CRÔNICA DA SEMANA
(esta cronica está no Suplemento Literário A ILHA extra especial sobre Mário Quintana)
MEU PÉ DE JACATIRÃO E AS BORBOLETAS DE QUINTANA
Por Luiz Carlos Amorim
É manhã de domingo e o dia está triste,
cinzento. O sol não saiu. Abro a janela e vejo meu pé de jacatirão
com suas flores vermelhas, brancas e dessas duas cores misturadas, muito vivo.
Nos dias de sol vou águá-lo, pois o calor faz as pétalas
de suas flores murcharem. E me vejo fazendo a mesma coisa hoje, carinho desnecessário,
pois o sol não veio. E as borboletas também não virão,
penso.
Então me lembro de um poema de Quintana, o menino Quintana, nosso menino
Quintana, sempre ele: "Pedro pintou, um dia, em alguma parte do mundo
o retrato de uma borboleta. / as cores, as de seu desejo. / Pintou, ainda,
sobre o papel, flores para a borboleta se esconder e galhos para descansar.
/ ... / Nesse dia, ele viu o vôo de uma borboleta / (vôo de borboleta
pode transformar qualquer dia em domingo)."
Então me dou conta de que meu dia triste já se iluminou com
as cores do jacatirão, me dou conta de que posso pegar as cores das
pétalas da minha amiga árvore, mais todas as cores do sol que
não veio e pintar borboletas esvoaçantes dentro dos meus olhos
e dentro do meu coração.
E deixo minhas borboletas alçarem vôo para fora do meu olhar
e pousarem em meu pé de jacatirão. Percebi, então, que
aquele não era um dia qualquer: era uma manhã de domingo, iluminada
e feliz, com as minhas flores de jacatirão e as borboletas de Quintana.
Só ele, o "passarinho" Quintana, o nosso poeta menino, para
me devolver minha manhã de domingo. Como sempre, ele tinha razão
do alto dos seus cem anos de poesia neste mundo de Deus e no outro mundo de
Deus, para onde ele foi fazer poesia para os anjos. Nada como um vôo
de borboleta para transformar qualquer dia em domingo, mesmo que esse dia
seja mesmo domingo e mesmo que essas borboletas sejam pintadas com as cores
do sol e das flores de jacatirão, dentro dos olhos de um poeta triste,
para alegrar o seu coração.
Será acaso, ou Deus juntou-se a todos nós, numa grande e natural
homenagem ao poeta Quintana, o fato de ser domingo o dia 30 de julho de 2006?
Alguma dúvida?
Feliz aniversário e feliz manhã de domingo, menino Quintana!
De presente pra você, todas as flores e todas as borboletas! Pois todos
os seus dias não são, agora, manhãs de domingo?