O lago

 

Hoje eu me perdoo.

Da raiva que em mim guardo

Neste grande lago

E fundo

Tão largo como o mundo,

Imundo,

Sem fundo,

Feito de maldade,

Sem margem...

À margem da sociedade.

De betão não é a barragem...

É de falsidade

O cimento, cinzento

Ciumento,

É verdade.

Por lá não passa água

Só mágoa,

Saudade,

Tristeza,

Sem pureza

De se notar.

É difícil de aguentar

Sem que tenha de explodir

Sem que tenha de chorar

Gritar, enlouquecer...

Mas não sei o que mais faz doer.

Não sei o que realmente me vai ferir.

Vou guardá-lo,

Vou aguentar

E de novo me vou perdoar,

Para que não venha a magoá-lo.