Desvio dos teus ombros o
lençol,
Que é feito de ternura
amarrotada,
Da frescura que vem
depois do sol,
Quando depois do sol não
vem mais nada...
Olho a roupa no chão:
que tempestade!
Há restos de ternura
pelo meio,
como vultos perdidos na
cidade
onde uma tempestade sovreveio...
Começas a vestir-te
lentamente,
E é ternura também que
vou vestindo,
para enfrentar lá fora
aquela gente
que da nossa ternura
ainda sorrindo...
Mas ninguém sonha a
pressa com que nós
a despimos assim que
estamos sós!
Deixa
ficar comigo a madrugada,
Para
que a luz do sol me não constranja.
Numa
taça de sombra estilhaçada,
Deita
sumo de lua e de laranja.
Arranja
uma pianola, um disco, um posto,
Onde
eu oiça o estertor de uma gaivota...
Crepite,
em derredor, o mar de Agosto...
E
o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois
podes partir. Só te aconselho
Que
acendas, para tudo ser perfeito,
À
cabeceira a luz do teu joelho,
Entre
os lençóis o lume do teu peito...
Podes
partir. De nada mais preciso
Para
a minha ilusão do Paraíso.
desmanteladas,
vogam
no mar da memória
as
camas da minha vida...
Tanta
cama! Tanta história
Tanta
cama numa vida!
Grabatos,
leitos, divãs,
a
tarimba do quartel;
e
no frio das manhãs
lívidas
camas de hotel...
desmanteladas,
todas
cobertas de escamas
e
do sal do mar da vida...
Tanta
cama! Tantas camas
Tanta
cama numa vida!
Já
os lençóis amarrados
Tocam
no centro da Terra
(que
o reino dos desesperados
fica
no centro da Terra)
e
os cobertores empilhados
são
monte que não se alcança!
desmanteladas,
boiam
no mar da lembrança
e
no remorso da vida...
Homem
sou. Já fui criança.
Tanta
cama numa vida!
Nem
vão ao fundo as de ferro
Nem
ao céu as de dossel...
Lembro-vos
camas de ferro
De
internato e de bordel,
Gaiolas
da adolescência,
Ginásio
do amor venal!
Barras
fixas. Imprudência.
Sem
rede o salto mortal
Pra
fora da adolescência.
desmanteladas,
no
mar da reminiscência.
Onde
estás oh minha vida?
Sono.
Volúpia. Doença.
Tanta
cama numa vida!
E
recordo-vos, tão vagas,
Vós
que viestes depois,
Ó
camas transfiguradas
Das
furtivas ligações!
Camas
dos fins de semana
Beliches
da beira-mar...
Oh!
Que arrojadas gincanas
Sobre
os altos espaldares!
E
as camas das noites brancas,
tão
brancas, tão tumulares!
Cigarros!
Beijos! Uísque.
Desmanteladas...!
E
nelas há quem se arrisque
Sobre
os pélagos da vida!
Tão
brancas, tão tumulares!
Cigarros!
Beijos! Uísque.
Tanta
cama numa vida!
E
o amor? Tálamo, templo,
Conjugação
conjugal...
O
amor: tálamo, templo
-
ilha num mar tropical.
Mas
ao redor, insistentes,
Bramam
as ondas do mar,
Do
mar da memória ardente
eternamente
a bramar...
Já
no frio dos lençóis
há
prelúdios da mortalha;
e
nas camas sugestões
fúnebres,
torvas, pesadas...
-
Sede, por fim, ó jangadas
desmanteladas,
a
ponte do esquecimento
prá
outra margem da Vida!
Sede
flecha, monumento,
Ponte
aérea sobre o Tempo,
redentora
madrugada!
Se
o não fordes, sereis nada,
desmanteladas,
todas
roídas de escamas,
da
margem de cá da Vida...
Pobres
camas! Tristes camas!
Tanta cama numa vida!
Canção
Primaveril
Anda no ar a excitação
de seios subito exibidos
à torva luz de um alçapão,
por onde os corpos rolarão,
mordidos!
Ou é um deus, oi foi a Morte
que nos vestiu este torpor;
e a Primavera é um chicote,
abrindo as veias e o decote
ao meu amor!
Esqueço que os dedos têm ossos:
é só de sangue esta caricia;
apenas nervos os pescoços...
Mas nos teus olhos, nos meus olhos,
a luz da morte brilha.
Grito
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que e' nosso.
São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz-te o colo
de espádua a espádua,
são os teus olhos,
depois o grito.
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
de outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.
E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa.
O Silêncio
Dos corpos esgotados que silêncio
tão apaziguador se levantava!
(Tinha uma rosa triste nos cabelos,
uma sombra na túnica de luz...)
Para o fundo das almas caminhava,
devagar, o sonâmbulo silêncio.
(Que apertados anéis nos braços nus!)
Mas o silêncio vinha desprendê-los.
Inscrição Estival
Ó grande plenitude!
E a tudo
a tudo alheio,
saboreio.
Absorto
sorvo
este cacho de uvas
tão maduras...
Este cacho de curvas que é o teu corpo.
Os Teus Olhos
Os teus olhos
exigindo
ser bebidos
Os teus ombros
reclamando
nenhum manto
Os teus seios
pressupondo
tantos pomos
O teu ventre
recolhendo
o relâmpago
É Quando Estás de Joelhos...
É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada de trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredo
se de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra.
Momento
Chegado o momento
em que tudo é tudo
dos teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a lua
Entre linguas e dentes
este sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Cadente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que te reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música.
"Essa
página é dedicada a um grande amigo que me presenteou
com o conhecimento de tão belos Poemas."
Não se
esqueça dos amigos do ICQ
Meu ICQ: 92204024
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ministério da cultura
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MEU JEITO LOUCO
DE SER
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DILENE MAIA, (autoria) - C.I.C - 812.801.495-15
Salvador/BA-Brasil