CONCLUSÃO



Procuramos por meio deste trabalho analisar o processo de interação cultural entre gregos e indianos através de um angulo singular: o desenvolvimento do budismo na região da Báctria. Neste trabalho tentamos enxergar o processo de interação cultural, embora por um ângulo restrito, com uma visão de neutralidade, sem pender para nenhum dos lados que estudam esse processo (os helenistas e os indianistas).

Analisamos esse processo desta maneira por acreditarmos que interação não implica somente numa relação de dominador/dominado, mas também em uma relação de troca. Pelo documento que estudamos, o Milinda Panha, podemos ver essa interação, ora sutil, ora explícita, em várias partes do texto e dispostas de diversas maneiras. O diálogo poderia ser facilmente comparado a um escrito de Platão; a descrição que se faz da cidade, por sua vez, é demais parecida com as póleis.

Devemos tomar cuidado quando analisamos este documento, pois tendemos a ver e a ressaltar somente as características gregas. Mas se prestarmos devida atenção notaremos que o ensinamento que o texto procura passar é puramente indiano e que não devemos pensar que a retórica utilizada, apesar de muita semelhança com a grega, é fruto de uma apropriação por não se ter outra a usar. Queremos chamar atenção para o fato de que os indianos tinham sua própria retórica, filosofia, ciência.... Enfim, possuíam seu próprio modelo (paradigma).

No caso do Milinda Panha, podemos afirmar, com o que foi demonstrado até aqui, que os indianos, num momento de troca, utilizaram o modelo do "outro" para fazer-se entender. Pois numa convivência é preciso estabelecer uma comunicação que seja inteligível para todos, caso o contrário a convivência se torna conflituosa. E isso implica em aprender e utilizar conceitos de outro.

Através do nosso ângulo restrito, ou seja, o desenvolvimento do budismo na Báctria,vemos os indianos aprendendo e utilizando conceitos dos gregos (o "outro") para transformarem uma proposta (a doutrina budista) inteligível aos gregos. Para que isso fosse realizado, havia a necessidade de antes interagir; trocar conhecimentos em si.

Levando a conclusão que daqui tiramos para um momento como o da série de reis que vieram depois de Diodoto I, vemos que esses reis utilizaram conceitos e símbolos indianos cunhados em moedas para fazerem seus súditos indianos entenderem quem era o rei. Num outro momento podemos ver Açoka, quando da expansão de seu território, utilizando a língua grega para propagar a ideologia budista em seus "Éditos da Ordem".

Portanto o que ocorreu do encontro entre gregos e indianos na Báctria foi algo além de uma simples relação de dominador/dominado, foi um choque de modelos seguido de uma relação de troca de conhecimentos, que produzirá mais tarde uma assimilação de modelos e culturas sem, no entanto, extinguir os modelos e culturas originais de cada povo, promovendo, porém, apenas uma adaptação ou transformação destes.


Daniel B. Domingues da Silva





clique aqui!
by Banner-Link

Documentação textual:

___________. Milinda Panha: As Perguntas do Rei Milinda. Rio de Janeiro: ed. Livros do Mundo Inteiro, 1973.


Bibliografia:

- AYMARD, A. et AUBOYER, J. A Ásia Oriental do Século IV ao Século I a.C. In: O Oriente e a
Grécia Antiga: O Homem no Oriente Próximo. Rio de Janeiro: ed. Bertrand brasil, s/d.

- COOK, J.M. Alexandre e o Mundo Oriental. In: Os Gregos na Jônia e no Oriente. Lisboa:
Editorial Verbo, 1971.

- GARD, Richard A. Budismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.

- GARDIM,J. C. História e Arqueologia: Os Antecedentes do Reino Greco-Bactriano na Ásia Central.
In: Revista Phoînix. Rio de Janeiro: 7Letras, 1999, pp.177-199.

- JAROCKA, M.L. As relações entre a Índia e a Grécia antes e depois de Alexandre.

In. Textos de Cultura Clássica. Brasil: SBEC, 1991.

- LÉVÊQUE, P. O Mundo Helenístico. Lisboa: Edições 70, 1999.

- LEITE, E. Da Civilização do Indo ao Immpério Maurya: Novas Abordagens no Estudo da Índia Antiga.
In. Revista Phoînix. Rio e Janeiro: 7Letras, 1999. pp. 139-154

- LEITE, E. Origens da Iconografia Budista. In: Revista Phoînix. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000. Pp. 136-152.

- PERCHERON, Maurice. Buda e o Budismo. Rio de Janeiro: Livraria Agir editores, 1968.

- RENOU, Louis. Hinduísmo. Rio de Janeiro: Zahar editores, s/d.

- SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

- WHEELER, S.M. Ashoca. In: Índia e Paquistão. Lisboa: Editorial Verbo, 1970.





FastCounter by bCentral

não se esqueça de assinar nosso livro de visitas

ler o livro

my Dreambook!

deixe sua mensagem no livro de visitas

my Dreambook!
Dreambook