O QUE VOCÊ VÊ NOS OUTROS?
Por: jaime nunes mendes

Em sua obra “As Paixões da Alma”, o estudioso René Descartes (1596-1650) afirma, quiçá com muita razão,  que os mais imperfeitos costumam ser os  mais propensos à zombaria. Isto, segundo ele, ocorre pelo fato de que tais pessoas, desejando ver todos as outras tão desditosas quanto elas, realçam ao máximo as deficiências do próximo. Em outros termos, para que eu me aceite como o mais bonito, faz-se mister que haja um outro mais feio do que eu. É a velha idéia do outro inferiorizado. Para que os alemães se sentissem a raça perfeita foi necessário criar-se uma raça imperfeita. Daí o motivo de ter Hitler apontado os judeus como os párias daquela sociedade, dizimando-os aos milhares.
Em seu livro “Descubra o Amor”, Robert H. Shuller conta que numa determinada ocasião, enquanto lecionava, ele fixou uma folha de papel no quadro-negro. Em seguida desenhou, no meio desta folha, um minúsculo x e um pequeno círculo com um traço dentro. Dirigindo-se à classe, ele solicitou que os alunos se aproximassem do quadro para dizerem o que viam. Um afirmou ter visto uma simples linha; outro, um mero círculo; alguns, apenas um x. E, quando não mais restava ninguém, ele afirmou: Nenhum de vocês disse: “vejo uma folha de papel!” Não obstante ser a folha bem maior do que os detalhes rabiscados nela, ninguém foi capaz de visualizá-la e realçá-la.
Quantos de nós, em nosso narcisismo, somos incapazes de vê no outro o que de mais significativo ele tem. Vemos suas máculas; comentamos sobre seus supostos defeitos; criticamos suas atitudes; todavia, não temos a consciência de que somos tão imperfeitos quanto ele. Vemos as pequeninas “imperfeições” do nosso próximo, mas relevamos os nossos jibóicos defeitos.
É difícil entender como pode alguém, que diz e faz questão de proclamar que é cristão, ridicularizar o outro pelas suas deficiências. Se Cristo fosse tratar conosco conforme nossas boas virtudes, certamente não passaríamos no primeiro teste. Enquanto todos viam o pecado da mulher adúltera, Cristo enxergava os muitos pecados daqueles que a acusavam.
Quão mais humildes seríamos se, ao nos olharmos no espelho, fôssemos capazes de contemplar, muito mais do que um belo rosto, um lindo coração. Como cristãos não deveríamos jamais ridicularizar o nosso próximo, por mais evidentes que sejam seus defeitos, sejam físicos, sejam psíquicos. Isso não significa, contudo, que devamos acariciar seus pecados. Da maneira alguma. O que não podemos esquecer é que, por mais que andemos na presença de Deus, somos gentes. Isto basta para dirimir nossa hipotética superioridade: “Dar importância à aparência das pessoas não é bom, porque até por um bocado de pão um homem prevaricará” (Pv. 28:21). / “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (Jo. 7:24).


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