2.- CPRM - Recife

 

 

2.1.- HOMEM NA LUA

 

Esta ocorreu poucos meses após o homem ter chegado pela primeira vez na lua.

O tamanho do mundo na cabeça de cada pessoa, depende do nível de civilização, do grau de instrução, da cultura e do nível de conhecimento geográfico. Esta história mostra isto claramente.

Os geólogos da CPRM realizavam levantamentos radio métricos auto-portados na bacia do Meio-Norte. Carlos Alberto e Ernesto trabalhavam no interior do Piauí num projeto de tal gênero. Contrataram um caboclo local como guia de campo. Os três iam ao jipe, mantendo um papo animado. Os comentários dos geólogos versavam sobre a chegada do homem a lua.

- Que avanço tecnológico, hem Carlinhos?

- Realmente, o homem na lua agora é um fato incontestável graças a tremenda evolução da ciência!

O caboclo fazia cara de incrédulo.

- Doutor, isto é verdade mesmo? Eu acho impossível!

O guia mostrava-se sem condição de entender e sem condição de aceitar, repetindo que não acreditava.

Foi quando os dois geólogos passaram a apresentar argumentos e mais argumentos que por fim convenceram o guia. Daí ele exclamou:

- Esses pernambucanos são uns arretados!

 

 

2.2.- IDENTIFICAÇÃO DO CARRO

 

O geólogo Anadir, apelidado de Colega Anadir em função de frequentemente designar todo mundo de colega, trabalhava na CPRM no Recife onde sempre desfrutou de prestigio como pai de família muito bem casado. No entanto, sua voz naturalmente afetada às vezes causava alguma duvida, mas somente para quem não o conhecia.

De certa feita ele, ao telefone, tentava informar ao seu interlocutor a designação da placa de seu carro. Não estava havendo entendimento por quem tentava ouvir sobre as letras que precediam os números da placa do carro. Após diversas tentativas infrutíferas, o Colega Anadir, já impaciente e irritado, o que fez sua voz ficar mais fina e estridente, esclareceu:

- M de mamãe e P de papai!

 

 

2.3.- TRAJE A RIGOR

 

Logo no inicio da criação da CPRM, o Agente do Recife era o Carlos Eugênio, que além de ser excelente administrador, tinha o habito de muito bem receber os visitantes.

Certa feita, como estava prevista a chegada no aeroporto de importante personalidade que visitaria a CPRM, Eugênio convocou o motorista  de nome Deda e deu-lhe instruções detalhadas de como deveria proceder para fazer a recepção no aeroporto.

De volta da missão o Deda apresentou-se ao agente e falou:

- O doutor Paletó não veio no vôo previsto!

Foi quando Carlos Eugênio, num misto de irritação e riso, disse:

- Era para ir de paletó e não procurar o doutor Paletó!

 

 

2.4.- DEUS ESTÁ ACIMA DOS DECRETOS DE DELFIM

 

Ebenezer, com seu espírito brincalhão, estava sempre alegre, contando piadas e gozando os colegas  que faziam pôr onde. No entanto, em se tratando de religião, como “crente” de  pai e mãe, destacava-se dos demais irmãos de fé da CPRM  pela obediência  cega aos preceitos da igreja. Certa ocasião, em visita a Residência de Fortaleza, Alfeu, provocando Ebenezer sobre o assunto, comentou:

-         Ebenezer, tu te queixas de que estás ganhando pouco, no entanto todo mês tu dás à igreja 10% do que ganhas. Tu não achas que é demais? Ebenezer então respondeu:

-         Acho não. Dou com convicção e satisfação da alma. Mas Alfeu prosseguiu na provocação:

-         Mas agora tu vais passar a ganhar ainda menos, com o Decreto do Ministro da Fazenda (Delfim Neto), aumentando o desconto do imposto de renda. Diz-me uma cousa, tu descontas os 10% do bruto ou sobre o líquido? Aí Ebenezer respondeu:

-         Claro que é sobre o bruto. Deus está acima dos decretos de Delfim.

 

   

2.5.- A VAQUINHA DE JUVENAL

 

No final da década de l970, a CPRM desenvolveu um projeto de mapeamento geológico da extensa bacia sedimentar do Parnaíba. Entre os mais de vinte geólogos que atuavam no projeto, os novatos que constituíam a maioria, logo discriminaram os antigos como o grupo dos precambrianos. No time dos precambrianos destacava-se pôr sua espiritualidade Juvenal, também conhecido pôr Hidrogênio. Como havia alguma dificuldade na individualização de mais de uma dezena de formações que compunham a coluna estratigráfica da bacia, Hidrogênio idealizou um método infalível de identificação no campo da maioria das unidades, que logo passou a ser conhecido como “a vaquinha de Juvenal”.

O método consistia em soltar uma vaquinha treinada nos afloramentos duvidosos:

-         se a vaca pastasse com satisfação, era Formação Pastos Bons;

-         se abanasse o rabo, era Formação Motuca;

-         se balançasse a cabeça furiosamente, era Formação Mosquito;

-         se sapateasse no afloramento, era Formação Pedra de Fogo;

-         se a vaca espirrasse, era Formação Pimenteiras;

-         se a vaca permanecesse no local pôr longo tempo, era Formação Corda;

-         se a vaca se desinteressasse pelo alimento, era Formação Sardinha;

-         se a vaca levantasse a cabeça, obviamente, era a Formação Cabeças;

-         se a vaca dançasse, era Formação Sambaíba;

-         e, se a vaca abostejasse no afloramento, com certeza, era Formação Piaui.

 

   

2.6.- MUNDO CÃO

 

O Projeto Sudeste do Piauí, de mapeamento geológico, foi dos primeiros a ser executado, logo após a criação da CPRM. Reuniu em São Raimundo Nonato-PI, uma turma de geólogos, na maioria novata. A cidade não tinha água potável nem para beber, de modo que o chefe do projeto escalava uma dupla, todo fim de semana, para buscar água em um açude particular, situado a cerca de 20 quilômetros. Determinado sábado à tarde, chegou a vez de Idio, que juntamente com Grazia, saíram com a pipa rebocada pelo jipe para apanhar água. Após encherem a pipa e tomarem banho no local, já anoitecendo, estavam retornando quando lhes foi solicitado um bigu (*). Idio, então, acomodou a velha, Da. Maria, um rapaz de nome Severino, mais um molecote no banco de trás e colocou Zefinha, jovem e bonita, junto à palanca das marchas, entre ele e Grazia. Logo a noite tornou-se escura e a mão boba de Idio corria solta pôr entre as pernas da moça. Lá pelas tantas, com voz quase sumida, a cabocla perguntou:

-         “ ocê tá bulindo cum eu, Biu ?

-         “Oxente, tô não Zefa”.

-         “Íntão, tão”

 

(*) Bigu – o mesmo que carona

 

   

2.7.- É GRANADA, E VAI EXPLODIR!

 

Quando Marcelo Maranhão deixou a cátedra na Universidade do Ceara e veio trabalhar  no projeto de mapeamento geológico, pela CPRM, em São Raimundo Nonato-PI, trouxe seu jeito gaiato e moleque de encarar a vida, alegrando um pouco os colegas, jogados naquele fim de mundo. Certo dia, realizando um perfil geológico, junto com Alfeu, encontrou um bom afloramento de xistos bem no meio do pátio do mercado público do povoado de Licuri. Como era dia de feira, o mercado pululava de matutos. Passaram os dois a estudar o afloramento, colocando a bússola no chão para as medidas necessárias. Logo formou-se uma roda de curiosos, a maioria jovens, em torno deles, observando fixamente aquele objeto estranho. Aí Marcelo perguntou a Alfeu:

-         Que mineral vermelho é este? E Alfeu respondeu:

-           É granada. Então, Marcelo cutucou Alfeu e gritou bem alto:

-          Báh, é granada! E vai explodir! E saíram os dois correndo, espalhando a matutada da volta.

 

 

 

 

2.8.-“CACHORRO”?  SÓ TEM DOIS

 

No transcorrer do Projeto Sudeste do Piauí, Alfeu foi dar uma força à dupla Elson Ennes-Grazia, que estavam sediados em Caracol-PI. Saindo de Caracol foram trabalhando ao longo da estrada, em direção ao povoado de Cabeça no Tempo-BA. Chegaram ao povoado já anoitecendo e perguntaram a um morador onde tinha um local para comer e dormir. Não tinha. Mas foram informados que havia uma casa, antiga sede de uma missão religiosa, agora desocupada, que poderia servir para passar a noite. O zelador, já meio velhote e surdo, passou a mostrar a casa. Enquanto Alfeu pendurava sua rede nos cachorros (*) da sala, Grazia inspecionava as camas do quarto ao lado. Aí, Alfeu foi experimentar a rede, que escapou do cachorro, já gasto, e se estatelou de sambiqueira no chão. Em meio à gozação dos outros dois, o zelador ficou meio confuso. Nesse instante, Grazia levantando um colchão velho, que estava crivado de percevejos, exclamou:

-         Quantos bichos!? Aí, o velho entendendo mal, respondeu atarantado:

-         “Cachorro”? Só tem dois, sim sinhô.

 

(*) Cachorro – peça de madeira, embutida na parede, para prender o punho da rede

 

 

   

2.9.- CONSUMO DE ELETRICIDADE

 

Cláudio Scheid, geólogo da CPRM de Recife, hospedou-se num hotelzinho do interior do Nordeste, onde fazia seu mapeamento.

O proprietário do hotelzinho ao verificar sua conta mensal de luz ficou espantado porque ela estava bem mais alta do que normalmente.

Passado algum tempo ele descobriu a causa. O esperto geólogo em suas viagens de campo levava sempre uma coleção de lâmpadas de 200 wats. Desatarraxada as lâmpadas fraquinhas do quarto e colocava no lugar suas potentíssimas para seus trabalhos que às vezes iam até de madrugada.

 

 

2.10 - SANDUBA

 

No projeto Jaibaras, os geólogos da CPRM estavam hospedados no Hotel Municipal da Sobral e era lá que faziam suas refeições.O grupo só tinha espertos: Mario Jorge, Bernardino de França, Carlos Alberto e outros.

O que eles mais pediam no restaurante era sanduba: um sanduíche de pão com carne. Eles faziam isto porque descobriram que se pedissem um filé que era caro ou se pedissem o baratinho do sanduba, a carne era exatamente a mesma com igual tamanho e preparação.

 

 

2.11.- HI! ESQUECI!

 

O geólogo Manassés trabalhava na CPRM em Recife.Era um cara muito legal. Bonachão mas muito esquecido. Quando ia em alguma sala, geralmente esquecia lá um lápis, um mapa ou outra objeto qualquer.

No início da década de oitenta, Manassés viajou para o sertão de Pernambuco num fim de semana acompanhado de sua esposa.Quando chegaram em Caruaru, pararam num bar para beber algo e fazer xixi.

Depois a viagem prosseguiu, mas quando chegou na Serra das Russas, já longe de Caruaru, o Manessés se deu contas que tinha esquecido a mulher no bar.O jeito foi voltar.

 

 

2.12.- No MUSTANG

 

A turma da CPRM costumava, depois do expediente, reunir-se num bar da Avenida Conde da Boa Vista, em Recife, para um chopinho e bater aquele papo. Manassés era um dos habituês. Lembrar-se das coisas mais banais não era o forte daquele geólogo.

Para espanto de todos os que estavam lá naquele dia, o Manassés voltou inquieto e perguntou ao garçom:

- Zé, acho que esqueci as chaves do carro aqui. Vê se estão por ai!

- Mas Doutor, o senhor acaba de chegar aqui dirigindo seu carro!

A mania do esquecimento que o Manassés tinha era muito forte demais!

 

2.13.- BARRADOS PELA POLÍCIA RODOVIÁRIA

 

Na Residência de Teresina da CPRM, Gilberto era o Chefe e o João Oliveira o substituto. Os dois costumavam viajar juntos, visitando os projetos pelo Piauí e Maranhão. Numa dessas viagens utilizaram uma caminhonete nova daquele tipo cabine dupla - um carro grande e confortável.

Gilberto era bem alto e corpulento enquanto que João era magro e bem baixinho. Gilberto era muito conhecido e respeitado, era considerado uma verdadeira autoridade por toda parte onde andava.

Trafegavam pelo sul do Piauí. Quando se aproximaram de um posto da Policia Rodoviária, João estava na direção e Gilberto ao seu lado. No posto estavam dois patrulheiros que quando divisaram a caminhonete se aproximando, logo sentiram que havia uma irregularidade, pois o carro vinha dirigido por uma criança. Não tiveram dúvida em acenar para que a viatura parasse. Ao chegar bem perto da caminhoneta e reconhecendo o Gilberto, um dos guardas falou:

- Desculpe Doutor, eu não sabia que era seu filho ! Podem seguir !

Com o pequenino João afundado naquele carrão, prosseguiram a a viagem.

 

2.14.- A NEGONA

 

A CPRM dava consultoria na pesquisa de tugstênio no RN em projeto de financiamento.. Quem trabalhava no campo era o geólogo "Epaminondas" com a supervisão do "Dr. Asdrúbal".

No hotelzinho onde os dois se hospedavam havia uma garçonete ou camareira, enfim uma serviçal típica do Nordeste. Era corpulenta e bem servida de peitos e bunda e desde o começo se encantou do geólogo. Era Doutorzinho para cá, Doutorzinho  para lá. O "Epaminondas",  pelo menos na frente de todos, mantinha-se reservado. Logo começaram a surgir comentários sobre a dupla. O pessoal do RN falava coisas a respeito dos dois, aparentemente só por gozação, mas diziam que o geólogo estava comendo a Negona - isto nunca ficou provado.

O Supervisor pouco falava mas não deixava de indagar: " Epaminondas, como vai a Negona?"

O "afair" chegou a Recife e muitos  ficaram espantados.

 

 

 

 

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