AKJ: Almeida-1753 compatibilizada com a KJB-1611, com grafia e gramática inspiradas na ACF-1995  

LIVRO DE
Capítulos 32-42


Capítulo 32
1 Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque ele era justo aos seus próprios olhos.
2 E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.
3 Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos, porque, não achando que responder, todavia condenavam a Jó.
4 Eliú, porém, tinha esperado o final das palavras de Jó, porquanto eles tinham mais idade do que ele.
5 Vendo, pois, Eliú que não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu.
6 E respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; receei-me e temi de vos declarar a minha opinião.
7 Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria.
8 Na verdade, um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso o faz entendido.
9 Os grandes homens não são sempre sábios, nem os velhos entendem o que é direito.
10 Assim digo: Dai-me ouvidos, e também eu declararei a minha opinião.
11 Eis que aguardei as vossas palavras, e dei ouvidos aos vossos entendimentos, até que buscásseis o que dizer.
12 Atentando, pois, para vós, eis que nenhum de vós que possa convencer a Jó, nem que responda às suas palavras;
13 Para que não digais: Achamos a sabedoria; Deus o derrubou, e não homem algum.
14 Ora ele não dirigiu contra mim palavra alguma, nem lhe responderei com as vossas palavras.
15 Estão pasmados, não respondem mais, faltam-lhes as palavras.
16 Esperei, pois, mas não falam; porque já pararam, e não respondem mais.
17 Também eu responderei pela minha parte; também eu declararei a minha opinião.
18 Porque estou cheio de palavras; o espírito dentro de mim me constrange.
19 Eis que o meu ventre é como o mosto, sem respiradouro, prestes a arrebentar, como odres novos.
20 Falarei, para que eu ache alívio; abrirei os meus lábios, e responderei.
21 Que não faça eu acepção do rosto de nenhum homem, nem use de palavras lisonjeiras com o homem!
22 Porque não sei usar de lisonjas; se assim fizesse, em breve me levaria o meu Criador.

Capítulo 33
1 Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas falas, e dá ouvidos a todas as minhas palavras.
2 Eis que já abri a minha boca; falou a minha língua debaixo do meu palato.
3 As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o saber claramente.
4 O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-Poderoso me deu vida.
5 Se podes, responde-me, diante de mim dispõe em ordenada linha de batalha as tuas, e levanta-te.
6 Eis-me aqui em lugar de Deus, segundo disse a tua boca; do barro também fui eu  formado.
7 Eis que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão.
8 Na verdade tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras. Dizias:
9 Limpo estou, sem transgressão; inocente sou, e não tenho iniqüidade.
10 Eis que Ele detecta impeditivas faltas em mim, e me considera como Seu inimigo.
11 Põe no tronco os meus pés, e observa todas as minhas veredas.
12 Eis que nisso não foste justo; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem.
13 Por que razão contendes com Ele? Porque Ele não dá contas de nenhum dos Seus feitos.
14 Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.
15 Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, ou dormitam sobre a cama.
16 Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução,
17 Para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba.
18 Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada.
19 Também na sua cama é castigado com dores; e com incessante contenda nos seus ossos;
20 De modo que a sua vida abomina até o pão, e a sua alma a comida apetecível.
21 A sua carne desaparece de vista, e os seus ossos, que não se viam, agora estão salientes.
22 E a sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos que trazem a morte.
23 Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem a sua retidão,
24 Então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; achei resgate.
25 Sua carne se reverdecerá mais do que era na mocidade, e tornará aos dias da sua juventude.
26 Deveras orará a Deus, o Qual se agradará dele, e verá a Sua face com júbilo, e Ele restituirá ao homem a sua justiça.
27 Olhará para os homens, e dirá: Pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou.
28 Porém Deus livrou a sua alma de ir para a cova, e a sua vida verá a luz.
29 Eis que todas estas coisas opera Deus, duas e três vezes para com o homem,
30 Para trazer de volta a sua alma da cova, e o iluminar com a luz dos viventes.
31 Atende, pois, ó Jó, dá-me ouvidos; cala-te, e eu falarei.
32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te.
33 Se não, -me ouvidos tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria.
 
Capítulo 34
1 Respondeu mais Eliú, dizendo:
2 Ouvi, vós, sábios, as minhas palavras; e vós, entendidos, inclinai os ouvidos para mim.
3 Porque o ouvido prova as palavras, como o palato experimenta a comida.
4 O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.
5 Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu julgamento.
6 Mentiria eu contra o meu direito? A minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.
7 Que homem como Jó, que bebe a zombaria como água?
8 E caminha em companhia dos que praticam a iniqüidade, e anda com homens ímpios?
9 Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus.
10 Portanto, vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!
11 Porque, segundo a obra do homem, Ele lhe paga; e faz a cada homem segundo o seu caminho.
12 Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo.
13 Quem lhe entregou o governo da terra? E quem fez o mundo inteiro?
14 Se Ele pusesse o Seu coração contra o homem, e recolhesse para Si o Seu espírito e o Seu fôlego,
15 Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó.
16 Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos ao som da minha palavra.
17 Porventura o que odiasse o direito governaria? E tu condenarias aquele que é justo e poderoso?
18 Ou dir-se-á a um rei: "Oh! Vil"? Ou aos príncipes: "Oh! Ímpios"?
19 Quanto menos Àquele, que não faz acepção das pessoas, de príncipes, nem estima o rico mais do que o pobre? Porque todos são obras de Suas mãos.
20 Eles num momento morrem; e até à meia noite os povos são perturbados, e passam, e os poderosos serão removidos não por mão humana.
21 Porque os Seus olhos estão sobre os caminhos de cada um, e Ele vê todos os seus passos.
22 Não trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que praticam a iniqüidade.
23 Porque Ele não põe sobre o homem mais do que é justo, para o fazer ir a juízo diante de Deus.
24 Quebranta aos fortes sem número, e põe outros em lugar deles.
25 Ele conhece, pois, as suas obras; de noite os transtorna, de modo que são moídos.
26 Ele os fere como ímpios que são, à vista dos outros,
27 Porquanto se desviaram dEle, e não compreenderam nenhum dos caminhos dEle;
28 Para fazer com que o clamor do pobre venha até Ele, e Ele ouça o clamor dos aflitos.
29 Se Ele aquietar, quem então inquietará? Se encobrir o rosto, quem então O poderá contemplar? Seja isto para com um povo, seja para com um homem ,
30 Para que o homem hipócrita nunca mais reine, e o povo não caia em laço.
31 Na verdade, é certo ser dito a Deus: "Suportei castigo, não ofenderei mais.
32 O que não vejo, ensina-me Tu; se fiz alguma iniqüidade, nunca mais a hei de fazer."
33 Será isto segundo tua mente? Ele recompensará esta coisa, quer tu a rejeites, quer tu (e não eu) a escolhas. Portanto, fala logo o que sabes.
34 Digam-me os homens de entendimento, e o homem sábio ouça-me:
35 Jó falou sem conhecimento; e às suas palavras falta prudência.
36 Meu desejo é queseja provado até ao fim, pelas suas respostas a homens de iniqüidade.
37 Porque ao seu pecado acrescenta a rebelião; entre nós bate suas palmas (em desagrado), e multiplica contra Deus as suas palavras.

Capítulo 35
1 Respondeu mais Eliú, dizendo:
2 Tens por direito dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?
3 Porque disseste: De que Te serviria? Que proveito eu tiraria mais se eu fosse alimpado do meu pecado?
4 Eu te darei resposta, a ti e aos teus amigos contigo.
5 Atenta para os céus, e vê; e contempla as mais altas nuvens, que são mais altas do que tu.
6 Se pecares, que efetuarás contra Ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que Lhe farás?
7 Se fores justo, que Lhe darás, ou que receberá Ele da tua mão?
8 A tua impiedade faria mal a outro homem como tu; e a tua justiça aproveitaria ao filho do homem.
9 Por causa das muitas opressões os homens fazem o oprimido clamar por causa do braço dos grandes.
10 Porém ninguém diz: Onde está Deus que me criou, que dá salmos durante a noite;
11 Que nos ensina mais do que aos animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves do ar?
12 Clamam, mas ninguém responde, por causa da arrogância dos maus.
13 Certo é que Deus não ouvirá a vanidade, nem atentará para ela o Todo-Poderoso.
14 E quanto ao que disseste, que O não verás, juízo perante Ele; por isso espera nEle.
15 Mas agora, porque Ele não tem visitado (para trazer punição) em Sua ira, nem se conhece em grande rigor,
16 Por isso, Jó em vão abre a sua boca, e sem ciência multiplica palavras.

Capítulo 36
1 Prosseguiu ainda Eliú, e disse:
2 Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda tenho palavras a favor de Deus.
3 De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça.
4 Porque na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que tem perfeito conhecimento.
5 Eis que Deus é mui grande, contudo a ninguém despreza; grande é em força e sabedoria.
6 Ele não preserva a vida do ímpio, e faz justiça aos aflitos.
7 Do justo não tira os Seus olhos; antes estão com os reis sobre o trono; ali os assenta para sempre, e assim são exaltados.
8 E se estão presos em grilhões, amarrados com cordas de aflição,
9 Então lhes declara a obra deles, e as suas transgressões, porquanto prevaleceram nelas.
10 Abre-lhes também os seus ouvidos, para Seu castigo- instrutivo, e ordena-lhes que voltem atrás da iniqüidade.
11 Se Lhe derem ouvidos, e O servirem, acabarão seus dias em bem, e os seus anos em delícias.
12 Porém se não Lhe derem ouvidos, à espada serão passados, e expirarão sem conhecimento.
13 E os hipócritas de coração amontoam para si a ira; e amarrando-os Ele, não clamam por socorro.
14 A sua alma morre na mocidade, e a sua vida está entre os impuros.
15 Ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, lhes abre os ouvidos.
16 Assim também te desviará da boca da angústia para um lugar espaçoso, em que não aperto, e aquilo que é colocado na tua mesa será cheio de gordura.
17 Mas tu estás cheio do juízo do ímpio; o juízo e a justiça te sustentam.
18 Porquanto furor, guarda-te de que porventura Ele (Deus) não te remova com Seu golpe: Então nem mesmo um grande resgate poderá te livrar.
19 Estimaria Ele tanto tuas riquezas? Não, nem ouro, nem todas as forças do poder.
20 Não suspires pela noite, em que os povos sejam tomados do seu lugar.
21 Guarda-te, e não te voltes para a iniqüidade; porquanto isso escolheste ao invés da aflição.
22 Eis que Deus é excelso em Seu poder; quem ensina como Ele?
23 Quem Lhe prescreveu o Seu caminho? Ou, quem Lhe dirá: "Tu cometeste maldade."?
24 Lembra-te de engrandecer a Sua obra, que os homens contemplam.
25 Todos os homens a vêem, e o homem a contempla de longe.
26 Eis que Deus é grande, e nós não O compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode esquadrinhar.
27 Porque faz miúdas as gotas das águas que, do seu vapor, derramam a chuva,
28 A qual as nuvens destilam e gotejam sobre o homem abundantemente.
29 Porventura pode alguém entender o estender-se das nuvens, e os estalos da Sua tenda?
30 Eis que estende sobre elas a Sua luz, e encobre as profundezas do mar.
31 Porque por meio destas coisas julga os povos; e lhes dá mantimento em abundância.
32 Com as nuvens encobre a luz, e ordena não brilhar, interpondo a nuvem.
33 O trovão dEle declara acerca disso, e também o gado declara acerca do temporal que sobe.

Capítulo 37
1 Sobre isto também treme o meu coração, e é movido para fora do seu lugar.
2 Atentamente ouvi a indignação da Sua voz, e o sonido que sai da Sua boca.
3 Ele o envia por debaixo de todo o céU, e a Sua luz até aos confins da terra.
4 Depois disto ruge uma grande voz; Ele troveja com a voz da Sua majestade; e Ele não os detém quando a Sua voz é ouvida.
5 Com a Sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas, que nós não podemos compreender.
6 Porque à neve diz: Cai tu sobre a terra; como também à pequena chuva e à Sua grande chuva do Seu poder.
7 Ele sela as mãos de todo o homem, para que conheçam todos os homens a Sua obra.
8 E as feras entram nos seus esconderijos e ficam nas suas cavernas.
9 Da recâmara do sul sai o tufão, e do norte o frio.
10 Pelo sopro de Deus se dá a geada, e as largas águas se congelam.
11 Também de umidade carrega as grossas nuvens, e dispersa as nuvens com a Sua luz.
12 Então elas, segundo o Seu prudente conselho, se espalham em redor, para que façam tudo quanto lhes ordena sobre a face do mundo na terra.
13 Seja que por vara (de correção), ou para a Sua terra, ou por misericórdia, Ele as faz vir.
14 A isto, ó Jó, inclina os teus ouvidos; posta-te em pé, e considera as maravilhas de Deus.
15 Porventura sabes tu como Deus as opera, e faz resplandecer a luz da Sua nuvem?
16 Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e das maravilhas dAquele que é perfeito em conhecimento?
17 Ou de como as tuas roupas aquecem, quando Ele faz ser aquietada a terra pelo (mormaço do) vento sul?
18 Ou estendeste com Ele o firmamentO, que está firme como espelho fundido?
19 Ensina-nos o que Lhe diremos: porque não poderemos pôr em boa ordem as nossas palavras, por causa das trevas.
20 Contar-Lhe-ia alguém o que tenho falado? Se um homem falar, seguramente será engolido.
21 E agora não se pode olhar para a resplendente luz que está nas nuvens; mas o vento passa, e as limpa.
22 O áureo esplendor (do bom tempo) vem do norte; pois, em Deus há uma tremenda majestade.
23 Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém não oprime (a ninguém) em juízo e em grandeza de justiça.
24 Por isso O temem os homens; Ele não respeita os que se julgam sábios de coração.

Capítulo 38
1 Depois disto o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo:
2 Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?
3 Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu Me ensinarás.
4 Onde estavas tu, quando Eu fundava a terra? Faze-Mo saber, se tens entendimento.
5 Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel -de- medir?
6 Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina,
7 Quando as estrelas do amanhecer juntas cantavam- retumbando- de- júbilo, e todos os filhos de Deus bradavam (de alegria triunfal)?
8 Ou quem encerrou o mar com portas, quando este rompeu como se tivesse saído da madre,
9 Quando Eu pus as nuvens por sua vestidura, e a densa escuridão por faixa umbilical,
10 E prescrevi para ele Meu decreto, e lhe pus ferrolhos e portas,
11 E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se parará o orgulho das tuas ondas?
12 Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada, ou mostraste ao alvorecer o seu lugar;
13 Para que pegasse nas extremidades da terra, e os ímpios fossem sacudidos dela;
14 E se transformasse como o barro sob o selo, e se pusessem como vestidos;
15 E dos ímpios é retida a sua luz, e o braço altivo seja quebrantado;
16 Ou entraste tu até às fontes do mar, ou passeaste em investigação do abismo?
17 Ou descobriram-se-te as portas da morte, ou viste as portas da sombra da morte?
18 Ou tens percebido a largura da terra? Faze-Mo saber, se sabes tudo isto.
19 Onde está o caminho onde mora a luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar;
20 Para que as tragas aos seus limites, e para que saibas as veredas para a sua casa?
21 De certo tu o sabes, porque já então eras nascido, e por ser grande o número dos teus dias!
22 Ou entraste tu até aos tesouros da neve, e viste os tesouros da saraiva,
23 Que Eu tenho reservado até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra?
24 Onde está o caminho em que se reparte a luz, a qual espalha o vento oriental sobre a terra?
25 Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos dos trovões,
26 Para chover sobre a terra, onde não nenhum homem, e no deserto, em que não homem;
27 Para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer os renovos da tenra grama?
28 A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do orvalho?
29 De que ventre procedeu o gelo? E quem gerou a geada do céu?
30 Como as águas são escondidas como que debaixo de pedra, e a superfície do abismo se congela.
31 Ou poderás tu atar as amarrações do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Orion?
32 Ou fazer aparecer as constelações a seus devidos tempos (no ano), e guiar a Ursa (Maior) com seus filhos?
33 Sabes tu as ordenanças do céU, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?
34 Ou podes levantar a tua voz até às nuvens, para que a abundância das águas te cubra?
35 Ou mandarás aos relâmpagos para que saiam, e te digam: Eis-nos aqui?
36 Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?
37 Quem numerará as nuvens com sabedoria? Ou os odres do céU, quem os porá abaixo,
38 Quando se funde o pó numa massa sólida, e se achegam- e- aderem os torrões uns aos outros?
39 Porventura caçarás tu presa para a leoa, ou saciarás a fome dos filhos dos leões,
40 Quando se agacham nos covis, e permanecem no mato fechado espreitando de emboscada?
41 Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando os seus filhotes gritam a Deus e andam vagueando, por não terem o que comer?

Capítulo 39
1 Sabes tu o tempo em que as cabras montesas têm filhos, ou marcastes quando as cervas dão suas crias?
2 Contarás os meses que cumprem, ou sabes o tempo do seu parto?
3 Quando se encurvam, produzem seus filhos, e lançam de si as suas dores.
4 Seus filhos enrijam, crescem com o trigo; saem, e nunca mais tornam para elas.
5 Quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as ataduras ao jumento bravo,
6 Ao qual dei o ermo por casa, e a terra salgada por morada?
7 Ri-se do ruído do tumulto da cidade; não atende aos muitos gritos do condutor.
8 A cadeia de montanhas é o seu pasto, e anda buscando atrás de tudo que está verde.
9 Ou, querer-te-á servir o unicórnio {*}? Ou pernoitará próximo de tua cocheira? {* Nota Nu 23:22}
10 Ou com corda amarrarás o unicórnio {*} no (trabalho de abrir o) sulco de arado? Ou escavará ele os vales após ti? {* Nota Nu 23:22}
11 Ou confiarás nele, por ser grande a sua força, ou deixarás a seu cargo o teu trabalho?
12 Ou fiarás dele que te torne o que semeaste e o recolha na tua eira?
13 A avestruz bate alegremente as suas asas, porém, são benignas as suas asas e penas?
14 Ela deixa os seus ovos na terra, e os aquenta no pó,
15 E se esquece de que algum pé os pode pisar, ou que os animais do campo os podem calcar.
16 Endurece-se para com seus filhos, como se não fossem seus; debalde é seu trabalho, mas ela está sem temor,
17 Porque Deus a privou de sabedoria, e não lhe deu entendimento.
18 A seu tempo se levanta ao alto; ri-se do cavalo, e de quem vai montado nele.
19 Ou darás tu força ao cavalo, ou revestirás o seu pescoço com crinas?
20 Ou o farás pular de medo, como ao gafanhoto? Terrível é o fogoso respirar das suas ventas.
21 Escarva no vale, e regozija na sua força, e sai ao encontro dos armados.
22 Ri-se do temor, e não se quebranta, e não torna atrás por causa da espada.
23 Contra ele rangem a aljava, o ferro flamejante da lança e do dardo.
24 Ele engole o chão com tremente ferocidade e trepidante violência, e não confia ele que este é o som da trombeta.
25 Em cada sonido da trombeta, diz: Avante! E de longe sente o cheiro da guerra, e o trovão dos capitães, e o alarido.
26 Ou voa o gavião pela tua inteligência, e estende as suas asas para o sul?
27 Ou bem alto se eleva a águia ao teu mandado, e põe no alto o seu ninho?
28 Nas penhas mora e habita; no cume das penhas, e nos lugares seguros.
29 Dali descobre a presa; seus olhos a contemplam de longe.
30 E seus filhos chupam o sangue, e onde mortos, ali está ela.

Capítulo 40
1 Respondeu mais o SENHOR a Jó, dizendo:
2 Porventura o contender contra o Todo-Poderoso te faz um repreendedor? Quem decide repreendendo assim a Deus, responda por isso.
3 Então Jó respondeu ao SENHOR, dizendo:
4 Eis que sou vil; que Te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.
5 Uma vez tenho falado, e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei.
6 Então o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo:
7 Cinge agora os teus lombos como homem; Eu te perguntarei, e tu Me explicarás.
8 Porventura também tornarás tu sem efeito o Meu juízo, ou tu Me condenarás, para te justificares?
9 Ou tens um braço como o de Deus, ou podes trovejar com voz como a dEle?
10 Orna-te, pois, de excelência e alteza; e veste-te de majestade e de glória.
11 Espalha tu longe os furores da tua ira, e atenta para todo o soberbo, e abate-o.
12 Olha para todo o soberbo, e humilha-o, e calca aos pés os ímpios no seu lugar.
13 Esconde-os juntamente no pó; ata-lhes os rostos em oculto.
14 Então também Eu a ti confessarei que a tua mão direita te poderá salvar.
15 Contempla tu, agora, o beemote, que Eu fiz contigo, que come capim como o boi.
16 Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder nos músculos do seu ventre.
17 Quando quer, move a sua cauda como uma árvore de cedro; os tendões das suas coxas estão entretecidos.
18 Os seus ossos são tão fortes como tubos de bronze; os seus ossos são como barras de ferro.
19 Ele é obra-prima dos caminhos de Deus; (somente) Aquele que o fez pode fazer a Sua espada se aproximar dele.
20 Em verdade os montes lhe produzem pastos, onde todos os animais do campo brincam.
21 Deita-se debaixo das árvores sombreadoras, no esconderijo das canas e dos pântanos.
22 As árvores sombreadoras o cobrem com sua sombra; os salgueiros do ribeiro o cercam.
23 Eis um rio transbordando, e ele não se apressa, confiando que possa sugar o Jordão para dentro de sua boca.
24 Podê-lo-iam porventura caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe perfurar através do nariz?

Capítulo 41
1 Poderás tirar com anzol o leviatã, ou farás assentar a sua língua com uma corda?
2 Podes pôr um gancho (de fibras de junco) para dentro do seu nariz, ou com um espinho furar através da sua queixada?
3 Porventura multiplicará as súplicas para contigo, ou brandamente te falará?
4 Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre?
5 Brincarás com ele, como se fora um passarinho, ou o prenderás para tuas jovens donzelas?
6 Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes?
7 Encherás a sua pele de farpas de ferro, ou a sua cabeça com arpões de pescadores?
8 Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja, e nunca mais tal intentarás.
9 Eis que é provada ser mentirosa a esperança de apanhá-lo; pois não será o homem derrubado só pela visão dele?
10 Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa se pôr de pé diante de Mim?
11 Quem chegou antes- e- diante de Mim, para que Eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo do inteiro céU é Meu.
12 Não me calarei a respeito dos seus membros, nem da sua grande força, nem da graça da sua compostura.
13 Quem descobrirá a face da sua roupa? Quem entrará a ele com suas rédeas duplas?
14 Quem abrirá as portas do seu rosto? Pois ao redor dos seus dentes está o terror.
15 As suas fortes escamas são o seu orgulho, cada uma fechada como com selo apertado.
16 Uma à outra se chega tão perto, que nem o ar passa por entre elas.
17 Umas às outras se ligam; tanto aderem entre si, que não se podem separar.
18 Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pálpebras do amanhecer.
19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela.
20 Das suas narinas procede fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande caldeira.
21 A sua respiração faz acender os carvões; e da sua boca sai chama.
22 No seu pescoço reside a força; diante dele até a tristeza salta de regozijo.
23 As lâminas (de músculo) da sua carne estão pegadas entre si; cada uma está firme nele, e nenhuma pode ser movida.
24 O seu coração é tão firme como uma pedra, tão firme como a mó de baixo.
25 Levantando-se ele, tremem os valentes; em razão dos seus abalos eles são purificados.
26 A espada de quem o alcançar não terá efeito, nem lança, dardo ou flecha.
27 Ele considera o ferro como palha, e o bronze como pau podre.
28 A seta o não fará fugir; as pedras das fundas se lhe tornam em restolho {*}. {* "Restolho" é cada tufo seco das folhas das plantas de trigo, que restou no campo depois das espigas serem cortados e colhidas, e da palha ser guardada em abrigo}
29 Dardos atirados são para ele como palha, e ri-se do brandir da lança;
30 Debaixo de si tem pedras pontiagudas; estende-se sobre coisas pontiagudas como na lama.
31 As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como uma vasilha de ungüento.
32 Após si deixa uma vereda luminosa; pensar-se-ia que o abismo foi tornado em brancura de cãs.
33 Na terra não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor.
34 Ele vê tudo que é alto; é rei sobre todos os filhos de animais altivos.

Capítulo 42
1 Então respondeu Jó ao SENHOR, dizendo:
2 Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos Teus propósitos pode ser impedido.
3 Quem é este, dizes Tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosas demais, e que eu não entendia.
4 Escuta-me, pois, e eu falarei; eu Te perguntarei, e Tu me ensinarás.
5 Com o ouvir dos meus ouvidos Te ouvi, mas agora Te vêem os meus olhos.
6 Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
7 Sucedeu que, depois do SENHOR ter falado aquelas palavras a Jó, então o SENHOR disse a Elifaz, o temanita: A Minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não falastes de Mim o que era reto, como o fez Meu servo Jó.
8 Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao Meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o Meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que Eu não vos trate conforme a vossa vil- loucura; porque vós não falastes de Mim o que era reto como o Meu servo Jó.
9 Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o SENHOR lhes dissera; e o SENHOR também aceitou a face de Jó.
10 E o SENHOR voltou atrás o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía.
11 Então vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram acerca de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e uma argola de ouro.
12 E assim abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas.
13 Também teve sete filhos e três filhas.
14 E chamou o nome da primeira Jemima, e o nome da segunda Quezia, e o nome da terceira Quéren-Hapuque.
15 E em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos.
16 E depois disto viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos, e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração.
17 Então morreu Jó, velho e pleno- satisfeito de dias.