Esta página tem como objetivo não só informar ao público brasileiro quanto à Igreja Católica Greco-Melquita, mas também
 quanto a todas as igrejas católicas orientais. Essas igrejas são um patrimônio de todos os católicos. Gradativamente esta
 página pretende apresentar algumas delas.

A Igreja Maronita


Paróquia Maronita do Rio

Interior da paróquia maronita do Rio de Janeiro, com a imagem reproduzindo a estátua gigante de Nossa Senhora do Líbano em Harissa, naquele país.



I

Para falarmos da Igreja maronita precisamos falar da heresia monotelista, que segundo algumas fontes estaria na origem dessa igreja. Advertimos que esta primeira parte deste artigo é baseada no célebre historiador inglês Edward Gibbon, que não é exatamente simpático ao catolicismo. Mas sua erudição e honestidade intelectual fazem dele um guia importante sobre aquela época.

A Igreja Maronita ocupa uma posição peculiar no espectro das igrejas católicas orientais, pois é a única que não tem uma contraparte acatólica. Por exemplo, a Igreja Católica Greco-Melquita tem seu contraparte no Patriarcado ortodoxo de Antioquia. Existem a Igreja Ucraniana Católica e Igreja Ortodoxa Ucraniana; a Igreja Caldeana Católica a Igreja Assiríaca do Oriente (nestoriana). Mas não existe uma Igreja Maronita ortodoxa. Esta singularidade pode ser explicada por sua história.

No princípio houve violentas controvérsias no campo do cristianismo. Essas controvérsias deram origem a várias igrejas católicas orientais, além de igrejas acatólicas. Já vimos a controvérsia do nestorianismo (ver na história da Igreja Caldeana Católica ) e a do monofisismo (ver em Igreja Siríaca Católica ).

A heresia monotelista nasceu de uma tentativa de conciliar a ortodoxia (= catolicismo) com a heresia monofisita. Estes últimos afirmavam que Cristo só tinha uma pessoa, a divina. A ortodoxia diz que tem duas, a divina e a humana. No ano 629, o Imperador Bizantino Heráclio, voltando de uma guerra contra os persas, perguntou a seus monges se Cristo tinha uma ou duas vontades. Esses disseram que tinha uma só. O Imperador ficou satisfeito, pois tinha esperança de que os monofisitas do Egito (coptas) e da Síria (jacobitas) se reconciliassem com a ortodoxia por esta linha conciliatória.

Observemos que essas heresias tinham um forte componente político. Os egípcios e sírios eram um tanto inconformados com o domínio de do Imperador da distante Constantinopla. Um acordo teológico poderia facilitar um acordo político entre o Imperador e essas regiões.

O partido ortodoxo reagiu com a doutrina de que cada parte de Cristo, a humana e a divina,  tinha uma energia própria e distinta. Mas essa diferença não era mais visível quando se dizia que o querer divino e humano de Jesus eram o mesmo. O  Clero grego aderiu á doutrina da vontade única e se declararam monotelistas, que quer dizer única vontade. Mas, já sabedores das terríveis conseqüências das lutas quanto a discussões anteriores, aconselharam um prudente silêncio quanto ao assunto, que foi garantido com a Ecthesis (exposição) de Heráclio e o Modelo de seu neto Constans. Este último, de 648, proibiu qualquer discussão em torno do assunto, pois a controvérsia estava se tornando violenta. Os Patriarcas de Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia subscreveram os editos imperiais. Mas os monges de Jerusalém deram o alarme, afirmando que aquela doutrina era herética.

O Papa, que era e é também o patriarca de Roma, Honório, obedeceu aos comandos do Imperador e foi fortemente censurado por seus sucessores. Seus sucessores assinaram a sentença de excomunhão dos monotelistas sobre a tumba de São Pedro com tinta misturada com vinho sacramental, o sangue de Cristo. O papa Martinho e seu sínodo de Latrão anatematizaram o silêncio dos gregos. Este sínodo foi composto de 150 bispos da Itália, que condenaram a ecthesis e o Modelo; seus autores - os dois imperadores - e seus aderentes foram considerados semelhantes aos vinte e um maiores hereges, apóstatas da igreja e órgãos do demônio.

A reação do criticado (Imperador) foi violenta. O papa Martinho foi exilado numa ilha, morrendo em sofrimento. Arrancaram a língua e amoputaram a mão direita do Abade Máximo, amigo do Papa.

Depois, em 680, foi convocado o Terceiro Concílio de Constantinopla, em que um monge monotelista propôs um teste radical: ele ressuscitaria um homem morto, para provar sua doutrina. Os prelados assistiram á demonstração e o monge falhou em meio a apupos e gritos contrários. O Concílio estabeleceu que há duas vontades em Cristo, a humana e a divina, com a humanas subordinada à divina. E condenou o monotelismo.

No entanto, anos depois, quando momentaneamente um Imperador monotelista assumiu o poder, o monumento comemorativo ao concílio foi mutilado e seus papéis originais jogados ao fogo. Mas pouco depois um novo Imperador chegou ao poder e a fé ortodoxa foi reimplantada com firmeza. E aos poucos a doutrina monotelista foi deixando de apaixonar as multidões no Império Bizantino, superada agora por outra discussão, a heresia iconoclasta.

O nome maronita passou de um eremita para um monastério, e de um monastério para uma igreja. São Maron era um eremita do século V na Síria. Suas relíquias foram disputadas após sua morte, e seiscentos de seus discípulos monges uniram suas celas fundando um monastério. A doutrina monotelista teria sido criada por esses monges em suas meditações e pesquisas. O Imperador Heráclio teria pego a doutrina dessa fonte, e ele presenteou com importantes domínios um monastério maronita. O zelo dos maronitas pode ser medido pelas palavras do seu patriarca Macário, de Antioquia, que dizia que preferia ser cortado pedaço por pedaço que admitir que Cristo tinha duas vontades. Perseguidos pelo Imperador, alguns se converteram à fé ortodoxa. Mas outros resistiram. São João Maron, o mais letrado e popular dos monges maronitas (não confundir com São Maron, o primeiro) assumiu o título de Patriarca de Antioquia, e seu sobrinho Abraão comandou a resistência. O Imperador com um exército de gregos invadiu a Síria espalhando o terror. O monastério de São Maron foi incendiado, e os principais chefes maronitas foram assassinados, e doze mil maronitas foram exilados para as fronteiras da Armênia e da Trácia. Eventualmente os resistentes se retiraram para um conjunto de montanhas peto do litoral, plasmando sem o saberem uma nova nação, o Líbano. No século XII, com as cruzadas, os maronitas abjuraram o monotelismo, reconciliando-se com Roma.

II

Quanto à história da Igreja em si, teve sua origem como já dissemos no monge São Maron, que faleceu entre 405 e 423, e viveu como asceta numa colina no norte da Síria. Essa colina passou a ter tantos eremitas que foi chamada jardim de ascetas. Em sua volta formou-se a comunidade Beit Maron (casa de Maron). Com sua morte foi construído um mosteiro no local. No entanto, como já vimos acima, se os monges não aceitavam o monofisismo, também não estavam acordes com a ortodoxia, ficando na linha independente, do monotelismo. Em 517 o mosteiro foi atacado pelos monofisitas, que massacraram 350 monges. Isso deu a eles uma grande autonomia. Com a invasão muçulmana o Patriarcado de Antioquia ficou vago. Em 744 o califa autorizou a eleição de um novo patriarca, Teófilo. Este com o exército do califa tentou submeter a Casa de Maron. Mas esses resistiram e elegeram um novo patriarca, São João Maron, do próprio mosteiro, dando origem à nova igreja. Daquela época data a migração para as montanhas do Líbano, que antes do ano 1000 já estava completa. Uma parte também migrou para Chipre. O mosteiro de São Maron foi destruído no século X pelos muçulmanos.

A partir de 1181 os maronitas passaram para a submissão total á Sé de São Pedro. Em 1215 o patriarca maronita participou do concílio Latrão IV, em Roma. Em 1440 os patriarcas passaram a morar no vale Kadisha, o vale Santo, região montanhosa de difícil aceso no norte do Líbano, com mosteiros e igrejas nos penhascos.

A aproximação com Roma causou a latinização do rito. Em 1580 o papa enviou padre jesuítas ao sínodo maronita apresentando os costumes latinos de liturgia, e a adaptação conduzida por alguns patriarcas foi tão forte que o próprio papa Paulo V pediu para restabelecer os antigos costumes da Igreja Maronita.

Os maronitas como todos os cristãos sob domínio muçulmano foram perseguidos e depois de 1860 foi permitido ao Líbano ter um governo semi-autônomo. A Igreja maronita passou a ter muita influência nesse novo estado e esteve á frente do seu processo de independência em 1943. Atualmente os jornais dizem que o patriarca maronita está em campanha para a retirada das forças da Síria que estão estacionadas no Líbano.

Hoje seu patriarca é Sua Beatitude Nasrallah Pedro Sfeir, eleito pelo sínodo da igreja em 1986 e criado cardeal pelo papa João Paulo II em 1994. É o terceiro patriarca maronita a ser também cardeal. Note-se que o Patriarca maronita, ao ser eleito, tem o direito de acrescentar o nome Pedro ao seu nome, em honra ao primeiro dos apóstolos.

Os maronitas declaram que sempre foram unos com a Igreja católica. Resta a questão delicada do monotelismo, professado por eles durante vários séculos. Este página dá duas opiniões obre o fato. A visão de Edward Gibbon foi exposta na primeira parte desse artigo. Já o pesquisador Roberto Khatlab afirma que a doutrina monotelista não era uma heresia, pois para os maronitas as duas pessoas de Cristo não podiam se manifestar senão pela harmonia de suas vontades respectivas, e havia apenas uma vontade a se manifestar, a do Pai. Ficam as duas versões para o leitor.

A grande migração de Libaneses espalhou a Igreja Maronita por todas as partes do mundo. No Brasil o Exarcado foi criado em 1962, tendo como primeiro bispo Dom Francis Zayek. Teve a honra de ser o primeiro bispo maronita fora do Oriente Médio. Em 1971 o Exarcado foi transformado em Eparquia (diocese). Sua sede é em São Paulo e o atual Bispo é Dom José Mahfouz, eleito em 1990. A Igreja Maronita no Brasil está presente em várias cidades e tem uma página em português na internet, colocada abaixo.

Resumo:

Igreja Maronita

Chefe espiritual: Sua Beatitude Nasrallah Pedro, Cardeal Sfeir, Patriarca de Antioquia dos Maronitas

Sede: Bkerke, Líbano

Fiéis: 2.000.000


No Brasil:

Eparquia Maronita do Brasil, em São Paulo (SP)

Paróquias:
Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo (SP)
Nossa Senhora do Líbano, no Rio de Janeiro (RJ)
Nossa Senhora do Líbano, em Porto Alegre (SP)
Nossa Senhora do Líbano, em Belo Horizonte (MG)
Nossa Senhora do Líbano, em Bauru (SP)
São Maron, em Goiânia (GO)

Página na Internet: http://www.igrejamaronita.org.br/menu/pgmenu.asp




Eparquia Maronita do Brasil

Eparquia Maronita do Brasil, em São Paulo (SP)


Fontes:
 
GIBBON, Edward. Decline and fall of the Roman Empire. Cap. XLVII. Enciclopédia Britânica, 1987. Coleção Great Books of the Western World.

KHATLAB, Roberto. As Igrejas Orientais, católicas e ortodoxas, tradições vivas. São Paulo: Ave Maria edições, 1997. 256p.

EPARQUIA Maronita do Brasil – Igreja de rito oriental católica apostólica romana. São Paulo, 2001. 16 pgs.


 

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