Diário da mamãe

 

19.02.2003

 

Hoje, vigiando seu sono, consigo entender o sentimento que me movia a desejar a maternidade há tanto tempo. Não digo que você demorou a vir, hoje eu tenho 35 anos, mas como tudo na vida, veio num bom momento. No fundo acredito que, quando dizemos que algo acontece quando “tem que acontecer” ou resignadamente “quando Deus quer”, utilizamos uma “desculpa” pra aplacar nossa ansiedade e não se debater contra a vida. O cuidado que devemos tomar é não nos tornarmos passivos demais apoiados nesses pensamentos.

 

Mas permito-me a fraqueza... sua gravidez foi uma permissão de Deus, pra dar objetivo a vida de sua mãe. Não construí muita coisa... não fiz faculdade... tenho um emprego público comum... Mas consegui juntar uns “vinténs” e investir num imóvel e terei aposentadoria integral daqui 13 anos e minha esperança é conseguir investir pesado nos seus estudos futuros... quem sabe um MBA no exterior... e asas para voar alto... será que você será político assim como as previsões ?? Ou quem sabe músico... ou esportista... ou professor... ou astronauta, bem esta última anda meio mal cotada depois da explosão da nave Columbia há pouco tempo. Independente de nossos desejos vou procurar descobrir suas qualidades e incentivá-las, procurando não interferir nas suas escolhas, mas orientando. Vamos lá... está aberta a minha temporada da maternidade e tenho muito que aprender com você... tanto quanto você comigo.    

 

Hoje fomos ao pediatra, Dr. Mauri, e pra orgulho geral de seus pais você está pesando 4,750 kg e está com 54,5 cm. Saio do consultório sorrindo as pampas. Alimentado só com leite materno, estamos de parabéns.

 

20.02.2003

 

Estive relembrando o momento do parto. Penso bastante nisso. O tempo já está passando rapidamente, como num piscar de olhos já se foram 42 dias.

 

Naquele dia, 09.01.2003, passei por consulta com o Dr. Francisco pela manhã. Já fazia 15 dias que estávamos esperando que ele dissesse que era o momento, que nunca chegava. Os últimos 21 dias de gravidez foram os mais difíceis, fez muito calor, eu estava pesada, inchada, a pressão subindo um pouco, noites sem dormir e a ansiedade louca de ver você. O tempo demorou a passar.

 

Passei uns dias com seu Avô Romualdo, na chácara. Ele curtiu comigo essa ansiedade, assim como seus tios e a vovó... O Vô Luiz estava internado, uma grande pena, um derrame cerebral na véspera do Natal, porém tínhamos no coração a esperança que ele continuasse com a gente... ele queria muito conhecer você.

 

Bem, aí o Dr. Francisco examinou e disse “agora está maduro, vamos fazer a cesárea hoje”. Dio Mio... esperei tanto mas o “hoje” é muito próximo. Saí do consultório com o Avô (ele sempre me levava) e tinha umas coisas pra fazer, a primeira delas foi ligar pro Papai que ficou empolgadíssimo, cheio de alegria na voz !! O Vovô me levou pra almoçar num restaurante legal, fiz uma super refeição ao lado dele pra comemorar sua iminente chegada, passei na banca de revistas e comprei o jornal “Folha de São Paulo” para que você saiba, no futuro, o que acontecia quando nasceu, fui à manicure, pra me cuidar um pouco, verifiquei a bolsa, consegui montar um e-mail para avisar os amigos, embora meses antes do parto, eu e o Papai havíamos combinado que faríamos a publicidade de seu nascimento após acontecido... mas não resistimos... ele também avisou todos os amigos que pode. E de repente já era hora de ir. Os Tios Beto e Bia vieram me buscar, quando estávamos saindo Papai chegou em casa, fomos para a maternidade, onde mais tarde Papai nos encontrou à espera para entrar no Centro de Obstetrícia.

                                                                                                            

 

 

 

 

Então chegou a hora de entrar no Centro Cirúrgico, eu estava tão ansiosa que fui apressada seguindo a enfermeira, então o Papai me seguiu e tocou meu braço... eu me virei e ele me beijou e sorriu... aquele sorriso encantador de felicidade como havia visto em seu rosto no primeiro encontro... e me desejou boa sorte... e cruzei o portal, estava próxima demais de ver você. Os momentos de espera na sala de pré-parto foram os mais demorados de toda a gravidez, e foram apenas 20 minutos.

 

Enfim fui encaminhada à sala de cirurgia e, embora centro cirúrgico não fosse novidade pra mim, eu estava ansiosa. Deitei-me na maca e aguardei os preparativos, a espetada da agulha para receber o soro e a tão temida anestesia na coluna (não foi tão ruim quanto eu pensava). A equipe médica foi muito gentil. Dr. Francisco e sua assistente Dra. Marissa são excelentes profissionais. O anestesista e o pediatra também super simpáticos conversaram muito comigo e a Tia Bia que estava com a gente pra assistir e fotografar seu nascimento. Enfim as pernas estavas amortecidas (como se eu não as tivesse) e a cirurgia começou. Não senti dor, apenas um mal estar passageiro e uma curiosidade monstruosa... o primeiro corte foi feito para drenar o líquido, e Dr. Francisco disse que estava vendo seus cabelos... Meu coração a mil e os médicos empurraram minha barriga num momento de tensão e então seu choro surgiu... queria descrever a emoção... essa emoção que me move também quando recordo e que ficará eternizada em minha alma... a certeza de que foi vencida a etapa do parto e todos os medos dissipados. Meu bebê está bem, está vivo, chorou pouco, é tranqüilo, embora tenha nascido com o cordão umbilical enrolado no pescoço.

 

E o pediatra me trouxe você... embrulhado em um pano azul... e sujinho de sangue... e eu fotografei em minha mente aquele quadro divino... e apenas disse “então era você o morador da minha barriga...”. 

 

Dra. Marissa comentou sua tranqüilidade e eu contei que havia conversado com você durante à tarde, explicando o que aconteceria “olha, meu bebê, hoje à noite vai acontecer a cirurgia. O doutor vai fazer um buraquinho na barriga da mamãe e vai tirar você. Embora pareça assustador não tenha medo, a mamãe e o papai vão estar aqui esperando por você”.

 

21.02.2003

 

Estive observando você com atenção enquanto amamentava há pouco... A visão que tenho de você adormecido ao seio é uma das coisas mais lindas que já vi toda a minha vida! Aproveito bem este momento, que é raro, pois sei que sentirei saudades. Que impressionante a velocidade com que as mudanças acontecem. São só 43 dias do seu nascimento e você já não é um recém-nascido. Não só na idade, mas no comportamento. Já briga com o sono e faz força pra se manter acordado, reconhece minha voz e adora ouvir conversas, olha atentamente em nossos olhos quando falamos. Já cresceu 4cm e está 900gr mais pesado do que quando nasceu, tem roupinhas que já não servem. E gosta de ouvir música, especialmente uma caixinha de música que era de sua Avó Lúcia, minha mãe, falecida há quase 22 anos.

 

Já tem no braço uma marca de vacina e eu já sinto saudades do recém-nascido de uma semana, todo encolhidinho... risos... embora espere ansiosa cada sinal de seu desenvolvimento. Deus queira que eu chegue saudável até sua maturidade, pra acompanhar de perto suas vitórias.

 

E você nasceu no Dia do Astronauta, que coincidência... eu dizia que seria astronauta quando era criança.


Dia do Astronauta


Neil Alden Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua, como comandante da missão Apolo 11, que em 1969, efetuou o primeiro pouso de uma nave tripulada na Lua. Nascido em Bauru (SP), em 1963, o major Marcos César Pontes será o primeiro astronauta brasileiro. Junto com tripulantes de outros países, ele faz parte do projeto da Estação Espacial Internacional, que deverá estar em órbita em 2004.

 

 

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