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AINDA QUE... Por: jaime nunes mendes Ainda que eu fosse um exímio poliglota, a ponto de falar as quase seis mil línguas existentes no mundo, se não tivesse amor, a minha inteligência seria tão útil quanto o esterco... Ainda que lesse e entendesse com perfeição todos os sistemas de sinais; e ainda que falasse fluentemente até mesmo as línguas mortas, se não tivesse amor, viveria na mais densa trevas... Ainda que decifrasse com exatidão todas as linguagens humanas; e mesmo que entendesse o mais ultrapassado dos dialetos, se não tivesse amor, andaria como que com olhos vendados... Ainda que minha fala superasse a eloquência verbal de Aristóteles, de Demóstenes, de Cícero e de outros tantos famosos e hábeis oradores, se não tivesse amor, toda a minha arte de falar não valeria meia página rasgada... Ainda que me exprimisse tão claramente a ponto de ser entendo até mesmo por um recém-nascido, se não tivesse amor, discorreria para o vácuo, para o nada... Ainda que eu proferisse palavras tais que nem no passado se ouviu nem no futuro se ouvirá igual, se não tivesse amor, agiria como o mais estúpidos dos animais... Ainda que fosse capaz de discorrer, com absoluta perfeição, sobre toda variedade de assunto e matéria, se não tivesse amor, permaneceria envolto na completa escuridão... Ainda que manifestasse minhas idéias de tal maneira que fosse capaz de persuadir até mesmo o mais sábios entre os homens, se não tivesse amor, seria inculto e ignorante... Ainda que eu tivesse a capacidade de dialogar com perfeição, de pregar com persuasão, de discursar com habilidade, de entrevistar com arte, de ensinar com maestria, se não tivesse amor, tais habilidades não passariam de vestígios do nada... Ainda que previsse com exatidão o futuro; e mesmo que fizesse perfeitas conjeturas acerca do porvir, se não tivesse amor, seria tão raso quanto um pires... Ainda que tivesse o mais cobiçado dos talentos; e mesmo que fosse portador da mais insigne habilidade, se não tivesse amor, seria vazio, oco e sem nada... Ainda que eu estivesse na posse das virtudes mais almejadas pelos homens; e mesmo que fosse possuidor dos mais significativos valores, se não tivesse amor, seria entre todos o mais ridículo, o mais reles, o mais impudico... Ainda que desfrutasse de todos os dons, e mesmo que fosse pleno de todas as dádivas, se não tivesse amor, seria tão repelente quanto um inseto... Ainda que gozasse da capacidade de discernir os espíritos, do poder de expulsar os demônios, da ousadia de afastar os males, se não tivesse amor, viveria sem nexo como um bêbado... Ainda que possuísse o dom de entender o passado, o dom de compreender o presente e o dom de prever o futuro, se não tivesse amor, aguardaria o pior dos destinos... Ainda tivesse fé, não simplesmente para transportar os montes, mas para transpor até mesmo os planetas, se não tivesse amor, seria de todas as pessoas a mais incrédula... Ainda que distribuísse entre os desafortunados a minha própria felicidade; e mesmo que padecesse os piores infortúnios pelo bem dos sofredores, se não tivesse amor, andaria cegamente sobre o abismo... Ainda que deixasse espontaneamente o aconchego do meu lar e me enfiasse entre os flagelados e miseráveis, se não tivesse amor, seria louco, estúpido e hipócrita... Ainda que perambulasse fazendo o bem pelas favelas; e mesmo que descesse aos subúrbios e submundos do caos, se não tivesse amor, seria pior do que uma lagarta em seu casulo... Ainda que fosse capaz de sentir a lágrima do meu próximo mesmo antes dela cair; e mesmo entendesse a angústia de quem sozinho padecesse, se não tivesse amor, sacrificaria ao que não existe... Ainda que espalhasse entre os pobre e necessitados tudo que acumulei durante toda a minha vida; e mesmo que doasse a alguém a única roupa do meu corpo, se não tivesse amor, seria o mais indigente entre todos os mortais... Ainda que eu partilhasse o meu próprio prato com um sujo andarilho; e mesmo que entregasse minha única refeição ao faminto, se não tivesse amor, agiria com a maior de todas falsidades... Ainda que eu fizesse o mais espetacular sacrifício em prol da humanidade; e mesmo que desse a minha própria vida para benefício dos homens, se não tivesse amor, todas as minhas obras não passariam de uma inútil luta contra o vento... Ainda que eu fosse o mais renomado dos cientistas; e mesmo que descobrisse uma fórmula mágica para aniquilar todas as moléstias do mundo, se não tivesse amor, seria o mais desprezível dos homens... Ainda que conhecesse tudo aquilo o que a religião e a ciência não pode explicar; e mesmo que discernisse até detalhes dos mistérios, se não tivesse amor, seria tão ignorante quanto um asno.. Ainda que conhecesse a mais impenetrável das verdades; e mesmo que distinguisse com absoluta perfeição a realidade, se não tivesse amor, seria entre os homens o mais rude e agreste... Ainda que fosse versado em todas as ciências; e mesmo que atingisse o grau máximo do saber, se não tivesse amor, tal como um quadrúpede rastejaria na trilha da ignorância... Ainda que desvendasse os mais profundos segredos; e mesmo que explicasse a origem dos grandes mistérios, se não tivesse amor, seria tão infrutífero quanto o joio... Ainda que conhecesse tudo o que a razão não pode explicar ou entender; e mesmo que tivesse pleno conhecimento daquilo que ninguém sabe, se não tivesse amor, seria o pior dos cegos... Ainda que sondasse o impenetrável; e mesmo que penetrasse o insondável, se não tivesse amor, estaria em plena obscuridade... Ainda que tivesse conhecimento exato e racional de qualquer coisa; e mesmo que destrinçasse o que sempre se fez oculto, se não tivesse amor, seria inócuo e desnecessário... Ainda que tivesse absoluta convicção acerca da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção, se não tivesse amor, seria fútil, inútil e trôpego... Ainda que minha fé fizesse conduzir de um lugar para outro os montes; e mesmo que fizesse trasladar o Himalaia, se não tivesse amor, seria frágil, vacilante e debilitado... Ainda que por extremo altruísmo doasse, em vida, cada órgão do meu corpo, se não tivesse amor, seria o mais perfeito dos loucos... Ainda que me dedicasse inteiramente à causa do próximo; e mesmo que doasse a minha própria vida por sua vida, se não tivesse amor, agiria como um pobre coitado e um insano... ...VOLTAR |