POP
(Humberto Gessinger)
Que
Falta faz um Luciano do Valle no rock'n'roll nacional!! Só ele, misto
de empresário, técnico e jornalista poderia criar o masters
in Rio: festival de sacro rock.
Não é tarefa fácil.. Enquanto no mundo real, ficam cada
vez mais nubladas as fronteiras entre arte erudita e arte pop; e, até
mesmo (suprema heresia), entre arte e comércio; ainda há quem
ache que há santos à venda. Como se a indústria multinacional
do entreternimento fosse uma barraquinha de artesanato.
Claro, ainda há comportamentos wild na fachada do rock'n'roll. Mesmo
depois de Lennon ter gravado god (don´t believe in...).
As estrelas do Guns n' Roses (ótima banda) dão em todas entrevistas
a bandeira de que podem morrer de overdose antes do próximo disco.
Mas, na vida real, mandam pro espaço o baterista que tinha verdadeiros
problemas com drogas e adiantava um pouco os andamentos no show. Wild... muito
wild: para suicidas eles têm uma ótima estratégia de sobrevivência.
Steve Vai diz que ficou quatro dias sem comer (?) pra gravar um solo de seu
último disco. Wild.. muito wild. Mas deve ter se entupido de BigMacs
antes de bater as fotos dos anúncios das guitarras, amplificadores
e cordas que usa.
Por que será que a maioria das pessoas que escrevem sobre música
pop querem transformar o rock'n'roll em algo acadêmico? Será
pra pegar uma boquinha de reitor nessa universidade? Será o ranço
de censores sem poder de censura? Será que eles não sacam que
transformar o rock'n'roll em um nicho pseudo-erudito no meio da merda pop
é acabar com o que resta dele? Querem oficializar a trangressão?
fazer um calendário do imprevisível? Talvez o papa não
seja pop. Mas, certamente, os discos do Zeppelin não são a Bíblia.
Graças a Deus! São bons demais para serem levados tão
a sério. Se a vida ficar um tédio sem o muro entre o rock 'n'
roll e o pop, os intelectuais membros da Academia-de-Estudos-do-Verdadeiro-Rock'n'Roll
poderiam tentar aulas de português em algum Ciep.
Seria realmente Wild. Talvez demais.
PS.: O que transforma o Rock in Rio II em Pop in Rio não é a
seleção das bandas. É o logotipo da Coca-Cola. Neil Young
e New Kids on the Block sabem disso. Por vias opostas.
Humberto Gessinger - 1993 - Rio de Janeiro
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