Pelo telefone

Donga e Mauro de Almeida (1916)

    Pelo telefone com Bahiano 1917

O Chefe da Folia

Pelo telefone manda me avisar

Que com alegria

Não se questione para se brincar

 

Ai, ai, ai

É deixar mágoas pra trás, ó rapaz

Ai, ai, ai

Fica triste se és capaz e verás

 

Tomara que tu apanhe

Pra não tornar fazer isso

Tirar amores dos outros

Depois fazer teu feitiço

 

Ai, se a rolinha, Sinhô, Sinhô

Se embaraçou, Sinhô, Sinhô

É que a avezinha, Sinhô, Sinhô

Nunca sambou, Sinhô, Sinhô

Porque este samba, Sinhô, Sinhô

De arrepiar, Sinhô, Sinhô

Põe perna bamba, Sinhô, Sinhô

Mas faz gozar, Sinhô, Sinhô

 

O “Peru” me disse

Se o “Morcego” visse

Não fazer tolice

Que eu então saísse

Dessa esquisitice

De disse-não-disse

 

Ah! Ah! Ah!

Aí está o canto ideal, triunfal

Ai, ai, ai

Viva o nosso Carnaval sem rival

 

Se quem tira o amor dos outros

Por Deus fosse castigado

O mundo estava vazio

E o inferno habitado

 

Queres ou não, Sinhô, Sinhô

Vir pro cordão, Sinhô, Sinhô

É ser folião, Sinhô, Sinhô

De coração, Sinhô, Sinhô

Porque este samba, Sinhô, Sinhô

De arrepiar, Sinhô, Sinhô

Põe perna bamba, Sinhô, Sinhô

Mas faz gozar, Sinhô, Sinhô

 

Quem for bom de gosto

Mostre-se disposto

Não procure encosto

Tenha o riso posto

Faça alegre o rosto

Nada de desgosto

 

Ai, ai, ai

Dança o samba

Com calor, meu amor

Ai, ai, ai

Pois quem dança

Não tem dor nem calor

 

    Gravada originalmente em versão instrumental na Odeon (Casa Edison) em 1916 pela Banda Odeon, e logo em seguida recebendo a versão cantada de Baiano e coro, também pela mesma gravadora e no mesmo ano. Ambas lançadas em discos 78 rpm.

    Outras gravações conhecidas são as da Banda do 1º Batalhão da Brigada Policial da Bahia, José Gonçalves (1938), Conjunto Regional do Donga (1938), Almirante (1952), Gilberto Alves, Mário Reis, Carolina Cardoso de Menezes (piano), Marlene com Nuno Roland & Blecaute (1968), Abel Ferreira, Altamiro Carrilho (1962), Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (1957), Carolina Cardoso de Menezes (1957), Paulo Tapajós, Os Cinco Crioulos (1967), Plauto Cruz (flauta, 1980), MPB-4 (1970), Elza Soares, Martinho da Vila (1973), Banda do Canecão (1973), Grupo 10.001 & Vocal Documenta (1975), Os Caretas, Roberto Izidon (piano), Ivan Paulo, Trovadores Urbanos (1995), entre outras.

    Eis o nosso primeiro samba oficial, grande sucesso dos carnavais a partir do de 1917.

    Mauro de Almeida adotava o pseudônimo de Peru dos Pés Frios, daí os versos O Peru me disse.... Outra citação é a do Morcego, um cronista carnavalesco da época chamado Norberto Amaral.

    A popularidade desta música foi tamanha que apareceram ainda muitas variantes, todas elas muito espirituosas. Esta foi a primeira, estampada na coluna Pingos e Respingos do Correio da manhã, de 15/12/1917:

O Chefe da Polícia

Com toda carícia

Mandou-nos avisá

Que de rendez-vuzes

Todos façam cruzes

Pelo carnavá!...

 

Em casas da zona

Não entra nem dona

Nem amigas sua

Se tem namorado

Converse fiado

No meio da rua.

 

Em porta e janela

Fica a sentinela

De noite e de dia;

Com as arma embalada

Proibindo a entrada

Das moça vadia

 

A lei da polícia

Tem certa malícia

Bastante brejeira;

O chefe é ranzinza

No dia de "cinza"

Não quer Zé-Pereira!

 

Coro (Civis)

 

Me dá licença, não dou, não dou

Faça favô, não dou, não dou

Pra residença, não dou, não dou

Com pressa vou, não dou, não dou

 

Coro (Madamas)

 

Do chefe é orde? Não vou, não vou

Sua atrevida, não vou, não vou

Entrar não pode, não vou, não vou

Vá pra Avenida, não vou, não vou.

 

    Edigar de Alencar ainda cita outro episódio:

    "A outra versão espirituosa focalizava um fato de 1913, quando da anterior campanha do jornal A Noite contra o jogo. Naquele ano, para provar a inocuidade da repressão policial ao jogo, o vibrante vespertino instalara no Largo da Carioca, em frente da sua redação, uma roleta. A iniciativa fora dos repórteres Castelar de Carvalho e Eustáquio Alves. Eis os versos da bem sucedida paródia:

 

O chefe da polícia

Pelo telefone

Manda me avisar,

Que na Carioca

Tem uma roleta

Para se jogar...

 

Ai, ai, ai

O chefe gosta da roleta, ó maninha

Ai, ai, ai

Ninguém mais fica forreta, ó maninha

 

Chefe Aurelino, Sinhô, Sinhô,

É bom menino, Sinhô, Sinhô,

Faz o convite, Sinhô, Sinhô,

Pra se jogar, Sinhô, Sinhô,

De todo jeito, Sinhô, Sinhô,

O bacará, Sinhô, Sinhô,

O pinguelim, Sinhô, Sinhô,

Tudo é assim, Sinhô, Sinhô."  1

 

Foto da partitura original

 

1. ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1985, p. 121.

 

Letra com cifras 

(insistir OK 3 vezes quando perguntado)

 


Voltar