Cinge-Nos



Cinge-lhe as mãos fino cristal,
Como veias roxas de desdém,
Cinge-me o desdém o fel,
E o mundo que jaz a meus pés.

Cinge-me os pulsos o estorvo
Meu corpo disforme, a dor,
Cinge-lhe tudo o que for
Corpo informe e pormenor.

Cinge-lhe o ar de encontro ao peito,
Falta-me o ar rarefeito,
E sou o que vai sozinho na rua
De alma lavada a preceito.

Cinge-me os olhos a luz,
Absurdamente viva  e sedutora,
Cinge-lhe a alma,  redutora,
A mesquinhez do desdém.    

Cinge-lhe a amargura,
Cinge-me a cegueira,
Parábola ou escravatura,
Palavra aduaneira.

Cinge-me isto e aquilo
Cinge-lhe tudo ou nada
Cinge-me o ardor das coisas
Cinge-lhe as coisas de nada

E assim somos nós,
Com qualquer coisa a apertar,
Diferentemente a sós,
Ou perto do que levar.

Jorge Humberto
20/12/05
No Acaso da Poesia
Menu