Eu Pertenço a Você

Sinopse: Eles tinham o mesmo ideal; se amarem. Mas, as famílias proibiam essa junção de uma mera plebéia indomável com um rapaz educado e dono de uma fortuna milionária. Mas, nem mesmo o destino seria forte o suficiente para separar dois corações que pertenciam um ao outro, ou seria?

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 “Não quero mais me defender. Vencerei todos os obstáculos dentro de mim e dificuldades que passei por você...”

Ela assobiava uma simples canção de ninar bastante antiga enquanto, na pontinha dos pés descalços, os delicados dedos se enterrando entre a selva verde e bem cuidada que cobria todo o Vale de Wentworth, tentava alcançar as maças que estavam presas no alto da árvore.

A floresta era um perfeito cenário de beleza e natureza viva. As árvores balançando num ritmo tranqüilo em junção a brisa fresca e calma que vinha do norte. O sol que brilhava num céu límpido e sem nuvens parecendo uma bola de fogo resplandecente onde os calorosos raios de sol tentavam passar entre as frestas dos grossos galhos que se encontravam num belíssimo arco, formando um caminho de folhas verdejantes acima das cabeças das duas jovens que risonhas que carregavam uma enorme cesta.

- Não consigo alcançar mais nenhuma.  – Ginny falou, limpando o suor da testa com as costas da mão. O vestido cor-de-rosa já bastante velho e usado farfalhando entre suas longas pernas.

- O que você vai fazer então? – Luna perguntou à ruiva, colocando as mãos na cintura. Ao notar os olhos castanho-dourados fitarem-na num ar divertido, ela ergueu uma sobrancelha antes de exclamar: - Você não está pensando em escalar a árvore, não é mesmo?

- E por que não? Meus irmãos vivem fazendo isso. Parecem macacos, e não é difícil. – Ginny ergueu a cabeça e levando uma mão à testa para encobrir que os raios de sol não lhe atingissem os olhos, olhou para cima. – Nem é tão alto assim. É apenas subir naquela raiz e dar alguns pulos e pronto, teremos mais maças para a torta que minha mãe está preparando.

Luna olhou envolta bastante apreensiva. Os dedos longos e brancos se fechando num gesto nervoso envolta do tecido sujo de seu vestido azul que quase roçava na grama do campo. Os enormes olhos atentos a qualquer movimento      que viesse de trás de algum arbusto do outro lado do lago que balançava num movimento calmo.

- Já estamos roubando frutas das terras de outra pessoa, e você ainda quer correr o risco de quebrar o pescoço? – Ginny riu divertida com aquele comentário da amiga.

- Não irei morrer se é isso que está temendo minha querida Luna. Apenas uns arranhões, mas esse sacrifício irá nos poupar de ter que comer apenas os grãos de soja velhos que minha mãe consegue comprar no final da feira com o dinheiro que meu pai ganha vendendo e engraxando sapatos e meus irmãos que se ocupam em trabalhar como marceneiros.  Se conseguirmos encher pelo menos está cesta, poderemos comer mais alguma coisa que não seja sobras, e também... - Ginny suspirou, ainda olhando para cima e analisando qual seria o melhor modo de alcançar o topo da árvore para alcançar as belas maças que não iriam cair dos galhos com facilidade. – Sempre gostei de maças.

Luna girou as orbes, parecendo ainda mais tensa.

- Que belo discurso. Agora, será que podemos ir logo com isso. Sua mãe irá estranhar a nossa demora se não nos apressarmos.

- Mamãe acredita que fomos lavar as roupas sujas no riacho perto da estrada que leva a cidade. Nem passa pela cabeça dela que invadimos o território do Senhor Potter. Além do mais, o homem é tão rico que não sentira falta se arrancarmos algumas maças para uma simples torta.

- Se o seu plano fosse apenas para fazer uma torta, Ginny, já teríamos ido embora a um bom tempo.

Ginny lançou um olhar maroto para a loira que continuava olhando para todos os lados e tremendo de medo quando o vento assobiava ao pé de seu ouvido.

- Quantas já temos? – perguntou, lançando um olhar para a cestas que jazia no chão entre as duas.

- Dezoito. – Luna informou, desistindo de tentar ser racional e cansada, caminhou até a orla do lago e sentou-se no gramado. Erguendo a bainha do vestido, mergulhou os pés na água fresca até a altura dos tornozelos.

- Muito bem. – Ginny exclamou, animada. Esfregando uma mão na outra, antes de caminhar até a raiz da árvore com passadas firmes. – Pegarei mais umas cinco ou seis e vamos embora.

- Cuidado para não cair e quebrar alguma coisa. Seus pais não podem ter despesa alguma, ainda mais que agora estão correndo o risco de perder a casa. – Luna informou com ar sério, curvando-se para trás e apoiando-se nos braços, os olhos se perdendo na bela paisagem das folhas secas desgrudando dos galhos das árvores e caindo sobre a superfície da água. Já estava cansada de tentar colocar um pouco de senso na cabeça da garota que desde pequena era sua melhor amiga.

Ginny Weasley, quando colocava uma coisa dentro daquela pequena cabeçinha de fogo, ninguém era capaz de tirar. Ela própria duvidava que Deus conseguisse impedi-la de fazer algo que a ruiva estivesse firmemente disposta a conseguir.

- Fique tranqüila, eu sei que, se acabar quebrando alguma coisa não poderei contar com você para me ajudar. – Ginny retrucou zombeteira, pondo-se sobre a raiz grossa da árvore e começando a balançar os braços para cima e para baixo, tentando ganhar impulso.

- Claro! – Luna concordou enfática, balançando as pernas e fazendo ondulações se formarem além do lago. – Estarei ocupada demais rindo de sua humilde pessoa extrapolada no chão.

Ginny apenas fez uma careta engraçada e curvou os joelhos, antes de se lançar para cima.

Ela não conseguiu ter tempo suficiente para soltar um leve grito de encorajamento que brotou dentro de seu peito quando sentiu seu corpo sendo lançando para cima. Fechou os olhos e rezou para que não caísse logo na primeira tentativa e rolasse a vegetação um pouco inclinada, se não teria que agüentar Luna zumbindo em sua orelha como uma mosca impertinente lhe repreendendo e fazendo questão de frisar como estava certa e ela errada por ter tentado escalar uma árvore.

Mas, para sua surpresa Ginny sentiu suas mãos alcançarem algo áspero e grosso e agarrou-se aquilo. Seu corpo trombou levemente, como um solavanco que a impulsionou para frente e logo fez seu corpo retesar para trás. Assim, abrindo os olhos, se viu balançando como uma folha ao vento e agarrada ao galho.

- Consegui! – Exclamou animada e com um sorriso triunfante na face corada pelo calor. Luna virou a cabeça e fitou-a por cima dos ombros, a boca rosada entreaberta em espanto e surpresa.

- Depois são seus irmãos os macacos. – Comentou alegre, erguendo-se num pulo ágil e não se importando com os pedaços de grama que grudaram na sola de seu pé quando correu até a ruiva. – Muito bem, apóie seus pés nos meus ombros para ganhar mais força e conseguir pegar mais algumas maças.

Ginny riu e tentou se concentrar nas mãos que começavam a suar. Ela não podia escorregar agora que havia conseguido cumprir sua façanha logo na primeira tentativa.

- Não era a Senhorita que estava toda apreensiva e dizendo que eu não iria conseguir e agora está toda euforia por causa de algumas miseras maçãs. – Luna lhe mostrou a língua.

- Pare de tagalerar como uma gralha. Essas maçãs irão fazer uma grande diferença na nossa mesa hoje. Tanto no almoço como para o jantar.

- Até o fim desta semana. – Ginny fez o que a amiga disse e apoiou os pés em seus ombros magros. Suspirou aliviada quando conseguiu manter-se com mais equilíbrio e segurar com mais facilidade o galho. Ergueu uma mão e num tapa forte, bateu numa maçã, fazendo-a voar e cair no gramado como uma bola.

- Isso!  - Luna vibrou, quase se rendendo a vontade de dançar de alegria.

- Ei! – Ginny exclamou num tom mais alto do que pretendia causando a revolta de alguns passarinhos que levantaram vôo e piaram forte. - Pare de se sacudir, se não irei acabar caindo e levando você comigo. – Avisou, passando seus longos braços ao arredor do galho e abraçando-o quando quase tombou para trás.

- Desculpe. Mas a idéia de comer torta de maçã está sendo muito agradável.

- Graças a mim.

- Pare de ser metida e continue pegando as malditas maçãs antes que alguém apareça.

- Olha só que blasfêmia terrível. – Ginny provocou, continuando sua tarefa de bater nas frutas e fazendo-as cair no chão. - Luna, Luna, o que sua mãe diria se a ouvisse agora. – A loira jogou as belas madeixas brilhantes para trás num movimento de cabeça.

- Ela não está aqui me benzendo com a água benta que roubou da ultima missa e muito menos me obrigando a rezar terços que conseguiu arranjar com o Padre Dumbledore.

Ginny voltou a rir e esticou mais o corpo e o braço para tentar alcançar uma bela maçã que estava pendurada na ponta de um dos galhos ao alto de sua cabeça.

- Ora minha cara amiga, você sabe que o maior sonho de sua mãe é vê-la dizendo que irá se entregar completamente a Deus e entrar num convento.

Luna bufou começando a ficar irritada com aquele assunto. Por alguma razão, apenas a cogitação a respeito de sua mãe era o necessário para fazê-la fechar a cara.

- Claro que é o sonho dela. – Resmungou azeda. - Teria menos roupas para lavar, menos uma cama para fazer e uma boca a menos para alimentar. Seu sonho de vida pleno e tranqüilo.

- Isso não é verdade. Você sabe que sua mãe quer o melhor para você.

- E seria melhor ainda se fosse longe dela.

- Ela não tem culpa se teve uma filha rebelde. – Luna beliscou seu pé, fazendo Ginny cutucá-la e tentar se desvencilhar dos dedos da amiga.

Elas riram divertidas com aquela simples brincadeira. Mas quando Luna notou que a ruiva estava quase caindo, parou de beliscá-la no mesmo segundo e olhou para cima. Girou os olhos quando seus olhos se focaram na calcinha da amiga. Erguendo um braço, afastou a bainha do vestido de Ginny e tentou focar sua visão no semblante dela.

- Minha mãe culpa você por eu ser rebelde. – Ginny deu mais um tapa numa maçã.

- E ela também pensa que você é muito boba por se deixar influenciar com tanta facilidade.

- Nós duas nos conhecemos desde os cinco anos de idade!

- Quase dez anos. Farei quinze no próximo mês. O que vai me dar de presente? – Luna riu com aquela pergunta e voltou a olhar para o lago.

- Talvez uma torta de maçã. – Zombou, e estava prestes a comentar mais alguma coisa quando ouviu o som de patas de cavalos chocando-se com a terra. – Ginny vem vindo alguém, rápido, desça!

- Não dá! – Ginny exclamou num murmúrio abafado. Luna não conseguia vê-la com clareza, mas não podia se mexer se não faria à amiga cair e provavelmente acabar se machucando. Sentiu como a ruiva estava se remexendo de forma apreensiva.

- O que está acontecendo? – Engoliu em seco e sentiu medo da resposta que não demorou muito a vir junto com um resmungo exaltado:

- A manga do meu vestido ficou presa!

“Eu ouço sua voz e toda a escuridão desaparece. Toda vez que olho em seus olhos, você me faz te amar...”

- Você cavalga muito bem, Senhor Harry Potter. – Conde Black comentou com um tom bastante orgulhoso em sua voz rouca, enquanto seus olhos num tom de cobalto decaiam sobre o afilhado que sorria.

- Obrigado, padrinho. Devo isso ao Senhor. – Sirius balançou a cabeça, fazendo sua vasta cabeleira negra  cair sobre seus olhos.

- Esse ar selvagem está no famoso sangue Potter. Seu pai sempre foi muito bom em tudo o que fez. Cavalgar, duelar com uma espada, atirar, nadar...

- E conquistou a Lady mais linda de todo Vale de Wentworth! – Harry completou animado, parando seu imenso cavalo de pêlos negros na orla do lago. O belo animal curvou a cabeça e começou a beber um pouco de água.

O garanhão do padrinho, que era de um tom muito raro de castanho-dourado seguiu o mesmo gesto do outro.

Harry desmontou do cavalo num passar de pernas, firme e rápido. Sirius fez o mesmo e colocou-se ao lado do afilhado, uma de suas mãos pousadas sobre o ombro do rapaz.

- Sua mãe é realmente uma bela mulher, Harry. A mais bonita da temporada de verão quando eu e seu pai vínhamos passar as férias de verão aqui quando jovens. – Alargou os lábios num belo sorriso luminoso que alcançava seus olhos, parecendo bastante satisfeito com as lembranças que lhe embargavam na mente. - Espero que siga o mesmo gosto de seu pai, já que o deste velho homem aqui não pode ser considerado tão bom.

Harry encarou o padrinho e lhe lançou uma olhada zombeteira.

- Mas o Senhor não é casado. – Alegou, fazendo o homem jogar a cabeça para trás e soltar uma gostosa gargalhada.

- Por isso mesmo. Nunca consegui me satisfazer com uma única donzela. – Estufou o peito. - Sirius Black jamais pertencera a alguém. Sou homem demais para uma simples rapariga.

Fora a vez de Harry soltar uma alta risada. Dando a volta nos calcanhares, caminhou até a raiz grossa onde os galhos da enorme árvore faziam sombra no gramado e sentou-se, tentando recuperar o fôlego.

- Se meu pai o ouvisse agora diria que sua companhia é péssima influencia para mim. É o sonho de minha mãe ter um neto.

- Você é muito jovem ainda. Irá fazer dezesseis anos daqui a algumas semanas, e depois voltara para a escola na Alemanha. Muitos verões ainda o aguardam meu jovem, e lhe digo; aproveite-os, pois depois de se casar, você terá que ser um homem correto e direito. Seu pai não iria gostar nada de saber que o descendente direto da família Potter não é alguém de princípios. – Harry lançou um sorriso maroto para o padrinho que, com as mãos no bolso fitava o belo lago que banhava a grande vegetação do enorme campo.

- E o descendente direto da família Black? – Perguntou num tom de voz provocativo, fazendo Sirius suspirar.

- É um caso perdido. As Condessas o chamam de; O Cão. Mas na verdade... – Sirius fitou o afilhado e lhe enviou uma piscadela maliciosa. –... Eu gosto mesmo é de ser chamado de; O Predador.

Harry ergueu-se ao mesmo tempo em que se preparava para soltar uma nova risada, mas foi um barulho vindo acima de sua cabeça, entre os galhos da árvore como um farfalhar que o fez ter os ouvidos aguçados.

Franzindo o cenho, olhou para cima e espantou-se ao ter a visão de uma bela jovem ruiva que o fitava completamente atônita e tenebrosa.

- Harry? – Sirius o chamou. – O que foi?

Ele tentou achar a própria voz abrindo e fechado a boca algumas vezes, mas foi uma tarefa sem êxito algum e em vão. Estava completamente hipnotizado.

“E eu realmente te amo. Dentro e fora de mim. Como você me fez te amar. Mesmo com seus obstáculos e eu realmente te amo...”

- Quem é você? – Perguntou com a voz rouca, fazendo a jovem a sua frente que ainda tinha as mãos presas entre as suas, encolher os ombros, tímida. Ele notou que a manga de um lado do vestido velho e amarrotado caia por seu ombro, revelando mais do que devia a pele branca e macia.

- Eu... Eu...

Harry ergueu uma sobrancelha e olhou para as maçãs caídas ao pé da árvore.

- Você estava roubando essas maças das árvores que estão nas terras que pertencem ao meu pai?

Muito bem, ela fora descoberta e completamente desmascarada sem nenhum tipo de gentileza. O rapaz era realmente muito inteligente e astuto, isso mostrava que não era feito apenas de um rosto lindo, e de olhos verdes tão claros que chegavam a ser num tom brilhante de jade que ela havia visto apenas nas jóias que as Condessas e Donzelas usavam quando iam para bailes.

Ela jamais fora de se encolher ou de se mostrar acanhada. Mas, havia alguma coisa naquele porte forte do rapaz que a intimidade e... Por Deus! Suas pernas estavam realmente tremendo?

Vendo que a situação entre eles começava a se tornar constrangedora e o silencio deixavam-na parecendo ainda mais tola, Ginny ergueu o queixo e respondeu deliberadamente:

- Sim, eu estava roubando as maças. – Agora era apenas questão de fé e algumas preces feitas às pressas e de ultima hora para que ela não tivesse se metido numa encrenca.

“Eu pertenço a você, você pertence a mim. Sempre!”

- Isso jamais vai dar certo. – Ginny sussurrou alarmada, olhando para os lados e tentando enxergar alguma coisa além da escuridão que os rodeavam.

Harry segurava sua mão com firmeza, o calor de seus dedos servindo para deixá-la mais tranqüila e sentir-se segura.

Ele estava a levando para algum lugar bastante afastado das luzes fortes, da música alta que vinha da orquestra e de todo o glamour que enfeitava o salão de baile da mansão Potter.

- Harry eu tenho que voltar, os convidados irão sentir a sua falta daqui a pouco e...

- Desde quando você começou a ter medo, Virginia? – Harry a provocou, interrompendo-a de forma macia e sedutora, os olhos verdes brilhando na escuridão do enorme jardim pelo qual ele a arrastava quando virou a cabeça e olhou-a.

- Não estou com medo. – Defendeu-se pontualmente, parecendo ofendida e aceitando o desafio de ver quem iria desviar os olhos primeiro. Harry parou de andar pelos enormes jardins de sua casa e virou o corpo em direção a ela. Ginny sentiu algo se contorcer dentro de sua barriga. – Só estou sendo racional. – Comentou desdenhosa.

Harry deu um passo à frente, fazendo seu corpo se aproximar do dela mais do que devia. Ele sorriu provocante quando percebeu que ela iria recuar. Para impedir esse afastamento, fez com que um braço seu deslizasse por sua fina cintura e se posicionasse em suas costas.

- Eu não estava insinuando que você estivesse com medo do baile desta hoje, Virginia... - Seu nome sendo pronunciado daquela maneira tão quente fazia seu corpo intero se arrepiar como os pêlos atiçados de um gato arisco.

O esplendor da lua fazia com que uma parte da face de Harry ficasse na penumbra, enquanto ela estava completamente exposta ao luar platinado, fazendo-o ter uma visão gloriosa de sua face levemente corada.

- Então... Estava se referido a quê?

- A mim.

Harry inclinou a cabeça, seu nariz quase tocando o dela. Eles estavam perto demais, e Ginny percebeu que não estava opondo nenhuma resistência contra aquela aproximação. Parecia ser tão certo ficar ali, entre aqueles braços protetores. Tão perfeito. Era como se nada fosse capaz de atingi-la, e tudo o que queria era que pudesse ficar ali. Apenas daquela maneira, perto dele, sentindo a colônia cítrica que emanava de suas roupas caras e o aroma gostoso de sabonete que vinha daqueles cabelos negros e cumpridos demais para um garoto de dezesseis anos.

Mas, Ginny não se importava. Harry era simplesmente perfeito a seus olhos. Como um anjo que descera dos céus especialmente para ela. E jogando ao vento sua timidez, ergueu a mão delicadamente e tocou-o na face.

- Eu não tenho medo de você. – Respondeu num assopro baixinho.

Harry presenteou-lhe com um de seus belos sorrisos rápido. Luminoso e belo. Algo que era apenas para ela. Fazendo-a sentir-se especial e única.

- Então por que está tremendo? – Harry perguntou num mesmo timbre que o de Ginny, apenas um pouco mais arrastado.

- É o frio. – Ginny respondeu, sabendo que aquele tipo de resposta seria boba demais, mas Harry pareceu ficar bastante satisfeito com ela. Por alguma razão, ele tinha o dom de parecer saber o que se passava na cabeça dela. De desvendar suas respostas antes mesmo que ela as tenha dito. Aquele poder a assustava. Era um conhecimento mutuo entre os dois onde jamais havia acontecido com outra pessoa.

Ginny sabia que apenas um simples olhar daqueles irís verdes a fazia ficar perdida e abaixar completamente suas barreiras. Ficar vulnerável e a mercê dele. Para seu desespero, Harry parecia adorar isso. Simplesmente amava ter as artimanhas corretas e conseguir desvendar sua alma. De ver através dela.

- Você está com medo, Ginny. – Ele afirmou convicto. – Mas, não precisa. Eu jamais faria algo para magoá-la.

- Eu sei. – Ginny afirmou, fechando os olhos quando as mãos dele deslizaram por seu braço e se encaixaram na curva de seu pescoço.

- Eu amo você. – Ela abriu os olhos lentamente, e Harry notou que nos belos olhos âmbar não havia espanto e nem surpresa, apenas um sentimento sereno e amável.

- Eu sei disso também. – Ginny respondeu como um sorriso.

“Eu te desejo. E achei que você deveria saber que eu acredito. Você é o vento que me faz voar...”

A chuva caia sem piedade pelo campo verdejante do Vale de Wentworth. A mansão Potter estava coberta por uma densa neblina e o vento assoprava com ferocidade.

Ela corria sem se preocupar com aquilo. Agarrou a bainha de sua saia e fechou os olhos tentando conter as lágrimas que já lhe banhavam a face assim como as gotas impetuosas e geladas da tempestade.

A dor era latejante e Ginny tentava repeli-la com os soluços que dava solavancos fortes em seu peito.

Estava quase entrando dentro da floresta quando uma mão quente e forte lhe agarrou o braço.

- Me deixe, Potter. Me largue! – La berrou em plenos pulmões, tentando se soltar.

Harry apertou-a com mais força, trazendo-a para si num gesto impetuoso.

- Não irei soltar até que você me diga o que aconteceu! Eu preciso saber...

- Saber? – Ginny repetiu eufórica, tentando fazer com que sua voz soasse clara entre o som forte da chuva. – Você não tem que saber nada! Tudo já está muito claro para mim. Quero você muito longe de mim, Potter. E a partir de hoje você ficara apenas no meu esquecimento. Pessoas como você eu não preciso perder o tempo recordando, pois serão recordações que me trarão apenas sofrimento.

Ele estava completamente molhado, mas as roupas pessoas que vestia o protegiam completamente do frio, diferente de Ginny que tremia incontrolavelmente, o vestido rasgado e molhado causando-lhe ainda mais calafrios ao longo da pele gelada.

- Pare de ser tola. – Harry exclamou, parecendo furioso. – Não irei permitir que você me descarte dessa maneira. Eu quero saber o que está acontecendo, e quero essa informação agora, se não iremos os dois morrer aqui congelados.

- Você já é uma pessoa sem sentimentos e frívola demais para que a sua temperatura abaixe ainda mais, Potter.

- Pare de me chamar de Potter! – Harry a chacoalhou.

- Como deseja que eu o chame meu Senhor? Você, que é descendente direto e logo será o dono dessas terras. – Ela tentava controlar, mas as lágrimas escorriam por seu rosto de maneira livre. Ginny se esforçava para não atropelar as palavras pela raiva que sentia. - Eu sou apenas uma garota vinda de uma família pobre que não sabe descrever qual é a sensação de ter uma cama descente e com lençóis que não estejam furados ou corroídos sob seu corpo, ou como é o sabor de um vinho. – Balançou a cabeça, atordoada. -Como você Harry, que não sabe como é acordar antes do sol nascer no horizonte para que possa correr até a cidade e tente conseguir uma pequena garrafa de leite, pois este será o seu café da manhã, com sorte, o seu almoço.

Aquelas palavras o feriram mais do que demonstrou, mas não precisava tentar esconder o que sentias para Ginny. Ela podia ler, claramente em seus olhos, que estava sofrendo.

- O que aconteceu? – Perguntou, tentando controlar a vontade de chacoalhá-la com força para que abrisse os olhos e não se rebaixasse daquela maneira. Onde estava a jovem forte, determinada e carinhosa por qual se apaixonara?

- Você... - Ginny começou. Conseguindo se soltar das mãos de Harry e ficando de costas para ele. Tampou o rosto com as mãos e ignorou o calor que serpenteou o seu corpo quando ele a abraçou por trás. – Você me prometeu que jamais iria me magoar, Harry.

- O que foi que eu fiz? – Ele voltou a perguntar, o punhal que ela cravara em seu peito afundando ainda mais dentro de si. Ferindo-o. Fazendo-o sangrar.

- Por que não me disse que vai se casar? Eu sabia que o nosso romance jamais iria sair dessas terras, mas... Eu nunca pensei que você pudesse me enganar dessa maneira. Mentir para mim tão descaradamente enquanto olhava dentro de meus olhos e dizia que me amava. – Ela afastou-se novamente e virando o corpo, fitou-o com uma raiva que o fez perder completamente o ar. – Você é o ser mais hipócrita e nojento que eu tive a infelicidade de conhecer e...  E amar.

“Tenho caminhado pensativa e notei que você é minha fantasia. Para a solidão num deserto árido, você é minha brisa suave. No ritmo da sua paixão agora eu vivo e eu nunca deixarei você ir. O amor passou por mim e eu o agarrei...

- Por favor, acredite em mim. – Ele pediu, quase implorando enquanto segurava as mãos dela com força entre as suas, e beijava-lhe os dedos.

- Eu não sei Harry. Isso... – Insinuou com a cabeça os dois. – Já está indo longe demais.

- Tudo vale à pena quando se há uma razão para lutar. – Recitou com firmeza, fitando-a com mais intensidade. - Acredita em mim?

“Você me completa. Nas ondas desse momento, eu posso te sentir em minha alma, profundo como o oceano. Por você eu venci o medo que sentia. Eu não precisei dizer nada, pois o calor dessas palavras não ditas foram o suficiente...”

- Onde ela está? – Harry berrou, batendo os punhos com força na escrivaninha e encarando o pai com firmeza.

James notou naquele momento que não estava lidando com um jovem de dezesseis anos, mas sim com um homem, e sentiu-se orgulhoso por aquela demonstração de coragem vinda de seu filho.

- Está a quilômetros de distancia daqui, filho. E não há nada que você possa fazer. – Tirando de dentro de uma gaveta, estendeu a Harry um envelope. – Mas, ela me pediu para lhe entregar isso. É uma carta de adeus.

“Lembra-se da vez que eu disse que tinha medo de nadar e você me ensinou, me obrigando a pular daquele rochedo dizendo que jamais iria me largar? Ou da vez em que sentamos naquela árvore em que você me viu pela primeira vez e me ajudou a ler? Eu não disse isso, Harry, mas... Você não foi simplesmente o meu primeiro e grande amor. Você foi um professor para mim. Uma pessoa maravilhosa que me ajudou a ser alguém melhor. E é por isso e outras razões que eu apenas digo; Muito obrigada por existir.

Não pude dormir na noite passada porque sei que terminou. Sem ressentimentos, pois sei que realmente nos amamos. Se no futuro, voltarmos a nos encontrar em algum lugar... Vou sorrir alegre pra você e lembrar... Como passamos um verão sob as árvores... Aprendendo um com o outro e nos amando.

Eu não fico triste por isso. Apenas sinto muito por não ter te conhecido a alguns verões atrás e não ter te amado antes. Talvez se eu viesse de uma família descente as coisas seriam mais fácies, mas eu não venho de uma linhagem importante, meu querido. Em um aspecto obtive sucesso e foi em amar alguém com todo o meu coração e minha alma e isto basta para mim.

Mas o nosso amor é um romance improvável. Você tem o Mundo aos seus pés e eu não tenho nenhum centavo, mas mesmo assim, por ironia da vida...

Você pertence a mim e eu pertenço a você.

Romances de verão terminam por diversas razões. Mas, geralmente, eles têm uma coisa em comum. São como estrelas cadentes. Um fantástico momento de brilho nos céus. Um fugas relance de eternidade. E no instante seguinte, desaparecem.

Por trás de um grande amor existe uma grande história Harry, e o melhor amor é aquele que acorda a alma e nos faz com que avancemos; Aquele que planta um fogo em nosso coração e trás paz a nossa mente; E foi o que você me deu; E é o que eu espero ter dado a você para sempre.
Nós nos veremos.

Com amor,

Ginny Weasley.”