Dama
Albergas em ti o mundo num sonho
E a voz da vida, inigualável de Portugal!
Matas a angústia do universo medonho,
Espalhada por esse mundo nosso sem igual!
És o expoente máximo da nossa saudade,
Amor traído em matutino alvorecer.
Cantas em cada canto a nossa verdade
Que em ti nunca o acreditar se fez querer...
És o gomo mais doce do nosso citrino,
Que em altos pomares se viu aflorar.
Escondes no teu olhar, gelado, matutino,
O gume da faca com que nos queres matar!
És a letra mais carregada de presença
Que num velho livro guarda a nossa vida,
Esperando a cada página a recompensa
De um olhar mais pálido que a tua partida!
A ti te escolho, dama da honra mais escura,
Para pregar pelos altares que tenho pisado.
Acolhe-me a alma que, ligada a ti perdura,
Num infinito sonho que jamais é alcançado!