CRÔNICA DA SEMANA

(esta cronica está no Suplemento Literário A ILHA extra especial sobre Mário Quintana)

 

QUINTANA EM EMBALAGEM DE LUXO

Enéas Athanázio

Para comemorar o centenário de nascimento do poeta Mário Quintana, que ocorreu a 30 de julho, a Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), com sede em Brasília, publicou o volume "Mário Quintana - Cem Poemas", em tiragem limitada para associados e outros interessados. Em tamanho grande, com páginas soltas e recolhido a uma caixa, o livro é uma obra de arte pela forma e pelo conteúdo. Tem apresentação de Maria da Glória Bordini, coordenadora do acervo literário do poeta, e ilustrações de Milan Dusek, um dos maiores artistas plásticos do país, nem sempre divulgado em face de seu temperamento arredio. Este é o 17o. lançamento da Confraria, da qual sou dos sócios mais antigos, que já se firmou no reconhecimento geral pela beleza gráfica, qualidade do conteúdo e esmero na confecção de suas obras, em nada perdendo para entidades congêneres estrangeiras. Além de constituir merecida homenagem ao grande poeta, é um livro agradável ao tato e à vista, valorizando a poemática nele contida.
"Sua poesia, - afirmou a apresentadora sobre Quintana, - ao contrário das lendas que cercam sua memória - o poeta-menino, o simpático avozinho - busca mais a profundeza, os desvãos e sombras da existência solitária que no fundo é a de todos." Acentua ela um ponto que me parece fundamental em sua poesia: "as imagens construídas a partir de associações inesperadas..." E de fato, quem quer que leia Quintana se surpreende e até se espanta com os caminhos singrados pelos versos, tantas vezes trilhando o inesperado e evidenciando a genial criatividade do poeta. Exemplo do que digo: "A primeira vez que me assassinaram/ Perdi um jeito de sorrir que tinha.../ Depois, de cada vez que me mataram/ Foram levando qualquer coisa minha..." Não foi sem razão que ele próprio denominou um de seus livros "Baú de Espantos", confessando também se espantar com o que havia dentro dele. Como escreveu Affonso Romano, "ele vai dizendo coisas líricas e terríveis como essa." Segundo o mesmo crítico, Quintana "tinha esse ar desprotegido de pinto molhado na chuva, a quem as pessoas desejam proteger." E desfia uma série de pequenas histórias sobre ele que constituem verdadeiro folclore.
Os poemas contidos no livro são o resultado de uma criteriosa seleção, procurando abranger todas as fases da produção do poeta e fornecer uma visão abrangente de sua obra. Entre eles estão alguns de seus versos mais conhecidos, aqueles que caíram no gosto dos leitores e se difundiram de boca em boca. Poemas como "As mãos de meu pai", "Bucólica", "Dorme ruazinha", "Surpresas" e "Vidas" estão entre eles e me parecem alguns dos altos momentos do poeta. Os poemas foram colhidos em diversos livros do autor.
Conheci Mário Quintana em Florianópolis, por ocasião de um evento literário ocorrido na UFSC. Troquei com ele umas poucas palavras, mas, quando a conversa engrenava, surgiram os donos da terra, os mesmos de sempre, e o seqüestraram para um recanto só deles.


(Confraria dos Bibliófilos do Brasil - Caixa Postal 8 6 3 1
CEP 70312-970 - Brasília - DF).


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