2.3.  TÁTICAS DO FUTSAL

Táticas na iniciação esportiva: sistemas e esquemas táticos preestabelecidos estimulam a criatividade na criança?

Segundo SANTANA (1996:126) Sistema tático pode ser entendido como a distribuição ordenada dos jogadores na quadra, refere-se ao posicionamento dos jogadores. Tem como objetivos facilitar a aplicação de esquemas, manobras ou simplesmente jogadas, realizadas ofensivamente e defensivamente. Objetiva ainda confundir o adversário, impedindo-o de atuar com êxito, obtendo vantagem sobre o mesmo. Em outras palavras, os sistemas e os esquemas decorrentes visam aumentar a eficiência da equipe, diminuindo a probabilidade dos jogadores cometerem erros, acelerando a solução dos problemas ocorridos durante o jogo. Os sistemas e esquemas são preestabelecidos.

Criatividade pode ser entendida como a capacidade do ser humano de, frente a um problema, criar o novo, inovar, dar sua interpretação única e original para solução daquele problema. A criatividade (o ato de criar) é espontânea. Você está frente a um problema e da sua interpretação, sem se preocupar em seguir modelos. Para Lowen (1984:84) em prazer uma abordagem criativa da vida, o conceito de criatividade...”implica soluções individuais para um problema único”.

Desta forma, pergunta-se: enquadrar a criança e sistemas e esquemas preestabelecidos contribuiria para o surgimento do novo? Acelerar a solução de problemas, transmitindo uma “receita”, um saber acabado, contribuiria para o surgimento na criança de interpretações originais e espontâneas? Diminuir a probabilidade de cometer erros garantirá à criança atuar no concreto e, no futuro, um maior numero de abstrações?

A sustentação por parte do Professor, Técnico de Futsal de modelos preestabelecidos não tenderia a limitar o espaço de atuação da criança? Não estaria contribuindo para que a mesma se especialize precocemente numa determinada função, passando a desconhecer outras? Cerceada a uma faixa de atuação na quadra, não estaria a criança limitando seu potencial criativo? Sim, porque se você der a criança uma posição, por exemplo, como fixo, e orienta-la a não ultrapassar o meio da quadra, dificilmente ela chutará a gol, driblará pelas laterais da quadra, participará de jogadas ofensivas. Será que ela estará usando todo seu potencial criativo?

É comum observarmos em crianças submetidas a sistemas de jogo rígidos e a aplicação de “jogadinhas” que, ao passarem as categorias seguintes, demonstram uma enorme dificuldade em deslocar-se por todos os espaços e exercer funções diferentes. Tem dificuldades em improvisar e dar sua interpretação aos novos problemas que surgem. Acham até mesmo errado atuar em outros espaços, sentindo-se incoerentes e competentes. Não seria  isso o fruto de um passado recheado de modelos à seguir, soluções acabadas, receitas e conceitos verdadeiros?

Ainda nessa direção, observa-se claramente um fato curioso: na dinâmica de jogo de categorias como infantil, infanto juvenil e adulto há uma intensa movimentação e deslocamento dos jogadores por toda a quadra, exercendo múltiplas funções. É óbvio que se orientam por um padrão de jogo (rodízio) preestabelecido, aplicando no decorrer jogadas treinadas anteriormente. Mas, a movimentação dos quatro é mais explorativa – no sentido de ocupação dos espaços na quadra – do que os menores. Seus corpos são mais livres, menos rígidos, percorrendo todos os espaços. Nesse momento, são quase que simultaneamente, fixos, alas e pivôs.

O que queremos trazer a tona  e problematizar é: por que inserirmos a criança em sistema de jogo padronizados, no sentido de posicionamento (por exemplo 1.2.1, onde estão definido o fixo, o ala direita, o ala esquerda e o pivô) e manobras (jogadinhas ofensivas), especializando-a precocemente nessa direção se, no momento seguinte, quando a mesma chega às categorias maiores, há necessidade da mesma jogar em sistemas de jogo sem o posicionamento definido, onde terá que desempenhar as funções de um fixo, ala e pivô?  Porque limitarmos as crianças a um rol de manobras prontas, condicionando-a ao nosso pensamento se, no futuro, queremos jogadores criativos? Seria pela nossa preocupação em diminuirmos os erros de nossas crianças, vencer o jogo, ganhar o campeonato?

Entenda-se bem: não estamos defendendo a aplicação às crianças de padrões de jogo, sistemas e manobras complexas, que dêem uma maior movimentação ao jogo, pois isso seria um equívoco ainda maior. O que queremos, dos 05 aos 10 anos, é que não se preestabeleçam sistemas e manobras nesse período, que não se condicione a criança a nada, que não se padronize nada. Queremos que seja valorizado o contato livre desta com a bola e com o companheiro, e que se permita a exploração original e única da mesma nas situações ocorridas durante o jogo. Celestino (1958:54), Técnico de Futsal e jornalista, em seu livro “futebol de salão”, coloca muito bem essa questão: É preciso que o atleta fique solto na quadra, espontâneo, criativo, sem aquela de colocar atleta menor numa encruzilhada de jogadas  ensaiadas”.

Assim, porque não permitir que a criança viva seu mundo de fantasia, livre, espontânea e criativa? Isso mesmo, que ela crie frente aos problemas que surgem. Que ela possa ficar na quadra solta, errar, e amadurecer com seus erros. Temos que parar de poupar a criança do direito de errar. Temos é que poupa-la dos nossos ensinamentos “corretos”. Aquele professor que, antes mesmo de permitir o erro, ensina, não permite que a criança faça o certo e o errado e construa concretamente o conhecimento   

O gosto da descoberta não pode ser retirado, com o perigo de estarmos incorrendo num grave equivoco: o de precocemente condicionarmos a criança ao nosso pensamento e poder de criação. No futuro, quem se responsabilizará por isso?

Porque é importante para criança jogar futsal sem sistemas e manobras a sua iniciação? Porque é importante para criança exercer sua criatividade?

Para que ela objetivamente seja ela mesma, crie e obtenha identidade própria. Que ela não dependa de modelos para se expressar. Ela aprenderá os fundamentos  no seu estilo. Jogará no seu estilo.

É demasiadamente importante que o esporte seja para criança um meio que a leve a ser melhor, no sentido de construir valores que sejam decisivos a busca de uma melhoria an sua qualidade de vida. Nessa direção, nós técnicos e professores, não podemos ser omissos a esse fato, transformando  o esporte a infância num fim a si mesmo: a busca da medalha, a técnica e a tática.

Uma criança não poderá criar num clima que só é permitido repetir, seguir num modelo. Não poderá criar se adotar “jogadinhas”. Não poderá criar se o ambiente não respeitar sua individualidade, não lhe der segurança de permitir o erro. Não poderá criar se suas ações estiverem sob julgamentos e criticas destrutivas.

Quantas vezes nós Professores de Educação Física, Técnicos de Futsal, não somos autoritários e diretivos, submetendo a criança ao nosso pensamento? Quantas, vezes obcecados por resultados, não permitimos o erro, padronizando o jogo da criança?

À criança deve ser permitido exercer seu potencial criativo. Não podemos submete-la desde cedo ao nosso pensamento e ao nossos critérios, sob a pena de estarmos contribuindo para que surja um ser dependente, inseguro, em busca de modelos preestabelecidos, que não saiba lidar e transformar frente aos problemas que surgem.

Segundo FERREIRA (1994:28). “A prática do Futebol de Salão, data da década de 30 onde as peladas de várzea começaram a ser adaptadas em quadras de basquete e pequenos salões”.

As primeiras regras surgidas foram fundamentadas no futebol, basquete, handebol e pólo aquático pelo professor Juan Carlos Ceriani da ACM de Montevidéu, com o objetivo de ordenar a prática do Futebol de Salão durante as aulas regulares de Educação Física.

Por ocasião de um curso promovido pelo Instituto Técnico da Federação Sul Americana de Associações Cristã de Moços, foram distribuídas cópias dessas regras a todos os representantes da América do Sul, e entre eles alguns brasileiros.

No Brasil, o Futebol de Salão dava seus primeiros passos também na década de 30, tendo como referência um trabalho de Roger Grain na revista de Educação Física em 1936, editada no Rio de Janeiro, publicando normas e regulamentações para a prática do Futebol de Salão.

Através do entusiasmo, o Futebol de Salão começou a ser mais divulgado, chegando até os clubes recreativos e escolas regulares, ganhando cada vez mais a popularidade na década de 40.

Em julho de 1958, a Confederação Brasileira de Desporto (CBD), oficializou a prática do Futebol de Salão no país, fundando o Conselho Técnico de Futebol de Salão, tendo as Federações Estaduais como filiadas.

Do continente para o mundo, a partir da criação da Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA), fundada no Rio de Janeiro no início da década de 70, contando com a filiação de 32 países que já praticavam o salão nos estados brasileiros, entidade esta, que teve como primeiro presidente João Havelange, passando a promover os primeiros campeonatos na década de 80.

No final da década de 70, deixa de existir a Confederação Brasileira de Desporto (CBD), entidade a qual era vinculada esta modalidade, possibilitando assim a fundação no Rio de Janeiro da atual Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), tendo como seu primeiro presidente Aécio de Borba Vasconcelos, possibilitando a realização de grandes eventos a nível nacional e internacional.

A década de 90, representa a grande mudança na trajetória do Futebol de Salão pois a partir da sua fusão, como o futebol de 5 (prática esportiva reconhecida pela FIFA), surge então o “FUTSAL”, terminologia para identificar esta fusão no contexto esportivo Internacional.

Com sua vinculação a FIFA, o FUTSAL dá um grande passo para se tornar desporto olímpico tendo na Olimpíada de Sidney na Austrália, do ano 2000, o momento de glória de toda a sua trajetória Histórica.

Embora as primeiras regras tenham surgido no Uruguai, nada foi feito no sentido de aperfeiçoá-las e divulgá-las, cabendo aos brasileiros a responsabilidade pelo crescimento, divulgação e ordenação do FUTSAL como modalidade esportiva. Então podemos dizer que o FUTSAL é uma modalidade genuinamente brasileira.

O FUTSAL é sem dúvida um dos esportes mais fascinantes pois é jogado em uma quadra de taco ou cimento, toques rápidos e curtos, saem muitos gols dando assim uma maior valorização ao espetáculo, aprimorando ainda mais o entusiasmo e fascínio pela prática do mesmo.