Luís de Camões



Luís Vaz de Camões (Lisboa ou Coimbra, c. 1524 - Lisboa, 1580) foi um dos vultos maiores da literatura da Renascença. São mal conhecidas a sua infância e primeira mocidade. Estudou em Coimbra, sem que se saiba onde e como acumulou a larga e variada cultura humanística patente em sua obra. 
Fidalgo, ainda que pobre, freqüentou a corte de Dom João III. Sofreu provavelmente exílio no Ribatejo e, em 1547, partiu para Ceuta, a servir naquela guarnição militar; ali, em refrega com os mouros de Mazagão, vazaram-lhe o olho direito. De volta à pátria, feriu numa rixa, em Lisboa, a um moço do paço e foi para a prisão, de onde saiu engajado para a Índia. No Oriente, tomou parte em várias expedições militares e cruzeiros marítimos. Em Macau, teria exercido o cargo de provedor de defuntos e ausentes; demitido por causa de uma questão com os colonos, foi chamado a Goa. O navio que o conduzia naufragou no mar da China, mas o poeta conseguiu salvar-se a nado com o manuscrito de Os Lusíadas, então já bem adiantado. Em Goa ficou até 1567, quando regressou a Portugal com escala em Moçambique, onde se demorou alguns anos e onde Diogo do Couto, seu grande admirador, o foi encontrar tão pobre que "comia de amigos". Depois desse longo desterro, voltou a Lisboa, em 1569 ou 1570, e dois anos mais tarde publicou Os Lusíadas; o rei Dom Sebastião, a quem é o poema dedicado, galardou-o por três anos com uma tença anual de 15.000 réis. Mas o poeta morreu na miséria, num leito de hospital. 

À parte "Os Lusíadas", quase toda a produção camoniana foi publicada postumamente: numerosos sonetos, canções, odes, elegias, éclogas, cartas e os três autos — Anfitriões (1587), Filodemo (1587), El-rei Seleuco (1645). Edição crítica de sua lírica de Leodegário de Azevedo Filho, em 7 vol. Quatro deles já foram publicados pela Imprensa Nacional de Lisboa. 



1)Gloriosa Aventura Portuguesa 

Cessem do sábio grego e do troiano 
As navegações grandes que fizeram; 
Calem-se de Alexandro e de Trajano 
As famas das vitórias que tiveram; 
Que eu canto o peito ilustre lusitano, 
A quem Netuno e Marte obedeceram. 
Cesse o que a musa antiga canta, 
Que outro valor mais alto se alevanta. 
Terceira estrofe Canto Primeiro Os Lusíadas 

2)Estrofes noventa/noventa e um 

Canto Quarto 
Os Lusíadas 

O choro das mães e esposas 
Qual vai dizendo:- Ó filho, a quem eu tinha 
Só para refrigério e doce amparo 
Desta cansada já velhice minha, 
Que em choro acabará, penoso e amaro, 
Por que me deixas, mísera e mesquinha? 
Por que de mim vás, ó filho caro, 
A fazer o funéreo enterramento 
Onde sejas de peixes mantimento? 
Qual em cabelo: Ó doce e amado esposo, 
Sem quem não quis Amor que viver possa, 
Por que is aventurar ao mar iroso 
Essa vida que é minha e não é vossa 
Como por um caminho duvidoso 
Vos esquece a afeição tão doce nossa? 
Nosso amor, nosso vão contentamento, 
Quereis que com as velas leve o vento? 

Nestas e outras palavras que diziam, 
De amor e de piedosa humanidade, 
Os velhos e os meninos as seguiam, 
Em quem menos esforço põe a idade. 
Os montes de mais perto respondiam, 
Quase movidos de alta piedade; 
A branca areia as lágrimas banhavam, 
Que em multidão com elas se igualavam 


Estrofe noventa e dois 
Canto Quarto 
Os Lusíadas 
Luís de Camões
Os lamentos dos velhos e dos meninos 

Vasco da Gama decide partir sem despedida 

Nós outros, sem a vista alevantarmos 
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado, 
Por nos não magoarmos, ou mudarmos 
Do propósito firme começado, 
Determinei de assim nos embarcarmos, 
Sem o despedimento costumado, 
Que, posto que é de amor usança boa, 
A quem se aparta, ou fica, mais magoa. 

Estrofe noventa e três 
Canto Quarto 
Os Lusíadas 
Epílogo 

Para servir-vos, braço à armas feito, 
Para cantar-vos, mente às musas dada; 
Só me falece ser a vós aceito, 
De quem virtude deve ser prezada. 
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito 
Digna empresa tomar de ser cantada, 
Como a pressaga mente vaticina 
Olhando a vossa inclinação divina, 
Ou fazendo que, mais que a de Medusa, 
A vista vossa tema o monte Atlante, 
Ou rompendo nos campos de Ampelusa 
Os muros de Marrocos e de Trudante, 
A minha já estimada e leda musa 
Fico que em todo o mundo de vós cante, 
de sorte que Alexandro em vós se veja, 
Sem à dita de Aquiles ter inveja. 
Estrofes cento e cinqüenta e cinco/cento e cinqüenta e seis 

Canto Décimo 
Os Lusíadas 
Luís de Camões
Soneto I 

Eu cantarei de amor tão docemente, 
Por uns termos em si tão concertados, 
Que dous mil acidentes namorados 
Faça sentir ao peito que não sente. 
Farei que o Amor a todos avivente, 
Pintando mil segredos delicados, 
Brandas iras, suspiros magoados, 
Temerosa ousadia e pena ausente. 
Também, Senhora, do desprezo honesto 
De vossa vista branda e rigorosa, 
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. 
Porém, para cantar de vosso gesto 
A composição alta e milagrosa, 
Aqui falta saber, engenho e arte. 

SonetoII

Enquanto quis Fortuna que tivesse 
Esperança de algum contentamento, 
O gosto de um suave e pensamento 
Me fez que seus efeitos escrevesse. 

Porém, temendo Amor que aviso desse 
Minha escritura a algum juízo isento, 
Escureceu-me o engenho com tormento, 
Para que seus enganos não dissesse. 

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos 
A diversas vontades, quando lerdes 
Num breve livro casos tão diversos, 

Verdades puras são, e não defeitos; 
E sabei que, segundo o amor tiverdes, 
Tereis o entendimento de meus versos. 



Soneto III

Tanto de meu estado me acho incerto, 
Que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
Sem causa, juntamente choro e rio, 
O mundo todo abarco, e nada aperto. 

É tudo quanto sinto um desconcerto: 
Da alma um fogo me sai, da vista um rio; 
Agora espero, agora desconfio; 
Agora desvario, agora acerto. 

Estando em terra, chego ao Céu voando; 
Num'hora acho mil anos, e é de jeito 
Que em mil anos não posso achar um'hora. 

Se me pergunta alguém porque assi ando, 
Respondo que não sei, porém suspeito 
Que só porque vos vi, minha Senhora. 


Soneto IV

Transforma-se o amador na cousa amada, 
Por virtude do muito imaginar; 
Não tenho, logo, mais que desejar, 
Pois em mim tenho a parte desejada. 
Se nela está minha alma transformada, 
Que mais deseja o corpo de alcançar? 
Em si somente pode descansar, 
Pois consigo tal alma está ligada. 
Mas esta linda e pura semidéia, 
Que, como o acidente em seu sujeito, 
Assim com a alma minha se conforma, 
Está no pensamento como idéia; 
E o vivo e puro amor de que sou feito, 
Como a matéria simples, busca a forma. 


Soneto XXVII

Quando o Sol encoberto vai mostrando 
Ao mundo a luz quieta e duvidosa, 
Ao longo de uma praia deleitosa, 
Vou na minha inimiga imaginando. 
Aqui a vi os cabelos concertando, 
Ali co'a mão na face, tão fermosa, 
Aqui falando alegre, ali cuidosa, 
Agora estando queda, agora andando. 
Aqui esteve sentada, ali me viu, 
Erguendo aqueles olhos tão isentos; 
Aqui movida um pouco, ali segura; 
Aqui se entristeceu, ali se riu. 
Enfim, nestes cansados pensamentos 
Passo esta vida vã, que sempre dura. 


Soneto XLIII 
Amor, co'a esperança já perdida 
Teu soberano templo visitei; 
Por sinal do naufrágio que passei, 
Em lugar dos vestidos, pus a vida. 

Que queres mais de mim, que destruída 
Me tens a glória toda que alcancei? 
Não cuides de forçar-me, que não sei 
Tornar a entrar onde não há saída. 

Vês aqui alma, vida e esperança, 
Despojos doces de meu bem passado, 
Enquanto quis aquela que eu adoro: 

Neles podes tomar de mim vingança; 
E se inda não estás de mim vingado, 
Contenta-te co'as lágrimas que choro. 


XV

De vós me aparto, ó vida! Em tal mudança, 
Sinto vivo da morte o sentimento; 
Não sei para que é ter contentamento, 
Se mais há-de perder quem mais alcança. 
Mas dou-vos esta firme segurança: 
Que, posto que me mate meu tormento, 
Pelas águas do eterno esquecimento 
Segura passará minha lembrança. 
Antes sem vós meus olhos se entristeçam, 
Que com qualquer cous'outra se contentem; 
Antes os esqueçais, que vos esqueçam. 
Antes nesta lembrança se atormentem, 
Que com esquecimento desmereçam 
A glória que em sofrer tal pena sentem. 

Soneto XL 

Se alguma hora em vós a piedade 
De tão longo tormento se sentira, 
Não consentira Amor que me partira 
De vossos olhos, minha saudade. 

Apartei-me de vós, mas a vontade, 
Que pelo natural n'alma vos tira, 
Me faz crer que esta ausência é de mentira, 
Mas inda mal, porém, porque é verdade. 

Ir-me-ei, Senhora, e neste apartamento, 
Tomarão tristes lágrimas vingança 
Nos olhos de quem fostes mantimento: 

E assi darei vida a meu tormento, 
Que enfim cá me achará minha lembrança, 
Sepultado no vosso esquecimento. 


Soneto XX 

Males que contra mi vos conjurastes, 
Quanto há de durar tão duro intento? 
Se dura porque dura meu tormento, 
Baste-vos quanto já me atormentastes. 

Mas se assi perfiais, porque cuidastes 
Derrubar meu tão alto pensamento? 
Mais pode a causa dele, em que o sustento, 
Que vós, que dela mesma o ser tomastes. 

E pois vossa tenção com minha morte 
Há-de acabar o mal destes amores, 
Dai já fim a um tormento tão comprido, 

Porque de ambos contentes seja a sorte: 
Vós, porque me acabastes, vencedores; 
E eu, porque acabei, de vós vencido. 

Luís de Camões




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