Donga e
Mauro de Almeida (1916)
O
Chefe da Folia
Pelo
telefone manda me avisar
Que
com alegria
Não
se questione para se brincar
Ai,
ai, ai
É
deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai,
ai, ai
Fica
triste se és capaz e verás
Tomara
que tu apanhe
Pra
não tornar fazer isso
Tirar
amores dos outros
Depois
fazer teu feitiço
Ai,
se a rolinha, Sinhô, Sinhô
Se
embaraçou, Sinhô, Sinhô
É
que a avezinha, Sinhô, Sinhô
Nunca
sambou, Sinhô, Sinhô
Porque
este samba, Sinhô, Sinhô
De
arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe
perna bamba, Sinhô, Sinhô
Mas
faz gozar, Sinhô, Sinhô
O
“Peru” me disse
Se
o “Morcego” visse
Não
fazer tolice
Que
eu então saísse
Dessa
esquisitice
De
disse-não-disse
Ah!
Ah!
Ah!
Aí
está o canto ideal, triunfal
Ai,
ai, ai
Viva
o nosso Carnaval sem rival
Se
quem tira o amor dos outros
Por
Deus fosse castigado
O
mundo estava vazio
E
o inferno habitado
Queres
ou não, Sinhô, Sinhô
Vir
pro cordão, Sinhô, Sinhô
É
ser folião, Sinhô, Sinhô
De
coração, Sinhô, Sinhô
Porque
este samba, Sinhô, Sinhô
De
arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe
perna bamba, Sinhô, Sinhô
Mas
faz gozar, Sinhô, Sinhô
Quem
for bom de gosto
Mostre-se
disposto
Não
procure encosto
Tenha
o riso posto
Faça
alegre o rosto
Nada
de desgosto
Ai,
ai, ai
Dança
o samba
Com
calor, meu amor
Ai,
ai, ai
Pois
quem dança
Não
tem dor nem calor
Gravada originalmente em versão instrumental na Odeon (Casa Edison) em 1916
pela Banda Odeon, e logo em seguida recebendo a versão cantada de Baiano e
coro, também pela mesma gravadora e no mesmo ano. Ambas lançadas em discos 78
rpm.
Outras gravações conhecidas são as da Banda do 1º Batalhão da Brigada
Policial da Bahia, José Gonçalves (1938), Conjunto Regional do Donga (1938),
Almirante (1952), Gilberto Alves, Mário Reis, Carolina Cardoso de Menezes
(piano), Marlene com Nuno Roland & Blecaute (1968), Abel Ferreira, Altamiro
Carrilho (1962), Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (1957), Carolina
Cardoso de Menezes (1957), Paulo Tapajós, Os Cinco Crioulos (1967), Plauto Cruz
(flauta, 1980), MPB-4 (1970), Elza Soares, Martinho da Vila (1973), Banda do
Canecão (1973), Grupo 10.001 & Vocal Documenta (1975), Os Caretas, Roberto
Izidon (piano), Ivan Paulo, Trovadores Urbanos (1995), entre outras.
Eis o nosso primeiro samba oficial, grande sucesso dos carnavais a partir do de
1917.
Mauro de Almeida adotava o pseudônimo de Peru dos Pés Frios, daí os versos O
Peru me disse.... Outra citação é a do Morcego, um cronista carnavalesco
da época chamado Norberto Amaral.
A popularidade desta música foi tamanha que apareceram ainda muitas variantes,
todas elas muito espirituosas. Esta foi a primeira, estampada na coluna Pingos
e Respingos do Correio da manhã, de 15/12/1917:
O
Chefe da Polícia
Com
toda carícia
Mandou-nos
avisá
Que
de rendez-vuzes
Todos
façam cruzes
Pelo
carnavá!...
Em
casas da zona
Não
entra nem dona
Nem
amigas sua
Se
tem namorado
Converse
fiado
No
meio da rua.
Em
porta e janela
Fica
a sentinela
De
noite e de dia;
Com
as arma embalada
Proibindo
a entrada
Das
moça vadia
A
lei da polícia
Tem
certa malícia
Bastante
brejeira;
O
chefe é ranzinza
No
dia de "cinza"
Não
quer Zé-Pereira!
Coro
(Civis)
Me
dá licença, não dou, não dou
Faça
favô, não dou, não dou
Pra
residença, não dou, não dou
Com
pressa vou, não dou, não dou
Coro
(Madamas)
Do
chefe é orde? Não vou, não vou
Sua
atrevida, não vou, não vou
Entrar
não pode, não vou, não vou
Vá
pra Avenida, não vou, não vou.
Edigar de Alencar ainda cita outro episódio:
"A outra versão espirituosa focalizava um fato de 1913, quando da anterior
campanha do jornal A Noite contra o jogo. Naquele ano, para provar a
inocuidade da repressão policial ao jogo, o vibrante vespertino instalara no
Largo da Carioca, em frente da sua redação, uma roleta. A iniciativa fora dos
repórteres Castelar de Carvalho e Eustáquio Alves. Eis os versos da bem
sucedida paródia:
O
chefe da polícia
Pelo
telefone
Manda
me avisar,
Que
na Carioca
Tem
uma roleta
Para
se jogar...
Ai,
ai, ai
O
chefe gosta da roleta, ó maninha
Ai,
ai, ai
Ninguém
mais fica forreta, ó maninha
Chefe
Aurelino, Sinhô, Sinhô,
É
bom menino, Sinhô, Sinhô,
Faz
o convite, Sinhô, Sinhô,
Pra
se jogar, Sinhô, Sinhô,
De
todo jeito, Sinhô, Sinhô,
O
bacará, Sinhô, Sinhô,
O
pinguelim, Sinhô, Sinhô,
Tudo
é assim, Sinhô, Sinhô." 1
1.
ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro,
Francisco Alves, 1985, p. 121.
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