Colóquio
-Poesia inspirada no Cântico dos Cânticos-
 
 
 
Enquanto apascentas o teu rebanho,
dando-lhe alimento com conhecimento,
faço derramar-se o consolo,
para a mulher que anula seu sentimento.
Sinto por elas grande piedade,
quero que exultem em formosa claridade.
 
Brilhas na tribuna, esposo meu,
enquanto trabalho com candura,
no recesso do canto meu.
No suave repouso do meio-dia,
digo-te que boas colheitas conseguirás
e tu me dizes que o teu canto me dedicarás.
 
Quantos prantos engolidos,
quantos lábios inchados e doloridos,
pelo ódio mordidos!
Quantas mulheres acabadas,
para o isolamento voltadas,
sentindo-se vilipendiadas.
 
Tu me amas, esposo meu
e me dás o cetro do coração teu.
Com carinho me dizes:
-Leves vida às cabanas dos pastores,
mostra-lhes nos campos esplendores,
aponta-lhes do amor incontáveis matizes.
 
E eu te digo:
-Vás às tendas das mulheres,
mostra-lhes que devem ser felizes,
nos campos da sobriedade,
mas não sem sensualidade,
rogos masculinos não são deslizes.
 
Que se encantem sob os álamos,
espargindo bálsamos,
adornando suas colunas com flores,
fartando-se de divinos licores,
longe dos faraós devassos,
sob o cantar de alegres sanhaços.
 
Nos campos de Engadi estão ramalhetes de mirra,
divãs de relva, perfumes de intacta selva,
vamos, amado meu, unamo-nos aos pássaros,
deitemos em organzas diáfanas,
exultemos livres de ácaros.
 
 
Maria Nilceia