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“OS BÍBLIAS” Por: jaime nunes mendes “Alguns, entre os quais o João Pintor, justificam freqüentar os ‘bíblias’, porque estes – dizia ele – não era como os padres, que para tudo, querem dinheiro” (Lima Barreto, em “Clara dos Anjos”).`` Quando Lima Barreto (1881-1922) escreveu sua obra “Clara dos Anjos”, em 1922, os evangélicos eram chamados pejorativamente de os “bíblias”. E, embora o catolicismo não fosse mais religião oficial do Brasil, os protestantes ou os “bíblias” eram ainda uma minoria irrisória naquele momento. A religião católica exercia uma forte pressão contra as demais religiões, principalmente contra esses “bíblias”, que, freqüentemente eram coagidos a abandonarem sua fé. Ser um “bíblia” era opor-se ao pensamento dominante. Significava, portanto, estar à margem da sociedade. O preconceito era generalizado contra os “bíblias”. Quem se presta a ler a história da igreja evangélica naquele período, há de notar o quão era espinhoso sair na rua com uma Bíblia na mão ou debaixo do braço. Havia gozações e cousas do gênero. Não havia, como hoje, esse amontoado de denominações. Até mesmo para se abrir uma igreja enfrentava-se enormes obstáculos. Contudo, foram esses “bíblias” que fincaram os alicerces da igreja evangélica brasileira. Foram eles que, com sua fé inabalável, tornaram “populares” denominações tais como Batista, Metodista, Presbiteriana, Assembléia de Deus, Congregação Cristã no Brasil etc. Hoje, com perdão da gíria, é “moleza” ser crente! Dizem que somos trinta e cinco milhões. No entanto, esse número tão elevado de crentes parece não causar tanto impacto quanto aqueles poucos “bíblias” do início do século XX. Não quero afirmar que a quantidade não seja relevante. Absolutamente. Todavia, a qualidade continua sendo fator de muito maior impacto do que um número considerável. Leiam a história da Igreja! Verão que, no início, quando os cristãos eram minoria absoluta, o impacto causado pela nova fé abalou até estruturas governamentais. Entretanto, à medida que esse número se estendia, passou haver um esfriamento contínuo, culminado com a oficialização do cristianismo como única religião do império romano. O que aconteceu a partir daí está devidamente registrado nos anais da história. Durante toda a Idade Média, existiu apenas a religião católica. Até a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero, seguir outra fé era quase que abraçar a morte. Leiam a história dos Estados Unidos! Verão que entre seus primeiros habitantes muitos eram fiéis puritanos, que, ardorosamente, lutaram em prol do Reino de Deus. Vejam hoje os Estados Unidos! Não obstante seja um pais estatisticamente protestante, é de lá que aparecem a maioria das deturpações dos verdadeiros valores cristãos. Antes levava-se a fé, hoje leva-se bombas. É claro, não podemos esquecer da grande leva de missionários que saem de lá para outros países. Enfim, é muito bom que o Reino de Deus cresça e que haja um crescente aumento de pessoas convertidas à verdadeira fé cristã. No entanto, de que adianta o Brasil ser um país de maioria evangélica, se de evangélicos temos apenas o rótulo? É preferível ser minoria diferente do que maioria enlatada, massificada, rotulada, embalada e conduzida por conceitos totalmente dissonantes dos ensinamentos de Cristo. Não me interessa que o Brasil seja evangélico. Importa-me que haja nele os “bíblias”! ...VOLTAR |