Solidão, minha vizinha

Tenho a Solidão como vizinha,

Que vem de vez em quando

Tocar-me à campainha.

"Não fiques tão só."

- Vem-me ela avisando -

"Tal solidão mete-me dó!"

Abro-lhe a porta, chorando,

E lhe peço que se vá.

"Tão triste que eu ando

Ai o amor! A quanto ele obriga!

Coisa mais triste não há,

Solidão, minha amiga!"

 

Ela entra sem permissão!

E abraça-me e me escuta.

E solta o meu coração

E diz, durante um abraço,

"Ah! Solidão, filha da puta!"

E choro então no seu regaço!

 

E nesse dia mil lágrimas soltei,

Lancei dos meus olhos, com suavidade.

E a ela mesma eu avisei,

"Não te culpes pela briga

Que tenho com a Felicidade.

Vai-te agora, Solidão, minha amiga."