CENTRAL DE QUADRINHOS BRASILEIROS - OPINIÃO 2
Capa da Novela Gráfica MULHER DIABA NO RASTRO DE LAMPIÃO, com desenhos do saudoso Flávio Colin, e roteiro de Ataíde Braz. Mais nacional que esta, é impossível. |
Modismos e a tradição esquecida (Por
Alexandre Assumpção)
Você já se perguntou
por que o mercado de HQs brasileiro não é maduro e nem tem uma cota razoável de
publicações? A resposta talvez seja simples: somos escravos dos modismos
! Pense bem! A cada nova "influência", o que se fez de bom até então é deixado
de lado. Se duvida, passe os olhos pelo que se vende nas bancas a fim de ter uma
vaga idéia das flutuações do gosto popular.
A todo momento, são flagrantes as demonstrações de que enterramos um passado que deveria permanecer vivo e forte. Certa feita, Moacir Cyrne, durante uma aula de seu curso de História em Quadrinhos, ouviu a seguinte pérola do preconceito e da ignorância: "Esse lixo que você está mostrando é coisa de velho! O negócio é mangá". O experiente professor apenas sorriu diante de exibição tão pouco burilada de desinformação. Tal qual a dona do infeliz comentário acima, muitos leitores devem ignorar que o momento atual está longe de ser a primeira vez que se publica mangá no país. Houve tentativas anteriores, não tão glamurosas. Além disso, para provar que não é de hoje que olhos graúdos e robôs gigantes encantam a garotada, lembremos que, desde os anos 60, os animes fazem considerável sucesso.
No tocante a variedade, além deste instante asiático, temos de mencionar a"fase européia" que enriqueceu as bancas no começo dos anos 90. Na época, indagado sobre seus apetites quadrinhísticos, um famoso fanzineiro sacou logo sua resposta: "O novo quadrinho inglês!" Ato contínuo, ainda pontuou: "Principalmente essa criação maravilhosa do Simon Bisley: o Juiz Dredd". Pois é. O tal "novo" quadrinho inglês era o que se lia na linha Vertigo - uma divisão da norte-americana DC Comiccs - e o carrancudo juiz, que não é criação de Bisley, de novo não tinha nem a moto. Em meados dos anos 70, Dredd havia feito sua estréia, no Brasil, publicado pela saudosa EBAL, como parte da revista 2000 a.D.
Sabe o que é mais irônico? Todos os países
que nos mandam estes títulos sabem que algo os antecedeu. As genialidades do
passado são cultuadas. Daí, em outras praias, não se ouvem tantas besteiras.
No Japão, Magma - que teve uma série exibida no Brasil nas décadas de 70 e 80 -
dialoga muito bem com Noir e até com A rosa de Versalhes. Na Inglaterra, Doutor
Who, Marvelman e a turma da 2000 a.D. convivem com roteiros modernos e "da
moda".
Nos Estados Unidos, ainda há muitos que idolatram Frank Springer e Bob Brown,
dois desenhistas que passaram em brancas nuvens por aqui, mas que merecem
destaque diante das novas gerações. Sobram razões para se preservar e se
valorizar as grandezas de outrora.
Afinal, para se construir algo novo, é preciso se alicerçar sobre uma base
sólida, erigida com a experiência do passado. Um bom trabalho artístico não se
encerra apenas no autor. Tem pai, mãe, avô, influências e inspirações. Em suma,
tradição, uma somatória de fatores que se canalizou sobre o roteirista ou o
desenhista daquelas páginas.
Num país desprovido de memória como o Brasil, os leitores só ouvem falar de Emir
Ribeiro, Nico Rosso, Flávio Colin, Primaggio, Watson Portela, Jaime Cortez,
Cláudio Seto, Gedeone Malagola e Mozart Couto quando estes lançam alguma edição
de periodicidade bissexta ou, quem sabe, nas poucas vezes em que suas obras são
retomadas em antologias. Embora irregular, nossa tradição
quadrinhística é de uma riqueza prodigiosa. Foi palco de centenas de episódios
notáveis desde o dia, no século retrasado, em que Angelo Agostini deitou sua
pena sobre o papel pela primeira vez. Realmente, não vale a pena ignorar a nossa
história e só ter olhos para os modismos.
Tentamos de tudo para localizar o autor deste texto, mas não conseguimos. Por isso, caso ele se importune por termos republicado, é só entrar em contato, que tiraremos do ar na hora. A FONTE do artigo (o qual foi copiado para esta página) foi o OMELETE, no atalho: http://www.omelete.com.br/quadrinhos/artigos/base_para_artigos.asp?artigo=874 . LEIA MAIS >>>>>
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