HOMEM MAIS FEIO DO MUNDO
Por: jaime nunes mendes

Todo mundo dizia que feio era apelido. Havia, portanto, unanimidade entre os habitantes da pacata Capim Grosso de que Astrogildo, esse era seu nome, era realmente o homem mais feio do mundo.  Embora não tivesse havido um concurso para saber a quem de fato deveria pertencer este título, o próprio Astrogildo, espontaneamente, dele se fez o legítimo portador. Ele pessoalmente sua fealdade, e nem ligava para isso. Dizia que a beleza era imperceptível aos olhos.
Contudo, não obstante achar a si mesmo o homem mais feio do mundo, o que era uma enorme desvantagem no que tange à conquista de uma mulher, Astrogildo tinha um sonho no mínimo ostentoso para a lógica dos habitantes daquela modesta cidade. Sim, ele queria nada mais do que casar com nada menos do que a mulher mais bela de toda aquela redondeza. Talvez não fosse a mais linda do mundo, porém, certamente daquela região ela o era.
A idéia de Astrogildo trouxe-lhe muitos incômodos. Onde quer que fosse, sempre havia alguém para mofar de seus planos.
Pra casar com Antonieta, você terá de esperar a pílula da renovação! Disse o açougueiro Arlindo.
Você só conseguirá casar com Antonieta quando o Brasil pagar a dívida externa! Ironizou o Zeca barbeiro.
No máximo, você conseguirá casar com a mulher do gambá,  berrou o Afonso da quitanda.
Casar com Tonieta? Ah, ah, ah! Só se ela tiver bebinha igual eu, tartamudeou a bêbada Valentina.
Se você conseguir casar com Antonieta, só pro churrasco eu mato cinco bois, brincou o coronel Peçanha.
A Antonieta não te quer nem banhado de ouro, ciciou a Maria da Rua de Cima.
E muitas outras pilhérias foram ditos ao próprio Astrogildo, que obviamente ignorava-as.
Bem. Cinco anos se passaram. O Astrogilgo, que antes era tido como o homem mais feio do mundo, agora era considerado menos belos do que um chimpanzé cansado. Contudo, ele ainda sonhava casar com Antonieta, que, a essa altura, deveria orçar pelos seus 28 anos de idade.
Um certo dia, Astrogildo acordou disposto a conquistar Nietinha, que era o modo como ele a chamava. Sim, havia nele uma disposição fora do comum:
Todos esses bestas verão do que Astrogildo é capaz! Disse para si próprio. - Hoje iniciarei a minha grande aventura. Nietinha será toda minha! Toda Minha! Toda Minha! Gritava eufórico. Em seguida, botou seu paletó listrado e, cantando, saiu em direção à casa de Antonieta.
Eram nove horas da noite quando ele chegou à casa da amada. Bateu educadamente na porta. Ela mesma que abriu:
Nossa! Você por aqui, e a essas horas, Astrogildo? Indagou a moça um tanto surpresa.
Em carne e osso! Quer dizer, mais osso do que carne! Brincou Astrogildo.
O que te levou a vir aqui a essas horas? Será o que estou pensando?
Saberás daqui há alguns instantes. Mas antes, não vai me convidar pra entrar?
Oh, sim, sim! Entre!
Um tanto descontraído, Astrogildo sentou-se numa cadeira reclinada e, cruzando as pernas, foi logo falando:
Antonieta, embora todos me achem o homem mais feio do mundo e,  provavelmente entre esses todos inclui-se você, ainda assim eu quero pedi-la em casamento! Eu a amo como ninguém a amou! Eu a quero como ninguém ousa querer-lhe. Eu a estimo de todo o meu coração!
Mas, Astrogildo, por que você não fez esse pedido antes? Há exatamente cinco anos que aguardo ansiosa por este dia! E continuando: - Não me importa o que os outros pensam a seu respeito, eu sempre o amei. Não tenho nenhuma vergonha disso!
Ele, confuso e deslumbrado, indaga:
Mas, o que você tanto viu em mim que a atraiu? Ao que ela, em quase êxtase, responde:
Meu sonho era casar com um homem que tivesse uma verruga na ponta do nariz! O que mim atraiu em você foi, pois, essa sua verruginha, seu bobinho!
Três meses depois o coronel Peçanha foi obrigado, por ser homem de palavra, a cumprir o prometido.



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