Entrevista n. 4 Sobre movimento gay, justiça, crimes homofóbicos
1. Como secretário de Direitos Humanos
da Associação Brasileira de Gays,Lésbicas e Travestis,
quantas denúncias de discriminação a associação
recebe mensalmente e como elas são conduzidas?
Mott:A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas
e Travesti reúne mais de 60 grupos do Amazonas ao RS, existindo
desde 1995. A ASecretaria de Direitos Humanos da ABGLT é dirigida
por Luiz Mott, Professor de Antropologia da UFBa, responsável
pela publicação anual do Boletim "Violação
dos Direitos Humanos e Assassinatos de Homossexuais no Brasil".
Em 1998 foram documentados 120 casos graves de violação
dos DH dos homossexuais e 127 assassinatos. Com certeza este numero
deve ser muito maior na realidade, mas infelizmente, mais de 95% dos
homossexuais do Brasil ainda vivem na clandestinidade, não são
assumidos, e temem registrar queixa quando são vítimas
de discriminações.
2. Há casos de condenação
por discriminação a homossexuais? Onde e quando e qual
a pena?
Mott:A justiça no Brasil é muito lenta e pouco solidária
às minorias sociais, pobres e discriminados. As condenações
por racismo são raras. O Movimento Homossexual já conseguiu
algumas vitórias, como a retirada do ar de uma propaganda de
sapataria em Salvador cujo vendedor ameaçava um gay com um revólver,
ou o motel em Porto Alegre que não aceitou um casal gay e por
isso foi multado. No Brasil 76 municípios tem leis orgânicas
que proíbem a discriminação por "orientação
sexual". Em 5 cidades há multas contra a discriminação
anti-homossexual: Salvador, S.Paulo, RJ. Porto Alegre e Curitiba.
3. A que o senhor atribui a dificuldade da
população brasileira em aceitar, ou pelo menos respeitar
a homossexualidade?
Mott: O Brasil é o campeão mundial de assassinato de homossexuais:
a cada 3 dias um gays, lésbica ou travesti é barbaramente
assassinado, vítima do machismo e da homofobia - o ódio
à homossexualidade. Na raiz do preconceito homofóbico
infelizmente está a Bíblia, que mandava apedrejar a mulher
adúltera e os homossexuais. Hoje, importantes teólogos
católicos, protestantes e judeus, questionam a suposta condenação
bíblica à homossexualidade, argumentando que se o amor
entre dois homens ou duas mulheres fosse pecado tão grave, Jesus,
teria condenado, e o Filho de Deus não disse sequer uma palavra
contra os homossexuais. Ensinou o contrário: amai-vos uns aos
outros, sem excluir qualquer forma de amor.
4. De que forma os homossexuais e travestis
podem se defender de grupos que surgem em vários pontos do país
e que pregam a morte dos homossexuais?
Mott: Nos últimos anos, tem surgido alguns grupos e esquadrões
da morte contra os homossexuais. O Prof.Luiz Mott, em seu livro HOMOFOBIA;
VIOLACAO DOS DIREITOS HUMANOS DOS HOMOSSEXUAIS NO BRASIL, documentou
13 esquadrões anti-gay nos últimos 20 anos. Recentemente
um grupo de skins head de Bauru foram distribuiriam folhetos e cartazes
violentos contra os gays, este grupo está sendo investigado pela
Polícia Federal e se auto intitular Frente Anti-Caos, assinando
seus emails na internet com o pseudônimo de Janio Quadros. A forma
mais eficiente de defesa das minorias sexuais contra a violência
é denunciar: ir a delegacia, registrar queixa, exigir que o inquérito
seja encaminhado ao Fórum, mobilizar os parentes e amigos para
pressionarem nas audiências, ir aos jornais e rádios e
tvs denunciando. O Grupo Gay da Bahia e Secretaria de Direitos Humanos
da ABGLT disponibilizam seus endereços para receber tais denúncias
e colaborar na presto para que a justiça seja feita: enviar qualquer
denúncia para ggb@ggb.org.br ou para Caixa Postal 2552,Salvador,
Bahia. Luiz Mott costuma dizer que basta escrever no envelope o nome
Grupo Gay da Bahia, Salvador, que a carta chega, pois os carteiros todos
sabem onde é nossa sede e caixa postal.
5. A Justiça e a Polícia brasileiras
exercem realmente suas funções de proteção
às minorias sexuais?
Mott: Não. Infelizmente basta ser homossexual para que a polícia
trate a pessoa como suposto réu. No Rio a PM está recebendo
aulas de direitos humanos ministradas por homossexuais. Na Bahia o Comando
da Polícia recusa o convite do Grupo Gay para dialogar com os
policiais. Nos Estados Unidos, em S.Francisco, há delegacias
nas áreas gays, onde policiais masculinos e femininas são
gays e lésbicas, o que torna o trabalho policial mais eficiente.
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