Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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A vida nômade de BG

por Armelim Guimarães
(do livro inédito "Bernardo Guimarães, o romancista da Abolição") 


Em meados de 1865 estava Bernardo Guimarães novamente em Ouro Preto, na sua barroca e lendária Vila Rica de Albuquerque, para nunca mais abandonar, nem a passeio, a sua província natal.

Schopenhauer, falando da sabedoria da vida, salienta a insociabilidade dos homens genais. "Em regra -- disse ele -- um homem sociável o é por pobreza de intelecto e vulgaridade". "O homem de gênio tem as suas compensações e não necessita de companhia, como os que vivem em perpétua dependências do que os rodeia". (apud Will Durant, "História da Filosofia", Companhia Editora Nacional, São Paulo, pág. 328).

A asserção do prógono do pessimismo cabe, em cheio, à estrutura intelectual de Bernardo Guimarães. Não é para admirar que o poeta ouro-pretano, que mais amava a arte que a si mesmo -- como assim queria Flaubert --, preferisse a solidão, ou o sodalício dos raros amigos íntimos, ao contubérnio de figurões da política e das letras, e ao bulício da capital do Império, barafunda de caras estranhas, que diariamente se renovavam, de todas as castas sociais, de esbirros, marujos, escravos, mascates, cavaleiros, lacaios, coches e liteiras em vaivéns barulhentos, lazarones, calaceiros,  flibusteiros, traficantes, estivadores, de vozerio de pessoas das mais diversas línguas e costumes, da urbe tão bela mas de clima encalmadiço. O misantropo vila-riquense, o gato borralheiro das Alterosas, despediu-se, para sempre, do Rio de Janeiro. Às favas o formigueiro humano e o calor da metrópole!

Em Ouro Preto passou a lecionar Retórica e Poética no Liceu Mineiro.

Os pais já não existiam neste mundo, e também havia muito falecido já era o irmão Jaques, morto na primavera da existência. O mano Manuel andava servindo em paróquias distantes, e o outro irmão, Joaquim Caetano da Silva Guimarães, se encontrava, naqueles dias, na Província do Maranhão, como juiz de direito da comarca de Itapicuru-Mirim. Não sendo poeta nem sonhador como o mano boêmio, dava-se muito bem na magistratura.

Foi então Bernardo morar com um primo ranzinza, muito sovina, "um pouco auri sacra fames", diz Carlos José dos Santos no seu "Bernardo Guimarães na Intimidade".

E é o mesmo professor Carlos José dos Santos quem nos revela muitos episódios interessantes do  poeta mineiro, durante aqueles longos meses em lar. Transcreve bilhetes do escritor a ele dirigidos, ora em português, ora em francês, de uma feita fingindo-se internado no Hospício da Santa Casa, pedindo-lhe o envio de objetos.

Compadecido diante do viver sem conforto e errante que Bernardo passou depois a levar, pernoitando aqui e ali em casa de conterrâneos, Carlos dos Santos deu-lhe hospedagem amiga. Conta ele:

"À tardinha, fui à sua casa. Levei-o para a nossa residência. A esse tempo, moravam comigo os estudantes Juca Pinto, Cândido Cebola, meu pai, o Capitão José Inácio dos Santos e o meu mano João Inácio. Observei que Bernardo conduzia uma pequena trouxa no braço. Era uma preciosa blusa de brim pardo, que lhe havia dado Gonçalves Dias, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, enfiou-se nela e nosso poeta".

A residência de Carlos dos Santos tornara-se uma república ou pensão de estudantes de farmácia e de preparatorianos. E é este mesmo autor quem assim nos conta:

"Quando esses estudantes de farmácia liam suas lições, Bernardo, somente pela leitura delas, as explicava magistralmente aos rapazes, com irreprimível pasmo nosso. Outras horas, passava com ele a cantar e tocar violão, em uma convivência encantadora. Foi durante essa estada em nossa casa que o poeta compôs o seu famoso drama "A Inconfidência". Encarreguei-me de levar à cena esse drama. A representação foi no teatro da cidade de Ouro Preto, causando extraordinária emoção nos expectadores, que o aplaudiam sem reservas.

"Tomaram parte na interpretação dessa obra-prima: o Coronel Agostinho Cabral, o Professor Rodolfo Bretas, Elizário da Rocha (no papel de Tiradentes), João Bandeira (Cláudio Manuel da Costa), Coronel Antônio Hermógenes (Ermitão da Serra do Caraça), Pedro Ângelo e Santos Augusto da Silva. Naquele tempo, as mulheres não tomam parte em representações teatrais, de sorte que o papel de Marília foi interpretado por Antônio Nunes Bandeira, que era então muito jovem ainda. O ponto foi o Capitão João Antônio Afonso, pai do Visconde de Ouro Preto.

"Era Presidente da Província o Cônego Santana (Conselheiro Cônego Joaquim José de Santana, Presidente em 1866), que recebeu com muita simpatia a idéia da representação da peça; o chefe de polícia, como prova de admiração ao autor, dispensou a leitura prévia do drama, coisa que se não fazia nunca naquele tempo.

Foi deliciosa a nossa convivência com Bernardo durante o tempo em que esteve em nossa casa. Era homem alegre, sempre espirituoso, gostava de diversões inocentes, puramente literárias, decifrava, em companhia de amigos, charadas e logogrifos, cantava poesias (de preferências as de Gonzaga), com excelente voz de tenor, recitava versos de improviso, e fazia bestialógicos deliciosos. Sua conversação agradava a todos, grandes e pequenos, letrados e rústicos; tinha um coração bondoso. Ao mesmo tempo que cobria de ridículo os vaidosos e orgulhosos, parodiando, com graça, os seus escritos, era amigo dos humildes e gostava de conversar com eles. Passava, por exemplo, horas inteiras ouvindo meu pai, Capitão José Inácio da Costa, recitar os diálogos de Carlos Magno e os doze pares da França". ("Bernardo Guimarães na Intimidade", pág. 6)

E conta, sempre saudoso, Carlos José dos Santos, como foi que o poeta perdera, no caminho de Mariana, vários originais de obras suas, dele, o vate, pelo que Bernardo nem se preocupou, "como se não houvesse acontecido nada". E lembra esse seu amigo muitos casos interessantíssimos do escritor mineiro, dos quais foi testemunha, como as explicações de matemática que Bernardo deu e que superaram as do "ilustrado professor de Aritmética Jorge Mallard"; as respostas "espirituosas" dadas a pessoas petulantes ou vaidosas, não poupando nem ao Dr. Saldanha Marinho, Presidente da Província; os bestialógicos engraçadíssimos dirigidos a F. Oliveira, os engenhosos versos dirigidos ao vendeiro João Bunda (sic); a janela, de guilhotina, que bateu nos dedos do poeta, sangrando-os; a pontualidade de Bernardo nos seus pagamentos, e como foi que empregara 300 mil réis recebidos pela representação de "Os Inconfidentes", bem como a renda pela edição de "O Ermitão de Muquém"; a humorística defesa que fez de Caetano de Meneses, contra o Professor Horta, e outros casos e incidentes curiosos que menciono neste e em outro capítulos deste livro, como o dia-santo na meia do Cipriano:

"Esplêndidas eram as festas na circunvizinhança de Ouro Preto. Bernardo e outros moços foram à Cachoeira do Campo. Com sumo carinho e afeto recebeu-os o Professor Carlos Ferreira, meu tio. Estendeu no salão da escola camas no chão. Não havia quartos para todos. De madrugada o Coronel Valeriano do Carvalho, Claudiano Celestino, José Catta Preta, Antônio Pedro Catta Preta, Dr. Lagoa e outros foram despertados por Bernardo, sentado na cama e em altas vozes saudando a aurora ditosa que vinha resplandecer sobre o pé de Joaquim Cipriano que se achava para fora e com um dia-santo na meia. Produziu um discurso tão bonito que todos lamentaram não haver naquela hora tinta e papel para tomarem aquela inspiração do poeta Guimarães". (págs. 16/17).

A propósito de "Os Inconfidentes", Carlos dos Santos nos oferece mais algumas notas:

Era deitado na minha cama, junto à mesa, que ele ditava o formoso drama "Os Inconfidentes". Ora eu escrevia, ora o Hermógenes e, às vezes, o Agostinho Cabral. Já findo o drama e distribuídos os papéis, apareceu a maior das dificuldades que obstava a realização do objetivo: a representação do traidor; nenhum queria representar o papel de Joaquim Silvéiro.

"Eu, a quem já estava distribuído o de Alvarenga Peixoto, e que já o sabia, também não estava querendo, mesmo porque sentia-me fraco e incompetente para representar um papel de maior força. Todos reunidos, Bernardo sentou-se abatido com o negócio. Agostinho pulou na sala:

-- Pois o que tem isso?! Eu vou representá-lo.

"O prazer e a alegria sorriram em todos os lábios. Era inteligente o Agostinho e de bom coração. Não desempenhou bem. Não só não estava a caráter como era ele baixo, cômico.

"Serviu-me muito (o Bernardo). Muito cuidadoso, levou o seu baú com calções e tudo mais sem me incomodar, o que não acontecia com os outros.

"Um episódio: a meu pai, que era comandante da Força Pública guarnecedora da cidade, pedi algumas praças do Batalhão para fazerem a prisão dos conjurados. O que fizeram eles? Prenderam deveras os moços, e já estavam querendo fazer violência, porque eles reagiram, quando me apresentei e acalmei-os...

"Muitas dificuldades apareceram ao ensaiar o drama "Os Inconfidentes", embora presente o autor que, a cada momento, tinha de alterar alguma coisa.

"Lembro-me ainda das palavras de Tiradentes, quando ouviu a leitura da sentença:

"Pensam os tiranos que, com o peso dos ferros, que acabrunharam meu corpo, acabrunharão também minha alma? Insensatos! Com o rosto altivo e alma serena, não temo a morte! Esta cabeça, verdugos vis e sanguinários, esta cabeça alçada num posto na praça da Vila Rica, estes membros dispersos aqui e ali falarão mais alto do que os mais eloqüentes discursos".

"É indescritível o efeito que produziram estas palavras, pronunciadas por um moço ilustrado, de boa figura e de excelente dicção, tendo a voz de barítono quando catava e que, compenetrando-se do papel que representava, enchia-se de entusiasmo e arrogância". (págs. 21/22).

"Os Inconfidentes", "drama, produção truncada", assim registra Victor Silveira em "Minas Gerais em 1925", pág. 409. Não se tem notícia do paradeiro dessa obra de Bernardo Guimarães, que, conforme bem documenta Carlos dos Santos, teve sua primeira apresentação no teatro de Ouro Preto. Acredita-se que o boêmio dramaturgo tenha dado essa peça a algum circo ou companhia dramática profissional, ou a algum mambembe.

Agora um acontecimento diferente, pândego, que retrata a situação embaraçosa e inesperada do vate vila-riquense. Não fosse o seu informante, o escrupuloso e honesto Professor Carlos José dos Santos, poder-se-ia ter esse episódio como mais uma das falsas anedotas que se atribuem ao citaredo de Ouro Preto. O caso está assim contado:

"Estávamos no escritório, quando chega a parteira Sá Mônica. Era uma mulata velha e gorda, sempre com uns brincos de ouro tão grandes que, se fosse no tempo de Catão, mandaria corta metade, como procedeu com uma moça romana. Seu pescoço não se via; um grande colar não o deixava.

- Seu doutor, faça-me o obséquio.

"Leva o poeta ao quarto de uma parturiente, fecha a porta e diz:

-- Seu doutor, acuda esta rapariga, que está quase à morte.

"Bernardo começa a tremer:

-- Senhora, eu não sou médico!

-- Pois vancê não é doutor?!, disse ela.

"Exclamou a parturiente Norbeta:

-- Ele é doutor só de fazer versos!" (págs. 22/23).

Levando unicamente pelo desejo de experimentar um viver de nômade, Bernardo Guimarães, sem outro motivo, deixou a casa de Carlos José dos Santos para ir morar com o Professor Ovídio João Paulo de Andrade.

Além de Carlos José dos Santos e o pai de Carlos, Capitão José Inácio da Costa Santos, e do Caetano de Meneses, do Professor Ovídio João Paulo de Andrade (a este dedicaria a poesia O meu vale), dos Catta Preta e outros, foram bons e íntimos amigos de Bernardo nessa quadra de sua vida, em Ouro Preto, os cultos professores Rodrigo José Ferreira Bretas, Dr. Agostinho José Ferreira Bretas (Vice-Presidente da Província em 1870) e Francisco de Paula Pereira Lagoa, a quem dedicou uma ode por ocasião do falecimento do pai deste seu amigo.

O boêmio, quando menos o seu hospedeiro imaginava, sumia por dois ou três dias. Depois, era um bilhetinho que chegava, pedindo lhe enviasse as suas roupas, o baú, as botas de verniz, os rascunhos... Sinal de que já estava instalada em casa de outro anfitrião, "do peito".

Com o Dr. Lagoa residiu também o poeta por algumas semanas. Era um médico de elevado altruísmo e privilegiado coração. Nas "Inspirações da Tarde" dedicaria a esse leal amigo, e a dois outros clínicos, o Hino do Prazer como paga pelo atendimento eficaz com que esses apóstolos da ciência lhe devolveram a saúde, por ocasião de uma grave enfermidade que o acometera ao regressar de Catalão.

Foi morar depois, pelo que parece, com o Professor Rodrigo José Ferreira Bretas, em cuja residência celebrou esplêndidas tertúlias. Rodrigo Bretas era um belo espírito, homem de elevada moral e sólida cultura. Foi quem salvou de olvido a biografia de Aleijadinho, num valioso estudo sem o qual hoje nada se saberia sobre a vida do grande e lendário toreuta mineiro.

Bretas também tentou fazer versos e publicou alguns. Bernardo, que não perdoava a ninguém dentro das liças literárias, mesmo tratando-se amigos, "meu o pau" nele, chamando-o de "poeta tecelão". E Carlos José dos Santos acrescenta: "Arrependeu-se depois. Ele (Bernardo) me disse. Por ocasião de seu funeral -- ocorrido pouco tempo depois -- Bernardo, em poucas palavras, fez o elogio fúnebre de Bretas". (Op. cit., pág. 24).

Foi quando ainda levava essa vida errante em companhia de amigos de Ouro Preto que Bernardo publicou o seu primeiro romance, "O Ermitão de Muquém", escrito em 1858. A publicação foi feita no jornal "Constitucional", de Ouro Preto, em capítulos. A edição em volume é de 1869, do editor Garnier, da Corte. Na "Reforma", do Rio de Janeiro, nº de 7 de novembro de 1869, Joaquim Serra assim comentava o aparecimento essa novela:

"Esse livro, que é também um álbum de lindas paisagens, onde a opulenta natureza tropical brilha com as cores próprias, será, segundo me consta, o primeiro volume de uma série de escritos que, naquele gênero, o poeta dos "Cantos da Solidão" pretende publicar. Bem-vindos sejam esses volumes, e, enquanto todos não vêm a lume, festejamos o primeiro trabalho, que por si só é assaz recomendável! A vida do sertanejo e do índico são os principais elementos dessa lenda; o episódio romanesco é simples e natural."

Em "A Coluna Prestes" (Editora Brasiliense Ltda., São Paulo, 2ª edição, 1945, pág. 185), de Lourenço Moreira Lima, há referência à romaria a Muquém, em Goiás.

O romance de estréia de Bernardo Guimarães tem como cenário os recônditos do sertão goiano. A história é contada em quatro "pousos". Gonçalo é o valentão, a turuna destemido. Por causa da Maroca, com a qual esteve em um baile em casa do Mateus, matou o seu rival no amor, o Reinaldo. E fugiu, indo meter-se entre os xavantes, quando teve de matar muitos índios para se defender. O cacique Oriçanga admirou-se da destreza de Gonçalo, já que muitos xavantes não puderam com ele. Estes índios vencidos eram comandados por Inimá, noivo da bela Guaraciaba, filha de Oriçanga. Gonçalo mentiu chamar-se Itagiba. Agora seu feroz inimigo e rival era Inimá, pois Itagiba (isto é, o Gonçalo) também passou a amar a Guaraciaba. Por decisão de Andiara (o pajé) e de Oriçanga (o cacique chefe), dividiram-se os xavantes em duas hostes: uma, comandada por Itagiba (Gonçalo), ficou incumbida de atacar os emboabas; outra, comandada por Inimá, daria ataque aos caiapós. Quem vencesse teria a mão de Guaraciaba. Itagiba voltou vitorioso. A hoste de Inimá, porém, foi derrotada pelos caiapós. Mas Inimá, no dia do casamento de Itagiba com a índia disputada, armou uma cilada com falsos personagens, fazendo crer que Guaraciaba se entregara a outro. Este outro era o irmão dela, o Anhambira. Itagiba, ignorando a farsa, matou os dois, e fugiu embrenhando-se no mato. Encontrou-se com Inimá. Bateram-se em duelo, com flechas. Itagiba foi mais feliz. Varou o coração do rival com certeira flechada, enquanto a flecha despedida por Inimá não penetrou em Itagiba, pois bateu em uma medalha de Nossa Senhora que este trazia em um cordão. E foi então que Itagiba, ou seja, Gonçalo se tornara ermitão, a tudo renunciando. Vinte anos depois, a Maroca, a primeira namorada, acompanhada de Mateus, visitaram o ermitão em Muquém, quando então Gonçalo pediu perdão a ambos.

Como se vê, é um romance muito movimentado e de muitas façanhas, que daria um bom filme de bangue-bangue.

Numa época em que o cenário brasileiro mal principiava a figurar em obras de ficção, é explicável por que foram tão aplaudidas as primeiras as primeiras tentativas de nacionalização do romance, embora com os defeitos de estilo, com os lugares-comuns e as inconveniências da literatura nascente.

Eram vários os jornais que, naquela época, havia em Ouro Preto, nos quais aparecem rimas e prosas de Bernardo Guimarães, quase sempre anonimamente. Entre outras dessas folhas estavam o "Constitucional", "O Diário de Minas", o "Liberal de Minas" e o "Noticiador de Minas". E são sem conta os trabalhos inéditos  que se perderam nessa quadra, saídos da pena e da inspiração prodigiosa do vate boêmio.

"Como muito bem atentou o Dr. Badaró, Bernardo Guimarães era um homem simples, chegando mesmo a ser muito humilde". (Carlos José dos Santos, op. cit., pág. 4). Era humildade que chegou a prejudicá-lo. Não reconhecia o próprio talento, daí não cuidar de preservar o que produzia.

Sem mesmo aspirar à popularidade e louros, contudo, o nome do poeta mineiro já se tinha notabilizado em todo o país como o citaredo de afinado plectro. Nos salões aristocráticos do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Santos, do Recife, de Salvador, seus versos eram lidos, decorados, declamados e admirados pela sociedade intelectual e de bom gosto, nos saraus daqueles finos tempos.

Entre os mais íntimos de Bernardo Guimarães, naquela época, saliento o Professor Carlos José dos Santos, que privou longo tempo com o vate em Ouro Preto, e porque deixou escrito tudo o que dele ainda pôde recordar. A Direção da "Revista do Arquivo Público Mineiro", na separata publicada em 1928, em Belo Horizonte, pela Tipografia Antunes, assim faz a apresentação do autor:

"À guisa de prefácio: O antigo Professor Carlos José dos Santos conviveu largo tempo, em Ouro Preto, com o notável romancista e poeta mineiro Bernardo Guimarães. O estudo que se segue, em linguagem singela e repassada de saudades, fixa reminiscências do tempo de tal convívio".

Faço uma observação com respeito a esse digno e idôneo professor, muitas vezes citado nesta biografia, autor do opúsculo "Bernardo Guimarães na Intimidade": foi um íntimo de Bernardo Guimarães, tão minuciosas na rememoração de tudo o que presenciou no poeta e prosador vila-riquense, e não faz a mínima referência à celebrada embriaguez do seu amigo; antes, menciona-o como um homem equilibrado, sensato e de mente sempre sadia. Só os que assim não conheceram o romancista mineiro é que lhe atribuem muita cachaça e intemperança! Um simples aperitivo -- um teles, como por brincadeira dizia Bernardo -- não tem a dimensão de uma borracheira com que a perversidade tenta enxovalhar a vida do romancista das Alterosas.


Joaquim, irmão de BG,
deu-se bom com a
magistratura