte do que ela!

 

[Dentes] Ah! Então é esse teu poderzinho chubrega?! Eu acho que já tem outra ruiva na mansão com um desse, não? – ele ri, diante do olhar de desespero que aparecia no rosto lívido dela – Aliás, parece que o baixinho tem tara por ruivas... Mas eu vô dá um jeito nisso! GGRrrrrr!

 

Agindo enquanto ameaçava, Dentes-de-sabre deixou as mãos em posição de estraçalhar. Se Ohana fraquejasse, ele cairia em cima dela e a mataria, com certeza! Pois, a força que fazia para se libertar da parede invisível agiria como um acelerador de todos os seus próximos movimentos! Ela se ajoelha, totalmente extenuada:

 

[Ohana] Ao menos, eu tenho um poder! O que você faz? Baba?! Além do mais, não sou burra o suficiente pra esquecer dos outros atacantes durante um combate!

 

Disse isso, com um sorriso cínico nos lábios. Era realmente o que ela pensava: “bonito, forte e burro”. Quando se dá conta do que a ruiva fala, vira-se para onde Logan deveria estar e o encontra com cara de muita raiva, ao seu lado! O canadense dá várias arranhadas em Creed, enfia as garras no seu peito e, pra terminar, um soco com toda a sua força na cara dele.

Dentes desmaia, mas Logan sabia que era por pouco tempo...

Olhando para Ohana, ele diz:

 

[Wolvie] Preciso de ti pra mais uma coisa, consegue andar?

 

Ela maneia a cabeça positivamente. Se ele precisava que ela andasse, andaria; se precisasse que ela falasse, falaria; só rezava para que ele não quisesse os dois ao mesmo tempo...

O baixinho pega Creed e o joga no ombro, pedindo para que a ruiva o seguisse. Ela apóia as mãos nos joelhos, levanta com dificuldade e os três adentram um pouco mais a mata. Ao que parece, Logan sabia onde estava indo, pois parecia se guiar pelo cheiro e pelo som. Depois de uns dez minutos caminhando, Ohana pôde ouvir um barulho de água e, logo à frente deles, um penhasco apareceu!

Jogando Dentes no chão, sem a menor cerimônia, Logan vai até perto do grande paredão, onde abaixo corria um vultoso rio e pega alguns cipós muito compridos.

Creed começa a se mover, assim que ele volta e, só pra não perder o costume, Wolverine dá outro soco nele, enquanto o amarrava com os cipós, dando nós que Ohana jamais tinha visto:

 

[Wolvie] Gata, preciso que você o prenda no paredão, com a sua telecinesia, tá?

 

[Ohana] O... QUÊ?...

 

[Wolvie] Relaxa! Ele não vai morrer. Tem fator de cura, assim como eu... Isso vai manter ele longe por um tempo, só isso.

 

Nisso, Creed acorda, mas permanece com os olhos fechados.

 

[Ohana] Mesmo assim... Ele está ferido, pode ser que*

 

[Dentes] Ah! Que meigo! Ela tá preocupadinha comigo?... Sabia que tinha rolado um clima. Cuidado, Logan, eu posso roubá-la de você.

 

[Wolvie] Se eu tivesse no teu lugar, não cantava de galo...

 

[Dentes] O que vão fazer? Me deixá amarrado aqui? Cê sabe que em alguns minutos eu me solto e*

 

[Wolvie] Não com esses laços que eu dei, xará!

 

Ohana olha mais uma vez para Logan, como que tentando ter certeza do que iriam fazer. Ele acena com a cabeça e, concentrando-se como nunca havia feito, a ruiva inicia a levantar aquele gigante loiro. Ele era incrivelmente pesado e fazia gracejos enquanto era erguido, sempre com conotações baixas e sexuais... Contudo, todo o discurso mudou quando viu que estava sobre o rio! Nesse momento, até falsos pedidos de desculpas saíram da boca dele:

 

[Ohana] Ora... Não quer mais sair comigo? Como se eu quisesse um cara tão estúpido como você!

 

[Wolvie] Relaxa, a gente não vai te matar. Só te manter ocupado...

 

Olhando pra cima ele solta:

 

[Dentes] Ah! Enquanto vocês se ocupam um do outro, né? Eu atrapalhei os pombinhos, foi? – e começa a esbravejar, quando se sente preso a uma rocha e pendurado no paredão – NÃO ADIANTA FUGIR, LOGAN! CÊ É UM ANIMAL, ASSIM COMO EU! NUNCA VAI TER UMA FAMÍLIA NORMAL! NEM MULHER, NEM FILHOSSS!!!

 

Eles não ficam lá para ouvir o restando do discurso, Ohana nota que aquelas palavras haviam machucado o carcaju mais do que qualquer soco que Creed tenha lhe dado... Ela corre e pára na frente dele, levanta seu rosto com a mão:

 

[Ohana] Quer dizer, que no final, ele venceu? Conseguiu colocar minhocas na sua cabeça?

 

[Wolvie] Do que cê tá falando? Eu tô legal!...

 

[Ohana] Eu sei quando você está legal, Logan. E percebo que agora, não é um desses momentos... O que você acha? Que não pode mesmo ter uma família; filhos?

 

[Wolvie] Não é isso, Ohana – sua voz havia ficado grave, mais do que de costume -, é o que eu sempre te digo. A vida não é fácil pra nós... E eu não quero colocar um filho nesse mundo, ruiva...

 

Ela coloca as mãos no tórax dele, fazendo-o parar a caminhada de volta:

 

[Ohana] Sabe que eu não acredito nessa conversa fiada?! Acho que você tem medo de não ser um bom pai!

 

Ele revira os olhos, faz cara de quem somente está escutando, por obrigação:

 

[Wolvie] Ah!... Qu’é isso! Eu não tenho medo de nada! Muito menos de ser pai! Só posso me reservar o direito de não querer ter um filho, não posso? Porque o dia que eu não puder mais comandar minha vida, é melhor nem viver, sacô?

 

[Ohana] Entendi... Desculpe, eu não falei com a intenção de tentar comandar sua vida...

 

E reinicia a caminhar, vai à frente, já avistando de longe, a barraca. Ele realmente a tinha magoado. Ela queria tanto um filho! Queria tanto que ele se casasse com ela! Seria a família mais feliz do mundo! Mas isso não fazia parte dos planos dele; será que ela estava, novamente, se enganando?...

Atrás dela, Logan ponderava sobre tudo o que tinha acabado de dizer. Pensava nas inúmeras vezes em que ela havia lhe pedido um filho e ele negara. Ela realmente estava certa, Creed havia vencido a luta, pois, mesmo com tudo para dar certo, essa terrível insegurança o deixava perder! Em vários momentos, esticou o braço para tocá-la, mas ele não saberia o que dizer... Sua vontade era de aninhá-la e, se queria um filho, por Deus, dá-lo!! Mas isso ia contra tudo o que ele pensava e acreditava. O mundo não estava ainda pronto para receber mais um mutante; isso se ele nascesse mutante!

Na mente dele, passava a possibilidade de perdê-la por conta do que, para ele, era uma besteira!

Quando ela ia entrar na barraca, o canandense não resiste mais ao silêncio e, segurando-a pelo braço firmemente, mas sem machucar ele lhe dá um super beijo. Sua língua percorria a boca da ruiva e a explorava de forma inédita, falando mais do que qualquer palavra dita por ele; suas mãos acariciavam a nuca e a cintura daquela mulher, como se não existisse mais nada no mundo a ser tocado e, pelo leve tremor de seu corpo, ela podia notar o quanto todo o mundo ao redor dele, resumia-se nela, naquele instante! Logan a beijava como jamais havia feito antes e, tudo isso, pelo simples pensamento de poder perdê-la! Ela jamais saberia o que se passou na mente dele, mas, com certeza, poderia apostar que foi algo de muito importante.

Ela retribui todos os carinhos e o beijo, também inovando como nunca havia feito. Se ele podia, ela também! Sem parar de beijá-la, Logan a pega no colo e a leva para dentro da barraca, fechando muito bem a “porta”, com uma espécie de trava a qual Ohana nunca tinha visto. Isso tudo, sem se largarem. A ruiva abana as mãos, como que pedindo um tempo e, quando o canadense pára de beijá-la com uma carinha de triste, ela respira fundo, pegando todo o ar que parecia ter perdido no beijo.

 

[Ohana] Hei! Pega leve, amor; eu não tenho fator de cura! Mas bem que gostaria... – sorri, voltando a beijá-lo.

 

Como diz uma música, as almas gêmeas podem ser reconhecidas por vários aspectos e, um deles, é que não conseguem ficar com o coração nervoso por mais de um minuto! Se fosse perguntado a Ohana o motivo da briga, ela não saberia responder e, muito menos, saberia como ficou chateada com ele.

Já Logan, por ter suas memórias tão mexidas e apagadas, faz questão de lembrar-se de cada detalhe, porém, jamais compartilharia com os outros. Se há algo que a faz infeliz, tem que ser enterrado na consciência. Essa atitude não era por falta de amor, mas por querer ser o dono absoluto de suas lembranças, sempre! A partir do momento em que recobrou a consciência, ninguém mais seria capaz de brincar com suas memórias! Elas pertenciam a ele e, se por algum motivo, Logan quisesse afastá-las, ele o faria, mas com total consciência disso.

O canadense fica sem graça ao ouvir a palavra amor. Como sempre fazia... Mas esse era um momento mais do que especial; exigia palavras especiais!

Passando por mais uma divisória, eles entram no quarto, propriamente dito. Como o da outra barraca, este era constituído de um colchão de ar e, além disso, duas almofadas e dois lençóis.

Ohana coloca os lençóis para o lado, telecineticamente e tira os tênis assim, também.

Logan se ajoelha, coloca-a no colchão como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, tira as botas, a camisa listrada; com carinho, retira a calça dela também. Enquanto isso, a ruiva tira a blusa e abre o zíper daquele cowboy com a mente.

Ele sorri. A garota sempre o surpreendia, nos pequenos detalhes só que, dessa vez, seria como ele gosta, sem preâmbulos, sem joguinhos; ele queria aproveitar cada sensação que passava por ele, naquele instante e dá-las, toda, para ela. Fazê-la sentir-se amada como jamais sentiu, saber que tinha total controle sobre ele e, com exceção dela, fazê-lo gostar disso!

Ohana jamais o tinha visto num frenesi assim antes, normalmente, era ela quem se deixava levar pelas emoções e tremia como
uma criança, sempre que faziam amor. Dessa vez não! Dessa vez, quem tremia era ele, num misto de satisfação e desejo ainda não saciado.

Amaram-se, como nunca antes, ou depois, nenhum dos dois foi capaz de amar! Qualquer tentativa descritiva da cena a embotaria, já que ali não estavam somente corpos desejosos uns pelos outros; mas sentimentos que são impossíveis de transcrever!

Para eles, aquela noite seria totalmente especial, pois algo de maravilhoso nasceria daquela união! Algo que nenhum dos dois poderia esperar!

No dia seguinte, acordaram embalados pelo canto de pássaros e pelos raios do sol que teimavam em entrar na barraca. Logan é o primeiro a acordar. Esfrega os olhos, espreguiça-se, olha para o lado e sorri, constatando que o acontecido da noite anterior não tinha sido um sonho. Ohana estava realmente lá, ao lado dele! Como nenhuma mulher esteve antes. Tão bela; tão sua...

Ela abre os olhos lentamente, como que sentindo ser observada. Aqueles olhos verdes, parecendo duas esmeraldas cravadas na mais límpida jóia do mundo!

Sorrindo, a ruiva passa a mão no rosto de Logan, como que tentando também perceber se não era uma miragem.

Não! Não era! Dessa vez, seu interior tinha a certeza de que aquele homem acordaria sempre ao lado dela. Não precisaria mais se preocupar em não dormir com medo de encontrar uma cama vazia, ou um bilhete em cima do travesseiro: “Foi legal. Beijos...”

Na mente dos dois, passa uma pergunta divertida: “mas o que foi aquilo ontem?”; porém, nenhum deles a exterioriza. Seria tentar buscar resposta onde não existia.

A energia da noite passada ainda era palpável, com menor intensidade.

Logan dá um beijo nela e quebra o silêncio:

 

[Wolvie] Tá pronta pra terminar o passeio, gata?

 

[Ohana] Estou sim! Estranhamente, estou com energia de sobra! – sorri, enrolando-se no lençol e permanecendo deitada – Onde eu poderia me lavar?

 

[Wolvie] Quer o método da floresta, ou o hightech?

 

A ruiva sorri, não sabia ao certo qual queria... Tinha curiosidade de saber como se fazia numa floresta, mas também, estava querendo saber onde tinha água naquela barraca!

Levanta uma sobrancelha, pondera:

 

[Ohana] O hightech! Mas você tem que me prometer que mostra o outro depois, tá?

 

[Wolvie] Tá legal! A gente não tá muito longe do nosso destino. Se você gostar mesmo do lugar, a gente fica uns dias nele, ok?

 

Ela acena com a cabeça e, quando Logan levanta, vai atrás, curiosa como uma criança! Saem da barraca e, na parte lateral, ao lado do display de cristal líquido, tinha uma espécie de alavanca. Ele a levanta e Ohana pode ver que não era uma alavanca, mas um chuveiro! Olhando incrédula para ele, pergunta:

 

[Ohana] Espera aí!! Mas de onde vem a água?!

 

[Wolvie] As noites nas Rochosas são bastante úmidas, Ohana. E, como dentro estava quente, a barraca tem um sistema de captação de água e um pequeno reservatório. Não vai dar pra ficar três horas no banho, como você costuma fazer – ele brinca -, mas, dá pra não passar sufoco se precisar mesmo de uma ducha. Você quer morna ou fria?

 

Ela ouve toda a explicação e realmente se convence de que não podia haver mais do que uma barraca dessa! Era incrível!

 

[Ohana] Ai! Morna!

 

Apertando alguns botões a maior dúvida de Ohana é sanada; quando ela ia perguntar se teria que se lavar ao ar livre, Logan retira um rolinho de dentro da porta, desenrola e encaixa numa armação, ao redor do chuveiro. Fica uma cortina improvisada.

 

[Wolvie] Bom, quando cê quiser que comece a cair água, aperte o botão verde aqui. Pra parar, aperte o vermelho, tá certo? Eu vou arrumar algumas coisas no trailler e já venho.

 

[Ohana] Ok!

 

[Wolvie] Ah! Outra coisa: Tá vendo essa coluna azul aqui? Ela mostra o nível de água do reservatório. Cê acha que dá pra deixar um terço pra mim?

 

Ela dá leves tapinhas nele, enquanto mostra uma cara de inconformada:

 

[Ohana] Eu não demoro tanto assim! Seu bobo!!

 

Colocando as mãos pra cima ele se dá por vencido e, sorrindo, faz Ohana lembrar do primeiro dia em que se viram! Ele tinha feito a mesma pose. Tudo bem, não estava só de cuecas como agora; mas, também, se estivesse, a ruiva o teria achado um pervertido e teria fugido!

Ela sorri da pose dele, da brincadeira, da lembrança. Era tudo incrivelmente bom e na mente despreocupada dela, tudo soa como infinitamente possível.

Fechando a cortina ela inicia a higiene enquanto ele vai se trocar.

“Ah! – ele fala do lado de fora – Se quiser sabonete líquido ou shampoo é só apertar os botões correspondentes, viu? Eles são misturados numa pequena quantidade de água e caem pelo chuveiro, ok?”

“Uau! – ela responde – Okay!”

Um cheirinho bem suave de sabonete começa a rescindir no ambiente.

Ambos não demoram mais do que cinco minutos para preparar tudo. Foi Ohana terminar o banho, Logan entrou e saiu rapidinho.
Ela ainda estava amarrando o tênis quando ele adentra a barraca, secando o cabelo com uma pequena toalha. Estendendo-a para Ohana:

 

[Wolvie] Cê quer?

 

Ela não consegue esboçar uma reação. AMAVA quando ele estava com os cabelos molhados, não totalmente, mas no meio termo entre o seco e o molhado. Ela gostava de como ele emoldurava o rosto de Logan; gostava ainda mais quando o canadense prendia o cabelo num rabo-de-cavalo; mas isso era raro...

Ele nota como ela simplesmente pára no tempo e fica sem jeito. Joga a toalha no colo dela e começa a esfregar a calça com uma
das mãos.

Notando que o tinha deixado sem jeito – o que a deixava ainda mais apaixonada! -, não comenta nada, começa a secar o cabelo e, quando volta a olhar para lá, ele não estava mais.

 

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Desmontar a barraca foi tão fácil quanto montá-la! Era necessário tirar toda a água do reservatório. Falaram tanto que até mesmo sobrou!

Depois disso, era só ir no display e acionar: processo inverso e teclar uma senha de segurança. Demorou um pouco mais, afinal, todo o ar que ela tinha dentro, tinha que ser retirado; mesmo assim, não se compara a nada que Ohana tenha visto antes. A frase: “levantar acampamento” tinha um outro sentido para ela, agora.

Acomodam tudo no trailler, entram e reiniciam a viagem:

 

[Wolvie] Eu acho melhor irmos mais de carro. Assim, caminhamos somente algumas horas, tá bom? – sorri, preocupado.

 

[Ohana] Ah! Eu arruinei sua idéia de comunhão com a natureza, né? Não precisa, eu tento te acompanhar, se você quiser...

 

[Wolvie] Nossa! – arregala os olhos – Quem dera minha idéia de comunhão fosse sempre “arruinada” assim! – e gargalha, tocando de leve na perna dela.

 

A ruiva sorri, sabia que ele não era de mentir. Se ela estivesse incomodando, falaria, mesmo que nada pudesse ser feito a respeito.

Cruzando as pernas sobre o assento, Ohana levanta o braço direito dele e deita sobre o tórax; ele acaricia o cabelo dela, comentando que ela poderia dormir, pois ele a acordaria, assim que chegassem. Concordando com a cabeça, a ruiva coloca o braço ao redor do pescoço dele; faz um carinho e se “aninha”.

Esse tempo em silêncio, foi o suficiente para Logan pensar sobre todos os novos sentimentos que brotavam nele. Quando a conheceu, sabia o quanto ela era diferente; podia imaginar que seria um cara de sorte, se fosse capaz de tê-la; o rosto dela, aqueles olhos verdes, emanava uma calma, uma tranqüilidade pela qual ele sempre almejou e, parece que vê-los servia como uma forma de acalmar a si mesmo, era um equilíbrio perfeito.

Repensou o momento onde, normalmente, faria alguma ação impensada ou brusca e não o fez, porque ela estava lá, acalmando-o, fazendo-o sentir necessário e feliz. Tudo isso era total novidade para o canadense; sempre tão preocupado estava em demonstrar sua fúria que tinha perdido importantes sentimentos, necessários, até.

Os X-Men eram sua família, mas por nenhum deles Logan sente-se tão responsável como o faz com Ohana. Se tivesse que escolher entre a vida de algum deles e a dela, com certeza lamentaria a morte de um amigo, mas não perderia a mulher que tanto o transformou, sem nem ao menos pedir nada...

Chegam no sopé de uma montanha, ele acaricia os cabelos ruivos dela e, calmamente a desperta.

 

[Wolvie] Chegamos... Daqui, teremos que ir a pé.

 

Abre os olhos, já era começo de tarde. Mesmo tendo dormido tão bem, o desconforto do carro ficou nítido quando foi levantar a cabeça! Um torcicolo, daqueles que chegam rápido e demoram a sair... Colocando a mão no local, ela tenta disfarçar um espreguiço, não queria preocupá-lo.

 

[Ohana] UAU! Mas é uma montanha?!

 

[Wolvie] Isso aí, é a Montanha Robson (nota: ela realmente existe no Canadá, hehe). Um dos lugares mais lindos do mundo e eu vou te mostrar o por quê!

 

[Ohana] Vamos então pegar nossas coisas, não vejo a hora de ver o que o deixa tão excitado!

 

Levanta-se, sai do carro e Logan não pode deixar de pensar em alguma sacanagem quando ela diz isso. Ele balança a cabeça forte, espantando esse pensamento e também sai, indo pegar a mochila que ele havia preparado de manhã.

 

[Wolvie] Está aqui é sua. – comenta, estendendo uma pequena mochila vermelha, com um cantil e uma lanterna perdurados do lado de fora – E tava pensando em tornar isso mais interessante: Nada de poderes, o que me diz?

 

A ruiva pega a mochila, coloca nas costas e ouve as palavras dele com cara de desdém:

 

[Ohana] Ah! Então me mostra em qual botão eu desativo seu fator de cura e seus sentidos superaguçados, Logan!... Acho que nem mesmo conseguiria acompanhá-lo, se não tivesse pena de mim e diminuísse a marcha!

 

Lançando um sorriso vitorioso, ele comenta, enquanto anda para mais perto da floresta, com uma mochila preta, um pouco maior, também com cantil e lanterna:

 

[Wolvie] Bom, quanto a isso eu não posso fazer nada, mas não vou usar minhas garras e vou tentar “desligar” meus sentidos. Às vezes, eu consigo, tá legal?...

Além do mais, eu não tive que diminuir tanto a marcha assim. Cê tá se subestimando, ruiva...

 

Ela levanta a sobrancelha diante das últimas palavras dele. Ela tinha sentido que não se cansava tão facilmente nos treinos, podia notar que se corpo estava em “ponto de bala” e com o comentário dele, isso estava mais do que certo!

Começa a acompanhá-lo:

 

[Ohana] Tudo bem, aceito sua proposta: nada de poderes!

 

E ambos começam a subir. Logan na frente, mostrando o caminho e Ohana logo atrás, fazendo gracinhas e brincadeiras com
ele. Apesar de o torcicolo a estar fazendo perder o mais interessante do passeio: a densa floresta que ia se fechando sobre eles;
ao menos, ela pôde ver animais tão diferentes e tão arredios ficava claro que aquela montanha não era comumente visitada pelo
ser humano.

Logan deu uma de guia mais do que experiente e foi destilando os segredos daquele lugar para ela, como quem mostra sua sala de estar para os convidados:

 

[Wolvie] Tá vendo aquela árvore ali? Se você estiver perdida por mais de três dias sem encontrar água, corta ela e bebe a seiva. Isso pode salvar sua vida!

 

[Ohana] Que tipo de veado é aquele, Logan?? – falava curiosa, apontando para um animal que tinha corpo de alce e chifres de veado.

 

[Wolvie] É um Elk, gata. Muito estranho, né?

 

[Ohana] É! Ele não é nem uma coisa, nem outra! Muito interessante...

 

[Wolvie] E tem a carne muito gostosa... –comenta, sabendo que ela ficaria nervosa.

 

[Ohana] Carne gostosa?!? Mas que absurdo! Você já comeu um bichinho desses?! Seu mau!

 

[Wolvie] Calma, calma! Eu não me lembro de ter comido, mas sei que a carne é gostosa e, por isso, só pode ser uma lembrança enterrada, ruiva...

 

Ela segura o braço dele, acaricia, pedindo desculpas por tê-lo feito lembrar de coisas assim.

Ele sorri, acaricia a mão dela. Não queria tê-la deixado preocupada; era bobeira! Nunca em sua vida quis tanto viver o presente! Nunca esteve em tão boa companhia!

Mesmo puxando a marcha, ela o seguia, com uma curiosidade quase infantil nos olhos, tentando aproveitar ao máximo o momento. Pois esse momento acontece uma vez só na vida da gente! Nada nunca se repete, nenhum segundo é como o outro, mesmo que tentemos fazer com que seja assim...

Pensando nisso, comentando sobre cada novidade, em apenas três horas de caminhada (umas mais fáceis, outras mais íngremes) chegaram a uma espécie de platô, bem no meio da montanha e onde se podia ver todo o lado selvagem do Canadá! O lugar era mesmo lindo!  Se Ohana pudesse olhar para cima, veria o cume, cheio de neve a muitos quilômetros longe deles.

Era possível ver a floresta que atravessaram, as densas copas das árvores, os pássaros, tudo era bonito; mas não tão bonito como ela tinha imaginado. Era tão bonito quanto qualquer lugar que tinha estado, até agora...

Como que imaginando os pensamentos dela, Logan comenta:

 

[Wolvie] Cê precisa ver o nascer do sol daqui, Ohana. Foi pra isso que eu te trouxe, foi isso que eu vim rever. Uma vez que você o vê daqui, não pode imaginar ele visto de outro lugar. É lindo...

 

[Ohana] E quando foi que você esteve e viu o nascer do sol daqui, Logan?

 

Ele coça a cabeça, coloca a mochila no chão e tira de dentro um saco de dormir:

 

[Wolvie] Bom, eu não sei te dizer com certeza quando foi a primeira vez que eu estive aqui... Mas sei que quando me lembro de ter chegado pela segunda vez, senti uma sensação familiar. Provavelmente tem a ver com meu passado e com coisas que já não tenho mais certeza de querer saber...

 

Sorrindo, a ruiva chega perto dele e também começa a retirar o saco de dormir de sua mochila. Assim que o estica no chão, ela senta-se e fica vendo adiante, perdendo-se no verde e nos tons de vermelho que algumas folhas ainda teimavam em ter.

Logan percebe a dificuldade dela em sentar direito, já que o torcicolo tinha sido dos brabos!

 

[Wolvie] Que que aconteceu, ruiva? Cê tá legal?

 

Ela vira todo o corpo para olhá-lo:

 

[Ohana] Não muito... – sorri – depois que acordei no trailler, senti uma dor no pescoço e estou com ela ainda. Um torcicolo danado! – volta com o corpo na posição.

 

[Wolvie] Pôxa! Mas porque você não me disse antes?

 

[Ohana] Pra quê?? Não queria atrapalhar...

 

[Wolvie] Não atrapalha nada, linda... Agüentar toda essa caminhada com dor, sendo que era só eu te fazer uma massagem?

 

Ela olha incrédula para ele! “Massagem?...” Pensa, enquanto ele não espera nada e, ajoelhando atrás dela, pede para Ohana relaxar e começa a tocar nos ombros extremamente retesados dela, por culpa do torcicolo.

Assim que o canadense começa a ruiva não sabe se ri ou chora! Era uma sensação muito boa, porém, era dolorido!
As mãos de Logan pareciam plumas massageando os músculos de Ohana e, quando estes começaram a aquecer, a sensação de dor passou e a ruiva pôde sentir todo o bem da massagem. Era deveras gostoso e muito, muito sexy!

Ao perceber que ela já podia movimentar o pescoço normalmente, Logan não parou de massageá-la; ao invés disso, começou a intensificar as carícias:

 

[Ohana] Hum... Isso é muito bom! Obrigada mesmo, Loogie! Eu estava precisando... Mas, eu também sei fazer massagem e gostaria de retribuir a sua, posso?

 

[Wolvie] Não foi nada, gata. Eu aprendi a fazer quando estive no Japão. – Várias lembranças passam em sua mente, algumas ótimas, outras, nem tanto... – Claro que pode me fazer também; eu tenho fator de cura! – e ri a beça!

 

[Ohana] Ahahah – imitando a risada dele – Muito engraçado... Não quero mais fazer. – ela emburra, fazendo beiço.

 

[Wolvie] Ah! Vai... Qualé?... Cê sabe que eu não sou bom em relacionamentos e, muito menos, em brincadeiras. Sempre que tento alguma, só me ferro. Como agora... – falando essa última frase entre-dentes.

 

Vai sentar-se no colchonete dele, mexendo num tufo de grama. Ohana não pode deixar de sorrir diante do modo totalmente
moleque dele. Tudo bem, ela tinha exagerado. Mas Logan havia passado a tarde toda fazendo brincadeiras com ela; brincadeiras como essa, onde ela sempre era menosprezada. Mesmo sabendo que era sem querer e com a intenção de fazer rir, essa última tinha sido a gota d’água!

Ela consegue imaginar o que seja viver sempre pra si e, desse modo, isso explicaria as “piadas” onde somente ele ria. Tinha sido assim sempre. Impossível mudar de uma hora para outra, num passe de mágica!

Sem sair de onde estava, a ruiva comenta:

 

[Ohana] Olha; eu também exagerei, Logan... Mas você ficou fazendo piadas assim a tarde toda! Eu não agüento, né? Você diz que é tudo novidade pra você. E eu pergunto: como você acha que é pra mim? A “miss: foi legal enquanto durou”? É assustador! Eu nunca passei tanto tempo com alguém! Estava mesmo pensando isso hoje de manhã: na maioria das vezes, meus relacionamentos se resumiam a ir para a cama e nunca mais encontrar o cara na vida! Isso não era relacionar, era ser uma idiota! Eu... Nós, temos que fazer um grande esforço pra isso dar certo. De minha parte, pode contar com isso.

 

Finalmente, indo até ele, que ouvia tudo aquilo com a maior atenção, concordando com a cabeça, ela completa:

[Ohana] Você não vai se ver livre de mim tão cedo. Agora, deita de costas! – sorri, impingindo um som de ordem à última frase.

 

Ele deita, apoiando a cabeça sobre as mãos cruzadas na frente:

 

[Wolvie] Cê tá certa, guria... É tudo novo pra mim também. Quero que me prometa: sempre que eu pisar na bola é pra você me falar, tá bom?

 

[Ohana] Tudo bem, grandão. Agora, relaxe, porque sua seção de massagem vai começar, tá bom?

 

Enquanto dizia isso, ia tirando os tênis e os deixou ali na grama; estalou os dedos, o pescoço e, colocando o pé direito bem no centro das costas dele, fez a alavanca e subiu!

Estava com os braços abertos para poder se equilibrar e, começando a andar e fazer movimentos com os dedos, iniciou a massagem.

No começo, quando a viu tirar o tênis, o canadense jamais pensou que seria para isso; quando sentiu o pé dela sobre as costas dele, começou a pensar na possibilidade, porém, quando sentiu todo o peso dela nas costas, teve que se segurar para não levantar e fazê-la cair! A sensação inicial era completamente ruim e, sentindo que estava com dificuldade para respirar, obtemperou:

 

[Wolvie] Ei, gata! Cê não acha melhor a massagem “normal”?

 

Ouviu-a rir em cima dele. Ela sabia que, na primeira vez, seria estranho:

 

[Ohana] Lembra o que eu disse sobre relaxar, gatinho? Tá na hora de começar. Eu garanto que depois dessa vez, você não vai querer outra massagem na sua vida!

 

Ele resolveu seguir o conselho dela. No mínimo, poderia rir disso tudo depois! Claro! Dessa vez, ele riria sozinho. Tentaria não fazer mais piadas na frente dela; ao menos, não piadas que a tivessem como tópico!

Ohana ficou, mais ou menos, quarenta minutos “andando” sobre as costas dele. Afirmo que os dez primeiros serviram para que ele se acostumasse e, os outros trinta para que ele não quisesse que ela saísse mais!

Ele sentia-se nas nuvens, totalmente relaxado e completo.

Quando a ruiva decidiu que já estava na hora de terminar foi triste! Logan ficava fazendo charme, tentando fazê-la não parar:

 

[Wolvie] Oh! Por favor, faz mais um pouco, vai? Só mais uns minutinhos...

 

[Ohana] Você disse isso há cinco minutos atrás, Logan! Vai perder a graça, me deixa sair, vai? – pedia, ainda andando sobre as partes que sentia estarem mais “duras”.

 

[Wolvie] Se você sair, não vai se dar bem essa noite...

 

[Ohana] Ai! Não acredito!! Mas que chantagem mais machista! Como se você não gostasse e ainda estivesse me fazendo um favor!! Poupe-me! – e pula das costas dele, com um ar bastante levado nos olhos – E, aí? Tem certeza? Porque se tiver, eu já vou ir para o meu saco de dormir... – sorri, sabendo que a resposta dele seria bem outra!

 

[Wolvie] Eu só tava brincando, ruiva! – diz, sorrindo – Foi a massagem mais fantástica que eu tive! E olha que não foram poucas, hein?

 

Uma ponta de ciúmes passa pela cabeça dela. Fica imaginando várias mulheres orientais ao redor dele, fazendo todo o tipo de massagem; usando óleos, cremes, até mesmo velas. O silêncio faz o canadense perceber que tinha algo errado e, complementa:

 

[Wolvie] Ohana, eu paguei por cada uma das massagens anteriores, viu? – falando uma mentirinha, somente para saber se era mesmo ciúmes o motivo do silêncio.

 

Ela olha para ele com os olhos novamente brilhantes:

 

[Ohana] É verdade?!

 

[Wolvie] Claro! Não acredito que cê ficou com ciúmes de umas gordonas russas com cara de homem!! – dizia isso, mas pensava em Tigre, a rainha do submundo de Madripoor, uma ilhazinha no sudoeste asiático onde Logan passou um bom tempo.

 

[Ohana] Lá vem você de novo com essas piadas! Grrr!

 

Logan ri gostoso enquanto fala “vem aqui, vem... Agora você é minha “russa” predileta!”. Ohana faz charme, ameaça ir para o colchonete dela, mas dá uma virada e joga-se no colo dele. Mesmo sentindo o baque do peso, o canadense nem se dá conta. Estava feliz demais e isso só podia significar uma coisa: problemas graves no futuro... Ele esperava que fossem num futuro distante. Decidido a não deixar isso atrapalhar o momento, sacode a cabeça, abraçando-a e colocando-a sentada no meio das pernas dele:

 

[Wolvie] Olha, o pôr-do-sol também não é de se jogar fora. Olha lá! – e aponta para bem longe, onde alguns raios de sol, bem difusos, passavam por uma grande nuvem vermelha.

 

[Ohana] UAU! É realmente lindo!

 

E ficam abraçados até quase o sol se pôr:

 

[Wolvie] Bom! Tá na hora de irmos pegar alguma lenha para uma fogueira. Não é seguro ficarmos aqui sem fogo.

 

[Ohana] “Não é seguro”? De que devemos ter medo?

 

[Wolvie] Bom, nunca é legal encontrar animais violentos, né? Eu nunca gostei de matar animais, Ohana. Por isso, tento evitar ao máximo... Os lobos daqui já me conhecem, de longa data. Mas os carcajus e alguns outros “competidores”, podem vir querer se aproveitar do nosso descuido e eu ficaria muito triste se tivesse que matar um deles. Sacô?

 

[Ohana] (imitando a voz dele) Saquei! – e levanta correndo, antes que um leve tapa a atingisse nas costas – Pode ser qualquer tipo
de madeira?

 

[Wolvie] Na verdade, a gente devia ter aproveitado o dia pra fazer isso. Agora, com a chegada da noite, muitas delas podem estar úmidas e isso vai fazer uma fumaça e tanto! Mas eu não trocaria as massagens por procurar lenha, hehe, pode ser qualquer graveto, falou? E nada de poderes, lembra?

 

[Ohana] Ai! Você tinha que lembrar! Já ia fazer uma pira de gravetos, agora mesmo...

 

E sai com a lanterna na mão, fingindo desânimo, pegando os gravetos que encontrava.

Assim que juntaram uma quantidade considerável para fazer bom fogo, Logan tirou da mochila um tubinho preto, colocou-o no centro dos gravetos e ateou fogo, com seu inseparável Zippo®. Não tardou muito para que tivessem uma linda fogueira e um estoque de gravetos e lenha do lado, para mantê-la acesa durante a noite.

Abriram um dos sacos de dormir, sentaram-se nele e cobriram-se com o outro. Logan parecia querer engoli-la, de tanto que a abraçava e beijava, colocando sempre a mão no rosto ou nas mãos para sentir se ela estava com frio.

Como não podia deixar de ser, Ohana trouxe alguns marshmallows escondidos na bolsa e, estendendo o braço para pegá-
los, comentou:

 

[Ohana] Logan, pra quem nunca acampou antes, não seria perfeito se faltasse isso! – e sorri, tirando um saco com os pequenos e conhecidos cubinhos brancos.

 

[Wolvie] Ah!! Não acredito!! – retruca, colocando a mão na testa, numa clara atitude de “só podia ser você mesmo”!

 

[Ohana] Ah, vai! Eu sei que você estava esperando por isso, só não tinha coragem de dizer. – sorri, pegando um dos gravetos e começando a assar o seu.

 

[Wolvie] Não é assim que se faz, olha: cê tem que pegar uns 3 e enfiar no mesmo graveto, pra que enquanto comer um, os outros fiquem assando... Até parece que eu tenho que ensinar tudo!

 

Ambos riem! Era mesmo uma cena rara de se ver, rara até mesmo para eles!

Sob a luz das estrelas e da imponente lua cheia, comeram e riram como dois velhos conhecidos, sempre trocando carinhos e palavras doces. Claro que Ohana era quem mais falava palavras doces, mas era Logan quem mais fazia carinhos. Ele mesmo não se reconhecia, nunca tinha se imaginado assim com outra pessoa; mesmo quando pensava em Mariko, não imaginava as coisas dessa forma! Nem mesmo com Yukio, ele teve ótimos e loucos momentos com ela, mas sempre soube que não durariam; mesmo tendo entregado a guarda de sua filha adotiva para ela, Logan nunca pensou em ter um relacionamento sério... Nunca pensou em nada do que tem pensado ultimamente! Ele tem certeza que com essa ruiva, casaria! Mas também tinha medo do que isso poderia dizer a todos os seus inimigos... O canadense sabe que iam tentar se vingar dele, nela. E era mais por isso que esitava em demonstrar carinho. Porém, enquanto estivessem assim, sozinhos, ele nada tinha a temer ou esconder! Sabe que Dentes-de-Sabre é burro demais para arquitetar qualquer coisa ou mesmo tentar matar Ohana. Logan tinha mais é confiança nela e nos poderes que cada vez mais se aprimoravam.

Sem notarem, a noite voa como um tufão! Quando a ruiva resolve que estava com sono, uma tênue luz amarelada começa a despontar no horizonte, bem na frente deles. Aquela luz tênue vai ganhando corpo e transformando-se num laranja-avermelhado, colorindo todas as nuvens do céu nesse tom, criando cores novas, à medida que se misturava com o verde das árvores. Em alguns segundos, o astro-rei aparece, como uma imensa bola de fogo, só que sem aquela claridade que cega! Era realmente incrível! Ohana nunca tinha visto nada assim em sua vida! Ela se permite ficar boquiaberta por alguns segundos, diante de tanta beleza!

Logan estava certo... Não existe nascer do sol assim em nenhum outro lugar do mundo! Nenhum dos dois diz nada, às vezes, o canadense olhava curioso para ela, vendo se tinha se transformado em pedra. Mas o termo petrificado era o que melhor fazia jus ao estado atual de Ohana.

Assim que todo aquele jogo de luzes e cores desaparece, ela somente olha para Logan, os olhos totalmente brilhantes, de tanta alegria pela contemplação. Não fala nada, somente vai e o beija de leve nos lábios, sendo beijada com mais avidez por ele. Aquele ato tinha deixado claro o quanto ela gostou da cena, das cores, da companhia, de tudo!

Ficam mais alguns minutos sentados juntos, até que Logan pergunta se a ruiva quer ir embora. A indecisão dela é tanta que
o canadense resolve levar a barraca maior para que passem mais alguns dias naquele platô, ao que a ruiva concorda.

Ela descobriria que nenhum nascer do sol é igual ao outro e, mesmo assim, o posterior sempre supera o antecessor em beleza e movimento!

Se soubesse das mudanças velozes que aconteciam em seu corpo, Ohana daria à elas o motivo de seu êxtase para cada mínimo detalhe. O simples ato de ver Logan acordar, ou cortar lenha, ou se lavar era mais do que o coração dela parecia suportar e, no entanto, ela sempre encontrava algo que o deixava disparar. O que aquele homem, bruto a um primeiro olhar, tinha de tão especial que a fizesse sentir querida e amada, mesmo sem ser capaz de demonstrar isso nitidamente? Será que era justamente essa velada admiração que ele tinha por ela, sem nunca se entregar que o fazia perfeito em cada detalhe? Seu senso de justiça, de amizade, de família, era tão forte que sobrepujava a aparente ignorância que seus traços firmes faziam transparecer. Era possível, ao olhar para aqueles olhos azuis, se perder dentro de uma imensidão jamais pensada antes; e era justamente essa imensidão que tragava Ohana cada vez mais para o lado dele, fazendo-o reinar seguro em seu coração.

Após mais dois dias, resolvem, a custo, que era hora de voltar para a civilização; para os X-Men. Fazem o caminho inverso, tentando parar o menos possível, pois a saudade que sentiam daquela “família adotiva” era grande! Era somente por eles que o casal resolve voltar, já que nada mais os prendia ao mundo...

Assim que chegam, todos notam uma grande diferença nos dois! Logan está mais comunicativo, menos agressivo. Ohana está radiante! Seus olhos eram a representação da total felicidade e isso refletiu nos treinos. Ambos ficaram com um entrosamento como nunca tinham tido antes! E, se Jean e Scott tinham muito em comum, tanto mais tinha Ohana e Logan, já que esta ruiva não tinha telepatia e, mesmo assim, se moviam como uma só mente.

 

*corrigido e rediagramado em 18/06/2006 – 17h30min*