São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009
Salvador
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A dança das cadeiras
Enquanto na tela da TV o que menos se vê é mudança no que se
refere ao padrão chinfrim da qualidade daquilo que o telespectador que não tem
TV a cabo tem para assistir, nos bastidores das emissoras é tempo de redemoinhos
e tornados em torno de contratos de muitos cifrões. Embora a Rede Globo não
fique nem um pouco contente com as mordiscadas que vez ou outra a concorrência
lhe aplica, mesmo com clonagens como A Fazenda, a guerra feia trava-se
mesmo é entre Sílvio Santos e Edir Macedo, os dois homens do baú da felicidade
na terra brasilis.
Enquanto o primeiro vende carnês-passaporte para geladeiras, roletas e aparições
em programas de auditório do SBT, o segundo dá garantias aos seus fiéis
telespectadores de que o baú do dízimo garantirá, para já, a ascensão ao mundo
dos bem sucedidos. O caminho mais curto para o sucesso financeiro é contribuir
com aquilo que cada um acha que sua felicidade vale, doando a quantia a um dos
obreiros do templo mais próximo da Igreja Universal do Reino de Deus, IURD para
os íntimos.
DINHEIRO DOS OUTROS
- Nas primeiras semanas de junho, os sitess e publicações que não se importam com
fatos como queda de Air Bus, crise financeira, escândalos do Senado e muito
menos eleições no Irã, gritavam que a Record, a sucursal eletrônica do bispo
Macedo, está oferecendo nada menos que um salário de três milhões de reais a
Gugu Liberato, aquele primor de qualidade televisiva, para que este deixe o SBT.
Fula da vida, a família Santos, incluindo as filhas de Abravanel que hoje apitam
juntamente com o pai no SBT, correram para seus respectivos blogs espalhando
insinuações maldosas contra a emissora concorrente. Afirmaram que fazer
propostas salariais milionárias e irreais é fácil quando se pode fazer isso com
o dinheiro dos outros. Para meio entendedor, meia palavra basta. Referiam-se ao
dízimo da IURD.
Mas como veneno não vende anúncio publicitário nos intervalos comerciais da
grade televisiva, o SBT não se limitou às notinhas das herdeiras e partiu para o
contra-ataque no campo da gestão. Reagiu imediatamente e não só insinuou que, se
quisesse, poderia cobrir o salário oferecido a Gugu, como tratou de fazer algo
concreto. Em uma semana anunciou a contratação de Roberto Justus e Eliana, aos
quais ofereceu propostas salariais irrecusáveis, diz-se. O que o telespectador
ganha com isso, quem souber morre.
PIMPÃO CAPILAR
– Quem não há de achar engraçado ver a empáfia patológica e neo-liberal de
Justus, com sua arrogância e aquele pimpão capilar irretocável à custa de
pomadas importadas e chapinhas, abrigada na estética do SBT? Do mesmo modo, não
dá para não perceber que a jornalista Ana Paula Padrão cada vez mais desempina o
nariz que ostentava nos tempos globais. Quando era a imperatriz do Jornal da
Globo e saiu para uma passagem fracassada no SBT, disse, mais de uma vez,
que considerava o Jornal Nacional um dos telejornais mais burocráticos e
sem personalidade da TV brasileira, com a intenção de desmentir com arrogância a
tese de que saía da Globo pelo fato de não conseguir tomar o lugar da dupla
Bonner-Fátima no telejornal mais visto do país.
Quem te viu, quem te vê. Difícil imaginar um telejornal com personalidade,
criatividade e frescor quando se sabe que Ana Paula vai dividir o estúdio com
Celso Freitas, cujo estilo está mais para almanaque do telejornalismo brasileiro
do que para qualquer coisa parecida com arrojo. Como não imaginar o tom
aristocrático de Mrs. Padrão em um work shop da Record, conduzido pelo próprio
bispo Edir Macedo, com a presença de todas as estrelas do jornalismo da casa,
como aconteceu no início deste mês, quando o chefão explicava a importância do
dízimo e da contribuição de todos para o sucesso profissional pessoal de cada um
e da emissora, cuja meta é a conquista da liderança da audiência sobre a Globo?
Sobre a ida para a Record, Ana Paula tem a resposta na ponta da língua: “voltei
porque o mercado pediu”. Ah tá. O mercado agora mudou de nome.
FOGUEIRA
- De concreto mesmo, só mais e mais assombbros decorrentes da nova ordem mundial.
No mesmo dia em que se lia em sites e sites que o genial Gugu Liberato iria
ganhar, por baixo, três milhões de reais para fazer um programa na Record, se
assistia na TV, em Salvador, um pobre coitado que mal sabia falar sendo algemado
e levado para a cadeia por vender fogueiras na Paralela, enquadrado pela Polícia
Ambiental por crime de devastação ambiental, como se sabe um crime hoje mais
grave que assassinato.
Também no mesmo dia, aquele par de bochechas flácidas com uma língua saliventa
exposta no meio e que atende pelo nome de Heráclito Fortes (senador pelo Piauí),
recém saído de uma cirurgia bariátrica, anunciava na TV que, enfim, a primeira
medida moralizadora diante da crise do Senado havia sido tomada. Dois diretores
da casa, responsáveis por parte dos tais atos que nomearam secretamente centenas
de apadrinhados, foram demitidos. Para substituí-los e moralizar a coisa, foram
nomeados ninguém menos que a ex-chefe de Gabinete da ex-senadora dodói e agora
governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e um primo do próprio Fortes. Durma-se
num país destes.
maluzes@gmail.com
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Malu Fontes
é
jornalista, doutora em Comunicação e Cultura, professora da
Facom-UFBA
e colunista do Jornal A Tarde, de Salvador, na Bahia.
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MURAL DE
RECADOS DO MPR
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