Programação criativa desaparece (O Estado de São Paulo - 28 de junho de 1997)

Emissoras não conseguem se manter por causa da falta de anunciantes

Por Luís Antonio Mello

A cidade do Rio de Janeiro assassinou várias rádios criativas e inteligentes. Matou a Fluminense FM (rock), Opus 90 (música clássica), Jornal do Brasil AM (música e notícias) e Eldo Pop (rock). Apesar de atingir um bom público, em geral altamente qualificado, essas e outras emissoras não conseguiram se manter por falta de publicidade.

Inexplicavelmente, o rádio é o corvo do mercado publicitário, que prefere despejar suas verbas em cisnes mais reluzentes. As próprias gravadoras, que hoje suam para conseguir vender seus produtos, também são incompetentes e não investiram (como ainda não investem) em rádios segmentadas, que, no mundo todo, com exceção do Rio, comandam a chamada mídia eletrônica.

O Rio ainda conta com parcas emissoras segmentadas de qualidade. É o caso da Rádio JB FM, (musical/jornalístico adulto), a Globo FM (adulto contemporânea), MEC (música clássica e cultura) Cidade FM (pop e rock), Antena 1 (flash-back) e poucas outras. O grosso das emissoras ou está disputando público, despejando overdoses de pagodes e sucessos internacionais descartáveis, ou está entregue ao "religionato".

Antes de ser fechado, o Circo Voador começou a abrigar o que apelidamos de Movimento dos Sem Rádio, roqueiros que imploram por uma emissora que toque seus clássicos. Daquela lona guerreira saíram muitas idéias e uma pergunta: por que não existe rádio por assinatura no Rio? A Cidade atende em parte a esse público, graças a programas como Cidade do Rock e outros, ancorados pela voz e determinação da niteroiense Monika Venerabille (ex- Fluminense) que tem lutado para abrir mais espaço para novas bandas. A MEC, sozinha, não consegue aplacar a sede de música erudita de alta qualidade dos órfãos da extinta Opus 90, dirigida pela jornalista Heloísa Fischer, que hoje edita a bem-sucedida revista Música, prova concreta de que mercado segmentado dá pé, sim.

JB FM, Globo e Antena 1 trabalham bem numa faixa de público qualificado, munido de altíssimo poder de consumo (a partir dos 29 anos), mas, curiosamente, não se ouve, por exemplo, comerciais de discos ou livros no ar. Será que gravadoras e editoras não percebem o poder de fogo do rádio segmentado no Rio? Afinal, não estamos falando de milhares, mas de milhões de ouvintes. Conclusão: o "religionato" sentiu a brecha e está ocupando o mercado, para desespero da audiência comum.

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