GRANDES MESTRES DA POESIA
CRUZ E SOUSA
Moderno antes de ser eterno
Seguidor da vanguarda francesa, Cruz e Sousa cria o Simbolismo
no Brasil e revela-se um homem engajado com as lutas do seu tempo
Forças adormecidas de angústia e sonho sustentam a vida e a obra
de Cruz e Sousa, autor de versos incompreendidos porque inovadores e inseridos
na trilha da vanguarda francesa da época. O Cisne ou Poeta Negro, como
alguns o chamavam, ao mesmo tempo em que produzia uma poética que o colocou
ao lado de Mallarmé, Rimbaud e Verlaine, também desafiou o mundo
com sua escrita contundente. "Não lhe bastou ser poeta, foi um jornalista
engajado com as lutas de seu tempo", situa o poeta paranaenese Paulo Leminski
em uma biografia publicada em 1983.
Negro numa sociedade escravocrata, Cruz e Sousa fez militância contra
a escravatura. Pesquisadora do assunto, a professora-doutora Zahidé Lupinacci
Muzart, do departamento de letras da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), lembra que nos anos 80 do século 19, Cruz e Souza e seu grupo
discutiam as questões cadentes de seu tempo e lutavam fundando jornais,
folhas, semanários alternativos...
Ele não se fechou a sete chaves numa torre de marfim, não abraçando
a causa abolicionista, confome equivoca-se o crítico Fernando Góes,
em estudo introdutório para uma nova edição da obra completa
do poeta, em 1943. "Não foi indiferente à causa, muito pelo
contrário", salienta o estudioso Iaponan Soares, dono do acervo
mais completo sobre Cruz e Sousa no Brasil.
Em 1961, quando preparou outra edição de obras completas de Cruz
e Sousa, Andrade Muricy, em comemoração ao aniversário
de nascimeto, "fez importante coleta de dispersos, entre eles algumas páginas
abolicionistas, duas das quais publicadas em livros, mas poucos conhecidas:
"O Padre" e "Crianças Negras", além de outros.
Quando passou pela Bahia, em 1885, o poeta participou do movimento abolicionista
local, proferindo palestra. Seus escritos sobre o tema só muito mais
tarde chegaram ao conhecimento da crítica.
A comprovação mais evidente da militância no movimento pela
libertação dos escravos é sua participação
na sociedade carnavalesca "Diabo a Quatro", que, em 1887, desencadeia
campanha pelo abolicionismo, com plena cobertura da imprensa. Um dos textos
mais inteligentes contra o escravagismo, escrito no jornal "A Regeneração"
e intitulado "O Abolicionismo", é contuntende e articulado.
"Não se liberta o escravo por pose, por chiquismo, para que pareça
a gente brasileira elegante e graciosa antes as nações disciplinadas
e cultas", dispara Cruz e Sousa.
O poeta ainda publicou em inúmeros outros jornais brasileiros, especialmente
em Florianópolis e no Rio de Janeiro, para onde mudou-se definitivamente
em 1890. Trabalhava por um magro salário.