UMA EXPERIÊNCIA EM AVALIAÇÃO EM ARARAQUARA
Otávio Luciano Camargo Sales
de Magalhães
EMEF Eng. Ricardo Caramuru
de Castro Monteiro
1.
Introdução
Neste documento resumo a
minha experiência real e bem sucedida em Avaliação Inicial, Formativa e Final,
segundo concepções dos educadores Fernando Hernandez e Jussara Hoffman em obras
consagradas. A experiência foi feita em 5 turmas de 5a até 8a
série da EMEF Eng. Ricardo Caramuru de Castro Monteiro, em Araraquara – SP,
enquanto professor efetivo de Matemática da rede municipal no ano de 2002.
Durante
o ano desenvolvi um trabalho atualizado com as novas concepções
psico-pedagógicas do processo de ensino aprendizado, pregadas nos PCNs e na
maioria das pesquisas atuais de Educação e Educação Matemática. No desenvolvimento do trabalho procurei contemplar um
pouco dos 6 paradigmas do ensino da Matemática mais consagrados da atualidade,
aproveitando o que cada um tem de melhor.
O trabalho mostrou-se bem
sucedido encontrando resultados muito superiores aos esperados, incluindo uma
enorme satisfação de alunos e pais de alunos com o trabalho desenvolvido e seus
frutos.
Baseei-me
nos princípios da educação democrática, no respeito aos alunos e suas
peculiaridades: foram trabalhados tópicos numa ordem de dificuldade gradativa
onde os alunos tinham plenas e totais capacidades de compreender o que estava
sendo ensinado, rompendo-se completamente com a vulgata escolar, ainda usada na
maioria dos cursos de Matemática. Foram tratados conceitos atitudinais,
procedimentais e afetivos durante todo o processo, além de avaliações contínuas
e ininterruptas do processo. Esta postura permitiu a clara visualização dos
progressos dos alunos nas avaliações, onde atingiram níveis surpreendentes se
tomarmos como base o nível geral do aprendizado da Matemática no país e no
resto do mundo.
Não consegui ensinar uma
grande variedade de tópicos (apesar de estender e trabalhar com temas muito
profundos em alguns deles) e não consegui deixar os alunos em seu nível ideal
(devido ao curto prazo, insuficiente para grandes progressos), tudo isto também
devido a trabalhos não satisfatórios realizados com eles em anos anteriores.
Porém consegui desmistificar duas coisas, e só isto já é o suficiente para que
eu considere o trabalho satisfatório: fiz com que nenhum aluno odiasse
Matemática e consegui fazê-los perder o medo da Matemática.
Acredito que tive graves
empecilhos que evitaram que meu trabalho fosse melhor:
1-
o
sistema de atribuição de notas e entrega de “papeletas”, além do preenchimento
de diários – totalmente incoerentes e desligados da realidade que eu
trabalhava, algumas vezes controverso;
2-
a
não compreensão do meu trabalho, por falta de oportunidades de divulgá-los, por
parte de meus colegas professores e direção escolar – fato que se fosse diferente
muito auxiliar no progresso da aprendizagem dos alunos;
3-
pouca
cota de xeróx, acesso restrito a softwares educacionais e falta de sala
ambiente;
4-
falta
de reuniões de pais e mestres, ao meu ver, fundamentais durante o processo.
2.
Sistemas de Avaliações e seus
instrumentos
Foram vários os instrumentos que eu criei para Avaliação em seus diversos aspectos. Tive muita dificuldade de conciliar o sistema de atribuição de notas com a Avaliação feita, portanto, acabaram-se criados instrumentos supérfluos, que deixo de relatar aqui. Todos os documentos dos alunos foram arquivados em “Dossiês”, contendo todos os instrumentos, avaliações e outros documentos produzidos pelos alunos. Ressalto que meu trabalho foi sistemático, com numeração ininterrupta de aulas, exercícios, atividades e tópicos conceituais.
Os instrumentos e sistemas de
avaliações foram os seguintes:
a) Ficha de Dados – no início do ano passei aos
alunos um questionário, pedindo seu telefone, endereço, nome dos pais, data de
nascimento, etc... Porém, este questionário não se limitava aos dados padrão,
também coletava dados como: número de irmãos, escolaridade e profissão de pais
e irmãos, reprovações escolares anteriores, disciplinas em que sentia
dificuldades, etc... Este documento permitiu que tivesse um perfil dos alunos e
adequasse meu trabalho.
b) Diagnóstico
de Aprendizagem (Avaliação Inicial) – ministrei durante o ano várias Avaliação Iniciais
visando compreender o nível anterior de conhecimento do aluno em tópicos
relacionados. Por exemplo, no início do ano apliquei o célebre “Teste de Van
Hiele” para conhecer o nível de conhecimento e aprendizado dos alunos em
Geometria. O teste permitiu direcionar o trabalho para que os alunos progridam
nos níveis de abstrações geométricas e também serviu para ser prova do
desenvolvimento dos alunos.
c) Avaliações
Formativas: Orais, Escritas e Contínuas – três tipos de avaliações formativas eram
trabalhadas. As Avaliações Orais
funcionavam num sistema combinado com os alunos, seguindo um ritual que em
pouco tempo todos aprenderam: eu falava questões oralmente e os alunos
resolviam no caderno; no final da avaliação, eu dava as respostas, comentando
os resultados, e os alunos contavam quantas questões acertaram, convertiam em
porcentagem, e colocavam os valores na Ficha do Cotidiano – permitindo assim
que o próprio aluno acompanhe o seu aprendizado e evolução. As Avaliações Escritas eram feitas
bimestralmente e visavam analisar as competências e habilidades adquiridas no
período. Após a aplicação da Avaliação Escrita montava uma tabela registrando
todos os erros de todos os alunos, e, em seguida, explicando na lousa para
todos os alunos da classe seus erros e os motivos que o conduziram ao erro
(gastei de 3 a 5 aulas para cada correção). Durante a correção, convencia o
aluno do motivo do seu erro e ensinava procedimentos que poderia ter para não
errar e aprender melhor. Após a correção, ministrava nova Avaliação e
verificava o progresso: raríssimos alunos continuam com os mesmos erros. A Avaliação Contínua é um nome que
atribuo para as questões que faço oralmente em todas as aulas para a classe,
durante as aulas expositivas. Em toda aula expositiva, passo boa parte do tempo
fazendo perguntas dirigida para a classe ou para alunos em especial, regulando
assim, a aprendizagem de cada um deles.
d) Instrumento
de Auto Avaliação – é um questionário longo aplicado bimestralmente, onde o aluno relata as
habilidades e competências adquiridas e as não adquiridas durante o período.
Tem instrumentos próprios para cada tópico, e baseia-se nas habilidades
propostas nos PCNs e em outras apontadas em pesquisas.
e) Ficha do
Cotidiano –
é o documento onde o aluno registra todas as suas atividades diárias e dá
ciência aos pais e à comunidade do que está produzindo. A última versão da ficha
tinha uma visual interessante e ilustrada com fotos de Gênios da Matemática e
de episódios importantes da história desta Ciência. A Ficha tem o objetivo de
registrar todas as tarefas realizadas pelo aluno. Após a realização da
atividade, se feita pontualmente, carimba-se em espaço reservado o carimbo
“pontual”. Se o aluno atrasou até uma semana após o prazo para fazer uma
atividade proposta, ganha o carimbo “tolerável”, após isto, se ele fizer a
tarefa, ganha o carimbo “tardio”. Caso não faça a tarefa até o prazo final
ganha o carimbo “não fez”. Nesta ficha também são registradas ocorrências,
observações, progresso do aluno, atividades não realizadas em outros períodos,
porcentagem de acerto nas Avaliações Orais, nota numérica da Avaliação Escrita
final, notas subjetivas para a Atitude, a Assiduidade e a Avaliação Contínua.
Ao final do período o aluno manda a ficha para que o pai assine. É interessante
ressaltar que esta ficha fica o tempo todo com o aluno e não com o professor e
serve de um referencial aos pais sobre a participação de seu filho em sala de
aula.
f) Instrumentos
de Avaliação do Professor – os alunos também são convidados a avaliar o meu trabalho respondendo
questionários.
Todos
estes documentos são arquivados em um Dossiê, e permite-se verificar e regular
o nível de aprendizado do aluno. Todos estes instrumentos permitam que eu
realize um trabalho de alta qualidade, com aprovação da comunidade e satisfação
dos alunos. É importante destacar que, como em toda ruptura, existem problemas
que surgem, como a resistência de alguns pais (principalmente em relação ao uso
de calculadoras) e desconfiança por parte dos alunos, que estranham não estarem
estudando “contas”. O senso comum acredita que ensino de Matemática com
qualidade é ensinar algebreira, portanto, qualquer trabalho diferente,
obviamente sofrerá criticas, por isto, ressalta a importância fundamental das
reuniões de pais em maior constância.
Existem
muitos outros fatores que merecem comentários e destaques, além de muitos
outros relatos de experiências bem sucedidas no meu trabalho na EMEF Eng.
Ricardo C. C. Monteiro, e, em outras oportunidades, pretendo relatar.
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhgãe
Araraquara, 6 de dezembro de 2002