COSTUMES OU DOUTRINAS?
Por: jaime nunes mendes

Pesquisando as crenças doutrinárias de quatro diferentes denominações evangélicas, especificamente no que diz respeito aos costumes, constatei algo que eu diria inusitado. Não obstante todas igualmente terem como pilares de fé a crença num único Deus, em Jesus como o único Salvador, no Espírito Santo como aquele que convence o homem do pecado, e na Bíblia como o único guia infalível de fé, cada uma - separadamente – divergia quanto à simples aparência física do homem.
Na primeira dizia-se que era expressamente proibido ao membro raspar a barba ou fazer o bigode. Numa outra pregava-se justamente o contrário, ou seja, que não era permitido ao membro deixar crescer a barba ou o bigode. Na terceira afirmava-se que, no máximo, era permitido ao membro fazer uso apenas do bigode. E, finalmente, na última dava-se permissão ao membro de agir conforme seu próprio gosto.
Este tipo de situação, embora traga em si traços de comicidade, apresenta algo muito sério. Sim, porque alguns, muito mais do que viver a sua própria crença pessoal, querem de todas as formas que os outros façam o mesmo. E, pelo fato de usarem a Bíblia para justificar essas crenças,, fatalmente isso os conduzirão à intolerância ou até mesmo ao fundamentalismo extremado. Quando apenas vivem seus próprios credos, tudo bem. Agora, quando pregam, como arautos divinos, que foram chamados por Deus para proclamarem tais “verdades”, aí a cousa se complica. Sim, porque se foi Deus quem os chamou para pregar essas “verdades”, quem poderá se opor, senão os infiéis ou mundanos?
A história tem mostrado o quanto devastador tem sido aqueles que, sob o pretexto de pregar a verdade, cometeram terríveis atrocidades em nome de Deus. Quem já não ouviu falar da Santa Inquisição, que, sob o suposto manto da verdade, levou inúmeras pessoas inocentes à fogueira? Quantas vidas não foram ceifadas por pessoas ou instituições que, em nome de Deus, proclamavam-se donas da verdade? E o triste é que ainda hoje muitos se acham no direito de torturar ou até matar em nome de Deus!
Embora entre os evangélicos a intolerância não seja assim tão extremada, muitas denominações, em nome de uma doutrina mais santa, discriminam àquelas que não compartilham de suas “verdades”. E o pior é que muitas dessas “verdades” nada mais são do que meros costumes, cuja base está em aspirações pessoais de seus líderes. Confundem-se banalidades pessoais com doutrinas verdadeiramente bíblicas.
Quando escrevo “banalidades pessoais” não quero com isso subestimar as diferenças. Absolutamente. Banalidades, neste caso, significam pontos não essenciais à fé cristã. Em outras palavras, são regras que em nada influenciam a salvação de alguém. O fato, por exemplo, de eu deixar a barba crescer ou raspá-la em que isso pode influenciar na salvação da minha alma? Será que o simples ato de eu não usar gravata vermelha pode me tornar mais santo do que outro que a usa? Ou será que o tipo de penteado que faço pode ser decisivo para meu destino eterno?
Na realidade, muitos desses costumes nada mais são do que muletas espirituais, que sustentam apenas por fora. De que adianta termos uma aparência santa e angelical, se o nosso interior, tal como disse Jesus, “é um sepulcro caiado”? Por que em vez de nos preocuparmos com as necessidades reais do nosso próximo, o oprimimos tanto com regras que somente o fará mais necessitado? Mesmo o animal mais robusto não pode suportar tanto peso!




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