Que arrumação é essa? Não derrubes esta árvore! Não vês que morrerei se, com tuas violentas machadadas, tombares esta linda samaumeira? Não sabes que ela e suas moradas já estão aqui há muitos e muitos anos? Séculos!?

Sua raiz está submersa na crosta terrestre e se espalha por raios de quilômetros, encontrando vários ramos de outras raízes, formando uma grande rede entrelaçada; uma corrente com as outras árvores. Se seguires em frente, inconscientemente estarás contribuindo, infeliz e burramente, para um futuro deserto.

Sou uma rara orquídea que vive na copa desta gigantesca e linda árvore. Vivo aqui, pois preciso da luz intensa do sol para seguir viçosa a minha sina. Nenhum homem ainda teve a chance de contemplar-me. Mesmo assim, desabrocho; minha vida tem um significado singular. Não me sinto só; sou parte da grande conspiração universal. Oh, quantos milhões de seres tu salvarás se não derrubares minha morada! E, a longo prazo, tu e teus filhos e netos.

Vai. Leva teu machado; pensa na clorofila, no ar puro do qual necessitamos. Está melhor agora; a samaumeira agradece. E eu, daqui de cima, emito minhas ondas, que são mensagens para os homens de machados nas mãos.

Vida longa aos trovadores da floresta!

O discurso de uma orquídea, por Elon Mota (ilustração por Virgílio).