Esta página tem como objetivo informar ao público brasileiro não só quanto à Igreja Católica Greco-Melquita, mas também quanto a todas as igrejas católicas orientais. Essas igrejas são um patrimônio de todos os católicos. Gradativamente esta página pretende apresentar algumas delas. 

Este texto é propriedade intelectual do seu autor Paulo Avelino. É permitida sua reprodução em sítios na Internete, para fins religiosos e/ou educacionais, desde que citado o autor (Paulo Avelino), o seu endereço eletrônico (melquita@yahoo.com.br) e a fonte (http://www.oocities.org/br/melquita). É proibida e reprodução em meio físico, incluindo o Jornal O Cedro, sem a autorização expressa do autor.



A Igreja Ucraniana Católica


Igreja de São Jorge, em Lvov - Ucrânia

Igreja de São Jorge, em Lvov - Ucrânia, antiga sede da Igreja Ucraniana Católica
 
 

No dia 27 de junho de 2001 o Sumo Pontífice João Paulo II terminou uma visita de cinco dias a Ucrânia. Os jornais do mundo inteiro comentaram sobre tal igreja, e dos problemas entre católicos e ortodoxos na Ucrânia e na Rússia, e por extensão em todo mundo, dos qual esta igreja é o epicentro. Realmente é uma igreja pequena (dois milhões de adeptos segundo Roberto Khatlab; cinco milhões segundo a Folha de São Paulo), mas tem ocupado boa parte das preocupações dos Papas desde a Segunda Guerra.

A história da Igreja Católica Ucraniana começa no ano de 1595, com um sínodo (reunião de bispos) realizado na cidade de Brest-Litovski. Antes disso a igreja na Ucrânia fazia parte da Igreja Ortodoxa e não reconhecia o papa como o cabeça da Igreja. No entanto havia conflitos entre o Patriarcado de Constantinopla, que é o principal Patriarcado ortodoxo, e o novo Patriarcado ortodoxo da Rússia, que se esforçava por querer dominar a Igreja Ucraniana. Diante dessa pressão a Igreja Ucraniana resolveu voltar-se de novo para Roma. A 23 de dezembro de 1595 quase toda a hierarquia ucraniana voltou ao seio de Roma, mantendo porém os ritos bizantinos próprios.

A Ucrânia porém estava com suas partes central e oriental sob o domínio dos Czares russos, que tinham a igreja Ortodoxa como religião oficial. Os czares proibiam católicos de rito ortodoxo no território de seu império, só permitindo os de rito latino.  Como conseqüência durante séculos os católicos ucranianos foram perseguidos, gerando mártires como São Josafá, Arcebispo de Polosk, assassinado em 1623. A Igreja Católica no entanto vicejou na parte ocidental da Ucrânia, tendo como centro a cidade de Lvov, pois esta estava sob o domínio do Império Austro-Húngaro.

As tribulações modernas da igreja começaram em 1939 com a Segunda Guerra Mundial, quando os exércitos de Stalin tomaram parte da Polônia, inclusive a cidade de Lvov e seus arredores. Por pouco tempo, pois dois anos depois era a Alemanha de Hitler que invadia a região. No entanto em 1944 a União Soviética invade e retoma. A Igreja Ortodoxa Russa na época era controlada pelo estado Soviético. A Stalin não agradou a permanência de uma igreja ligada a Roma em seu território. Por isso logo depois da guerra ordens vieram de Moscou de a Igreja Católica Ucraniana se autodissolver e transferir seu pessoal e suas propriedades para a Igreja Russa Ortodoxa. Um sínodo por pressão da polícia política soviética foi organizado e uma parte dos bispos e sacerdotes aderiu à ortodoxia. Mas houve os que apesar das ameaças decidiram manter sua fé. A estrutura de paróquias e dioceses foi passada para a Igreja Ortodoxa.

O líder da Igreja Ucraniana, o Arcebispo Maior de Lvov, André Szeptyckyj morrera em 1944 nas prisões soviéticas. E então surge a corajosa figura de seu sucessor, o Monsenhor Josyf Splipyi, bispo desde 1939. Apesar de toda a pressão ele disse não à liquidação da Igreja. Isso lhe custou caro. No dia 11 de abril de 1945 ele e cinco bispos foram presos e mandados para a Sibéria, condenados a oito anos de trabalhos forçados. E a cada vez que chegava ao final de sua pena acrescentavam-lhe uma outra, de forma que nunca era solto. Em 53 foi condenado a quatro anos de exílio na Sibéria, em 57 foi condenado a um campo de concentração. Dois anos depois lhe propuseram soltá-lo, desde que ele aceitasse a dissolução da Igreja e sua adesão à Igreja Ortodoxa Russa. Ele recusou e como castigo sua pena foi prolongada. Todos os outros bispos morreram na prisão. Enquanto isso os padres, freiras e fiéis lutavam na clandestinidade, fazendo batismos e sacramentos no sigilo e sob perseguição da polícia.

Em 1963 com a crise dos mísseis em Cuba o Vaticano atuou como mediador entre a União Soviética e os Estados Unidos. Como recompensa o papa João XXIII exigiu a libertação do arcebispo católico. Dizem que Khrushev, ao saber da reivindicação, teria dito, numa pitada de humor negro: “ele não está morto?...”

Mas não estava. Estava mancando de ferimentos de congelamento, aos 71 anos, mas não estava morto. Libertado e no exílio continuou sua luta para sua igreja não ser esquecida. Participou do Concílio Vaticano II e em 1965 foi elevado a Cardeal pelo Papa Paulo VI. Reivindicou ser reconhecido Patriarca como recompensa ao heroísmo de sua igreja, mas devido à oposição da Igreja Ortodoxa Russa este título não foi concedido.

Em 1984 Cardeal Slipyi morreu aos 92 anos, sendo substituído por Myroslav Lubachivsky, logo também elevado a Cardeal. Foi este prelado que, com o fim da União Soviética assistiu à legalização da sua igreja e voltou a Ucrânia em 1991. Naquele mesmo ano o governo daquele país agora independente devolveu à Igreja Católica Ucraniana os bens que lhe tinham sido confiscados no tempo da perseguição. No fim de 2000 Cardeal Lubachivsky morreu, sendo eleito para substituí-lo Dom Lubomyr Husar, elevado a Cardeal em fevereiro de 2001. O fato do Santo Padre elevar a cardeal os líderes dessa Igreja é um claro sinal do apoio à sua luta.

Atualmente os problemas se referem basicamente ao conflito com a Igreja Ortodoxa. O Patriarcado Ortodoxo de Moscou acusa os católicos de tomarem à força as cerca de 2.500 paróquias devolvidas. E além disso os ortodoxos acusam os católicos de fazerem proselitismo em seu território.

No Brasil a Igreja Ucraniana Católica foi trazida por imigrantes ucranianos que se concentraram nos estados do Paraná e Santa catarina, e conta
com 21 paróquias e 201 capelas. A diocese conta com ordens como a Ordem Basiliana de São Josafá e outras.

Atualizaçao:

Em agosto de 2005 esta Igreja mudou sua sede da cidade de Lvov para a cidade de Kiev, capital da Ucrânia. Igrejas ortodoxas protestaram contra este ato, afirmando que seria uma forma de proselitismo e desrespeito a esas igrejas. O cardeal Husar negou e disse que esta mudança era simplesmente uma decorrência do desenvolvimento da Igreja, que precisava ser presente na capital. O Vaticano reconheceu tacitamente tal mudança em 29/12/2005, quando um comunicado do VIS - Vatican Information Service se dirigiu ao Cardeal Husar como "Arcebispo Maior de Kiev e Halic", seu título depois da mudança, e não como "Arcebispo Maior de Lvov", o título até agosto de 2005.

Resumo:

Igreja Ucraniana Católica

Chefe espiritual: Dom Lubomyr Cardeal Husar, Arcebispo Maior de Kiev e Halic
Sede: Kiev– Ucrânia

Fiéis: 2 a 5 milhões, de acordo com várias estatísticas

No Brasil:

Diocese de São João Batista, criada a 29.11.71 pelo papa Paulo VI


Bispo: Dom Efraim Krevey, Bispo ucraniano católico do Brasil, desde 1978.

Bispos coadjutores:

Dom Waldomiro Koubetch, OSBM (Ordem de São Basílio Magno). Nascido em 27/03/53 em Mandaguaçu/PR. Possui doutorado na PUC do Rio de Janeiro em Teologia Moral. Sagrado bispo em 2004.

Dom Myron Mazur. Nascido em 05/02/62 em Linha Eduardo Chaves, Prudentópolis (PR). Possui mestrado em ciências da educação. Sagrado bispo em 2006.

Paróquias - No Paraná: Curitiba, Campo Mourão, Cascavel, Cruz Machado (Paróquia Exaltação da Santa Cruz da Colônia Rio das Antas), Dorizon, Guarapuava, Reserva (Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - fundada em 2003), Ivaí, Mallet (Paróquia São José), Maringá, Pato Branco, Pitanga, Ponta Grossa, Prudentópolis, Roncador, União da Vitória (Paróquia de São Basílio Magno - fundada em 31/07/53; Paróquia da Santíssima Trindade de Rito Ucraniano - Bairro São Cristóvão), Vera Guarani (Paróquia da Natividade de Nossa Senhora - fundada em 1953). Em Santa Catarina: Canoinhas, Iraputã. Em São Paulo: São Paulo. Reitorias em Antônio Olinto e Apucarana (PR) e Mafra (SC). Seminário Menor em Mallet e Noviciado Basiliano em Ivaí.


Curiosidade:  o Bispo auxiliar do Cardeal Husar no Arcebispado Maior de Kiev e Halic é um brasileiro, Dom Deonísio Lachovicz, nascido em 02/07/1946 em Pombas, Itaiópolis (SC). Cursou Teologia em Roma.
Sagrado bispo em 2006.

 

Fontes:

KHATLAB, Roberto. As Igrejas Orientais, católicas e ortodoxas, tradições vivas. São Paulo: Ave Maria edições, 1997. 256p. [O autor deste livro é o adido cultural da Embaixada Brasileira no Líbano e gentilmente colocou sua obra à disposição desta página para reprodução e resumo, e a ele agradecemos].

“Viagem do Papa à Rússia fica mais distante”  - Folha de São Paulo, 28/06/2001, pag. A14.

“Giving light to church's dark era”  - The Dallas Morning News. 22/06/2001

Correspondência particular com o Sr. Marcos Roberto Leão, de União da Vitória (PR) a quem esta página agradece as informações prestadas.

 

Arcebispo Lubomyr Cardeal Husar

Dom Lubomyr Cardeal Husar, Arcebispo Maior de Kiev e Halic e chefe espiritual da Igreja Ucraniana Católica - visita ao Brasil em março de 2004 para a sagração episcopal de Dom Waldomiro Koubetch - foto do sítio ecclesia (http://www.ecclesia.com.br/galeria/main.htm).
[Sentados, a partir da esquerda: Dom Efraim Krevey, Dom Lubomyr, Dom Pedro Fedalto, então Arcebispo (latino) de Curitiba. Em pé, à esquerda, de perfil, Pe. Domingos Starepravo, OSBM, ex-superior provincial e agora diretor do seminário de Prudentópolis; atrás de Dom Efraim, de batina preta, Pe. Marcos César Andreiw, coadjutor da catedral; atrás de Dom Pedro, de batina preta, o Pe. Edison .Boiko]

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