Quando as fêmeas
que haviam estado ausentes retornavam, o Macho-líder da ilha, Pretume,
corria enlouquecido atrás delas, precisava cobri-las e assegurar
seu domínio sobre elas. Ele era o único que procriava e tratava
os demais machos com violência. Expulsava-os da casinha e não
permitia que se aproximassem muito dele ou das suas fêmeas. Se não,
dava uma correria daquelas: Pretume saía atrás deles batendo
os dentes e ameaçando-os. Mas nunca os machucava de verdade, pois
eles nunca o enfrentavam, sabiam que era o líder e tinham medo dele.
Entretanto, não
aconteceu o mesmo quando levei Miguelito, um macho adulto que havia crescido
sozinho e não reconhecia Pretume como superior. Ao mesmo tempo,
Pretume não permitiria que outro macho simplesmente tomasse seu
lugar sem mais nem menos. O resultado foi inevitável: os dois se
engalfinharam numa briga terrível para ambos os animais. Quando
vi que nunca seriam “amigos”, tive que separá-los e levar Miguelito
de volta para minha casa. Estava todo sujo de sangue devido às dolorosas
dentadas inferidas por Pretume. Após esse episódio,
aprendi a lição e nunca mais introduzi nenhum macho adulto
estranho na ilha.
Fora pequenos incidentes
como esse, os porquinhos viveram felizes na ilha por muito tempo, até
que algo horrível aconteceu: uma seca matou o capinzal e os animais,
sem o capim para protegê-los, ficaram demasiado expostos ao sol,
e os que possuíam orelhas brancas ( sem melanina ) acabaram por
desenvolver câncer de pele nesse local, uma vez que a orelha não
possui uma cobertura de pêlos suficiente para protegê-la dos
raios solares.
Com medo e pena dos
animais, trouxe todos os porquinhos saudáveis para minha casa. Os
doentes soltei no mato do meu sítio, pois câncer não
tem cura e eu não queria sacrificá-los, assim soltei-os para
que ao menos desfrutassem de seus últimos dias em liberdade.
Apesar desse infortúnio,
criar porquinhos na ilha foi uma experiência maravilhosa. Muito do
que hoje sei sobre seus comportamentos aprendi observando-os lá.
A ilha foi por três anos o paraíso dos porquinhos-da-índia. |