A ILHA DOS PORQUINHOS

 
  Uma pequena ilha, um grande paraíso. Porquinhos viviam lá; livres, felizes, quase selvagens.

  Por durante alguns anos vivenciei uma experiência inigualável: criar porquinhos-da-índia em estado semi-selvagem. Tudo começou quando soltei cinco animais ( um macho e quatro fêmeas ) numa pequena ilha do meu sítio. Providenciei-lhes uma casinha para esconderijo e levava-lhes ração todo fim-de-semana. Alimentavam-se do capinzal alto existente lá e bebiam água do açude.

  Deixados por conta própria, logo todas as fêmeas estavam grávidas. Quando os filhotes nasceram, no entanto, mal cheguei a vê-los: haviam sido predados por um gavião, conforme relato do caseiro de meu sítio, que descreveu a grande ave dando rasantes na ilha e carregando consigo os pequeninos filhotes para longe em suas fortes garras.

  Para resolver o problema, transformei a minha casa numa espécie de maternidade: trazia para casa as fêmeas em fins de gravidez a fim de assegurar a sobrevivência da cria. Após dois meses, devolvia a mãe e seus filhotes à ilha. Em pouco tempo, a população da ilha aumentou para dezessete animais.
  Quando as fêmeas que haviam estado ausentes retornavam, o Macho-líder da ilha, Pretume, corria enlouquecido atrás delas, precisava cobri-las e assegurar seu domínio sobre elas. Ele era o único que procriava e tratava os demais machos com violência. Expulsava-os da casinha e não permitia que se aproximassem muito dele ou das suas fêmeas. Se não, dava uma correria daquelas: Pretume saía atrás deles batendo os dentes e ameaçando-os. Mas nunca os machucava de verdade, pois eles nunca o enfrentavam, sabiam que era o líder e tinham medo dele.

  Entretanto, não aconteceu o mesmo quando levei Miguelito, um macho adulto que havia crescido sozinho e não reconhecia Pretume como superior. Ao mesmo tempo, Pretume não permitiria que outro macho simplesmente tomasse seu lugar sem mais nem menos. O resultado foi inevitável: os dois se engalfinharam numa briga terrível para ambos os animais. Quando vi que nunca seriam “amigos”, tive que separá-los e levar Miguelito de volta para minha casa. Estava todo sujo de sangue devido às dolorosas dentadas inferidas por Pretume.  Após esse episódio, aprendi a lição e nunca mais introduzi nenhum macho adulto estranho na ilha.

  Fora pequenos incidentes como esse, os porquinhos viveram felizes na ilha por muito tempo, até que algo horrível aconteceu: uma seca matou o capinzal e os animais, sem o capim para protegê-los, ficaram demasiado expostos ao sol, e os que possuíam orelhas brancas ( sem melanina ) acabaram por desenvolver câncer de pele nesse local, uma vez que a orelha não possui uma cobertura de pêlos suficiente para protegê-la dos raios solares.

  Com medo e pena dos animais, trouxe todos os porquinhos saudáveis para minha casa. Os doentes soltei no mato do meu sítio, pois câncer não tem cura e eu não queria sacrificá-los, assim soltei-os para que ao menos  desfrutassem de seus últimos dias em liberdade.

  Apesar desse infortúnio, criar porquinhos na ilha foi uma experiência maravilhosa. Muito do que hoje sei sobre seus comportamentos aprendi observando-os lá. A ilha foi por três anos o paraíso dos porquinhos-da-índia.

 

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