A MAIOR ANGÚSTIA DO ATEU
Por: jaime nunes mendes

Frederich Wilhelm Nietzsche, ou simlesmente Nietzsche, é considerado o mais ateu dos ateus. Entre seus inúmeros livros que contestam a existência de Deus, sobressai “Assim Falava Zaratustra”, no qual nesciamente ele declara a morte de Deus: “O vosso Deus jorrou sangue sobre o meu punhal... Deus está morto”.  Entretanto, no dia 25 de agosto de 1900, entre crises de loucura, Nietzsche morreu. Sim, Nietzsche morreu! Aquele que pregou arrogantemente a morte de Deus, morreu. Eis aqui a grande angústia do ateu: a morte. Enquanto nos ébrios dias da juventude, no fulgor e vigor da vida, prega, com a mais tenaz das arrogâncias, que Deus é mera criação do homem: “Foi o homem quem criou Deus, e não este quem criou o homem”, dizia o não menos ateu Voltaire (1694-1778). Contudo, quando sentem o vislumbre da morte, quando percebem a aproximação da eternidade, quando vêem aproximar-se as frias mãos da morte, tremem e temem a possibilidade de encarar frente a frente o Grande Juiz, Deus. Ademais, sofrem de uma solidão espiritual que corrói a alma. Nietzsche, sem querer, colocou na boca da personagem Zaratustra um pouco desta verdade: “Terrível é estar a sós com o juiz e o vingador da própria lei, como estrela laçada no espaço vazio no meio do sopro gelado da solidão. Ainda hoje te atormenta a multidão, ó solitário! Ainda hoje conservas toda a força de tua coragem e tuas esperanças. Um dia, contudo, a solidão de há de cansar; algum dia se abaterá teu orgulho, e tua coragem vai cerrar os dentes. Um dias clamarás: ‘Estou só!” Chegará um dia em que não poderás ver tua grandeza e em que tua pequenez a verás bem de perto de ti. Teu próprio sublime te amedrontará como um fantasma. Um dia clamarás: ‘Tudo é falso!’”
Embora não confessem, pois isso seria demonstração de fraqueza, todo ateu nutre dentro de si uma dualidade que os angustia. Ao mesmo tempo que relutam crerem em Deus, sentem-se como que atraídos pela divindade. Isso porque o homem, por mais que procure fugir de Deus, mais dele se aproxima. Em seus corações existem um vazio tão imenso quanto o próprio Deus que eles negam. Sim, porque a crença num Ser superior, ainda que não seja propriamente no Deus da Bíblia, é uma das mais tangíveis realidades da existência humana. Prova disso é que nunca foi encontrada, em nenhum período da história, um povo que não acreditasse num Ser Eterno. Quando alguém, por livre iniciativa ou mesmo por iniciativa de outrem, resolve duvidar da existência de Deus, tal pessoa rompe com sua própria essência, portanto, com sua própria vida. O homem sem Deus é como um carro sem combustível, existe mas não funciona.

Fonte:
Nietzsche, Frederich Wilhelm. “Assim Falava Zaratustra”. Tradução: Ciro Mioranza. Editora Escala. São Paulo, 2005.



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